o esforço cientifico é notável. há que descartar uma origem natural antes de qq teoria da conspiração. mas... então os chimpanzés estão nos camarões e a coisa propaga-se no zaire? Não faz sentido.
Na realidade há chimpanzés portadores de SIV nos Camarões, Gabão, nos 2 Congos, e na R.C.Africana. Mas todas as 4 CSTs dos HIV-1 (M, N, O, P) ocorreram nos Camarões, presumivelmente para pessoas rurais muito expostas à bushmeat (ou caçadores ou vendedoras de carne). A razão por que aconteceram 4 CSTs nos Camarões e nenhuma (que seja conhecida) nos outros países em que há chimps portadores não é clara, mas pode ser porque nos Camarões a intensidade de caça a chimps era maior.
Agora, uma coisa é o local onde ocorre uma CST -- isso sabe-se pelas tais análises às fezes de chimps nas florestas. Outra coisa é o local onde o resultante vírus humano começa a dar os primeiros passos na população humana. Os dois locais podem diferir, porque um humano pode ter transportado o vírus do 1º para o 2º local, e depois a proliferação em humanos ser só forte a partir do 2º local.
Para ilustrar isto com o SARS-CoV-2, notar que a sua expansão inicial ocorreu em Wuhan na China, mas ele pode ter começado numa aldeia que até pode ter sido longe de Wuhan e aí ter infectado só 3 ou 4 pessoas, e depois 1 das pessoas tê-lo levado para Wuhan, e as 3 ou 4 infecções da aldeia nunca virem a ser detectadas ou conhecidas.
Voltando ao HIV, a versão pandémica (grupo M) teve a sua CST nas florestas do sudeste dos Camarões de certeza quase absoluta -- isso vê-se pelas análises dos SIV, vê os locais MB e LB no mapa e na árvore filogenética acima. Mas a proliferação inicial mais forte, aquela que pode ser detectada por análise filogenética de estirpes de humanos, ocorreu na cidade de Leopoldville, capital do Congo Belga (hoje chama-se Kinshasa). Isso pode-se saber pelo estudo de Nuno Faria na Science (que eu também postei lá atrás). A forma de o determinar foi uma análise filogeográfica (infere-se os locais de ramos antigos de uma árvore filogenética). O Nuno Faria e o Philippe Lemey são dos maiores especialistas mundiais deste tipo de análise.