Diferenças entre edições de "Armadilha de liquidez"

Da Thinkfn

Deprecated: The each() function is deprecated. This message will be suppressed on further calls in /home1/thinkfnw/public_html/wiki/includes/diff/DairikiDiff.php on line 390
 
(10 edições intermédias não estão a ser mostradas.)
Linha 1: Linha 1:
 
<metadesc content="Uma armadilha de liquidez (liquidity trap) ocorre quando a taxa de juro nominal se aproxima de zero ou o atinge e a autoridade monetária se vê impedida de estimular a economia usando os instrumentos tradicionais da política monetária" />
 
<metadesc content="Uma armadilha de liquidez (liquidity trap) ocorre quando a taxa de juro nominal se aproxima de zero ou o atinge e a autoridade monetária se vê impedida de estimular a economia usando os instrumentos tradicionais da política monetária" />
<keywords content="liquidity trap, armadilha de liquidez, política monetária, taxa de juro, função procura, dinheiro de helicóptero, Milton Friedman, Japão, deflacção" />
+
<keywords content="liquidity trap, armadilha de liquidez, armadilha da liquidez, política monetária, taxa de juro, função procura, dinheiro de helicóptero, Milton Friedman, Japão, deflacção" />
  
Na [[economia monetária]], uma '''armadilha de liquidez''' ''('''liquidity trap''')'' ocorre quando a [[taxa de juro]] [[nominal]] se aproxima de zero ou o atinge e a [[autoridade monetária]] se vê impedida de estimular a economia usando os instrumentos tradicionais da [[política monetária]]. Nestas circunstâncias, as pessoas não esperam grandes retornos dos investimentos físicos ou financeiros e mantêm os seus activos em depósitos bancários de curto prazo em vez de fazer investimentos de longo prazo. Isto torna uma [[recessão]] ainda mais severa podendo contribuir para um clima de [[deflação]].
+
Na [[economia monetária]], uma '''armadilha de liquidez''' ''(liquidity trap)'' ocorre quando a [[taxa de juro nominal]] se aproxima de zero ou o atinge e a [[autoridade monetária]] se vê impedida de estimular a economia usando os instrumentos tradicionais da [[política monetária]]. Nestas circunstâncias, as pessoas não esperam grandes retornos dos investimentos físicos ou financeiros e mantêm os seus activos em [[Depósito bancário|depósitos bancários]] de curto prazo em vez de fazer investimentos de longo prazo. Isto torna uma [[recessão]] ainda mais severa podendo contribuir para um clima de [[deflação]].
  
 
Em circunstâncias normais a autoridade monetária (normalmente um [[banco central]] ou ministério das finanças) pode estimular a economia reduzindo a [[Taxas directoras|taxa directora]] ou aumentando a [[base monetária]]. Qualquer das duas medidas deve aumentar os empréstimos e financiamentos, o consumo e o [[investimento]] fixo. Quando a taxa de juro relevante se aproxima de zero ou o atinge, a autoridade monetária não pode proceder a reduções adicionais nas taxas de juro para estimular a economia (dado que as taxas de
 
Em circunstâncias normais a autoridade monetária (normalmente um [[banco central]] ou ministério das finanças) pode estimular a economia reduzindo a [[Taxas directoras|taxa directora]] ou aumentando a [[base monetária]]. Qualquer das duas medidas deve aumentar os empréstimos e financiamentos, o consumo e o [[investimento]] fixo. Quando a taxa de juro relevante se aproxima de zero ou o atinge, a autoridade monetária não pode proceder a reduções adicionais nas taxas de juro para estimular a economia (dado que as taxas de
Linha 9: Linha 9:
 
A autoridade monetária pode aumentar a quantidade de dinheiro em circulação na economia, mas os métodos tradicionais de política monetária não injectam dinheiro novo directamente na economia. Ao invés, a nova liquidez criada tem de ser injectada na economia real através de [[Intermediário financeiro|intermediários financeiros]] tais como os bancos. Num ambiente em armadilha de liquidez, os bancos evitam atribuir empréstimos e a nova liquidez criada pelo banco central fica assim presa por detrás de financiadores relutantes.
 
