Teoria da reflexividade

Da Thinkfn

A Teoria da reflexividade, de George Soros, postula que em determinadas situações, quando os mercados se afastam do equilíbrio gera-se um desequilíbrio dinâmico que se reforça a si próprio, e que não pode ser explicado pelas teorias sociais/económicas convencionais, pois o desequilíbrio que se produz nessas situações altera a própria realidade em análise.

Basicamente, George Soros diz que há situações em que um desequilíbrio temporário do mercado face aos seus fundamentais leva a que os actores desse mercado tomem decisões que elas próprias alteram os fundamentais do mercado e perpetuam/acentuam o desequilíbrio. Ou seja, nessas situações a ciência económica, que procura explicar os factos através de uma relação causa-efeito falha, porque a própria causa é alterada pelos efeitos num esquema de feedback.

Exemplos da teoria da reflexividade em funcionamento

A teoria compreende-se melhor usando exemplos. Assim, na bolha TMT as acções tecnológicas começaram a disparar. Normalmente a visão clássica do mercado esperaria que a sobrevalorização inicial destas acções fosse corrigida numa reversão à média, já que a procura de bens tecnológicos deveria seguir uma trajectória relativamente linear. Acontece que a subida das acções tecnológicas fez com que existisse uma explosão de criação de empresas tecnológicas com vista a cotarem em bolsa, e essa explosão gerou procura para bens tecnológicos (routers, comunicações, serviços, programação, etc) que de outra forma não teria existido, dando um aspecto exponencial à curva de procura de bens tecnológicos, e levando a que o mercado ficasse AINDA mais sobrevalorizado – o que por sua vez atraiu ainda mais recursos para as empresas tecnológicas, aumentando ainda mais a procura, num ciclo vicioso que só terminou com a explosão da bolha. Ou seja, a sobrevalorização inicial ALTEROU a procura tecnológica substancialmente para cima.

Este é um tema recorrente nos mercados. Um desvio face ao equilíbrio pode depois alterar o próprio equilíbrio. Outro exemplo dá-se durante uma crise de liquidez, como a de 2002. Nesses casos, as empresas endividadas começam a cair por uma qualquer razão (nas produtoras eléctricas independentes, IPPs, foi a Enron), ora, ao caírem os bancos, que vêem a sua capitalização bolsista como uma potencial forma de financiamento, vêem a capacidade de endividamento dessas empresas diminuir, logo cortam-lhes o crédito. E as suas acções perante este corte de crédito caem ainda mais pois se tem dívida e não a consegue refinanciar, aparece o espectro da falência. E perante o espectro da falência e a queda constante dessas empresas, ENTÃO é que nenhum banco quer mesmo emprestar dinheiro pelo que elas caem ainda mais, e por aí em diante, até ao ponto em que as empresas transaccionam a preços estúpidos (tipo RRI com um PER de 1 em 2002) ou vão mesmo à falência. Mais uma vez, o que despoleta tudo é o desequilíbrio/queda inicial, que depois altera os fundamentais dessas empresas.

Conclusão

Soros tenta perante uma tendência emergente identificar se nela se encerra esta capacidade de se auto-alimentar. Além disso o facto de este tipo de ciclo vicioso ser relativamente comum, faz com que o comportamento de “seguir as tendências” (trend following) faça muitas vezes sentido MESMO que elas não estejam de acordo com os fundamentais. Isto porque se estivermos perante uma situação que se enquadre nesta “reflexividade”, o que acontece é que a própria tendência ALTERARÁ os fundamentais a seu favor.


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