A verdade neste caso é uma coisa relativa. Não há certeza sobre o futuro e toda a gente acredita que não é necessário cortar seja o que for. Qual é a verdade e qual é a mentira? Se alguém disser que não é preciso cortar e estiver errado, mentiu ou disse a verdade?
Se não há certezas sobre o futuro, não se promete. Parece-me um princípio não só SIMPLES, mas também natural para quem não é aldrabão. Já para quem o faz compulsivamente, a naturalidade é não se preocupar com a ética, o que importa é atingir os objectivos.
Se alguém disser que não é preciso cortar e estiver errado, mentiu. Ou mentiu propositadamente (sabendo que estava errado), ou mentiu por não estar informado e levar as pessoas a pensar que estava (que também foi o caso do Passos---está documentado).
E se o Passos mentiu, também mentiram todos os outros. Porque ninguém disse que era necessário cortar -- pelo contrário.
Mentiram todos, não contraponho, e é por isso que não confio em nenhum político (mentiram e continuam a mentir com a maior das naturalidades). Mas as promessas eleitorais manipulatórias fazem-me mais confusão do que o silêncio sobre determinado tema, porque puxam os eleitores a voto enganando-os. O silêncio sobre determinada matéria não provoca nada---quanto muito provoca curiosidade e incerteza.
Em todo o caso eu até acho que o Passos SABIA que era necessário cortar. E que mentiu ao dizer que não era. Mas igualmente, eu sei que na altura cortar era uma inevitabilidade, e que NINGUÉM que dissesse a verdade iria ser eleito, mas qualquer um que fosse eleito, o iria fazer.
Tenho grandes dúvidas sobre isto. Alguém que explicasse ao país o que aí vinha, sem ocultar factos e sem fazer promessas, podia ter uma capitalização do voto por conta do factor honestidade. Mas não sei. Aqui, também, é uma questão de opinião. Por essa altura, e depois de 3 PECs, já ninguém levava o Sócrates a sério, pelas mesmas razões. Eu sei o que eu preferiria ter ouvido, e não eram mentiras com toda a certeza.
Alguém gosta de ouvir mentiras? A sério! Então e se as mentiras foram proferidas pelas pessoas em quem depositámos a confiança para serem os nossos representantes?
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Sobre ser menos desonesto ou ser mais honesto, são tudo graus de honestidade.
Sim, sem dúvida, e a importância que damos a esse aspecto é uma coisa subjectiva. No meu caso, e como já deixei explícito, a palavra é essencial para a credibilidade de um político. Uma vez em falta, e nunca mais confio nele. Na prática, eu voto sempre nas soluções que me parecem menos más, já não consigo acreditar em ninguém, e fico abismado com a naturalidade social/geral com que se ignoram as mentiras, de tal forma já estão "instaladas no sistema".
Ainda assim digo que o Passos é aparentemente mais honesto que os outros. Até o Cavaco que se diz ser tão sério, parece substancialmente menos honesto, com ganhos para ele e para a filha na fraude BPN, coisas dúbias com uma casa, etc. No PS é sempre escolher entre malandros e grandes malandros. O Costa ainda nem sequer é PM e já tem episódios altamente dúbios com a casa.
E repara, isto não são coisas comparáveis a sacar dinheiro à CEE. Qualquer pessoa que estivesse atenta terá visto na altura que TODOS os envolvidos sacaram dinheiro à CEE. Quem organizou os cursos, os formadores E os formandos. E todos os que não sacaram dinheiro á CEE, não o fizeram apenas por falta de oportunidade. Na altura a coisa simplesmente nem era uma consideração ética.
Sem comentários.