1 - Pode, mas para isso suceder tem de haver coerência, empenho e imparcialidade, que é exactamente o que não se verifica em Portugal. Aquela curta declaração do Cavado Cavaco a propósito do BES foi desastrosa e funcionou ao contrário daquilo que ele eventualmente pretendeu transmitir.
2 - Não há NENHUMA confiança no sistema, sobretudo na capacidade dos sistemas reguladores, e não há confiança no Cavaco. O caso BPN ditou que fosse assim e o BES só vem dar razão a essa desconfiança.
3 - Completamente em desacordo. Se a estrutura governativa pode (e deve) reforçar a confiança da população nas institioções, a PRIMEIRA regra básica é criar comunição eficaz, que seja entendida por todos. O que se verifica, infelizmente, é o exacto oposto. Políticos muito distantes do diálogo com o povo, e com nenhuma vontade ou habilidade para mudar essa atitude. E depois há casos destes, com estas declarações miseráveis que ainda afundam mais a inexistente credibilidade em tais pessoas, pois dão a entender que por trás de tudo há jogos de interesses para safar os culpados e fazerem-se pagar do erário público.
Que há imensa gente que não entende nada e está disposta a acreditar em quase tudo não pode servir de DESCULPA para umn PR ser parcial e incoerente, por um lado, e devia ser uma RAZÃO de preocupação quando se vai fazer uma comunicação pública. Em meu entender, é extremamente relevante o facto de haver uma percentagem elevada de pessoas que pode potencialmente não enteder o que se está a ser dirigido a elas. As consequências disso já as conheces.
1) Porquê? Porque é que foi desastrosa?
2) Porquê? O que dizes é obviamente falso porque não há uma corrida aos bancos. Portanto há claramente confiança muito acima de "nenhuma".
3) Se calhar isso aplica-se a outras situações, mas nesta não o podes dizer. O Cavaco deu confiança, as pessoas confiaram, o BES passou por um processo de recapitalização e as pessoas não perderam os depósitos. O Cavaco esteve correcto e a confiança manteve-se na forma de uma não existência de uma corrida aos bancos. Qual o teu argumento para dizeres o contrário? Que evidência tens tu de falta de confiança, se mesmo em situações tão limite, não há corridas ao banco? Se a confiança está totalmente perdida, então qual é o nível a que se dão as corridas aos bancos? Abaixo de zero?
O que estás a dizer basicamente resulta de uma crença que tu tens que não é objectivamente suportada pelos factos. Só quando existir uma corrida aos bancos é que se pode dizer que a confiança se foi. Isto mostra objectivamente que estás predisposto a acreditar numa coisa falsa.
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Regra geral as pessoas compreenderem o que se passa, como funciona o Estado, ratings, dívida e déficits, etc, seria uma coisa negativa para a Esquerda. Isto porque a Esquerda conta com a ignorância generalizada para emitir a sua propaganda. Isso vê-se amiúde durante um ano, com pessoas a berrar contra dívida acrescida quando existiam déficits, com pessoas a defender acabar com a austeridade, os déficits e a dívida, com pessoas a chamar de más às agências de rating e respectivos downgrades e a dizer que a dívida é impagável, com pessoas a criticar os cofres cheios do Estado, e por aí adiante. Todas essas coisas foram propaganda, tal como é propaganda dizer que o governo do Passos foi o problema e não a solução.
O Cavaco pelo menos a maior parte dessas coisas compreende. Não gosto dele, mas tenho a certeza que compreende. Já o Louçã não tenho a certeza, quando até de uma estrutura de capital parece mostrar desconhecimento. Desconhecimento esse extensível a qualquer pessoa que ache que o Cavaco, BdP ou Passos a dizerem que as pessoas podiam ter confiança no BES alguma vez significaria alguma coisa para os patamares mais júniores da estrutura (dívida júnior, papel comercial, acções ...).
1 - Foi desastrosa pela conjugação de factores que já mencionei. Mas vamos por partes.
A declaração que ele fez foi esta:
E o mesmo, num artigo do Económico:
"O Banco de Portugal tem sido categórico a afirmar que os portugueses podem confiar no BES dado que as folgas de capital são mais do que suficientes para cobrir a exposição que o banco tem na parte não-financeira, mesmo na situação mais adversa (...). Haverá sempre alguns efeitos, mas penso que não vêm da área do banco, mas sim da área não-financeira. Se alguns investidores vierem a suportar perdas significativas podem adiar decisões de investimento, ou mesmo encontrar-se em dificuldades muito fortes, por isso não podemos ignorar que algum efeito pode vir para a economia real".
Confirma-se que ele não falou do BES, mas também se confirma que ele falou do BES---onde está nesta situação a "verdade"? (está onde os ouvintes mais estiverem predispostos a acreditar, correcto, Inc?)
Mas adiante. Ao que foi desastroso, então:
a) Falou de uma entidade privada (não tinha de o fazer, nem sequer para sossegar os depositantes), e ainda que não tenha emitido objectivamente uma opinião sua, replicou a opinião do Banco de Portugal, como que a atestar a sua crença em tal juizo, o que no fundo vai dar ao mesmo.
b) O que a maioria dos portugueses LERAM e ASSIMILARAM naquelas declarações foi unicamente o seguinte: "
os portugueses podem confiar no BES". O PR errou por não ter comunicado devidamente a mensagem. Tudo o resto que ele possa ter dito, não passou...
O Marcelo tem uma opinião que vai neste mesmo sentido.
No entender do comentador da TVI, o chefe de Estado «tem de ter cuidado, não pode dizer agora que nunca falou». Até porque os portugueses acreditaram que tudo estaria bem com o banco naquela altura.
c) Duas semanas depois, o BDP anuncia o resgate do BES e o BCE retira-lhe a operacionalidade. Uma série de investidores perdem grande parte do seu capital devido a produtos comercializados pelo banco (são os "lesados do BES"). Afinal, os portugueses não podiam confiar no BES.
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2 - Aqui admito que a minha afirmação foi excessiva, nomeadamente o "NENHUMA confiança no sistema" (isto é, se considerar a tua escala de equivalências, e se considerar que o "nenhuma confiança" equivale a uma situação corrida massiva aos depósitos). Refraseando: nos últimos anos a desconfiança do público no sector bancário, Banco de Portugal e agentes políticos (governo e PR) aumentou significativamente (o quanto, isso é impossível de contabilizar), muito por conta destas situações de promiscuidade (entre banca e instituições políticas), falta de parcialidade e incapacidade para comunicar com os portugueses (parafraseando o Cavaco).
3 - Neste ponto não estou de acordo. Os depósitos não eram a única coisa que estava em jogo no caso BES, tanto que desde então para cá os lesados se têm manifestado incessantemente. Em relação ao meu argumento para a falta de confiança no sector bancário, e tendo feito a emenda sobre o "NENHUMA confiança", creio que está explicado nos pontos anteriores. Quando um PR intervem publicamente para falar de um banco, citando um parecer do BDP, situação já de si extremamente controversa, e dias depois esse banco é cai em desgraça, parece-me lógico que a desconfiança aumente. Se considerarmos em cima disto a situação das acções da SNL, acerca da qual não conhecemos os contornos reais porque as palavras dele sobre o caso foram laconicas e "habilidosas", e temos o suficiente para desconfiar de qualquer declaração que ele possa fazer.