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Autor Tópico: Educação - Tópico principal  (Lida 378841 vezes)

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2340 em: 2019-11-07 22:31:04 »
Não é só por ser privada que uma escola se torna boa. No Algarve há algumas escolas privadas e têm resultados medianos.

A secundária do meu concelho é, desde há muito, a que tem melhores resultados na região. Mas as escolas de ciclos anteriores (até ao 9.º ano) eram dos pontos negros de chumbos em todo o país.

Há uns dois anos estava a ser criada a associação de pais do agrupamento e eu até me envolvi inicialmente nesse processo, devido principalmente a essa situação e pelo insuficiente apoio dado às crianças com dificuldades. Esses grupos de pais, esmagadoramente, só se interessavam pela recuperação das casas de banho numa das escolas primárias, que estavam mesmo em muito mau estado. Tiveram duas, três reuniões com o executivo camarário e por muitas vezes que eu referisse esse problema, o único assunto tratado era sempre a questão das casas de banho dessa escola. Acabei por me afastar desse processo.

Da minha experiência, as escolas privadas ainda são piores a lidar com as crianças com dificuldades. Desde não conseguirem diagnosticar dislexia, a colocar as crianças a fazer desenhos em vez de ensinar, até convidar as crianças a sair da escola porque não atinge as notas que eles querem.

Em todo o caso, acho que tinha ficado claro que o objectivo não é só passar as crianças. O objectivo principal é que elas aprendam. E é a escola que tem que se adaptar à capacidade de aprendizagem das crianças e não o contrário.
Uma escola que não ensina os alunos, não está lá a fazer nada.
“Our values are human rights, democracy and the rule of law, to which I see no alternative. This is why I am opposed to any ideology or any political movement that negates these values or which treads upon them once it has assumed power. In this regard there is no difference between Nazism, Fascism or Communism..”
Urmas Reinsalu

pedras11

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2341 em: 2019-11-08 00:09:32 »
O problema das escolas públicas muitas vezes são as condições que proporcionam aos alunos, bem abaixo do privado, porque a nível de aprendizagem não ficam atrás das privadas.

Podia contar umas histórias engraçadas sobre as notas altas em determinados colégios privados, mas prefiro não o fazer  :D

A meu filho anda numa privada, em pré escolar ainda.

Automek

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2342 em: 2019-11-08 06:56:56 »
Podia contar umas histórias engraçadas sobre as notas altas em determinados colégios privados, mas prefiro não o fazer  :D
Isso acontece tanto em públicas e privadas e já existem stats que comparam os desvios da nota interna de cada escola vs exame nacional (igual para todos). Só se deixam enganar os pais que querem (ou então sabem que aumentam a probabilidade do filho entrar para a faculdade e compram esse aumento de probabilidade o que, mais uma vez, beneficia quem tem dinheiro, uma vez que o pobre não tem liberdade de escolha).

Para evitar esquemas destes é que a Nova SBE dá um peso de 50% ao exame de matemática que é igual para todos. Dilui em 50% as habilidades e esquemas das notas internas inflacionadas. Penso que é das poucas que faz isso.

JoaoAP

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2343 em: 2019-11-08 22:22:43 »
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Em todo o caso, acho que tinha ficado claro que o objectivo não é só passar as crianças. O objectivo principal é que elas aprendam. E é a escola que tem que se adaptar à capacidade de aprendizagem das crianças e não o contrário.
Uma escola que não ensina os alunos, não está lá a fazer nada.
Claro.
O que eu coloco em causa é que, infelizmente, na maioria dos casos não vai ser possível a sua implementação.

Estes de planos de recuperação (se forem parecidos), que eu saiba, já existiram no passado, e eu pergunto à Smog (mas o caso dela pode ter sido diferente) qual foi o resultado. Se bem me lembro devem ter começado em 1998. Quem tivesse mais de 3 negativas ou algo parecido... havia um plano, que na prática, os profs para o não andarem a fazer inflacionavam as notas, tanta era a burocracia e tempo que tinha de dar a mais.
Esperemos, como disse, que agora seja diferente. Eu tenho muitas dúvidas do que vai acontecer, mas para aqueles alunos cujos pais não têm dinheiro , estes alunos vão ser ainda ser piores.
Para mim, na globalidade, se não houver um investimento efetico, é chover no molhado. É um soundbyte qee fica bem ao governo.

