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Autor Tópico: Portugal falido  (Lida 3448302 vezes)

Incognitus

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Re: Portugal falido
« Responder #18180 em: 2019-03-29 11:53:47 »
O povo é o soberano. Mesmo nas monarquias, particularmente na nossa, desde sempre, os monarcas, ainda que não eleitos, não eram uma pura emanação da Nobreza nem do Clero. E dependiam justamente do povo para se oporem, se necessário às outras duas classes. Platão era aristocrata. Para ele, era claro que o governo tinha de pertencer aos melhores, precisamente os que sabiam, não os ignorantes. É facto, que o exercício do mando requer mais aptidões do que apenas o <saber-saber>. Mas um bom governo nunca deve distanciar-se dos que sabem e compreendem, dos sábios e dos amigos dos sábios. Isto não é 'nepotismo' nenhum! Pode ser elitismo. Mas é-o distanciado do mero interesse corporativo de monopolistas e sindicatos, e assenta na dignidade central da pessoa humana, assistida pela sua maior aptidão, a razão, a razoabilidade, a justiça, ordem cultural que civilizacionalmente sabemos opor, impor, sobrepor, mas fundamentalmente aliar, conjugar à natureza, à qual nada se subtrai pois tudo lhe obedece, sem prejuízo de, conhecendo-a, melhor nos capacitarmos a dela beneficiarmos. (Tudo o mais são tretas, televisão, locutores, 'felicidade' irradiada por multimédia, futebol, telemóveis e filmes com pipocas, lol)

As pessoas vivem e morrem. Não está definido o sentido da vida. Portanto cada um viver a sua vida como quer, usando para tal o máximo possível dos recursos que gera, é uma coisa básica.

Retirar-lhe coercivamente recursos para opções de outrém, perante essa realidade, é basicamente uma monstruosidade. Como é uma monstruosidade, só deveria ser usada essa capacidade para coisas extremas, não para questões de gosto.
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vbm

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Re: Portugal falido
« Responder #18181 em: 2019-03-29 12:10:14 »
Não são questões de gosto.
São questões de civilização.

Por exemplo, a religião é
'um atraso de vida'.

Mas sem ela, como teriam
uns quantos arrebatado
ao mero existir animal,
a vida do sapiens que
ascende a perceber
o universo inteiro?

Tens, tu e outros
marginalistas ideológicos
da relatividade do valor,
de posicionares-te na
objectividade do que
mais convém ao que
une o homem: o pleno
e livre exercício da
razão, a civilização
na natureza.


Reg

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Re: Portugal falido
« Responder #18182 em: 2019-03-29 12:13:00 »
são questoes de gosto

não querem e aceitar por causa culpa consciencia

andam roubar para dar gostos dos outros

e nem tem desculpa de roubar para pobres, porque essa arte e normalmente vista por gente tem algum dinheiro estão longe serem pobres

podia se juntar e financiar isso  no capitalismo, ja que tão importante no gosto  para voces
« Última modificação: 2019-03-29 12:23:36 por Reg »
Democracia Socialista Democrata. igualdade de quem berra mais O que é meu é meu o que é teu é nosso

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Re: Portugal falido
« Responder #18183 em: 2019-03-29 12:26:11 »
Não são questões de gosto.
São questões de civilização.

Por exemplo, a religião é
'um atraso de vida'.

Mas sem ela, como teriam
uns quantos arrebatado
ao mero existir animal,
a vida do sapiens que
ascende a perceber
o universo inteiro?

Tens, tu e outros
marginalistas ideológicos
da relatividade do valor,
de posicionares-te na
objectividade do que
mais convém ao que
une o homem: o pleno
e livre exercício da
razão, a civilização
na natureza.

