A minha conversa sobre o ecocídio é bem anterior ao incendio da Amazónia, foi uma coincidência. Como o reg já disse creio, há um fundo internacional para a manutenção da Amazónia. O problema do Brasil fazer o que quiser com o país dele são os desequilíbrios que traria ao mundo inteiro o desaparecimento de, por exemplo, metade da Amazónia. O clima mundial tem um equilíbrio próprio, e que essas mudanças gigantescas na sua composição iria desregrar e alterar com efeitos totalmente imprevisíveis.
Bem, então dada a importância da Amazónia para o equilibrio de todo o planeta, parece-me que a preservação da mesma deve ser paga pelo planeta inteiro. É que no meu livro de ética qualquer pessoa que preste um serviço a outro deve ser remunerada por isso (a não ser que o entenda prestar a título gratuito).
Enfim, fenómenos que não interessam a capitalistas que veem apenas num prazo que termina na sua própria vida, para ser optimista.
Vê lá se metes na tua cabeça que defender o que é eticamente correcto não significa que a pessoa não se preocupe.
Eu defendo que qualquer pessoa possa comprar um charro legalmente, mas isso não significa que não me preocupe com a adição que daí pode vir. Idem para a prostituição e para os seus malefícios. Ou a eutanásia e a impossibilidade de alguém poder voltar atrás depois de se matar. Etc. Etc. Etc.
De qualquer maneira, tal como é escandaloso o que se passa na Amazónia, é igual nos incêndios em Portugal, ou na deflorestação devida ao óleo de palma na Ásia, ou a poluição extrema nas Filipinas, China, Vietname, etc, ou dos plásticos que intoxicam os oceanos. Africa, nem se fala. Os EUA estão muito bem porque são ricos e pagam aos países pobres para ficarem com o lixo deles. É isto que é ético? O dinheiro é o supra-sumo da vida ética, da moral?
Isso acontece porque os rios não têm um dono. Ou se tu fosses dono de um rio permitias que lá fossem despejar plásticos e resídios quimicos ? Achas que um monte privado no alentejo, que tenha uma pequena albufeira (sim, existem), deixam lá ir despejar lixo ?
Idem para um terreno. Compras um terreno e permitias que aquilo fosse um aterro sem te pagarem a inutilização do mesmo por 100 anos ?
Idem para as florestas. Permitias a desflorestação selvagem, sem replantação, se tivesses investido o teu dinheiro na compra daquele terreno ? Achas que as papeleiras compram as terras para abaterem tudo e nunca mais plantarem nada ? Ou será que vão cortando os eucaliptos e plantando novos, fazendo um gestão cuidada, ao ponto de até terem bombeiros privados ? A evidência da vantagem da propriedade está à vista.
Temos claramente ideias diferentes do que é eticamente correcto, mas siga.
Quanto aos donos de um rio. Sabes que os rios nascem de lençóis de água, que proveem de infiltrações através de outros terrenos circundantes e que podem estar poluídos, em geral com pesticidas tóxicos, etc. Sendo dono do rio, que podes fazer para evitar essa poluição? Compras os terrenos à volta, todos os afluentes e respectivas bacias hidrográficas? Até onde?
A questão de um aterro. O problema da desigualdade chocante entre povos e países que comercializam como iguais é mesmo essa. Tal como os trabalhadores do têxtil no Bangladesh em condições deploráveis são dos mais bem pagos por lá (por isso é que há tantos que o fazem), os EUA também pagam aos países paupérrimos para depositarem nesses países a quantidade absurda de lixo que produzem, e eles, sendo esse dinheiro pouco para os EUA, mas muito para eles, acabam por aceitar. É isto tudo eticamente correcto a teu ver? O dinheiro é o que calibra a ética? Tudo tem um preço?
As florestas: Concordo na parte das papeleiras, tal como com a corticeira. São empresas que detêm florestas, mas cujo objectivo é manter os terrenos como florestas, pelo que não há problema nenhum. Mantêm o seu espaço natural. Renovam e até cuidam melhor do que se estivesse ao abandono. Totalmente diferente é a Amazónia, em que florestas milenares são devastadas para plantar soja, ou passearem vacas. Alteram totalmente o espaço, e isso provoca desequilíbrios a todos os níveis, mesmo climáticos, na fauna, etc, não é só o simples desaparecimento de árvores e do dióxido de carbono que transforma em oxigénio. É diferente ou não? Os oceanos? Como sabes, se eu for dono ali de uma parcela de oceano ao largo de Sines, e começar e encher aquilo de lixo e plásticos, achas que eles ficam ali parados no meu pequeno espaço oceânico? Achas que o dono do pedaço oceânico do lado conseguia controlar a propagação por vários meios dessa poluição para o seu e todo o oceano? Ou impedir que os seus peixes fossem lá comer os meus plásticos? Enfim.
O que se apela é a uma responsabilidade geral e mundial. O planeta é de todos e todos temos que o tratar bem, começando pelos países desenvolvidos que têm a obrigação de, tendo em média uma população mais bem educada e formada e, para além disso, terem sido os primeiros a causar estragos, dar o exemplo. O que não parece uma realidade na maioria dos casos.