Em relação aos privados, sim. há alguns maus... mas a seleção aqui é muito fácil de fazer. Onde vivo, essas privadas... viraram escoolas profissionais... as boas todos sabem onde existem.
Ui... notas inflacionadas, como disse o Mek, ... e nem dou mais exemplos, é ver as escolas públicas... e privadas.. e o que eu pensava está correto:
vê a tabela.
https://www.publico.pt/2018/02/03/sociedade/analise/inflacao-de-notas-para-alem-das-medias-1801548


Quanto a detetar dificuldades,  aqui tens razão. Aliás as públicas, os agrupamentos, deveriam ter profs especializados neste assunto. Sei que no passado existiam.

Smog

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2344 em: 2019-11-10 00:43:07 »
Citar
Em todo o caso, acho que tinha ficado claro que o objectivo não é só passar as crianças. O objectivo principal é que elas aprendam. E é a escola que tem que se adaptar à capacidade de aprendizagem das crianças e não o contrário.
Uma escola que não ensina os alunos, não está lá a fazer nada.
Claro.
O que eu coloco em causa é que, infelizmente, na maioria dos casos não vai ser possível a sua implementação.

Estes de planos de recuperação (se forem parecidos), que eu saiba, já existiram no passado, e eu pergunto à Smog (mas o caso dela pode ter sido diferente) qual foi o resultado. Se bem me lembro devem ter começado em 1998. Quem tivesse mais de 3 negativas ou algo parecido... havia um plano, que na prática, os profs para o não andarem a fazer inflacionavam as notas, tanta era a burocracia e tempo que tinha de dar a mais.
Esperemos, como disse, que agora seja diferente. Eu tenho muitas dúvidas do que vai acontecer, mas para aqueles alunos cujos pais não têm dinheiro , estes alunos vão ser ainda ser piores.
Para mim, na globalidade, se não houver um investimento efetico, é chover no molhado. É um soundbyte qee fica bem ao governo.

Em relação aos privados, sim. há alguns maus... mas a seleção aqui é muito fácil de fazer. Onde vivo, essas privadas... viraram escoolas profissionais... as boas todos sabem onde existem.
Ui... notas inflacionadas, como disse o Mek, ... e nem dou mais exemplos, é ver as escolas públicas... e privadas.. e o que eu pensava está correto:
vê a tabela.
https://www.publico.pt/2018/02/03/sociedade/analise/inflacao-de-notas-para-alem-das-medias-1801548


Quanto a detetar dificuldades,  aqui tens razão. Aliás as públicas, os agrupamentos, deveriam ter profs especializados neste assunto. Sei que no passado existiam.

a tabela que apresentam é tendenciosa. nos privados do topo a seleção é feita pelas notas e nem que tenhas milhoes te deixam la colocar o menino... cuidado com as falacias.

as medidas para recuperar alunos com insucesso sejam ela quais forem podem ficar só no papel ou ser efetivamente aplicadas. penso que globalmente tiveram o dom de obrigar os professores do publico a focarem e preocuparem-se com o insucesso ao ponto de até nos esquecermos dos bons alunos ( infelizmente, que sao esses que nos enchem a alma).
No geral houve e continua a haver preocupação real em entender e ajudar quem tem dificuldades. os baldas e indisciplinados controlam-se sobretudo pelo chumbo. fazer desaparecer essa figura vai potenciar a indisciplina e a balda. os pais deviam ficar preocupados pois, se por um lado, os filhos deles que sao bem educados mas tem dificuldades, deixam de chumbar, por outro, ao apoiarem esta medida estão a autorizar o caos dentro da sala o que vai eliminar qualquer pretensao de aprendizagem a quem está de boa fé.
pensem no chumbo como um instrumento do professor para manter ordem e poder exigir trabalho de todos.
ha demasiadas hormonas á solta, sobretudo na adolescencia- 3º ciclo.
wild and free

JoaoAP

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2345 em: 2019-11-12 11:23:54 »
Vale a pena ler:

Apesar de ser um relato de uma escola especial, é muito parecida do que sei e ouço em escolas "normais".
http://visao.sapo.pt/opiniao/bolsa-de-especialistas/2019-11-11-Testemunho-de-uma-professora-O-rei-vai-nu
....
"Se os políticos e as políticas de educação continuarem a ignorar esta situação, preparemo-nos para o descalabro que se avizinha."
Para mim... ela já existe há alguns anos.
Realço a questão do básico... anos problemáticos!!! Tanto para os pais como profs....