Eu sou todo a favor da civilização. É absurdo porém pensar que coisas marginais como o Manoel de Oliveira ou os Lusíadas fazem alguma diferença à civilização. Penso que passaste demasiado tempo a olhar para isso, e pouco a olhar para a ciência, técnica, manufactura, troca de excedentes, etc. Isso é que ditou a civilização, não estas coisas absurdamente marginais. Estas coisas absurdamente marginais quanto muito contribuem negativamente para o desenvolvimento do país, pois:
* Destroem uma parte da vontade de aprender nos jovens (Lusíadas e outras porcarias galalaicas que ensinam na escola, 100% inúteis).
* Retiram recursos a coisas potencialmente viáveis para os atribuirem a coisas inviáveis (Manoel de Oliveira e afins).
« Última modificação: 2019-03-29 12:27:22 por Incognitus »
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Automek

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Re: Portugal falido
« Responder #18184 em: 2019-03-29 12:28:24 »
Porque é que uma vida vivida a contemplar pinturas e estátuas é superior a uma vida vivida a jogar videojogos ?

A pergunta é séria. Não estou a perguntar o tipo de pessoas com quem vocês se preferem relacionar, mas sim o porquê de uma vida ser superior a outra, ao ponto de justificar a coerção de quem joga videojogos, em favor de quem contempla pinturas.


Pip-Boy

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Re: Portugal falido
« Responder #18185 em: 2019-03-29 12:51:10 »
E videojogos também podem ser considerados arte, https://en.wikipedia.org/wiki/Video_games_as_an_art_form

Ja agora é curiosa a visao de um conhecido game designer sobre o assunto,

Citar
Kojima acknowledged that games may contain artwork, but he stressed the intrinsically popular nature of video games in contrast to the niche interests served by art. Since the highest ideal of all video games is to achieve 100% player satisfaction whereas art is targeted to at least one person, Kojima argued that video game creation is more of a service than an artistic endeavor
The ultimate result of shielding men from the effects of folly, is to fill the world with fools.

Reg

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Re: Portugal falido
« Responder #18186 em: 2019-03-29 12:59:43 »
mesmo video jogos nunca atingem os 100% satisfação ha quem não goste  e vao falencia e  depois fans juntam- se suportam o jogo durante anos
 jogo foi feito em 2005  hoje ainda tem gente suportar gosta dele

como este http://www.beatrix.pro.br/vampire-bloodlines/index.php/tag/mods/

Apesar de relegado pela industria dos jogos, ser um fracasso de vendas na época de seu lançamento e sofrer duras críticas por conta de bugs e gráficos, Vampire Bloodlines conta com uma comunidade bastante ativa na internet que procura criar além de patchs para corrigir os famigerados bugs, novos mods e expansões para trazer novo fôlego ao jogo. Nesse artigo vou comentar três mods/expansões que cumprem bem esse papel: VTMB CompMod, VTMB: Camarilla Edition e Clan Quest Mod.


tudo isto sem subsidios  e porque e importante para  esta minoria o jogo

e agora ha empresa comprou  direitos jogo vai fazer outro jogo  novo so porque ha comunidade  ( nicho)  onde podem vender
« Última modificação: 2019-03-29 13:13:45 por Reg »
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Re: Portugal falido
« Responder #18187 em: 2019-03-29 13:08:17 »
Porque é que o estado não se mete na alimentação que é muito mais importante do que a cultura ?

Preparei aqui dois textos:

Citar
A alimentação é muito importante.

Mas as pessoas, se tiverem liberdade de escolha, vão consumir porcarias, como refrigerantes ou bolachas.

Os gastos nessas porcarias limitam a existência de maior variedade de produtos biológicos, que são mais saudáveis.

Em vez de deixarmos as pessoas gastar o dinheiro livremente em alimentação, é preferível cobrar um pouco mais de impostos e ser o estado a fazer as escolhas correctas por elas, subsidiando os alimentos saudáveis.

O estado irá delegar essa escolha de alimentos saudáveis nos especialistas em alimentação.

Agora vamos substituir alimentação por cultura. Fica assim:

Citar
A cultura é muito importante.