A autoridade monetária pode aumentar a quantidade de dinheiro em circulação na economia, mas os métodos tradicionais de política monetária não injectam dinheiro novo directamente na economia. Ao invés, a nova liquidez criada tem de ser injectada na economia real através de [[Intermediário financeiro|intermediários financeiros]] tais como os bancos. Num ambiente em armadilha de liquidez, os bancos evitam atribuir empréstimos e a nova liquidez criada pelo banco central fica assim presa por detrás de financiadores relutantes.
  
A teoria da armadilha de liquidez aplica-se à [[política monetária]] em períodos de depressão não-inflaccionária. A teoria não se aplica a [[políticas fiscais]] que possam estimular a economia.
+
A teoria da armadilha de liquidez aplica-se à [[política monetária]] em períodos de [[depressão]] não-inflaccionária. A teoria não se aplica a [[políticas fiscais]] que possam estimular a economia.
  
 
==Dinâmica macroeconómica==
 
==Dinâmica macroeconómica==
 
Posto que a taxas de juro muito baixas, a inclinação da [[função procura]] de dinheiro Pr tende no limite para o infinito, quando calculamos o efeito marginal do ''output'' Y em relação a R verificamos que a inclinação tende para zero no limite:
 
Posto que a taxas de juro muito baixas, a inclinação da [[função procura]] de dinheiro Pr tende no limite para o infinito, quando calculamos o efeito marginal do ''output'' Y em relação a R verificamos que a inclinação tende para zero no limite:
  
Pr → infinito,  Ry = -Py / Pr → 0
+
:Pr → infinito,  Ry = -Py / Pr → 0
  
 
Em consequência, a política monetária (aumento da [[oferta de moeda]]) será ineficaz na estimulação da produção. A política fiscal poderá ser mais eficaz porque levará a [[curva IS]] a níveis superiores de produção.
 
Em consequência, a política monetária (aumento da [[oferta de moeda]]) será ineficaz na estimulação da produção. A política fiscal poderá ser mais eficaz porque levará a [[curva IS]] a níveis superiores de produção.
Linha 20: Linha 20:
 
==As perspectivas dos economistas==
 
==As perspectivas dos economistas==
 
[[Image: Helicopterbernanke.jpg|thumb|400px|301px|O presidente da Reserva Federal americana, Ben Bernanke, tornou-se popularmente conhecido como "Helicopter Ben" após um discurso em 2002 no qual se assumiu um fervoroso seguidor da solução «dinheiro de helicóptero» de Friedman.<ref>[http://www.federalreserve.gov/BOARDDOCS/SPEECHES/2002/20021121/default.htm Remarks by Governor Ben S. Bernanke], Federal Reserve Board, 21 Nov 2002</ref><small><br>(Direitos de imagem:  [http://www.bluewirestudio.com/ Blue Wire Studio])</small>]]
 