Existe depois um comentário de um professor, do ano, que tenta ser o herói - e o é em certa medida. Acredito que o seja, mas trata-se da excepção à regra.

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2346 em: 2019-11-13 16:27:10 »
Para os casos mais complicados o chumbo não impede o miúdo de fazer asneiras. Muitas vezes ele até o deseja e faz tudo para ir para a rua ou chumbar por faltas.
Depois existem outras implicações, como:
Lisboa e Algarve têm as maiores taxas de chumbo e abandono escolar do país
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/13-nov-2019/lisboa-e-algarve-tem-as-maiores-taxas-de-chumbo-e-abandono-escolar-do-pais-11506312.html?target=conteudo_fechado

O abandono precoce potencia situações de marginalidade.
Os baldas e os indisciplinados têm, para mim, que ser encaminhados para o ensino profissionalizante. Menos complicado em termos de estudo (e assim torna-se mais aliciante para os alunos com dificuldades) e mais prático.
Há sempre um número que miúdos que, mesmo com essa possibilidade, não a aproveitam e tornam-se marginais. Mas não se consegue salvar todos... Há uns que se inscrevem na escola só para poderem traficar droga.

Em termos de apoio ao aluno, no segundo ciclo, senti pouco apoio. Estava mal habituado, pois no primeiro ciclo existia uma grande ligação entre professora/pais/terapeuta. No segundo ciclo, parecia que a directora de turma sabia da sua disciplina e pouco das outras. Vou agora para o terceiro ciclo, mas como ainda não tive qualquer reunião com o DT, não tenho opinião formada.
“Our values are human rights, democracy and the rule of law, to which I see no alternative. This is why I am opposed to any ideology or any political movement that negates these values or which treads upon them once it has assumed power. In this regard there is no difference between Nazism, Fascism or Communism..”
Urmas Reinsalu

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2347 em: 2019-11-14 07:22:25 »
Muito bom...

O Governo não quer que os putos chumbem até ao nono ano...
Acho mal! Já imaginaram? O Facebook cheio de malta ignorante que comenta noticias sem ler e a escrever tudo com erros ortográficos... É esse mundo que querem?!?!
By Arauto da Dizgraça
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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2348 em: 2019-11-14 07:41:02 »
Local, já te ocorreu que há alunos que, por muito que os professores se esforcem ou que a escola tente ajudar, eles simplesmente não aprendem (seja porque não têm capacidade, seja porque não querem ser ajudados) ?

Que sentido faz, e que efeito pode ter numa turma, um aluno que está a ouvir falar de matéria de 9º ano, sem fazer ideia, sequer, do que devia saber do 5º, 6º, 7º, .... ?
Obrigá-lo a estar ali a ouvir coisas de que não entende - porque é obrigatório - é uma disrupção para a aula, para os professores e uma brutal tortura para o aluno.

A tua sugestão do ensino profissionalizante só se aplica ao 9º ano, não é ? (pelo menos no meu tempo era só ao 10º ano)
Então e até lá deixamos um aluno a frequentar as aulas durante cinco anos, sem perceber nada do que ali se passa ? Se chumbar parece desumano, isto ainda parece pior.

Eu o que critico é a total proibição. Repara que, como tu próprio disseste, hoje os chumbos já são residuais. Então porquê proibir de todo ? Ter a liberdade de reter o aluno (mas utilizar essa possibilidade com muita parcimónia e com o critério dos professores) parece sempre uma opção superior do que proibir totalmente.

vdap

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2349 em: 2019-11-14 09:37:57 »
Local, já te ocorreu que há alunos que, por muito que os professores se esforcem ou que a escola tente ajudar, eles simplesmente não aprendem (seja porque não têm capacidade, seja porque não querem ser ajudados) ?

Que sentido faz, e que efeito pode ter numa turma, um aluno que está a ouvir falar de matéria de 9º ano, sem fazer ideia, sequer, do que devia saber do 5º, 6º, 7º, .... ?
Obrigá-lo a estar ali a ouvir coisas de que não entende - porque é obrigatório - é uma disrupção para a aula, para os professores e uma brutal tortura para o aluno.

A tua sugestão do ensino profissionalizante só se aplica ao 9º ano, não é ? (pelo menos no meu tempo era só ao 10º ano)
Então e até lá deixamos um aluno a frequentar as aulas durante cinco anos, sem perceber nada do que ali se passa ? Se chumbar parece desumano, isto ainda parece pior.