Mas as pessoas, se tiverem liberdade de escolha, vão consumir porcarias como Rock in Rio ou livros do José Rodrigues dos Santos.

Os gastos nessas porcarias limitam a existência de maior variedade na oferta de cultura de qualidade.

Em vez de deixarmos as pessoas gastar o dinheiro livremente em cultura, é preferível cobrar um pouco mais de impostos e ser o estado a fazer as escolhas correctas por elas, subsidiando a cultura de qualidade.

O estado irá delegar essa escolha de cultura de qualidade nos especialistas em cultura.

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Re: Portugal falido
« Responder #18188 em: 2019-03-29 13:12:42 »
mesmo video jogos nunca atingem os 100% satisfação ha quem não goste  e vao falencia e  depois fans juntam- se suportam o jogo durante anos
 jogo foi feito em 2005  hoje ainda tem gente suportar gosta dele

como este http://www.beatrix.pro.br/vampire-bloodlines/index.php/tag/mods/

Apesar de relegado pela industria dos jogos, ser um fracasso de vendas na época de seu lançamento e sofrer duras críticas por conta de bugs e gráficos, Vampire Bloodlines conta com uma comunidade bastante ativa na internet que procura criar além de patchs para corrigir os famigerados bugs, novos mods e expansões para trazer novo fôlego ao jogo. Nesse artigo vou comentar três mods/expansões que cumprem bem esse papel: VTMB CompMod, VTMB: Camarilla Edition e Clan Quest Mod.


tudo isto sem subsidios  e porque e importante para  esta minoria o jogo


Ou seja, ao contrário das tangas do pessoal da cultura, aqui essa comunidade vê real valor e prescinde do seu tempo e alguns recursos devido a isso mesmo.
« Última modificação: 2019-03-29 13:13:01 por Incognitus »
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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Re: Portugal falido
« Responder #18189 em: 2019-03-29 13:17:24 »
sim e isso ainda convenceram outra empresa  a financiar  jogo novo  sequela 16 anos depois  mesmo sendo nicho mercado

um jogo novo... :D


ha mercado para   gostos sem terem muita gente tambem comprar

Still, Vampire: The Masquerade fans were drawn to the cast of characters, the story, and fell in love with many of the missions. Given the circumstances around its release, Bloodlines was still widely loved and accepted, and obtained cult status. If that wasn't evident back then, it's evident now.


tudo isto sem subsidios so com gosto minoria! (nicho)
« Última modificação: 2019-03-29 13:34:44 por Reg »
Democracia Socialista Democrata. igualdade de quem berra mais O que é meu é meu o que é teu é nosso

vbm

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Re: Portugal falido
« Responder #18190 em: 2019-03-29 13:47:30 »
Eu sou todo a favor da civilização. É absurdo porém pensar que coisas marginais como o Manoel de Oliveira ou os Lusíadas fazem alguma diferença à civilização. Penso que passaste demasiado tempo a olhar para isso, e pouco a olhar para a ciência, técnica, manufactura, troca de excedentes, etc. Isso é que ditou a civilização, não estas coisas absurdamente marginais. Estas coisas absurdamente marginais quanto muito contribuem negativamente para o desenvolvimento do país, pois:
* Destroem uma parte da vontade de aprender nos jovens (Lusíadas e outras porcarias galalaicas que ensinam na escola, 100% inúteis).
* Retiram recursos a coisas potencialmente viáveis para os atribuirem a coisas inviáveis (Manoel de Oliveira e afins).

Então, estou de acordo. Não me interessa e nunca me interessou nem o Manoel Oliveira, nem 'Os Lusíadas' especificamente - lembro-me do meu professor do 5º ano do Liceu: deu-nos os Lusíadas assim: 'lê este trecho daqui até ali'; agora, conta-o com as tuas palavras. Qualquer marxista sabe que o mundo humano é o da natureza mudada pelo homem; e, do meu tempo, Geografia era com a Matemática, uma disciplina nuclear de entrada para Económicas. E com razão: pois a geografia económica é a do Trabalho do Homem na Terra. Agora, o que é necessário é perceber qua a ciência, a filosofia, o pensamento, a arte, a técnica não são nunca o efeito do gosto plebeu de pipocas, da cervejola, do cinema de três vinténs, etc. etc. É tudo muito mais fino e o Povo merece essa Cultura verdadeira.

