Pressuponho que para ti o ideal é que o racismo deixe de ser referenciado como se não existisse, é isso? Claro que a má prática policial abrange tudo, seja por motivações racistas, seja por outras motivações quaisquer, como aconteceu neste caso. Do ponto de vista do espectador (nós), só podemos supor hipóteses. Eu acho normal que a motivação racista surja como forte hipótese quando um negro é o alvo de agressões despropositadas por parte de polícias brancos, pelos vistos tu não, é como se o próprio termo "racismo" não fizesse sentido existir.
É isso que (felizmente) nos distingue. Eu quando vejo um polícia branco a bater num negro procuro obter uma validação de que é racismo. No teu caso assumes como forte hipótese de que é racismo, até prova em contrário.
Não consideras, jamais, que o polícia branco que está a bater injustificadamente no negro pode ser o mesmo que também bate injustificadamente no branco, como foi este caso (e em que obviamente, não era racismo).
Felizmente (ou infelizmente) vamos tendo muitos casos como este (e como o de Guimarães) de branco vs branco, que mostram como estás muito errado ao formular essas "fortes hipoteses" de racismo. É provável que haja muito mais má prática policial, sem motivações racistas, do que tu imaginas com esses óculos do racismo que usas permanentemente.
O que nos distingue não é isso, estás enganado. O que nos distingue é a forma e as situações em que tentamos combater ou não as conclusões precipitadas com base em probabilidades:
no caso dos conflitos que surgem por esse país fora causados por "grupos de pessoas", eu tento não pensar que foram ciganos, tu assumes essa conclusão como totalmente natural e obvia de se expressar.
no caso dos casos de brutalidade policial entre polícias brancos e agredidos negros, tu tentas não pensar que é racismo a motivação, e eu assumo que faz sentido levantar essa possibilidade porque é algo que acho que não devia existir ainda na sociedade.
Ora, no caso dos ciganos é simples e fácil ver se foram ou não ciganos. O que não é tão simples, e muitas vezes (ou quase sempre) é secularizado e mesmo desprezado, é o que provocou o conflito. No caso do racismo, sendo um sentimento intrínseco do agressor e que não deixa provas, não é fácil concluir se a motivação foi ou não racista. Portanto, das duas uma: ou nunca é racismo, a não ser que o polícia tenha uma suástica tatuada na testa (e mesmo nesse caso acredito que alguém viesse dizer que podia não ser racismo) ou o polícia, no seu relatório, escreva: "Agredi esta pessoa X porque ela é negra / cigana / asiática / magrebina", ou avaliam-se as situações com base no que a história nos ensinou, em estatísticas, etc, tentando contrariar uma desigualdade que ainda existe à mão da lei.