Eu o que critico é a total proibição. Repara que, como tu próprio disseste, hoje os chumbos já são residuais. Então porquê proibir de todo ? Ter a liberdade de reter o aluno (mas utilizar essa possibilidade com muita parcimónia e com o critério dos professores) parece sempre uma opção superior do que proibir totalmente.

Existem as «turmas mais» que são criadas inclusive a partir do 5º ano, para alunos que já tem idade superior a 2 anos do respectivo ano lectivo. Coloca-se lá 10 tipos que não fazem nada, chama-se aquela turma «turma +», ou «CEF» e siga até ao nono ano não existe reprovação desde que compareçam a um mínimo de aulas

Eu concordo que deve haver reprovações, cada vez baixamos mais os nossos níveis de exigência. Não pode ser. Agora até se dá prémios até ao 10 classificado. Premeia-se a incompetência. Não pode ser.
The duty of a patriot is to protect his country from its government

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2350 em: 2019-11-14 09:57:53 »
Auto,
Claro que há situações em que os professores não podem fazer nada. Por exemplo, no 5.º ano a minha filha tinha uma colega de etnia cigana. É boa moça mas não se interessava pela escola e em casa apenas tinha a avó para dar algum apoio. Os pais estavam presos. Para a aula de musica nem tinha a flauta, foi a minha filha que lhe ofereceu para ela também poder participar. Mas nas outras disciplinas ela faltava quando queria e não fez os mínimos para passar. E chumbou.
Mas visto de outra forma, que estrutura tem esta rapariga para acreditar na escola e ter boas notas? A sua etnia (que não é conhecida pela sua apetência escolar), a sua (falta de) estrutura familiar, tem tudo para dar errado. Se até a escola lhe vira as costas, que futuro terá esta miúda?

Por outro lado, a escola existe para ensinar. Se não ensina não tem razão de existir.
Se uma criança não tem capacidade, adapta-se o currículo às suas capacidades. Por exemplo, tenho uma sobrinha que tem problemas neurológicos e está, salvo erro, no oitavo ano. Ela mal sabe ler e escrever. Será que deveria ficar retida indefinidamente? Para quê? Mais vale deixá-la passar de ano e no 10.º ano passar para os profissionais.

Se um aluno do 9.º ano não consegue seguir a matéria do 9.º ano a escola deverá arranjar meios alternativos para ele aprender. Em primeiro lugar saber porque é que ele não aprende, depois dar-lhe apoio no sentido de ele aprender. São raros os casos em que alguém não quer aprender, se tiver as condições para isso. Por exemplo, quando os miúdos passam para o profissional o seu comportamento costuma melhorar (nos casos normais), os resultados escolares melhoram e a auto estima também aumenta.

Sobre a desumanidade... Então, será mais humano deixar um miúdo 5 anos em aulas que não percebe, ou 6 ou 7 anos em aulas que não percebe? Parece-me que, quanto mais rapidamente ele for colocado num curso profissional melhor.

Não me lembro de dizer que os chumbos são residuais. Os números indicam até que somos dos países onde existem maior número de retenções. Por exemplo, no primeiro ciclo o Japão nem faz avaliações às crianças. Em Portugal a taxa de retenção nesse ciclo é de 5%. Aqui na minha zona é de 7,1% (que é uma zona de apoio dos chumbos). E o pior é que a diminuição dessa taxa de chumbo tem sido feita administrativamente, sem qualquer alteração aparente por parte da forma de dar aulas.
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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2351 em: 2019-11-14 10:03:29 »
Local, já te ocorreu que há alunos que, por muito que os professores se esforcem ou que a escola tente ajudar, eles simplesmente não aprendem (seja porque não têm capacidade, seja porque não querem ser ajudados) ?

Que sentido faz, e que efeito pode ter numa turma, um aluno que está a ouvir falar de matéria de 9º ano, sem fazer ideia, sequer, do que devia saber do 5º, 6º, 7º, .... ?
Obrigá-lo a estar ali a ouvir coisas de que não entende - porque é obrigatório - é uma disrupção para a aula, para os professores e uma brutal tortura para o aluno.

A tua sugestão do ensino profissionalizante só se aplica ao 9º ano, não é ? (pelo menos no meu tempo era só ao 10º ano)
Então e até lá deixamos um aluno a frequentar as aulas durante cinco anos, sem perceber nada do que ali se passa ? Se chumbar parece desumano, isto ainda parece pior.