Smog

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Re: Portugal falido
« Responder #18191 em: 2019-03-29 20:27:29 »
A discussão já está mais equilibrada!  ;D Gosto de discussões: são um rio com duas correntes contrárias e é giro estar numa equipa a passar a bola! ;D

Claro que esta discussão não tem fim! 8) mas as questões de estética e ética são recorrentes e fundadoras de um pensamento que se quer profundo e refletido. A filosofia, o direito, a história da arte dão corpo a estas questões. Sempre bom ter uma alternativa elegante e culta á vidinha concreta! ;D
wild and free

Kin2010

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Re: Portugal falido
« Responder #18192 em: 2019-03-29 22:49:46 »
Porque é que uma vida vivida a contemplar pinturas e estátuas é superior a uma vida vivida a jogar videojogos ?

A pergunta é séria. Não estou a perguntar o tipo de pessoas com quem vocês se preferem relacionar, mas sim o porquê de uma vida ser superior a outra, ao ponto de justificar a coerção de quem joga videojogos, em favor de quem contempla pinturas.

Estás a baralhar aqui as coisas que realmente estão em discussão.

Para se defender que é necessário proteger a cultura das pinturas e estátuas mais do que a dos videojogos não é necessário assumir, como tu aí dizes, que "uma vida vivida... vale mais". A questão é que as pinturas e estátuas fazem parte de uma cultura clássica que, se se perder, terá efeitos catastróficos, e já agora, produzirá sofrimento intenso das pessoas que têm apego a essa cultura e a perdem. Ao passo que os videojogos já estão neste momento bem financiados, pelos mecanismos de mercado, e isso é óptimo.

Aquilo que puder ser financiado pelos gostos e logo, pelo mercado a funcionar, pois que o seja, isso está ok. Mas a sociedade em geral tem obrigação de proteger aquelas facetas da cultura clássica que estejam ameaçadas de simplesmente desaparecer se forem entregues só ao mercado.

Logo, não tem nada a ver com o teu argumento de qual das vidas vale mais.

Kin2010

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Re: Portugal falido
« Responder #18193 em: 2019-03-29 23:00:08 »
É incorrecto acusar o Robaz, o Zenith, e o vbm de quererem "impor aos outros" que paguem os "seus" gostos. O que eles defendem é que os apoios do Estado vão, não para os "seus" gostos, mas sim para as obras culturais que tenham à partida mais hipóteses de ter valor, com base em critérios definidos pelos especialistas que sabem de cada área cultural, e que avaliam com base em coisas como a História do País, a Ciência, as tendências culturais no estrangeiro, etc, que classificam, com um conhecimento disso que escapa à maioria.

Deve haver critérios de avaliação da cultura que necessariamente não passem só pela sua vendabilidade no mercado e que sejam definidos por especialistas nas várias áreas da cultura. Esses especialistas, temos todos de admitir, estarão mais autorizados do que os restantes cidadãos para atribuir um valor às obras culturais, tendo em conta a história do país, a ciência, a sobrevivência dos monumentos nacionais e da história nacional, os imperativos de educar o povo de forma a ele ter espírito crítico, e outros critérios cruciais. Desses especialistas emerge um range alargado de tipos de cultura e de obras de cultura que a sociedade aceita que deve apoiar o suficiente apenas para que não desapareçam de todo. Depois os governos eleitos, que têm legitimidade para tomar decisões em nome da sociedade inteira, precisamente porque foram eleitos, tomam mais algumas decisões sobre os apoios a dar, mas tendo em conta esse range alargado (para não ficar uma cultura monolítica como na URSS ou Coreia do Norte), mas sempre dentro do range definido pelos especialistas (para não se ir apoiar em medida igual as coisas que só dependem de gostos vulgares e momentâneos e as coisas de valor intemporal e que seria trágico perder, como os símbolos da história e da cultura do país).