[[Image: Helicopterbernanke.jpg|thumb|400px|301px|O presidente da Reserva Federal americana, Ben Bernanke, tornou-se popularmente conhecido como "Helicopter Ben" após um discurso em 2002 no qual se assumiu um fervoroso seguidor da solução «dinheiro de helicóptero» de Friedman.<ref>[http://www.federalreserve.gov/BOARDDOCS/SPEECHES/2002/20021121/default.htm Remarks by Governor Ben S. Bernanke], Federal Reserve Board, 21 Nov 2002</ref><small><br>(Direitos de imagem:  [http://www.bluewirestudio.com/ Blue Wire Studio])</small>]]
[[Milton Friedman]] sugeriu que uma autoridade monetária pode escapar à armadilha de liquidez evitando os intermediários financeiros e dando dinheiro directamente aos consumidores e aos negócios. Isto é conhecido como «presente em dinheiro» ou como «dinheiro de helicóptero». O termo «dinheiro de helicóptero» pretende evocar a imagem de um banqueiro central a deitar dinheiro ao povo a partir de um helicóptero. Considerações de ordem política tornam difícil a uma autoridade monetária dar o presente em dinheiro, porque os indivíduos e empresas que não recebem o dinheiro grátis exercerão pressão política. A autoridade monetária precisa agir de forma coberta para dar o presente em dinheiro a indivíduos ou empresas específicas sem que pareça estar a dá-lo. Durante a [[Grande depressão]] nos Estados Unidos, a [[Reserva Federal]] ofereceu-se para comprar [[ouro]] a um preço bastante acima do preço de mercado da altura. Esta oferta foi em essência um presente em dinheiro para detentores de ouro. No Japão na década de 1980, o [[Banco do Japão]] decidiu adquirir novas emissões de [[Acção ordinária|acções ordinárias]] e [[Obrigação|obrigações]] de empresas como forma de dar um presente em dinheiro a empresas.
+
[[Milton Friedman]] sugeriu que uma autoridade monetária pode escapar à armadilha de liquidez evitando os intermediários financeiros e dando dinheiro directamente aos consumidores e aos negócios. Isto é conhecido como «presente em dinheiro» ou como «dinheiro de helicóptero». O termo «dinheiro de helicóptero» pretende evocar a imagem de um banqueiro central a deitar dinheiro ao povo a partir de um helicóptero. Considerações de ordem política tornam difícil a uma autoridade monetária dar o presente em dinheiro, porque os indivíduos e empresas que não recebem o dinheiro grátis exercerão pressão política. A autoridade monetária precisa agir de forma coberta para dar o presente em dinheiro a indivíduos ou empresas específicas sem que pareça estar a dá-lo. Durante a [[grande depressão]] nos Estados Unidos, a [[Reserva Federal]] ofereceu-se para comprar [[ouro]] a um preço bastante acima do preço de mercado da altura. Esta oferta foi em essência um presente em dinheiro para detentores de ouro. No Japão na década de 1980, o [[Banco do Japão]] decidiu adquirir novas emissões de [[Acção ordinária|acções ordinárias]] e [[Obrigação|obrigações]] de empresas como forma de dar um presente em dinheiro a empresas.
  
 
[[John Maynard Keynes]] é vulgarmente considerado o inventor da teoria da armadilha de liquidez. Do seu ponto de vista, os actores financeiros temem a possibilidade de sofrerem [[Perda de capital|perdas de capital]] em activos não monetários e preferem deter [[Activo líquido|activos líquidos]] monetários. Por exemplo, o receio de [[incumprimento]] nos empréstimos pode inibir as instituições de fazerem financiamentos excepto a clientes com credenciais de crédito excepcionais. Este receios são mais prováveis após uma [[crise financeira]] como a associada ao [[Crash de 1929]]. Adicionalmente, se as taxas de juro nominais estiverem extremamente baixas, não poderão senão subir. Isso implica que os preços das [[Obrigação|obrigações]] provavelmente cairão pouco depois, causando perdas de capital.
 
[[John Maynard Keynes]] é vulgarmente considerado o inventor da teoria da armadilha de liquidez. Do seu ponto de vista, os actores financeiros temem a possibilidade de sofrerem [[Perda de capital|perdas de capital]] em activos não monetários e preferem deter [[Activo líquido|activos líquidos]] monetários. Por exemplo, o receio de [[incumprimento]] nos empréstimos pode inibir as instituições de fazerem financiamentos excepto a clientes com credenciais de crédito excepcionais. Este receios são mais prováveis após uma [[crise financeira]] como a associada ao [[Crash de 1929]]. Adicionalmente, se as taxas de juro nominais estiverem extremamente baixas, não poderão senão subir. Isso implica que os preços das [[Obrigação|obrigações]] provavelmente cairão pouco depois, causando perdas de capital.
  