Eu o que critico é a total proibição. Repara que, como tu próprio disseste, hoje os chumbos já são residuais. Então porquê proibir de todo ? Ter a liberdade de reter o aluno (mas utilizar essa possibilidade com muita parcimónia e com o critério dos professores) parece sempre uma opção superior do que proibir totalmente.

Existem as «turmas mais» que são criadas inclusive a partir do 5º ano, para alunos que já tem idade superior a 2 anos do respectivo ano lectivo. Coloca-se lá 10 tipos que não fazem nada, chama-se aquela turma «turma +», ou «CEF» e siga até ao nono ano não existe reprovação desde que compareçam a um mínimo de aulas

Eu concordo que deve haver reprovações, cada vez baixamos mais os nossos níveis de exigência. Não pode ser. Agora até se dá prémios até ao 10 classificado. Premeia-se a incompetência. Não pode ser.
Por aqui não há nada disso (que eu tenha conhecimento). A minha filha tem na turma um miúdo que é do piorio e que desestabiliza a turma toda. Tudo isto numa turma de, salvo erro, 27 alunos.
Para mim premeia-se a inclusão e o conhecimento.
A escola em que o professor dava a matéria e quem não acompanhasse era burro e chumbava era no séc. XIX. Mas pronto, aceito e compreendo que quem tenha sido ensinado dessa forma, tal como eu fui, pense que esse é a melhor maneira. Mas quase todos os dados nos colocam na cauda da educação.
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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2352 em: 2019-11-14 10:17:42 »
Eu quando dei aulas [Incrível o que descobrem sobre mim], estas turmas existiam e não deve ser muito diferente agora - Mas confesso que não acompanho o sistema de ensino desde à cerca de 5 anos de muito perto.

Se existem alunos que não querem nada daquilo as escolas devem ter alguma forma de criar uma turma especial.

Eu não concordo premiar o não conhecimento. Quando existiam as provas de aferição no 6 ano, quando saiu  a politica que só serviam para avaliar os professores os alunos deixaram de estudar para a prova, foi preciso na altura dizer que a prova era o 2º teste do 2º periodo para a malta estudar. Claro fazer um teste que não servia para nada... que não tinha o mínimo impacto na vida escolar do aluno, não faz sentido.

Ou seja se dissermos que até ao 9 ano ninguém reprova o que andam os alunos a fazer na escola? É só facilidades. Depois chegam a jovens e querem um emprego com significado, um objectivo com significado, trabalhar a partir da sala, fazer o que mais gostam... s/ que para isso tenham que trabalhar e se esforçar.

Eu vejo os jovens nos dias de hoje à procura de emprego, enviam um curriculum por email e... o dia está feito, agora o que vou fazer? É o mínimo esforço possível, às vezes seguem com vários emails em CC.

Eu recebo cada coisa no meu email que até dá medo.

O problema é que são pessoas formadas. É o mínimo possível. E a sociedade continua a premiar isto, porque existe uma rede social que os ampara e muito bem... mas tem que ser mais exigente.
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JoaoAP

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2353 em: 2019-11-14 10:51:20 »
Afinal... parece que o PS já anda a ouvir mais pessoas... ou fóruns..
"Ministro da Educação nega "eliminação administrativa" de "chumbos" e defende mais trabalho com alunos"
Mas isto já é feito, segundo sei!!!

Até gostava de saber que portaria, ou decreto-lei que apontava para o que se escrevia nos jornais ...dizem... seriam somente palavras?
-------
Auto,
Segundo sei já existe no 7.º ano formação profissional.  Num empresa perto de mim, ligada aos automóveis, montagem etc... acho que tem um centro formação a este nível. ah... sei que há muitos anos atrás... se alguém tivesse mau comportamento... era logo expulso!!! Segundo uma amiga, há muitos anos atrás... ela adorava dar lá aulas.

Automek

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2354 em: 2019-11-14 14:21:06 »
Local, acho que todos concordam que a escola serve para ensinar e que deve fazer o que for possível para que o aluno tenha aprovação. Aí estás a bater num espantalho.

Onde se discorda é na eventual proibição de retenções.
Como é que tu achas que é mais proveitoso ter matemática do 5º ao 9º ano, sem aproveitamento, do que repetir o 5º ano duas ou três vezes ?
A mim parece-me que repetir uma matéria que já se ouviu, e em que não se teve aproveitamento, aumenta a probabilidade de aproveitamento nesse nível, quando comparado com a probabilidade (milagre ?) de vir a ter aproveitamento no nível a seguir.