A sociedade precisa desse elitismo, dessa classe de especialistas que decidem (em parte) por todos nós. E nós temos que pagar impostos para eles decidirem, custe o que custar.

Pelo contrário. Esses especialistas estão altamente motivados para escolherem coisas nas quais os outros não vejam o valor. Porquê? Porque se numa coisa altamente subjectiva o valor fosse fácil de ver, deixaria de existir razão para esses especialistas existirem.

Sobre essa suposta necessidade, isso é a tua opinião. O triste mesmo é que essa opinião possa ser imposta coercivamente a outros, em vez de, se vêm tal grande valor, se organizarem de forma a prescindirem de algo por esse valor. É isso que define o valor, e não a opinião "isto é muito importante -- os outros que o paguem". Que não exista vontade para prescindir de algo por essas coisas "tão importantes" só mostra que a sua real importância é mínima. Nota o que as pessoas fazem pela saúde (sua e de próximos), pela alimentação, etc, na ausência de apoios para as obterem. Fazem sacrificios, prescindem. É isso que define o valor, e não conversa e obrigação para os outros.

Para vivermos com uma sociedade e civilização que se aguente e não colapse, temos mesmo que aceitar que haja coisas coercivas. Os impostos por exemplo. A vacinação por exemplo.

Quanto aos especialistas terem mais poder de decisão tem que ser assim. Como sabes, os tipos que são nomeados para os bancos centrais são especialistas em finanças e até sobretudo em aspectos monetários, não se aceita outros. Imagina que o povo começava a achar que devia ir para lá o Marco Paulo ou o Cristiano Ronaldo. Era a maioria do povo a decidir, logo estaria certo?

Notar também que a democracia tem limites, precisamente por isso. Se tudo depender do princípio do voto, e logo dos gostos pessoais, a sociedade pode não se aguentar. Por isso é que no caso dos bancos centrais se decidiu que deviam ser independentes do governo, para não terem os seus ciclos de decisões dependentes da vontade popular.

Ora é óbvio que o que um banco central faz é também governação. Decidir a política monetária, o QE e as taxas tem enorme importância para a sociedade. Logo, se se fosse ser purista quanto à democracia, exigir-se-ia que fosse um cargo eleito também, um membro do governo. Se não o é, é porque se admite que a democracia tem que ter os seus limites.



JohnyRobaz

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Re: Portugal falido
« Responder #18194 em: 2019-03-29 23:15:31 »


Sonetos, poemas, epopeias poderiam ser todos opcionais, tal como pintura, escultura e afins.

Eu também acho bem que o ensino promova a diversidade, mas de uma forma diferente: quem mostre uma aptidão muito elevada para algo, deveria ver essa aptidão desenvolvida (se o quisesse). Mas não se deveria enfiar pela goela, e muito menos avaliar o conhecimento sobre, coisas opcionais.

---------

Ninguém critica Saramago, ou o Manoel de Oliveira, pelo que se acha das obras do mesmo. Critica-se sim pela forma como foram financiadas (basicamente roubando aos restantes cidadãos. coercivamente, para algo altamente opcional e subjectivo).

Também achas que as diversas matérias da disciplina de matemática deviam ser opcionais? Ou de Ciências da Natureza? Ou de História? Mesmo educação física, lembro-me bem que por nós apenas jogávamos futebol e as miúdas ginástica. Devia ser assim? Não deve ser imposta a aprendizagem de outros desportos? Não deve ser fomentada a diversidade? É isso que é aprender, ver, ouvir e praticar algo novo, diferente.

