Robaz, há uma clara diferença entre ser liberal de costumes e liberal em termos económicos. Daquilo que tens escrito parece-me que és razoavelmente liberal a nível de costumes, mas extremamente colectivista a nível económico. Se queremos usar a giria politica portuguesa, eu diria que estás alinhado com a ala esquerda do PS, quase a saltar para o bloco de esquerda nalgumas matérias. Liberal podes ser em costumes mas não és, de todo, em matéria económica.
E para que não aches que isto é um ataque vou só citar de cabeça três exemplos que me lembro:
1. Quando se falou em providenciar habitação social (já de si algo razoavelmente contrário ao liberalismo), foste mais longe e disseste que não bastava dar casas na Damaia porque isso era criar guetos. Tínhamos de misturar as pessoas, nem que para isso tivéssemos de dar casas em bairros nobres, junto de pessoas que as tiveram/têm de pagar.
2. Já defendeste que o estado devia ter um conjunto de individuos "especialistas", assente em "estudos" que determinassem o que é importante para a economia (penso que a discussão estava relacionada com os numeros clausus dos cursos superiores)
3. Recusas o empréstimo para curso superior, antes preferindo que este seja subsidiado, seja sob a forma de bolsas compulsivas, seja sob a forma de baixas propinas.
Não entendas isto como um ataque pessoal ou crítica às propostas. Não é. Nem as vou discutir novamente.
Queria apenas mostrar o porquê de ser evidente que não és um liberal.
Eu, extremamente colectivista a nível económico? Ok, adoro os mercados financeiros e de participar neles, mas poderia encaixar-me no Bloco de Esquerda.
Bem, mas vamos lá por pontos.
Ponto 1 - Primeiro não concordo que se ofereçam casas, em lado nenhum. Concordo que possa haver ajudas, talvez até de foro fiscal para os que ganhem menos, e de forma diferente, a câmara pode construir bairros sociais, e pode fazê-lo e a meu ver deve, em terrenos seus espalhados por toda a cidade e não apenas num certo local longe de tudo, em forma de gueto. E essas casas seriam vendidas a preço de custo, não oferecidas. Detalhes, claro, seriam discutíveis.
Ponto 2 - Ora bem, adoro como enfeitas a coisa em forma de "equipa secreta de agentes do governo". Não é nada disso, nem precisam de ser pessoas do partido do governo, nem precisa sequer de estar associado ao governo x ou y. Seria, por exemplo, um orgão independente (tira como exemplo o conselho de finanças públicas), constituído por membros da sociedade civil tanto da indústria como da academia ou da cultura, e que poderiam repensar uma estratégia que funcionasse melhor a nível de ensino superior, que combatesse o desaparecimento de uns cursos ou o exagero de vagas noutros, que ocorrem muitas vezes por ilusões do mundo económico do instante, e que evitasse por exemplo o que aconteceu com a minha geração de engenheiros civis, em que como havia obras por todo o lado, todas as universidades e politécnicos abriram cursos de engenharia civil e foi uma inundação de engenheiros passados uns anos e quando chegou a crise e tudo ruiu a maioria ou saiu da área ou emigrou, muitas vezes os melhores, e foram contribuir para a economia ou desenvolvimento de outro país em vez de daquele que o formou. E o mercado manteve-se inundado. MAs adiante, seria algo do género, que sinceramente não compreendo como é que é visto como "extremamente colectivista".
Ponto 3 - Hmm, discordo. Já não me recordo da nossa conversa, mas acho que não recusei exactamente os empréstimos, até porque mesmo com estas propinas eles deviam existir. E ainda bem que se fala nisto, pois eu sou contra o PS e o Marcelo nisto de acabar com propinas para todos. Acho que mais uma vez devia-se investir antes na construção de residÊncias universitárias a serio, que tivessem capacidade a sério e que os estudantes não tivessem que pagar 500€ por um cubículo para viver e estudar em Lisboa. Mais uma vez, as residências não seriam de borla, mas seriam a preço "de custo" digamos assim. Apenas teria que haver financiamento inicial da coisa. Poderia haver e isso sim, defendo, bolsas sociais e de mérito que ajudassem os mais necessitados a estudar com condições.
Por fim, no meu conceito de liberdade, essa existe por si só na natureza, pois há a lei do mais forte. Ou lei da selva. E é para diminuir esta questão que defendo um Estado Social inclusivo, que permita que ninguém morra por não ter dinheiro para se tratar, e que permita que ninguém deixa de estudar por não ter dinheiro para isso (ou os pais não terem), e que permita que ninguém é aldrabado ou roubado e não possa reclamar na justiça por não ter dinheiro para advogados e custas de tribunais. Isto são tudo questões que retiram liberdade real aos cidadãos, ao contrário do que defendem os neo-liberais, que são contra a presença do Estado em todas estas questões e muitas outras. Por isso, sim, defendo que a economia em geral deve estar fora do âmbito do Estado, mas que deve haver um Estado Social presente a garantia condições de igualdade de oportunidade a todos por igual, deve fazer cumprir a lei (concordo claro), e para o financiar devem ser cobrados o mínimo de impostos necessários. Se isto é ser "extremamente colectivista", tá bem... Eu coloco-me mais ali entre o liberal e o social-democrata, no gráfico que o D. Antunes partilhou.