Tenho algumas dúvidas que o QI seja alguma teoria.
Parece mais um método de medição de algo autodefinido do qual não se conhece com perfeição as causas.
Embora não ache que que faça previsões de grande precisão isso nem sequer é o fundamento da cientificidade. O sistema Ptolemaico era bastante preciso mas estava errado, os egipcios mediam as cheias do Nilo com muita precisão e a partir daí faziam boas previsões mas a teoria deles era atribuir as cheias à deusa Isis.
Como métrica empirica a nível individual até pode ter algum valor se intervalos foram razoavelmente largos (não há diferença perceptivelentre algue que obteve resultado de 99 e outro que obteve resultado de 101 ou 102), mas a nível global parece não ter grande significado. Num livro que foi aqui postado a variabilidade dos resultados dentro de um mesmo pais e para o mesmo teste são de tal forma elevados que nem há sobreposição dos intervalos de confiança.
Há depois tentativas de explicar sucesso economico com QI mas a história não ajuda muito, e então invocam-se os regimes politics ou outras variaveis socias qq, caindo na confusão Ptolomaica de complicar modelos até acertar, quando a solução mais simples seria simplesmente admitir que os aspectos politico-sociais são os mais relevantes na analise do desenvolvimento economico.
Porquê o fascinio pelo QI? Dado as ciencias exactas serem ciencias da quantificação com resultados muito precisos ( e mesmo isso só em ambientes muito controlados) creio que isso gerou em psicologos, cientistas sociais uma fixação nos nºs como o meio de garantir a cientificidade. Em vez de dividir a escala de QI em 5 meia duzia de faixas que é isso que pode ter interesse acharam que se dividira em intervalos de 0,5% a coisa parece mais cientifica, e mais eficaz.
Bem:
* As teorias científicas são suplantadas por outras, pelo que as anteriores estarão sempre algo erradas ou muito erradas (se forem suficientemente antigas). Basta olhar para muitos modelos da física para o átomo, etc, hoje completamente desacreditados.
* E o método científico pode ser visto como uma coisa relativamente moderna ainda que as raízes estejam num passado já distante.
* As teorias científicas não serão todas de grande precisão, o QI versa sobre realidades sociais, onde correlações elevadas são raras. O QI não é complicado nem ineficaz nem subjectivo, porém, face a alternativas para a mesma realidade.
* O QI como método tem como base umas quantas teorias diferentes sobre coeficientes de inteligência, etc. Obviamente na sua forma final é apenas a tentativa de sintetizar várias realidades diferentes que tentam medir a inteligência humana. Esse método existe simplesmente porque depois o seu resultado correlaciona bem com uma série de variáveis e com a performance futura numa série de tarefas.
* "admitir que os aspectos politico-sociais" não é operacionalizável da forma que o QI é. Para que é que admitirias uma alternativa cujo resultado seria perderes capacidade de previsão?
* O QI é, devido à sua capacidade de previsão, útil para muitas entidades diferentes. Já citei os militares dos EUA e as universidades. Imagina que ditavas arbitrariamente a invalidade do QI sem ter melhor alternativa -- de seguida seleccionavas com base em quê? Pelos "aspectos politico-sociais" ou outros quaisquer? É óbvio que rapidamente acabavas como com a subsidiação cultural -- com um magote de critérios subjectivos que ignorariam o objectivo final (prever a performance). Que não o maximizariam, que até o poderiam minimizar, que levariam a desvalorizá-lo, e que potencialmente deteriorariam as entidades em questão (militares, universidades, outras quaisquer).
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Diga-se que a pressão ideológica para negar o QI é grande. Tal como a pressão ideológica para ignorar o público (na subsidiação cultural). Ou o mérito (nos rendimentos). Ou as estatísticas (crime e outras) noutros aspectos.
E tão grande, que em algumas universidades Americanas agora arbitrariamente favorecem algumas etnias e penalizam outras (Asiáticos). Ou seja, um Asiático para entrar nessas universidades já tem que ter scores SAT/GMAT/etc mais elevados do que as outras etnias, ao passo que as etnias favorecidas precisam de scores inferiores para entrarem. Nos militares tal ainda não ocorreu.
O QI não é teoria nenhuma, é um método de medição empírico e auto-referenciável.
Antes da genética, antes da biologia moderna, antes da sociologia moderna, pessoas baseadas num concepção intuitiva da inteligência desenvolveram uns testes para quantificar , e o resultado foi uma auto-referenciação: a inteligência é aquilo que medimos. Não há explicação quanto aos mecanismos da inteligência (seja lá o que isso significar), porque na altura não havia suporte cientifico para isso (e hoje creio que ainda não).
Apesar de ser uma técnica de medição empírica não deixa de ter validade, embora bastasse ter meia duzia de intervalos.
Mas há 3 ordens do problemas que são de certo modo independentes
1º o QI: é uma técnica de quantificação empírica de algo que ainda não é perfeitamente conhecido.
2º a maior ou menor heredeteriedade vs meio da inteligência. Parece que a heredeteriedade é significativa. Se é 50%, 80% ou 100% não faço ideia. Mas isso pouco tem a ver com o método do QI, que pretende medir aquilo que intuitivamente se associa à inteligência independentemente de ser algo hereditário ou adquirido. O que há é cientistas que usam as medidas de QI para encher tabelas de onde extraem correlações e tudo o mais. Pode-se questionar se sendo o problema a heredeteriedade ou não, talvez fosse mais cientifico esses "cientistas" dedicarem-se à genética em vez de se basearem num método empírico, mas a segunda opção é muito mais facil: basta fazer testes e meter resultados numa package de estatistica.
3º Assumindo a hereditariedade fazer a generalização trivial da associação de inteligência a raças ou grupos. É de facto a associação que os adeptos do pensamento trivial fazem imediatamente mas na verdade é muito mais complicado que isso e mesmo que a heredeteriedade seja 100% exigiria uma compreensão que creio ainda não foi alcançada dos mecanismos genéticos da transmissão de inteligência.
Quanto ao asiáticos não me admiro nada que universidades que se considerem referências na criatividade e estímulo do pensamento crítico, não queiram ser invadidas por gerações de estudantes que fazem tudo “by the book”.
Os chineses entraram nos testes PISA creio que em 2009 ou 2010 (embora só HK e Shanghai) e tem limpado tudo, mas parece que nunca embandeiraram em arco com esses sucessos. Já li que estão ainda mais desesperados que os americanos com o sistema de ensino, que produz cabeças bem cheias mas sem originalidade.