Não, não é. O que o Keynes queria dizer é que uma pessoa a pensar no seu auto-interesse não irá em média pensar no interesse dos outros.
Mas isso é falso devido a um pormenor. Quando pensas no teu auto-interesse sob um regime capitalista, tens INTRINSECAMENTE que pensar no interesse dos outros. Porquê? Porque é entregando produtos e serviços que os OUTROS querem a um preço que os outros ACEITEM que conseguirás o rendimento para depois ir obter deles os produtos e serviços que TU queres. Isto de resto é óbvio.
Ou seja, tens a esmagadora maioria dos capitalistas a pensarem, intrinsicamente, o que é que podem fazer pelos outros para terem maior sucesso comercial junto deles. O que de resto é exactamente o que vemos no dia a dia (com excepções, mas essas são isso mesmo, excepções, que existem em qq sistema, tal como existem criminosos em qualquer sistema).
Capitalism is the astounding belief that the most wickedest of men will do the most wickedest of things for the greatest good of everyone.
Adicionalmente, podia ser uma frase mais brilhante. Descaracteriza o capitalismo porque:
* O wickedest of men existe seja qual for o sistema;
* No capitalismo a funcionar correctamente, esse só pode obter dos outros se os outros transaccionarem com ele voluntariamente -- pelo que se presume que entrega e obtém dos outros igual valor. Aliás, na óptica do vendedor e do comprador cada um até obtém >= valor do que entrega simplesmente de outra forma não faria a transacção;
* Num sistema colectivista, não existe essa reciprocidade. O wickedest of men fica na posição de tentar criar um "bom motivo" para ser favorecido face à posição neutra;
* Em ambos os sistemas o wickedest of men pode optar pelo crime. No capitalista pode fazê-lo mas em muitos casos perderá a clientela devido ao efeito sobre a sua reputação. No colectivista, a reputação não é tão importante porque as pessoas são obrigadas a transaccionar com a entidade central estejam ou não satisfeitas.
Portanto, a frase acaba por caracterizar mal as alternativas. Porque como em tudo não é um caso de ser bom ou mau, e sim um caso de ser melhor ou pior. Necessariamente, num sistema colectivista o pior pode ser muito pior do que o atingido num capitalista, também. O que a história, de resto, verifica -- com os crimes humanitários de nazis, comunistas, etc. Crimes a que o capitalismo, por muitos supostos crimes que tenha cometido, nunca chegou perto.