Isto é como qualquer pessoa. Tu apanhaste sempre tudo o que sabes à primeira ? Nunca tiveste necessidade de voltar a certas matérias, repetir certas coisas, rever conceitos ?

Local

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2355 em: 2019-11-14 14:57:46 »
Local, acho que todos concordam que a escola serve para ensinar e que deve fazer o que for possível para que o aluno tenha aprovação. Aí estás a bater num espantalho.

Onde se discorda é na eventual proibição de retenções.
Como é que tu achas que é mais proveitoso ter matemática do 5º ao 9º ano, sem aproveitamento, do que repetir o 5º ano duas ou três vezes ?
A mim parece-me que repetir uma matéria que já se ouviu, e em que não se teve aproveitamento, aumenta a probabilidade de aproveitamento nesse nível, quando comparado com a probabilidade (milagre ?) de vir a ter aproveitamento no nível a seguir.

Isto é como qualquer pessoa. Tu apanhaste sempre tudo o que sabes à primeira ? Nunca tiveste necessidade de voltar a certas matérias, repetir certas coisas, rever conceitos ?
Olha que não é um espantalho. É normal na nossa sociedade, quando há um caso de múltiplas negativas e por vezes vários anos, não questionar a escola o que fez para que essa situação fosse alterada. O Ónus é sempre colocado do lado do aluno sem sequer se questionar a atuação por parte da escola. Por exemplo, no caso da minha filha, com dislexia e discalculia comprovada, o coordenador da educação especial não queria abrir o processo dela porque ela tinha notas positivas. O processo só foi aberto porque, por acaso conheço uma professora cujo filho também tem o mesmo problema e fez ver, de forma enérgica ;) que não era assim que se processa.

Sobre ser proveitoso as retenções, a verdade é que a retenção não trás qualquer benefício ao aluno (ou são benefícios residuais). Eu tenho seguido as matérias que a minha filha tem estudado e as diferenças de um ano para o outro não são significativas. O importante é saber se o aluno consegue, ou não, recuperar no ano seguinte o atraso desse ano. O que é necessário é um apoio mais forte por parte da escola para esses alunos, que muitas vezes não acontece. Não sei como são nas outras escolas, mas no agrupamento da minha filha são aulas de apoio de 50 minutos, uma por semana, para as disciplinas com dificuldade. Se os miúdos não tiverem apoio familiar, duvido que eles consigam ter resultados positivos.

Onde vivo a escola secundária são os olhos bonitos do agrupamento, dado que é a que tem melhores resultados na região. Por outro lado é (ou era) o agrupamento com maiores taxas de retenção no país. Parece-me um claro caso em que a igualdade promovida pela educação não é promovida.
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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2356 em: 2019-11-14 18:13:13 »
Auto,
Claro que há situações em que os professores não podem fazer nada. Por exemplo, no 5.º ano a minha filha tinha uma colega de etnia cigana. É boa moça mas não se interessava pela escola e em casa apenas tinha a avó para dar algum apoio. Os pais estavam presos. Para a aula de musica nem tinha a flauta, foi a minha filha que lhe ofereceu para ela também poder participar. Mas nas outras disciplinas ela faltava quando queria e não fez os mínimos para passar. E chumbou.
Mas visto de outra forma, que estrutura tem esta rapariga para acreditar na escola e ter boas notas? A sua etnia (que não é conhecida pela sua apetência escolar), a sua (falta de) estrutura familiar, tem tudo para dar errado. Se até a escola lhe vira as costas, que futuro terá esta miúda?

Por outro lado, a escola existe para ensinar. Se não ensina não tem razão de existir.
Se uma criança não tem capacidade, adapta-se o currículo às suas capacidades. Por exemplo, tenho uma sobrinha que tem problemas neurológicos e está, salvo erro, no oitavo ano. Ela mal sabe ler e escrever. Será que deveria ficar retida indefinidamente? Para quê? Mais vale deixá-la passar de ano e no 10.º ano passar para os profissionais.

Se um aluno do 9.º ano não consegue seguir a matéria do 9.º ano a escola deverá arranjar meios alternativos para ele aprender. Em primeiro lugar saber porque é que ele não aprende, depois dar-lhe apoio no sentido de ele aprender. São raros os casos em que alguém não quer aprender, se tiver as condições para isso. Por exemplo, quando os miúdos passam para o profissional o seu comportamento costuma melhorar (nos casos normais), os resultados escolares melhoram e a auto estima também aumenta.