Não. Se quiseres ver o que pode ser opcional só tens que fazer assim. Pega em 4-5 países bastante desenvolvidos. Suiça, Singapura, EUA, Finlândia, sei lá. Verifica aquilo que todos esses países ensinam (as matérias). Aquilo que todos têm em comum é potencialmente essencial. Aquilo que varia de uns para os outros (por exemplo, os autores, em literatura), é opcional.

"imposta a aprendizagem?". A actividade física não deve ser opcional, mas qualquer desporto poderia ser opcional. Ler náo deve ser opcional, mas qualquer leitura específica pode ser. História provavelmente idem. Embora dês grande valor à história, não é de forma nenhuma garantido que aproveite ao nível de vida das pessoas saber seja o que for de história, nacional ou internacional. Eu também dou valor à história, gosto bastante de conhecer pormenores por exemplo da 1GG e da 2GG, ou história económica em geral, mas isso é no fundo curiosidade.

Por fim, para as pessoas provarem coisas novas não necessitam da escola, mas a escola pode ser um bom lugar para o fazerem. Porém, em vez de a escola ditar o que há de novo para experimentar via um programa, deveria talvez ser um espaço onde as pessoas pudessem experimentar qualquer coisa. Teria que estar estruturada para tentar providenciar isso, e não para seguir um programa rígido (falo dos "opcionais"). Depois, se fossem identificados talentos em qualquer coisa, deveria ter forma de guiar essas pessoas para desenvolver os talentos.

Porque é que a actividade física não deve ser opcional, mas o contacto com diferentes desportos para além do mainstream deve?

Bom, tal como consideras subjectivo tanta coisa, porque não considerar também subjectivo o que é um país desenvolvido? Quais os critérios? Penso até que é o próprio director do escritório da ONU para o índice de desenvolvimento humano que está a desenvolver novos critérios para melhorar esse índice, pois pode não ser o mais representativo. Em muitos aspectos os EUA não seriam um país desenvolvido. Mas bom, então os autores de Filosofia, por exemplo, por serem os mesmos reconhecidos a nível internacional por especialistas já pode ser aceitável (é uma ciência humana cujos autores leccionados são globais, em todos os países se deve aprender o Aristóteles, o Platão, o Descartes e o Kant, por exemplo). Mas a literatura portuguesa, por ser portuguesa, já não pode ser submetida ao mesmo critério? Nem a História por ser História de Portugal? E Geografia, deve ser só ensinada a global, a parte específica de cada país deve ser deixada à liberdade de cada um? Pressuponho que cada país se foque, para além da geografia global, na do seu país em concreto.

Enfim, eu pessoalmente acho que não sei tudo sobre tudo, e acho que há pessoas mais habilitadas que eu para seleccionar o que tem mais qualidade, e o que é mais relevante em cada área. No entanto, eu acho que devem ser dadas opções dentro das muitíssimas obras de qualidade de existem, e possivelmente poderiam haver muitas mais. Mas até admito que isso deve ser deixado à escolha das escolas, elas próprias têm professores de português supostamente bem preparados para fazer boas escolhas nas obras a leccionar. Deixar que sejam as crianças escolher os livros é permitir a estagnação do conhecimento naquilo que já conhecem.

Por fim, deve ser garantida uma oferta cultural variada, possivelmente sustentada por impostos de todos, heterogeneidade essa garantida com o conhecimento de facto de pessoas que conhecem cada área por serem especialistas nisso, e depois ser garantida também a liberdade de cada um, tendo uma oferta variada, escolher o que quiser para si.

JohnyRobaz

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Re: Portugal falido
« Responder #18195 em: 2019-03-29 23:23:54 »
Porque é que o estado não se mete na alimentação que é muito mais importante do que a cultura ?

Preparei aqui dois textos:

Citar
A alimentação é muito importante.

Mas as pessoas, se tiverem liberdade de escolha, vão consumir porcarias, como refrigerantes ou bolachas.

Os gastos nessas porcarias limitam a existência de maior variedade de produtos biológicos, que são mais saudáveis.