As escolas [[Teoria económica neo-clássica|neo-clássicas]] da economia, que sustentam que os [[Agente económico|agentes económicos]] tomam decisões com base em valores [[Real e nominal em economia|reais]] em vez de nominais, defendem que esforços monetários para reduzir as taxas nominais isentas de risco não têm qualquer impacto significativo nas taxas de juro nominais cobradas pelos bancos. Um banco não faz um empréstimo a menos que possa cobrar uma taxa de juro (nominal) pelo menos igual à taxa da [[inflação]] durante o [[prazo de aplicação]]. Num ambiente em que os bancos sejam proibidos ou desencorajados por lei de cobrar taxas de juro altas nos empréstimos, terão maior relutância em fazer empréstimos, dado que fazê-lo resultaria num [[Retorno do investimento|retorno]] real do investimento baixo (e possivelmente negativo). Contrariamente à [[teoria Keynesiana]], que pretende que as armadilhas de liquidez resultam do receio, ou de uma mentalidade de açambarcamento disfarçado, por parte dos bancos, as teorias neo-clássicas argumentam que armadilhas de liquidez deste tipo não existem e que os esforços monetários para reduzir as taxas surtem pouco efeito, se algum, na quantidade de bens reais produzidos.
+
As escolas [[Teoria económica neo-clássica|neo-clássicas]] da economia, que sustentam que os [[Agente económico|agentes económicos]] tomam decisões com base em valores [[Real e nominal em economia|reais]] em vez de nominais, defendem que esforços monetários para reduzir as taxas nominais isentas de risco não têm qualquer impacto significativo nas taxas de juro nominais cobradas pelos bancos. Um banco não faz um empréstimo a menos que possa cobrar uma taxa de juro (nominal) pelo menos igual à taxa da [[inflação]] durante o [[prazo de aplicação]]. Num ambiente em que os bancos sejam proibidos ou desencorajados por lei de cobrar [[Taxa de juro|taxas de juro]] altas nos empréstimos, terão maior relutância em fazer empréstimos, dado que fazê-lo resultaria num baixo (e possivelmente negativo) [[Retorno do investimento|retorno]] real do investimento. Contrariamente à [[teoria Keynesiana]], que pretende que as armadilhas de liquidez resultam do receio, ou de uma mentalidade de açambarcamento disfarçado, por parte dos bancos, as teorias neo-clássicas argumentam que armadilhas de liquidez deste tipo não existem e que os esforços monetários para reduzir as taxas surtem pouco efeito, se algum, na quantidade de bens reais produzidos.
  
Note-se que mesmo que a taxa de inflação esperada seja zero, as taxas de juro nominais cobradas pelos empréstimos nunca cairão abaixo de zero. Taxas de juro negativas significariam que os bancos pagavam aos devedores para os financiarem. Ademais, as vantagens de liquidez de se deter dinheiro em ambientes de incerteza estabelece um patamar mínimo acima de zero na taxa de juro a que qualquer instituição estará disposta a conceder um empréstimo.
+
Note-se que mesmo que a [[taxa de inflação]] esperada seja zero, as [[Taxa de juro nominal|taxas de juro nominais]] cobradas pelos empréstimos nunca cairão abaixo de zero. Taxas de juro negativas significariam que os bancos pagavam aos devedores para os financiarem. Ademais, as vantagens de liquidez de se deter dinheiro em ambientes de incerteza estabelece um patamar mínimo acima de zero na taxa de juro a que qualquer instituição estará disposta a conceder um empréstimo.
  
 
==A armadilha de liquidez do Japão==
 
==A armadilha de liquidez do Japão==
Tem sido sugerido<ref>[http://www.bpg.pt/2005/Enquadramento%20Macroecon%C3%B3mico.pdf Enquadramento Macroeconómico 2005], Banco Português de Gestão</ref> (ver também [[política de taxas de juro zero]]) que a economia japonesa durante a década de 1990 sofreu uma situação de armadilha de liquidez. Este diagnóstico induziu um aumento dos gastos governamentais e grandes défices orçamentais como forma de remédio. O falhanço destas medidas em estimular a economia, combinado com a explosão da dívida pública japonesa, sugerem que esta [[política fiscal]] pode não ter sido adequada. (Muito dos gastos governamentais ocorreu de forma descontínuada e incluio gastos em [[infra-estrutura]]s desnecessárias). O economista americano [[Paul Krugman]] sugere que o que era necessário era um compromisso do banco central numa [[política de taxas de juro zero]] que gerasse um crescimento monetário contínuo, o que encorajaria as expectativas inflaccionárias e baixaria as taxas de juro reais esperadas, estimulando os gastos. <ref>[http://web.mit.edu/krugman/www/jpage.html Página de Paul Krugman sobre o Japão]</ref>
+
Tem sido sugerido<ref>{{link
 +
| en
 +
| 2 = http://www.bpg.pt/2005/Enquadramento%20Macroecon%C3%B3mico.pdf
 +
| 3 = Enquadramento Macroeconómico 2005
 +
}}, Banco Português de Gestão</ref> (ver também [[política de taxas de juro zero]]) que a economia japonesa durante a década de 1990 sofreu uma situação de armadilha de liquidez. Este diagnóstico induziu um aumento dos gastos governamentais e grandes défices orçamentais como forma de remédio. O falhanço destas medidas em estimular a economia, combinado com a explosão da dívida pública japonesa, sugerem que esta [[política fiscal]] pode não ter sido adequada. (Muito dos gastos governamentais ocorreu de forma descontínuada e incluiu gastos em [[infra-estrutura]]s desnecessárias). O economista americano [[Paul Krugman]] sugere que o que era necessário era um compromisso do [[banco central]] numa [[política de taxas de juro zero]] que gerasse um crescimento [[Oferta monetária|monetário]] contínuo, o que encorajaria as expectativas [[Inflação|inflaccionárias]] e baixaria as [[Taxa de juro real|taxas de juro reais]] esperadas, estimulando o consumo.<ref>{{link
 +
| en
 +
| 2 = http://web.mit.edu/krugman/www/jpage.html
 +
| 3 = Página de Paul Krugman sobre o Japão
 +
}}</ref>
  
