Robaz, penso que o essencial já foi debatido (se deixei alguma coisa relevante por responder, diz; é porque me passou).
Já agora, como reflexão, tu inspiras-te nos nórdicos. Olhando para eles e para nós nas áreas importantes:
Eles têm saúde universal e gratuita. Nós também.
Eles têm educação gratuita. Nós também.
Eles têm apoios sociais. Nós também.
Eles gerem estradas e caminhos de ferro. Nós também.
Etc. Etc. Etc.
Até a televisão pública e apoios aos filmes eles têm. E nós também.
Então porque diabo é que eles são ricos e nós, além de pobres, estamos cada vez mais na cauda sem perspectivas de inversão ?
Podemos fazer a mesma pergunta de porque é que os noruegueses são ricos com petróleo e a Venezuela e Angola não são ?
Sim, possivelmente tem também a ver com o clima (até já ouvi teorias de que ao longo da História os nórdicos foram, considerando as condições climáticas mais adversas, fazendo uma espécie de filtro darwiniano em que só os mais fortes foram sobrevivendo, os mais inteligentes a sobreviver aquele frio todo, pelo que hoje aqueles que lá estão são descendentes desses mais fortes e inteligentes, ao contrário daqui, mais uma teoria como outra qualquer), ou com o facto de que estamos relativamente isolados da Europa, tudo tem que ir por mar ou por Espanha. Parecendo que não, esta situação geográfica tem enorme potencial atlântico, mas no contexto europeu estamos muito isolados. Veja-se a dependência em relação a Espanha na decisão da bitola para as nossas linhas ferroviárias de mercadorias. Veja-se a dependência da economia espanhola. Os países do centro da Europa têm muito mais mercado próximo (isto até mais para comparar com Eslovénia, Eslováquia, República Checa, etc). Quanto às pessoas em geral, tu encontras o santo Graal na liberalização total da economia, eu encontro fundamentalmente numa maior liberalização da economia, sem dúvida, na desburocratização, mas essencialmente numa aposta forte na Educação e no Ensino Superior, e na ligação entre a Academia e o mundo empresarial. Os doutorados não são uns académicos que nunca trabalharam na vida, como me farto de ouvir dizer. Têm conhecimento especializado que permite aumentos de produtividade, por vezes, bastante relevantes. Permite entrar em nichos de mercado em expansão. Este tipo de "cultura" é que tem que mudar, e eu até acho que está a mudar. E uma aposta no ensino superior que conduza a um aumento de licenciados, mesmo que seja em áreas em que depois não vão trabalhar exactamente no ramo que aprenderam (dou o exemplo da McKinsey, que contrata pessoas de qualquer curso superior, seja de Engenharias, seja de Medicina, seja de Economia, seja de História, etc), abre os horizontes às pessoas, ensina-as a informarem-se, ensina-as a trabalhar em equipa, dá-lhes ferramentas para mesmo trabalhando noutra área depois do curso, terem espírito crítico e mecanismos de raciocínio e pensamento mais evoluídos, e isso ajuda o país, não apenas essa pessoa. Recomendo que ouçam um podcast do Daniel Oliveira com Gonçalo Leite Velho sobre isto (sem preconceitos em relação ao autor do podcast, sff).
E depois há aquilo que referi atrás, e nisso eu culpo bastante o PCP e a esquerda em geral. Parece que gostamos de ser um país de PMEs. Falta-nos empresas grandes, fortes, com dimensão internacional, menos dependentes de favorzinhos das câmaras municipais ou de secretários de Estado. O nosso mercado tem que ser o Mundo, e isso também reduz a corrupção. Mas para isso é preciso dimensão. E se calhar, em vez de no mesmo bairro haverem 5 empresas a fazer o mesmo em concorrência entre si, podiam unir-se e criar um aglomerado maior que fizesse concorrência com outras empresas grandes a nível internacional. Outra coisa que eu acho que seria benéfica era olhar a Bolsa com outros olhos, como uma fonte natural de capitalização, de forma a fugir da banca. Enfim, há muita coisa que podia melhorar, sem acabar com o Estado Social.