Em vez de deixarmos as pessoas gastar o dinheiro livremente em alimentação, é preferível cobrar um pouco mais de impostos e ser o estado a fazer as escolhas correctas por elas, subsidiando os alimentos saudáveis.

O estado irá delegar essa escolha de alimentos saudáveis nos especialistas em alimentação.

Agora vamos substituir alimentação por cultura. Fica assim:

Citar
A cultura é muito importante.

Mas as pessoas, se tiverem liberdade de escolha, vão consumir porcarias como Rock in Rio ou livros do José Rodrigues dos Santos.

Os gastos nessas porcarias limitam a existência de maior variedade na oferta de cultura de qualidade.

Em vez de deixarmos as pessoas gastar o dinheiro livremente em cultura, é preferível cobrar um pouco mais de impostos e ser o estado a fazer as escolhas correctas por elas, subsidiando a cultura de qualidade.

O estado irá delegar essa escolha de cultura de qualidade nos especialistas em cultura.

E eu concordo que especialistas em alimentação, nutricionistas e médicos, por exemplo, definam alimentos prioritários, taxados a um Iva inferior, e alimentos prejudiciais à saúde, taxados a um Iva mais alto. Por exemplo, água engarrafada, legumes ou fruta vs. bebidas brancas, refrigerantes ou bolachas com açúcar. Isto para além de potenciar melhores escolhas alimentares por via dos custos financeiros, e com isso melhorar a vida das pessoas, mesmo que elas não o notem no imediato, irá poupar dinheiro a longo prazo no serviço de saúde público, por haver menos doenças derivadas de má alimentação, como a obesidade.

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Re: Portugal falido
« Responder #18196 em: 2019-03-29 23:24:40 »
Relacionado com isto, imaginem que de repente a população começava a acreditar mais na homeopatia e "medicinas alternativas", que como sabemos, são completas tretas, do que na medicina ortodoxa convencional? faço esta pergunta ao Antunes em especial, que é médico.

Imaginem. 80% da população convence-se de que o melhor são as "alternativas". Os impostos são opcionais. Deixam de pagar impostos para a medicina científica. Os outros 20% acreditam e financiam. Só estes a têm e tratam-se.

Isto cria dois problemas. Primeiro, os 20% que ainda acreditam podem não reunir o suficiente para a medicina científica se aguentar -- já que esta precisa obviamente de muitos mais meios técnicos do que as tretas alternativas, que só precisam de consultórios onde se vende banha de cobra.

Segundo, os idiotas dos 80% que ficaram com as alternativas começam a ter muito pior saúde. Isso também é uma imoralidade, embora a culpa seja só deles, também não se deve deixar as pessoas entregues assim aos resultados das suas más escolhas, embora a culpa seja deles.


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Re: Portugal falido
« Responder #18197 em: 2019-03-30 08:36:27 »
Relacionado com isto, imaginem que de repente a população começava a acreditar mais na homeopatia e "medicinas alternativas", que como sabemos, são completas tretas, do que na medicina ortodoxa convencional? faço esta pergunta ao Antunes em especial, que é médico.

Imaginem. 80% da população convence-se de que o melhor são as "alternativas". Os impostos são opcionais. Deixam de pagar impostos para a medicina científica. Os outros 20% acreditam e financiam. Só estes a têm e tratam-se.

Isto cria dois problemas. Primeiro, os 20% que ainda acreditam podem não reunir o suficiente para a medicina científica se aguentar -- já que esta precisa obviamente de muitos mais meios técnicos do que as tretas alternativas, que só precisam de consultórios onde se vende banha de cobra.

Segundo, os idiotas dos 80% que ficaram com as alternativas começam a ter muito pior saúde. Isso também é uma imoralidade, embora a culpa seja só deles, também não se deve deixar as pessoas entregues assim aos resultados das suas más escolhas, embora a culpa seja deles.

Por outro lado os 80% das alternativas iriam viver vidas mais curtas e possivelmente reproduzir-se menos.

Os 20% precisamente o contrário. No longo prazo a balança demográfica iria se equilibrar.