===A Crítica Austríaca===
+
===A crítica Austríaca===
Os economistas da [[escola austríaca]] disputam a ideia de que o Japão tenha sofrido uma armadilha de liquidez, defendendo ao invés que este sofreu devido à fase de depressão de um [[ciclo económico]] gerado pela inflação monetária, que só podia ser sanado permitindo liquidar os maus investimentos realizados durante a fase de prosperidade. Os austríacos defendem que as fases de depressão são correcções necessárias às fases de prosperidade e que a expansão artificial do crédito ou outras formas de intervenção governamental só causaram o prolongamento da fase de depressão ou o atraso de um depressão ainda maior. Assim, culpam a rigorosa intervenção do governo japonês no mercado por ter causado que a fase de depressão se prolongasse durante a década.<ref>[http://www.mises.org/story/1099 Explaining Japan's Recession]</ref>
+
Os economistas da [[Escola Austríaca|escola austríaca]] disputam a ideia de que o Japão tenha sofrido uma armadilha de liquidez, defendendo ao invés que este sofreu devido à fase de depressão de um [[ciclo económico]] gerado pela [[inflação monetária]], que só podia ser sanado permitindo liquidar os maus investimentos realizados durante a fase de prosperidade. Os austríacos defendem que as fases de [[depressão]] são correcções necessárias após as fases de [[prosperidade]] e que a expansão artificial do crédito ou outras formas de intervenção governamental só causaram o prolongamento da fase de depressão ou o atraso de uma depressão ainda maior. Assim, culpam a rigorosa intervenção do governo japonês no mercado por ter causado que a fase de depressão se prolongasse durante a década.<ref>{{link
 +
| en
 +
| 2 = http://www.mises.org/story/1099
 +
| 3 = Explaining Japan's Recession
 +
}}, Ludwig von Mises Institute</ref>
  
 
=={{ver também}}==
 
=={{ver também}}==
 +
*[[ZIRP]]
 
*[[Deflação]]
 
*[[Deflação]]
 
*[[Política de taxas de juro zero]]
 
*[[Política de taxas de juro zero]]
 +
 +
===Artigos Think Finance===
 +
*[[Ben Bernanke, que pensar?]]
  
 
== Referências ==
 
== Referências ==
Linha 45: Linha 61:
 
*Mankiw, N. Gregory, "Macroeconomics" 6ª edição (2006)
 
*Mankiw, N. Gregory, "Macroeconomics" 6ª edição (2006)
 
   
 
   
[[Categoria:Macroeconomia]]
+
[[Categoria:Política monetária]][[Categoria:Macroeconomia]][[Categoria:Economia]][[Categoria:Conceitos]]
[[Categoria:Política monetária]]
+
[[Categoria:Conceitos]]
+

