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Autor Tópico: Redistribuição de rendimento  (Lida 80786 vezes)

vbm

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #140 em: 2014-10-31 09:02:51 »
Como tenho procurado mostrar, o mercado bolsista opera uma importante redistribuição de rendimento, equalizando os lucros das diferentes actividades produtivas num dominante lucro médio, pouco maior do que a taxa de juro módica do dinheiro mutuado. Tudo ocorre pela imediata capitalização do lucro ou prejuízo expectável de cada negócio, processo que converte, posteriormente, o sobrelucro de um negócio na rendabilidade média do capital por remunerar de um activo que arca já com uma mais-valia embolsada por outrem. O que é interessante é a consequência desse facto, ou seja, essa redistribuição opera uma maior concentração de fortunas, que obviamente vai de par com a pauperização geral dos pequenos aforradores e com a vida mais difícil para os pequenos e médios produtores.

A este propósito, ontem, numa  das entrevistas no canal do Económico - TV, ouvi a linha claríssima de raciocínio do modus operandi das grandes empresas cotadas em bolsa para se apropriarem das mais-valias imediatas que o banco central da Reserva Federal Americana proporciona ao intervir com  as suas operações de open market na compra de obrigações emitidas pelas empresas.

As grandes empresas, factuais monopolistas na apropriação prioritária do crédito, contraem empréstimos a juro baixo, emitindo obrigações que a Reserva Federal compra na execução da sua política de dinheiro fácil, o chamado quantitative easing. Na posse dessa liquidez, o que os monopolistas fazem de imediato, - posto que não têm nenhum outro negócio lucrativo em vista, uma vista sempre de muito curto prazo, para lucros imediatos, futuro incerto e ignoto -, é recomprarem acções próprias - único negócio que conhecem, onde arriscam, por nesse risco já estarem imersos até ao pescoço -, as quais operam uma redução de facto do capital social, elevando concomitantemente a capacidade de distribuição de dividendos e remuneração do capital accionista.

A rendabilidade marginal, deduzido o juro das obrigações emitidas, é em si logo vantajosa e não podemos censurar o procedimento porque é essa a lógica do mercado, é desse modo que ele opera. O único óbice é o objectivo da política do  quantitative easing ser o de animar as pequenas e médias empresas da economia real, e esse efeito ser esterilizado pela apropriação de mais valias dos grandes monopolistas industriais e financeiros, pelo menos numa primeira fase.

hermes

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #141 em: 2015-01-31 08:03:21 »
Seja para que lado for a seta, o único dinheiro positivo para poupar é o que não pode ser imprimido.

Assim, não importa quem controla a impressora e a quem dá o dinheiro.
"Everyone knows where we have been. Let's see where we are going." – Another

vbm

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #142 em: 2015-02-01 16:39:07 »
Mas o problema parece ser o de poupar demais, a ponto de os próprios juros terem de ser negativos por não haver produção que os remunere! Por outro lado, por excessiva que possa estar sendo a produção de bens e a prestação de serviços que não interessam a ninguém, muita gente continua sem ter nenhuma actividade produtiva, para lá da capacidade de produção instalada estar aplicada a bens sem interesse e invendáveis por falta de utilidade e de procura. De modo que, utilizar dinheiro impresso pelo Banco e creditado ao Estado para fomento de bens e utilidades de valor, enriqueceria as pessoas e o país. Por fim, posto que os bens e o bem estar dos cidadãos e da sociedade aumentariam em proporção superior á do ouro detido pelos bancos e pelos particulares, o ouro continuaria a valorizar-se porque à quantidade dada de ouro, maior numero de bens lhe corresponderia. Que tal esta prospectiva? Aumenta o dinheiro em circulação, aumenta a produção de bens, baixam ou contêm-se os preços, valoriza-se o  ouro, a poupança continua estimulada! Há erro neste incurso previsional?
« Última modificação: 2015-02-03 14:42:54 por vbm »

Incognitus

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #143 em: 2015-03-24 00:10:07 »
Um rebater da teoria de Picketty que está bastante bom:

http://falkenblog.blogspot.co.at/2014/07/pikettys-terrifying-dystopia_27.html

"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #144 em: 2015-03-24 08:59:01 »
Deve ser interessante.

Picketty não parece explicar
propriamente as coisas, mas
apenas descrevê-las numa
dinâmica impossível
de subsistir!

Vou ler.

(Mas realmente ainda não ousei
passar de ler o que sobre ele se diz,
em vez de o ler, directo, no livro...)

