Recordo que Rui Tavares, provavelmente a querer reproduzir o modelo de Pedro Nuno Santos no debate com Rui Rocha, começou a sua intervenção a fazer uma espécie de nota prévia indignada, esquecendo que ia trazer para a discussão um assunto profundamente embaraçoso para si próprio: a relação dos políticos portugueses, particularmente dos políticos de esquerda, com os serviços públicos, neste caso com a escola pública que tanto dizem defender mas que não escolhem para os seus filhos. Invariavelmente apresentam uma justificação cosmopolita para tal opção: ora é porque os filhos devem ter uma escolaridade bilingue, ora porque é tradição (caso do Colégio Moderno) ora porque, como sucede com os filhos de Rui Tavares, frequentam uma escola internacional para não ficarem com o currículo interrompido se a mãe que é diplomata for colocada fora de Portugal. Todas certamente razões atendíveis e absolutamente normais não se desse o caso de nos últimos anos termos assistido à imposição do modelo estatista, à perseguição de tudo o que representa acordos entre público e privado e à identificação entre escolaridade obrigatória e frequência obrigatória de escolas públicas.
É aqui, nesta espécie de excepcionalidade virtuosa que os políticos, sobretudo os de esquerda, reivindicam para si, que entra a intimidade, politicamente falando. Em boa parte do mundo a intimidade passa pelas relações de natureza privada e familiar. Pelo amor, desamor, gostos, sexo. Em Portugal, quando um político invoca o seu direito à privacidade está tão só a dizer que não quer responder sobre a sua relação com os mesmos serviços públicos que tenta impor aos outros por decreto.
Nesta campanha, durante aquilo que se designa como entrevista intimista, vimos Pedro Nuno Santos a falar sobre o filho, o mesmo Sebastião que lhe subiu para o colo no congresso do PS. Vimos a sua emoção a crescer enquanto declarava sobre si e a sua mulher “queríamos uma família maior e não conseguimos”.