Isso que aí está escrito já se sabia há bastante tempo -- não é novidade. Não é "aquilo que se diz" certamente, porque isso já era bem conhecido.
Vale a pena ler esse artigo. Nota que existem até medidas correlacionadas com QI que não estão expostas a treino ou cultura. Nomeadamente a velocidade de reacção.
Não vou ler o artigo, nem actualizar-me nesta matéria em debate. Mas gostaria de contribuir com a achega de três pensadores: David Hume, Quine, Popper, e já agora Maria Gabriela Llansol. Neste fragmento de uma reflexão humeana sobre os limites do conhecimento humano que transcrevo:
«Quando fazemos uma inferência causal estamos a afastar uma suposição de acaso. Toda a repetição aponta para uma causação. Porém, Hume não trata da indução geral, mas só da inferência causal.
“Mais repetições não dão mais força”, acreditava Russell; mas
há um certo número de repetições que conduzem as espécies vivas mais inteligentes a
mudar de uma hipótese de casualidade a uma convicção de causalidade.
Há um sentido inato de similaridade em todas as espécies animais. Dizia Quine,
“as criaturas que não acertam no número de repetições — suficiente para mudar de uma hipótese de casualidade para uma convicção de causalidade — têm a tendência infeliz, mas louvável, de morrer sem deixar descendência”. E, de facto, o mundo é regulado por causas;
ser sagaz é ser sensível à repetição.
O cepticismo moderado de Hume é em relação ao conhecimento, não à natureza ou mundo exterior. Quando temos uma predição e decorre o contrário, então a teoria está errada.** Para Hume, como para Popper,
todo o saber é conjectural: assenta em hipóteses explicativas da realidade. Não há cepticismo indutivo em Hume: todas as ideias causais derivam de inferências causais, como acima expusemos.
A aprendizagem, o conhecimento, depende das inferências causais:
«Um homem sagaz proporciona a sua crença à evidência». Todos, os sábios e os menos dotados, fazem inferências causais em razão do costume ou hábito.
A racionalidade é uma crença justificada.
Há uma proporção directa entre a crença e a evidência.
A racionalidade depende da proporção, além da repetição; é um sentido inato entre as proporções e a ordem causal do mundo; uma harmonia estabelecida entre os seres viventes e o mundo em que emergem e de que dependem.»
[ ]
«Assim, a admirável aptidão de todos os seres viventes para captar as regularidades do seu próprio habitat é o resultado, e a condição, da sua própria sobrevivência na natureza que os contêm e constitui.**»
*
Pelo modus tollens — de, p e p-->q, se ~q, então ~p. — deduz-se que, se p v ~q, então ~(p-->q).**
Maria Gabriela Llansol tem um belíssimo texto sobre este tema: «A teoria da evolução das espécies, selecção por adaptação, revela, na sua contrapartida, um enunciado radical. Se cada espécie se adapta às circunstâncias do meio, cada espécie representa uma leitura das virtualidades desse meio. Cada espécie é uma leitura. A viabilidade de cada espécie é sobrevivência específica porque representa, de facto, uma descrição específica do real. Tantas quantas as espécies. Cada uma delas é, se bem entendo, uma história consistente do meio terrestre. Há, desta Terra, infinitas descrições possíveis... desde que escritas. Mais, dentro de cada espécie, há várias leituras. Tantas quantos os desvios evolutivos.», in Maria Gabriela Llansol, Parasceve, Relógio d’Água, 2001, p 37.