Incognitus

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #145 em: 2015-03-24 19:41:50 »
Um rebater da teoria de Picketty que está bastante bom:

http://falkenblog.blogspot.co.at/2014/07/pikettys-terrifying-dystopia_27.html


Ainda sobre isto, é engraçado quando por vezes determinadas interpretações são parecidas com aquelas a que chegámos de forma independente:

Citar
The anthropologist Harold Schneider studied hunter gatherers and noted they had an almost absence of hierarchy, which he saw as the resulting from the maxim that ‘all men seek to rule, but if they cannot, they seek to be equal.' It's a reasonable solution for a society without division of labor.  Unfortunately many progressives see the world the same way, and thus like the Rawlsian solution that everyone has the same outcome regardless of one's talents or wealth. Now, that's fine for a camping trip, but in modern society unnecessarily.


Parece uma variante dos meus "pré-agrários".
« Última modificação: 2015-03-24 19:42:01 por Incognitus »
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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #146 em: 2015-03-24 20:40:53 »
Do que li de Rawls, ele não diz que os rendimentos
devam ser iguais, mas sim que a desigualdade
que exista deve ter por efeito
uma vantagem maior
para a sociedade,
do que se não
existir.

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #147 em: 2015-03-24 23:37:39 »
Do que li de Rawls, ele não diz que os rendimentos
devam ser iguais, mas sim que a desigualdade
que exista deve ter por efeito
uma vantagem maior
para a sociedade,
do que se não
existir.


Uma coisa importante em alguns destes conceitos, é que existem coisas que não são possíveis de saber, nomeadamente isso que aí está a bold. E quando algo não é possível de saber, transforma-se numa opinião arbitrária que pode ser usada com qualquer objectivo.
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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #148 em: 2015-03-25 08:45:08 »
Compreendo a refutação.
Mas tem um defeito.

Pode não ser possível saber,
e ela deveras ser verdade!

Algo valioso pode estar
a perder-se.

Como fazer?
Ser prudente.
Tactear. Experimentar.

Avançar,  petit à petit.

Nota que o que deve inclinar-nos
a que Rawls tenha razão
são factos indubitáveis
comezinhos como o deste exemplo:

'um bom cirurgião muito bem pago
é melhor para a sociedade
do que n cirurgiões
menos bons,
mal pagos.'

Ou este, 'um indivíduo rico, independente
crítico e opositor político de um governo
vale mais para a sociedade
do que n serventuários,
paus mandados de
quem manda.´
« Última modificação: 2015-03-25 08:46:28 por vbm »

Incognitus

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #149 em: 2015-03-25 12:19:26 »
Como não se pode saber, o melhor é só quem der importância à coisa ver os seus recursos comprometidos pela mesma.

Não é justo que as preocupações de um grupo de pessoas comprometam o esforço de outro grupo que não as partilha. Da mesma forma que não é justo que as preocupações do segundo grupo comprometam os recursos do primeiro quando o primeiro não as partilha.

Mas isto são coisas subtis. O que acaba por vencer será uma opção qualquer, arbitrariamente, sobre as outras. Os humanos são dados a esse tipo de resolução, à ideia de falsos consensos, etc. Isso vê-se em muitos outros campos. Tratam-se hipóteses como certezas.
« Última modificação: 2015-03-25 12:19:50 por Incognitus »
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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #150 em: 2015-03-25 14:38:21 »
Não concordo. E há uma coisa que diminuis
na justificação para nenhuma preferência
ser formulada: o conhecimento adquirido
que permite hierarquizar teorias,
testar hipóteses, optar
por probabilidades
mais altas do
que seja
certo.

Perante esta alternativa,
um 'amigo do saber'
submeter-se à
ignorância
do vulgo

é estultícia.


Não só!
Se politicamente interveniente,
abster-se do recomendável
é desprezível governação.
« Última modificação: 2015-03-25 14:39:28 por vbm »

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #151 em: 2015-03-25 15:45:19 »
Não concordo. E há uma coisa que diminuis
na justificação para nenhuma preferência
ser formulada: o conhecimento adquirido
que permite hierarquizar teorias,
testar hipóteses, optar
por probabilidades
mais altas do
que seja
certo.

Perante esta alternativa,
um 'amigo do saber'
submeter-se à
ignorância
do vulgo

é estultícia.


Não só!
Se politicamente interveniente,
abster-se do recomendável
é desprezível governação.

O conhecimento adquirido tem muitas limitações em muitos campos que não os mais cientificamente experimentáveis.