Automek

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Re: Portugal falido
« Responder #18198 em: 2019-03-30 09:26:12 »
Estás a baralhar aqui as coisas que realmente estão em discussão.

Para se defender que é necessário proteger a cultura das pinturas e estátuas mais do que a dos videojogos não é necessário assumir, como tu aí dizes, que "uma vida vivida... vale mais". A questão é que as pinturas e estátuas fazem parte de uma cultura clássica que, se se perder, terá efeitos catastróficos, e já agora, produzirá sofrimento intenso das pessoas que têm apego a essa cultura e a perdem. Ao passo que os videojogos já estão neste momento bem financiados, pelos mecanismos de mercado, e isso é óptimo.

Aquilo que puder ser financiado pelos gostos e logo, pelo mercado a funcionar, pois que o seja, isso está ok. Mas a sociedade em geral tem obrigação de proteger aquelas facetas da cultura clássica que estejam ameaçadas de simplesmente desaparecer se forem entregues só ao mercado.

Logo, não tem nada a ver com o teu argumento de qual das vidas vale mais.
Eu até concordo parcialmente contigo por isso é que nos +400M do orçamento da cultura tive o cuidado de retirar o orçamento referente ao património.

Agora, se releres o que acabaste de escrever vais ver que estão aqui todos os argumentos para não apoiar a arte contemporânea (porque não é antiga, clássica), nem para financiar eventos de música clássica (não há o risco "físico" da mesma desaparecer"), nem para financiar cinema de autor porque não há "angústia" de perder o que não foi produzido.

Além disso, justificar a coerção com o "sofrimento intenso das pessoas que têm apego a essa cultura e a perdem", significa que o sofrimento de alguém que fica sem poder ir à exposição de arte minimalista é superior ao sofrimento de alguém que deixa de ir ao futebol porque o dinheiro lhe foi retirado para a arte minimalista. É, mais uma vez, assumir que uma forma de viver (ir ver cultura) é superior à outra (ir ver futebol), ao ponto de merecer a coerção.

Automek

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Re: Portugal falido
« Responder #18199 em: 2019-03-30 10:01:58 »
E eu concordo que especialistas em alimentação, nutricionistas e médicos, por exemplo, definam alimentos prioritários, taxados a um Iva inferior, e alimentos prejudiciais à saúde, taxados a um Iva mais alto. Por exemplo, água engarrafada, legumes ou fruta vs. bebidas brancas, refrigerantes ou bolachas com açúcar. Isto para além de potenciar melhores escolhas alimentares por via dos custos financeiros, e com isso melhorar a vida das pessoas, mesmo que elas não o notem no imediato, irá poupar dinheiro a longo prazo no serviço de saúde público, por haver menos doenças derivadas de má alimentação, como a obesidade.
Discriminação fiscal não é o mesmo que subsidiação por isso agrada-me que não queiras que o estado se meta a cobrar impostos ainda mais altos para subsidiar os alimentos "correctos", como subsidia cultura "correcta".

Agora passemos à discriminação fiscal que defendes na alimentação.
Sendo a alimentação mais importante do que a cultura, e para seres consistente, a tua posição deveria ser "impostos zero para subsidiar cultura" (da mesma forma que há impostos zero para subsidiar alimentação). E depois a cultura "melhor" tinha um IVA mais baixo, de forma a "potenciar melhores escolhas culturais".

Não vale dizer que era impossível taxar um autor "mau" como o José Rodrigues dos Santos e beneficiar um autor "bom" como o Gonçalo Tavares. Ou um filme "mau" como o Titanic vs um filme "bom" do Manoel de Oliveira.
É que isso já hoje é impossível também na alimentação, nomeadamente na carne de aves (mais saudável) vs carne de porco (menos saudável), na pescada (mais saudável) vs salmão de viveiro (menos saudavel).

Porque é que se aceita esta subsidiação da cultura e não da alimentação, que é muitíssimo mais importante ?