Edição atual desde as 10h46min de 16 de junho de 2011

<metadesc content="Uma armadilha de liquidez (liquidity trap) ocorre quando a taxa de juro nominal se aproxima de zero ou o atinge e a autoridade monetária se vê impedida de estimular a economia usando os instrumentos tradicionais da política monetária" /> <keywords content="liquidity trap, armadilha de liquidez, armadilha da liquidez, política monetária, taxa de juro, função procura, dinheiro de helicóptero, Milton Friedman, Japão, deflacção" />

Na economia monetária, uma armadilha de liquidez (liquidity trap) ocorre quando a taxa de juro nominal se aproxima de zero ou o atinge e a autoridade monetária se vê impedida de estimular a economia usando os instrumentos tradicionais da política monetária. Nestas circunstâncias, as pessoas não esperam grandes retornos dos investimentos físicos ou financeiros e mantêm os seus activos em depósitos bancários de curto prazo em vez de fazer investimentos de longo prazo. Isto torna uma recessão ainda mais severa podendo contribuir para um clima de deflação.

Em circunstâncias normais a autoridade monetária (normalmente um banco central ou ministério das finanças) pode estimular a economia reduzindo a taxa directora ou aumentando a base monetária. Qualquer das duas medidas deve aumentar os empréstimos e financiamentos, o consumo e o investimento fixo. Quando a taxa de juro relevante se aproxima de zero ou o atinge, a autoridade monetária não pode proceder a reduções adicionais nas taxas de juro para estimular a economia (dado que as taxas de juro nominais não podem descer abaixo de zero). Portanto, perde a capacidade de influenciar a economia através do canal taxa de juro.

A autoridade monetária pode aumentar a quantidade de dinheiro em circulação na economia, mas os métodos tradicionais de política monetária não injectam dinheiro novo directamente na economia. Ao invés, a nova liquidez criada tem de ser injectada na economia real através de intermediários financeiros tais como os bancos. Num ambiente em armadilha de liquidez, os bancos evitam atribuir empréstimos e a nova liquidez criada pelo banco central fica assim presa por detrás de financiadores relutantes.

A teoria da armadilha de liquidez aplica-se à política monetária em períodos de depressão não-inflaccionária. A teoria não se aplica a políticas fiscais que possam estimular a economia.

Dinâmica macroeconómica

Posto que a taxas de juro muito baixas, a inclinação da função procura de dinheiro Pr tende no limite para o infinito, quando calculamos o efeito marginal do output Y em relação a R verificamos que a inclinação tende para zero no limite:

Pr → infinito, Ry = -Py / Pr → 0

Em consequência, a política monetária (aumento da oferta de moeda) será ineficaz na estimulação da produção. A política fiscal poderá ser mais eficaz porque levará a curva IS a níveis superiores de produção.

As perspectivas dos economistas

O presidente da Reserva Federal americana, Ben Bernanke, tornou-se popularmente conhecido como "Helicopter Ben" após um discurso em 2002 no qual se assumiu um fervoroso seguidor da solução «dinheiro de helicóptero» de Friedman.<ref>Remarks by Governor Ben S. Bernanke, Federal Reserve Board, 21 Nov 2002</ref>(Direitos de imagem:  Blue Wire Studio) Milton Friedman sugeriu que uma autoridade monetária pode escapar à armadilha de liquidez evitando os intermediários financeiros e dando dinheiro directamente aos consumidores e aos negócios. Isto é conhecido como «presente em dinheiro» ou como «dinheiro de helicóptero». O termo «dinheiro de helicóptero» pretende evocar a imagem de um banqueiro central a deitar dinheiro ao povo a partir de um helicóptero. Considerações de ordem política tornam difícil a uma autoridade monetária dar o presente em dinheiro, porque os indivíduos e empresas que não recebem o dinheiro grátis exercerão pressão política. A autoridade monetária precisa agir de forma coberta para dar o presente em dinheiro a indivíduos ou empresas específicas sem que pareça estar a dá-lo. Durante a grande depressão nos Estados Unidos, a Reserva Federal ofereceu-se para comprar ouro a um preço bastante acima do preço de mercado da altura. Esta oferta foi em essência um presente em dinheiro para detentores de ouro. No Japão na década de 1980, o Banco do Japão decidiu adquirir novas emissões de acções ordinárias e obrigações de empresas como forma de dar um presente em dinheiro a empresas.