Quando toca a ciências sociais, então, as certezas caem fortemente. E aquilo em que nos estamos a focar tem essencialmente a ver com esse tipo de conhecimento.
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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #152 em: 2015-03-25 16:10:07 »
Discordo.

Governar é dirigir com a ciência adquirida
e não com base em saber ultrapassado.

A ciência acumulada pode, em várias áreas,
ter só por fundamento probabilidades
de acerto maiores. Elas devem
guiar a governação.

Incognitus

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #153 em: 2015-03-25 16:23:20 »
Discordo.

Governar é dirigir com a ciência adquirida
e não com base em saber ultrapassado.

A ciência acumulada pode, em várias áreas,
ter só por fundamento probabilidades
de acerto maiores. Elas devem
guiar a governação.

E quem é que discorda disso?

O problema está em que para muito daquilo em que achas que o Estado deve "governar", não existe ciência fiável.
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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #154 em: 2015-03-25 17:41:04 »
Entre a ciência que existe
com o grau de fiabilidade
que apresenta sem
o falsear

e

a ignorância plural da opinião,
pública, corporativa ou de grupos,
um estadista que tenha de optar

não deve seguir opiniões
infundadas, mas
decidir com
a ciência
que há.

Incognitus

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #155 em: 2015-03-25 18:11:44 »
Entre a ciência que existe
com o grau de fiabilidade
que apresenta sem
o falsear

e

a ignorância plural da opinião,
pública, corporativa ou de grupos,
um estadista que tenha de optar

não deve seguir opiniões
infundadas, mas
decidir com
a ciência
que há.

A ciência "menos que hard" tem sempre um risco grande de já ser a advocacia de algo. Excepto quando é usada em larga escala com resultados visíveis (em vez de o ser apenas para defender uma dada posição específica).

Aliás, até a ciência "hard" já é usada da mesma forma. Que fará a fofinha.
« Última modificação: 2015-03-25 18:12:09 por Incognitus »
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #156 em: 2015-03-25 21:09:17 »
Isso passa-se com os interesses relacionados com a ciência
e faz parte das actividades de toda a espécie de lobbies.

Um estadista, um político competente, decide
doutrinaria e ilustradamente para além
do que os lobbies queiram ou não,
segundo a visão que propôs
ao eleitorado lutar por
alcançar, para o seu
país e o seu povo.

O resto, é música, e
música sem interesse nenhum.

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #157 em: 2015-03-25 22:36:05 »
Isso passa-se com os interesses relacionados com a ciência
e faz parte das actividades de toda a espécie de lobbies.

Um estadista, um político competente, decide
doutrinaria e ilustradamente para além
do que os lobbies queiram ou não,
segundo a visão que propôs
ao eleitorado lutar por
alcançar, para o seu
país e o seu povo.

O resto, é música, e
música sem interesse nenhum.

Fossem as coisas tão simples. O próprio entendimento que o Estadista faz da realidade é-lhe transmitido por lobbies. Ele não nasce ensinado para as milhares de vertentes da realidade.

Aliás, o lobbying potencialmente até nem faz mais que isso. Só lhe passa uma visão do mundo ... na perspetiva do lobby. Basta que não esteja lá a visão alternativa para isso ter consequências. Não é como se todo o lobbying implicasse corrupção ou algo do género.

Ou seja, o teu Estadista JÁ está a actuar de uma forma que ele acha, muito provavelmente, justa. Já está a actuar como tu desejarias que actuasse. Mesmo quando sob a influência dos lobbies.
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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #158 em: 2015-03-25 22:50:44 »
Claro que podes ter razão nessas observações que fazes.

Mas a mim, o que me interessa, é privilegiar e dar valor
aos que sabem e se esforçam por acertar e ser justos.

O resto deve ser depreciado, envergonhado,
destituído da relevância pública
que possam ter.

É esse o efeito que busco se generalize
na sociedade: espírito crítico sempre!

Incognitus

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #159 em: 2015-03-26 01:50:24 »
Claro que podes ter razão nessas observações que fazes.

Mas a mim, o que me interessa, é privilegiar e dar valor
aos que sabem e se esforçam por acertar e ser justos.

O resto deve ser depreciado, envergonhado,
destituído da relevância pública
que possam ter.

É esse o efeito que busco se generalize
na sociedade: espírito crítico sempre!

Como podes imaginar, os lobbies passam para os governantes uma tese que será baseada na bondade e justeza. Será um "bom motivo". Como já disse uns bons milhares de vezes (e não foi por acaso).
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