Uma coisa no debate da desigualdade que nunca aparece, é que nunca ninguém comenta a brutal diferença que existe entre alguém que cria um negócio que serve milhões ou um bilião de outras pessoas de alguma forma, versus alguém que nem sequer a si próprio se consegue servir e necessita de apoios para se alimentar, vestir, viver sem ser um marginal...
Ou mesmo a diferença entre alguém que colabora no primeiro projecto (sem ser o seu fundador), versus alguém que está na segunda situação. A produção deste trabalhador para os outros é infinitamente superior à do segundo indivíduo, porque o segundo tem um rendimento negativo (ou zero, se quisermos ser simpáticos). E mesmo acima desse patamar, ainda existirão diferenças de 10x, 100x, 1000x, 10000x entre umas ocupações e outras (já remuneradas).
Essa glorificação individual é uma repetição dos livros de história ou poemas épicos que atribuem ao rei ou ao general todo o mérito nas vitórias militares, não tem nenhum cabimento.
Se não tivesse existido o Sam Walton o Wal Mart não existiria, mas o panorama do comércio a retalho seria idêntico (possivelemnete com empresas mais pequanas), se não tivesse existido o Steve Jobs ou Bill Gates aí talvez tivesse exitido um atraso de meia duzia de anos (no maximo) mas revolução da informática pessoal teria existido à mesma.
Não tens que glorificar nada, eu dei dois exemplos, um podia ser os fundadores e até os podes desvalorizar. Mas o segundo era um trabalhador e o problema mantinha-se ... não há como não existir uma desigualdade assustadora entre quem não só não consegue produzir para os outros como até necessita de apoio líquido dos outros (fora quem está em condições físicas para o necessitar mesmo), e alguém que produz tal valor para os outros que lhes pagam as centenas de milhar ou milhões de dólares voluntariamente porque o valor produzido excede isso.
Essas diferenças (10x, 100x, 1000x, 10000x) é que não fazem sentido. Já aqui referi (na verdade ouvi do F. Sarsfiled Cabral), que o JP Morgan, que não ficou na história como sendo o amparo e grande protector dos pobres (mas sim como um robber baron), achava que para haver paz social, numa empresa o racio entre o salario mais alto e mais baixo não deveria exceder 13 (provavelmente ganhar num me o que mais baixo ganhava num ano com mes de bonus). Com decorrer do tempo esse racio em vez de ser maximo passou a ser media, com o P. Drucker passou para 30 e agora realmente temos valores de 1000, 10000. Isso não tem justificação nenhuma como foi visto na PT, como foi visto no BES, como se comprovaria facilmente na EDP substituindo Catroga a ganhar 600.000 por ano por um trabalhador qq nem 0,1% de variação de lucros existiria.
Ja referi esses dados do Sarsfiled Cabral mais que uma vez, mas é coisa que nunca ninguém se lembra
A realidade tem-se alterado bastante desde JP Morgan. Na altura era difícil uma só pessoa fazer diferença para centenas de milhar ou milhões.
Isso, com a tecnologia, está cada vez mais a acontecer. O resultado é que o trabalho das pessoas nessas posições ganha um valor imenso.
Ao passo que no ponto mais baixo da escala de produção/rendimento, este é 0 em ambas as situações. E mesmo não sendo 0 devido a apoios, os apoios não têm forma de acompanhar os rendimentos dos elementos mais produtivos e valiosos -- se o fizesse destruiriam a sociedade pois ultrapassariam o rendimento de muitos trabalhadores menos valiosos.
Isto é uma mecânica impossível de evitar. Mais ainda, a mim parece-me que cada vez mais o desenvolvimento e o nível de vida vão estar dependentes de cada vez menos pessoas, pois existem tarefas e conhecimentos que são necessários e estão ao alcance de cada vez menos pessoas devido à capacidade intelectual e talento que exigem. Resulta daí que essas poucas pessoas depois criam actividades que sustentam o trabalho de muitas.
Não estou a falar de fundadores ou administradores. Estou a falar de trabalhadores.