John Maynard Keynes é vulgarmente considerado o inventor da teoria da armadilha de liquidez. Do seu ponto de vista, os actores financeiros temem a possibilidade de sofrerem perdas de capital em activos não monetários e preferem deter activos líquidos monetários. Por exemplo, o receio de incumprimento nos empréstimos pode inibir as instituições de fazerem financiamentos excepto a clientes com credenciais de crédito excepcionais. Este receios são mais prováveis após uma crise financeira como a associada ao Crash de 1929. Adicionalmente, se as taxas de juro nominais estiverem extremamente baixas, não poderão senão subir. Isso implica que os preços das obrigações provavelmente cairão pouco depois, causando perdas de capital.

As escolas neo-clássicas da economia, que sustentam que os agentes económicos tomam decisões com base em valores reais em vez de nominais, defendem que esforços monetários para reduzir as taxas nominais isentas de risco não têm qualquer impacto significativo nas taxas de juro nominais cobradas pelos bancos. Um banco não faz um empréstimo a menos que possa cobrar uma taxa de juro (nominal) pelo menos igual à taxa da inflação durante o prazo de aplicação. Num ambiente em que os bancos sejam proibidos ou desencorajados por lei de cobrar taxas de juro altas nos empréstimos, terão maior relutância em fazer empréstimos, dado que fazê-lo resultaria num baixo (e possivelmente negativo) retorno real do investimento. Contrariamente à teoria Keynesiana, que pretende que as armadilhas de liquidez resultam do receio, ou de uma mentalidade de açambarcamento disfarçado, por parte dos bancos, as teorias neo-clássicas argumentam que armadilhas de liquidez deste tipo não existem e que os esforços monetários para reduzir as taxas surtem pouco efeito, se algum, na quantidade de bens reais produzidos.

Note-se que mesmo que a taxa de inflação esperada seja zero, as taxas de juro nominais cobradas pelos empréstimos nunca cairão abaixo de zero. Taxas de juro negativas significariam que os bancos pagavam aos devedores para os financiarem. Ademais, as vantagens de liquidez de se deter dinheiro em ambientes de incerteza estabelece um patamar mínimo acima de zero na taxa de juro a que qualquer instituição estará disposta a conceder um empréstimo.

A armadilha de liquidez do Japão

Tem sido sugerido<ref>Enquadramento Macroeconómico 2005 (em inglês), Banco Português de Gestão</ref> (ver também política de taxas de juro zero) que a economia japonesa durante a década de 1990 sofreu uma situação de armadilha de liquidez. Este diagnóstico induziu um aumento dos gastos governamentais e grandes défices orçamentais como forma de remédio. O falhanço destas medidas em estimular a economia, combinado com a explosão da dívida pública japonesa, sugerem que esta política fiscal pode não ter sido adequada. (Muito dos gastos governamentais ocorreu de forma descontínuada e incluiu gastos em infra-estruturas desnecessárias). O economista americano Paul Krugman sugere que o que era necessário era um compromisso do banco central numa política de taxas de juro zero que gerasse um crescimento monetário contínuo, o que encorajaria as expectativas inflaccionárias e baixaria as taxas de juro reais esperadas, estimulando o consumo.<ref>Página de Paul Krugman sobre o Japão (em inglês)</ref>

A crítica Austríaca

Os economistas da escola austríaca disputam a ideia de que o Japão tenha sofrido uma armadilha de liquidez, defendendo ao invés que este sofreu devido à fase de depressão de um ciclo económico gerado pela inflação monetária, que só podia ser sanado permitindo liquidar os maus investimentos realizados durante a fase de prosperidade. Os austríacos defendem que as fases de depressão são correcções necessárias após as fases de prosperidade e que a expansão artificial do crédito ou outras formas de intervenção governamental só causaram o prolongamento da fase de depressão ou o atraso de uma depressão ainda maior. Assim, culpam a rigorosa intervenção do governo japonês no mercado por ter causado que a fase de depressão se prolongasse durante a década.<ref>Explaining Japan's Recession (em inglês), Ludwig von Mises Institute</ref>

Ver também

Artigos Think Finance

Referências

<references />

Outras referências