O GDP per capita como medida da prosperidade dos irlandeses é uma medida distorcida.
Mercê da sua baixa taxa de IRC e da relação estreita com americanos de ascendência irlandesa, muitas multinacionais com fatia de leão para as americanas criram estruturas de modo que uma parte muito significativa dos lucros seja registada na Irlanda pagando taxa de 12,5%. Em muitos casos esses lucros enormes pouco tem a ver com actividades de produção dentro da Irlanda. Isso fica especialmente verdade para empresas de alta tecnologia onde os bens intangíveis (patentes etc) tem um peso extremamente importante.
Podemos olhar isso numa microescala. Se um de nós tiver uma ideia brilhante que resulte numa patente revolucionária, pode criar uma empresa na Irlanda e registar a patente com essa empresa sendo o detentor. A empresa na Irlanda fica então com um único ativo que é essa patente, e pode gerar lucros licenciando-a e recebendo as royalties sem que haja qualquer actividade produtiva na Irlanda. Por exemplo sem sair fora de casosndividuais fáceis de entender, se tivermos outra empresa (ou filial da irlandesa) sediada em Portugal que desenvolva e venda produtos ou serviços baseados nessa patente, o valor das royalties cobradas pela empresa irlandesa podem ser calculados de modo que os lucros da empresa portuguesa sejam 0. Assim a empresa com um todo paga IRC de 12,5% ao passo que com tudo localizado em Portugal pagaria 21%. Os lucros líquidos aumentam em cerca de 10%. Do ponto de vista da Irlanda os lucros são totalmente contados no GDP, mas o que vai acontecer é que no caso extremo 87,5% dos lucros se tudo for distribuido aos accionistas vão ser repatriados, cobrando a Irlanda ainda alguma taxa sobre IRS, o que somando aos 12,5% significa que apenas 20-30% dos lucros ficam na Irlanda embora a totalidade tenha sido contabilizada no GDP.
Essa distorção que o uso do GDP causa nos dados sa Irlanda já os levou a adotar para efeitos de politica económica o GNP (acho que chamam GNI modificado) que contabiliza as transferências (nos dados da OCDE continua a ser o GDP).
Na maior parte das economias o racio GNP/GDP anda próximo dos 100% (dividendos que entram / saem mais ou menos equilibrados), mas no caso da Irlanda parece que anda pelos 80%. Olhando para estatisticas mais comuns nós podemos achar que irlandeses são 20% mais ricos do que aquilo que é a própria percepção deles.
Com essa correcção a Irlanda continua na parte superior da UE mas não significativamente acima da média.