Como o Incognitus e eu próprio informámos, sou meteorologista.
Não sou especialista em Climatologia, mas sim em observação (meteorológica) remota e previsão (meteorológica) de muto curto prazo.
Peço desculpa ao Incognitus por andar sem tempo para analisar com cuidado os seus posts neste tópico. Quando o puder fazer deixarei aqui os meus comentários.
Entretanto, vou deixar aqui algumas considerações genéricas sobre o tema em análise que poderão ser de ajuda para quem não tem formação específica nestas áreas.
Relativamente ao Clima, deve começar-se por distinguir-se entre variabilidade climática e alterações climáticas.
A variabilidade climática consiste no facto de as grandezas que caracterizam o estado do tempo (temperatura, precipitação, etc.) terem em geral uma grande variância. Daqui resulta que o clima duma região (que corresponde às condições médias do estado do tempo nessa região) só pode ser determinado dispondo de séries temporais muito longas de observações dessas grandezas. Classicamente o período mínimo necessário é de trinta anos. Por exemplo, o primeiro Atlas Cilmatológico de Portugal, publicado pelo então serviço Meteorológico Nacional em 1974, utilizou o tratamento estatístico de todos os dados de observação disponíveis do período 1931/60.
Por aqui se vê que para se detectarem Alterações Climáticas tem de se fazer o tratamento estatístico de séries temporais de observações também muito longas.
Dito isto, é geralmente aceite que a temperatura média global (nalgumas regiões até pode descer) tem vindo a subir nas últimas décadas.
Há alguns anos, o Instituto de Meteorologia fez um estudo das séries centenárias da temperatura em Portugal e também detectou uma subida, não tendo, agora, de memória os valores encontrados.
Mas atenção que o nível do mar, de que também tanto se fala, tem vindo a subir na costa portuguesa, pelo menos, desde o princípio do século passado pelo que essa subida não pode imputar-se totalmente às alterações climáticas.
Considera-se também que se pode afirmar que a subida da temperatura média global é antropogénica com um intervalo de confiança de 95%.
Não quero terminar sem falar agora um pouco de modelos de previsão meteorológica.
Devo começar por dizer que a Dinâmica da Atmosfera é muito complexa: as equações diferenciais que regem o estado da atmosfera não têm solução analítica conhecida e têm um comportamento caótico (no sentido da Teoria do Caos).
A solução numérica destas equações, o enorme volume de dados de observação necessário para definir as condições iniciais, a necessidade de se ter em conta a interacção oceano/atmosfera e de se dispor dos dados da altitude do solo e o tempo disponível para elaboração das previsões em tempo útil, obrigam à utilização de sistemas de computação muito potentes e à instalação e operação de estruturas muito caras que estão fora dos orçamentos da maior parte dos países. Assim, a previsão meteorológica a médio prazo (até dez dias) é feita em grandes centros mundiais como o consórcio europeu (Centro Europeu de Previsão a Médio Prazo:
http://www.ecmwf.int/) em que Portugal participa, no centro da NOAA, e mais alguns poucos.
E mesmo assim o índice de acerto das previsões vai diminuindo até ao quinto dia e entre o quinto e o décimo já é pouco razoável.