No panorama político actual isso é verdade, mas nada garante que se mantenha assim. Imagina um Trump de repente aterrar na casa branca. Ou um sucessor do Putin com um pouco menos de discernimento. A questão é que os políticos, as políticas, os contextos e as vontades mudam, tudo isso se altera com um sopro de vento, mas o arsenal nuclear mantém-se.
E historicamente, não podemos esquecer, os States usaram a bomba de uma forma vergonhosamente desumana - sem ligarem peva às populações civis que não tinham culpa nenhuma dos os interesses políticos e miopia do seu governante, e numa altura em que o rumo guerra não exigia essa escolha.
Não me parece que os EUA tenham usado a bomba de forma desumana. A alternativa era morrerem 1 milhão de americanos (estimado) a invadir o Japão, ao passo que as bombas que terminaram a guerra instantaneamente provocaram <250,000 vítimas Japonesas (contando tanto os mortos directos como os indirectos, mais tarde) -- aliás, numa invasão até morreriam muito mais Japoneses que isso, para lá dos Americanos -- basta olhar para as perdas militares (nem digo civis) na Europa nos dois últimos anos do conflito.
Além disso os bombardeamentos durante a 2ªGG tinham frequentemente como alvos populações civis, seja qual for o lado envolvido. Os bombardeamentos sobre a Alemanha alisaram cidades inteiras.
Resumindo, a ideia de que usar as bombas foi uma coisa desumana choca poderosamente com os factos conhecidos.
Parece-me que estamos a falar de coisas diferentes, pelo menos sob a perspectiva de que estás a utilizar justificações e argumentos para rebater factos que eu nem sequer pretendo contrariar.
Eu não teria tido nada contra o uso da bomba se tivesse sido utilizada sem ser sobre cidades em que a esmagadora maioria da população era civil. Inocentes, colocando as coisas como elas são.
É isto que me incomoda.
Incomoda-me ainda mais que tenham repetido o uso numa segunda cidade com estas características. É mau de mais para acreditar num primeiro caso, quanto mais um segundo logo de seguida.
Não há nada que justifique esse horror - nem a ideia de que foi o "Japão" que cobardemente atacou primeiro em Pearl Harbour. A população civil japonesa não podia ter sido usada como alvo para uma demonstração de poder nuclear, nem para uma retaliação pelo ataque de Pearl Harbour.
A alternativa não é essa que apontas.
Nem eu sugiro como alternativa a ideia de não usar a bomba. A alternativa era usar a bomba num complexo militar, ou industrial, ou numa zona que não implicasse a mortes de centenas de milhares de inocentes. Duas ou três bombas em locais desses serviriam de exemplo para forçar o Japão a capitular. Seria o suficientes. Se não resultasse, então que se fizesse essa contabilidade: quantos soldados americanos vão sobreviver se matarmos 100.000 civis em Hiroshima.
Entendem por que é que eu acho que o sucedido configura uma das maiores vergonhas da humanidade enquanto entidade consciente que toma uma decisão deliberada?
Além disso os bombardeamentos durante a 2ªGG tinham frequentemente como alvos populações civis, seja qual for o lado envolvido. Os bombardeamentos sobre a Alemanha alisaram cidades inteiras.
Sim, é verdade. Diz-se que o bombardeamento de Dresden provocou mais mortos do que a bomba sobre Hiroshima, embora estes dados sejam disputados. Mas uma coisa não serve para limpar moralmente a outra. Nem esses bombardeamentos sobre a Alemanha em concreto são do meu ponto de vista justificáveis. Na altura dessas decisões, segundo li, houve uma grande controvérsia, e as decisões não foram tomadas nem com unanimidade, nem de ânimo leve.