Sobre a desumanidade... Então, será mais humano deixar um miúdo 5 anos em aulas que não percebe, ou 6 ou 7 anos em aulas que não percebe? Parece-me que, quanto mais rapidamente ele for colocado num curso profissional melhor.

Não me lembro de dizer que os chumbos são residuais. Os números indicam até que somos dos países onde existem maior número de retenções. Por exemplo, no primeiro ciclo o Japão nem faz avaliações às crianças. Em Portugal a taxa de retenção nesse ciclo é de 5%. Aqui na minha zona é de 7,1% (que é uma zona de apoio dos chumbos). E o pior é que a diminuição dessa taxa de chumbo tem sido feita administrativamente, sem qualquer alteração aparente por parte da forma de dar aulas.

Tu das-te conta dos disparates que estás a dizer? Então se o miudo é pobre e nao tem familia e tal... os professores que encontrem forma de superar o problema!
Mas tu estás maluco? >:( Os professores sao alguns magos com possibilidades ilimitadas de resolver todos os problemas sociais de dinheiro, familia, valores, ...da sociedade?  >:(

Se calhar nao há soluçoes mágicas para resolver os males da sociedade. Mas devia haver um Governo que tratasse de resolver o caos social da sociedade. Ou então uma Misericórdia, não sei...
Eu santa milagrosa não sou! >:( >:(

Quanto aos cursos profissionais só a partir do Secundário ou quando atingem uma determinada idade. Na minha escola não há...mas há ciganos!  ;D
wild and free

JoaoAP

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2357 em: 2019-11-14 22:13:19 »
Pois.. eu sabia que havia a formação da dita empresa a partir do 7.º ano... mas não sabia que teria de ser depois certa idade.

Agora, estive a procurar e tem um nome pomposo: CEF
Citar
Cursos Educação e Formação de Jovens
Os Cursos CEF destinam-se aos/às jovens que procuram um ensino mais técnico e prático com uma forte ligação às empresas. Através da ligação escola-empresa, os/as alunos/as contactam com atividades práticas que vão ajudar na descoberta de uma vocação.

Condições de Acesso:
Curso com a duração de 2 anos:
– com idade igual ou superior a 15 anos
– 6º ano (com aproveitamento)
– 7º ano (com ou sem aproveitamento)
– 8º ano (sem aproveitamento)

A conclusão de um Curso CEF Tipo 2 confere:
Uma qualificação de nível II equivalente ao 9º ano de escolaridade.

Prosseguimento de estudos:
– Ensino Profissional, sem necessidade de realização de exames nacionais;
– 10º Ano via Ensino Regular (sujeito à avaliação externa nas disciplinas de Português e Matemática).
– Ensino Profissional, sem necessidade de realização de exames nacionais;
– 10º Ano via Ensino Regular (sujeito à avaliação externa nas disciplinas de Português e Matemática).

Estrutura Curricular dos Cursos CEF:
Estes cursos têm uma estrutura curricular organizada por módulos, o que permite maior flexibilidade e respeito pelos ritmos de aprendizagem de cada aluno/a.

Prática Simulada:
Dada a sua natureza prática destes cursos, contam com um estágio numa empresa da região.

Regalias:
– Bolsa para Material de Estudo
– Bolsa de Profissionalização
– Manuais Escolares Gratuitos
– Subsídio de Transporte
– Subsídio de Alimentação
– Isenção de Pagamentos de Propinas
« Última modificação: 2019-11-14 22:17:33 por JoaoAP »

vbm

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2358 em: 2019-11-17 12:06:41 »
No último "O Último Apaga a Luz", demolida a "Educação" "Nacional"!

De alto abaixo, incluindo a classe docente, incompetente, zombie,
de 'paus-mandados'. Com instruções estatísticas dos Ministérios,
maiorias nos conselhos escolares forçam a consciência
de opositores minoritários a elevarem as notas,
para apagar chumbos de ignorantes.

Alguns dos violentados, recolhem
ao apoio psiquiátrico, tanto
é o absurdo discricionário.

Claro, os sindicatos aplaudem.
As classe rurais e proletárias
do "Interior" e das periferias
urbanas são as que chumbam
por ignorância própria assim
velada e ocultada.

Mas será que são todos 'burros'!?
Há a desculpa da miséria social,
familiar, económica em que
medram. Contudo, há
excepções, alguns
vingam e formam-se
com grande inteligência.

Porquê, então, o ensino não presta!?
O mistério adensa-se até porque há
excelentes alunos e os melhores
alunos são muito melhores
do que eram antigamente!

