Que Farei quando Tudo Arde?
Desarrezoado amor, dentro em meu peito,
tem guerra com a razão. Amor, que jaz
i já de muitos dias, manda e faz
tudo o que quer, a torto e a direito.
Não espera razões, tudo é despeito,
tudo soberba e força; faz, desfaz,
sem respeito nenhum; e quando em paz
cuidais que sois, então tudo é desfeito.
Doutra parte, a Razão tempos espia,
espia ocasiões de tarde em tarde,
que ajunta o tempo; enfim vem o seu dia:
Então não tem lugar certo onde aguarde
Amor; trata traições, que não confia
nem dos seus. Que farei quando tudo arde?
Sá de Miranda, in 'Antologia Poética'
Vem isto ainda a propósito do papel de relevo/importância que o Presidente da República desempenha enquanto "mediador político" e "decisor de soluções". Um papel determinante, em particular, nas situações de crise e de impasse político entre os partidos representados no governo e na Assembleia.
Lendo
esta crónica do João Miguel Tavares, e colocando para já de parte a questão do "quando" e do "como", deixo à vossa meditação se numa altura como esta que aqui é traçada em perspectiva será igual ter a Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e Vitorino Silva.
Olhando para a esmagadora maioria das opiniões aqui formuladas no fórum a propósito da solução de governo actualmente no activo, diria que há uma unanimidade na previsão de que mais cedo ou mais tarde haverá uma crise que ditará a quebra das relações e dos acordos entre as esquerdas.
Nessa altura (nem falo das outras - do dia-a-dia institucional), e partindo do pressuposto de que o país continua "dividido", seria Vitorino Silva um Presidente tão apropriado para o cargo, tão à altura da "tarefa" e das circunstâncias, quanto Marcelo Rebelo de Sousa?