Como se explica isto?

Os alunos chumbam, continuam a chumbar,
não sabem nada, nada sabem de matemática,
de ler, de escrever, os zeros à esquerda.
Desprovidos de linguagem,
não singrarão na vida.

Porquê? Porque os professores
não sabem ensinar. Os professores
não ensinam. Por culpa própria,
não se rebelam contra a mediocridade
dos seus pares, conluiam-se com as directrizes
imobilistas dos sindicatos e ministérios para
nada fazer que tudo mude, tudo se altere.

Mas como é que há então bons alunos,
e os melhores são mesmo muito melhores!?

A chave do mistério foi posta a nu, pela Raquel Varela.

Claro, a explicação que todos sabem é a de o apoio
das famílias afluentes, contribui para o sucesso.

Mas não é só isso!

Sucede que esses alunos têm professores, têm aulas!
Ninguém fala disso, mas é um facto, foi sempre, existe e até se vê.

É a plêiade de explicadores! Ensinam, dão aulas, explicam.
Existem, sempre existiram. Dão as explicações nas casas dos alunos,
dão-nas nos cafés, dão em salas alugadas ou de sindicatos.

Matemática, Física, Português, Lógica, Línguas,
sempre se deram explicações dessas matérias,
aí os alunos que sabem tiveram sim os seus
professores, sem o que jamais aprenderiam
o que quer que fosse!

Mas isto, ninguém diz, ninguém fala.
O insucesso escolar reproduz-se a si próprio
pelo erro dos princípios basilares em que assenta
o ensino, permeável ao ingresso de carreira
de professores medíocres, paus-mandados
do conformismo político e corrupção
conservadora.

Programas sobrecarregados, aulas de sobrelotadas
de alunos, professores devidamente mal pagos
e mal vistos pela sociedade!

Tudo tem de ser derrubado.

Com governos de autarcas
a aplicar o abortográfico,
não há esperança.

Veja-se a Finlândia, com ensino em aulas
de uma dezena ou pouco mais de uma dúzia
de alunos; com ingresso na profissão em que
poucos conseguem entrar, face à exigência
dos mestrados obrigatórios e claro, com
uma padrão de remuneração, um dos
mais elevados do país!

A comparação dá para desanimar,
mas também pode dar para revolucionar.


Automek

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Re: Educação - Tópico principal
« Responder #2359 em: 2019-11-18 10:08:35 »
Vale a pena ler:

Apesar de ser um relato de uma escola especial, é muito parecida do que sei e ouço em escolas "normais".
http://visao.sapo.pt/opiniao/bolsa-de-especialistas/2019-11-11-Testemunho-de-uma-professora-O-rei-vai-nu
....


Esta parte é ilustrativa:
Citar
Também eu já fui injuriada. A minha experiência profissional com três décadas de escola pública mostra que os alunos dos cursos profissionais são, em regra, mais indisciplinados do que os alunos dos cursos do ensino regular e que os do ensino básico provocam mais problemas do que os do secundário. Porém, é tudo uma questão de sorte. Já me chamaram "filha da puta". Já entraram e saíram da sala com estrondo, aos pontapés e aos palavrões. Já me ameaçaram. Já amarrotaram e rasgaram testes corrigidos, atirando-os para o caixote do lixo, ali mesmo à minha frente. Todos os dias, dia após dia, há professores a passar por alguma situação de violência. São atos contínuos que vão corroendo a mente e o corpo. Num dia normal de trabalho, um professor lida com cerca de 90 a 120 alunos. Todos diferentes, sim! Mas também todos iguais na sua adolescência, na sua atribulada vida familiar, no seu (des)interesse pela escola, na sua (des)preocupação com as notas, na sua obsessão pelo telemóvel, na sua descoberta da sexualidade, na sua atitude de revolta.


Duvido que a maioria dos pais queiram os seus filhos a conviver com imbecis assim. Contudo, a escola não tem dono - ou, por outra, tem 10M de donos - e nessas circunstancias, quando ninguém toma conta da sua propriedade e não tem a possibilidade de estabelecer as suas próprias regras, onde este tipo de coisas nãos seriam tolerados, é isto que acontece,
Contudo, se forem perguntar à maioria dos professores se preferiam que a escola fosse privada, com autonomia e regras próprias, diriam que não (o que não surpreende - o estado é o melhor patrão que existe para quem apenas lhe interessa o que ganha).