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Autor Tópico: Coronavirus  (Lida 349159 vezes)

deMelo

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Re: Coronavirus
« Responder #3540 em: 2020-05-31 15:59:28 »
Não acredito nisto:
Citar
Já em Sintra – que continua a ser o segundo concelho, a seguir a Lisboa, com mais casos nesta região – não aparecem registos de novos casos há dois dias.
https://observador.pt/2020/05/31/os-concelhos-na-grande-lisboa-onde-o-contagio-por-covid-esta-a-acelerar-mais/

Então o segundo concelho com mais casos, não tem um único caso novo em dois dias, quando os outros concelhos da área de Lisboa estão a crescer ?

Não se trabalhar ao sábado e ao domingo...
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Zenith

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Re: Coronavirus
« Responder #3541 em: 2020-05-31 18:47:59 »
Não é bem nos que estão mais perto (há noruega, nova zelândia, japão, etc. e excluiram itália, por exemplo). Parece estar mesmo relacionado apenas com quem teve surtos maiores ou menores.

Creio que apenas a Suiça está pior que Portugal

kitano

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Re: Coronavirus
« Responder #3542 em: 2020-05-31 21:24:35 »
Ontem um tipo fardado, responsável pelos nadadores salvadores, disse que não há respiração boca a boca nos salvamentos, mesmo que não haja outros meios de ventilação. Basicamente a pessoa irá morrer se precisar disso (a não ser que o nadador salvador contrarie as normas ou alguém se chegar à frente para a fazer).

Nas actuais normas de suporte basico de vida, é dispensável. O fundamental será o suporte circulatório - as compressões no torax
Eu vi as declaração mais como forma de não desincentivar os candidatos a nadadores salvadores que pudessem ter receio e desistissem por causa disso.

Mas então a respiração boca a boca é dispensável ? (estou a falar nas situações em que não há outro equipamento disponível - foi nesse contexto em que ele falou).

Sim mek, eu compreendo que as declarações sejam cuspidas com esse propósito, mas são ignorantes.
Em primeiro lugar porque existem “máscaras” portáteis com válvulas de segurança para evitar a transmissão de doenças como a tuberculose etc. e também existem balões de insuflação claro, a máscara qualquer nadador pode ter no bolso e o balão pode ter lá a um canto...

Em segundo lugar porque pelo menos desde 2017 o INEM indica que caso não seja possível as ventilações para manter apenas as compressões. https://www.inem.pt/2017/05/29/suporte-basico-de-vida/

O suporte básico de vida, serve para aumentar a probabilidade de sobrevivência até à chegada de suporte diferenciado, perante uma situação de paragem cardiorespiratória. Quando há paragem na circulação sanguínea, os órgãos perdem aporte de oxigénio e começam a surgir lesões. Geralmente tens uma situação de fibrilhacão ventricular que só vais reverter de forma eficaz com um desfibrilhador.
Ao fazer circular o sangue até restaurar o ritmo cardíaco aumentas as hipóteses de sobrevivência da vítima. Se não me engano é tipo 75% de sobrevivência até 5 minutos e depois cai 10% a cada minuto adicional.
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D. Antunes

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Re: Coronavirus
« Responder #3543 em: 2020-05-31 21:59:23 »
Tenho ideia que, nos adultos, como a causa da paragem é geralmente cardíaca, fazer apenas compressões torácicas permite um resultado similar. Não sei se, no contexto de quase afogamento, a parte da ventilação não será mais improtante.
“Price is what you pay. Value is what you get.”
“In the short run the market is a voting machine. In the long run, it’s a weighting machine."
Warren Buffett

“O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que aquele que têm."
René Descartes

kitano

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Re: Coronavirus
« Responder #3544 em: 2020-05-31 22:39:50 »
Provavelmente tens razão.

Em termos de fisiopatologia num afogamento terás hipoxia apneia perda de consciência taquicardia bradicardia e assistolia. No resgate com pulso e hipoxia...a ventilação será sem dúvida mais importante.

O INEM, penso que a única diferença que aponta em caso de afogamento é a reanimação por um minuto antes de chamar auxílio. E mantém a ventilação “facultativa”.

Mas lembrei-me de outro aspecto dos afogamentos, o suporte pode ser iniciado no meio do mar, e aí só é possível a ventilação.
"Como seria viver a vida que realmente quero?"

D. Antunes

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Re: Coronavirus
« Responder #3545 em: 2020-05-31 22:45:05 »
Fazem compressões cardíacas ainda com a vítima no mar! Nunca tinha pensado nisso.
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Counter Retail Trader

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Re: Coronavirus
« Responder #3546 em: 2020-05-31 23:27:01 »
estamos a falar de Portugal certo?

Poucos eram/sao mamadores profissiomais , so os comcessarios com mais $ tem melhores meios ao dispor, serao pouco em Portugal ...mesmo em zomas comhecidas.

Gramde parte dos mamadores salvadores sao tipos que tem de gamhar um dimheiro para as propimas por exemplo... gramde parte mao save de mar , mao tem cultura de mar... mao vigiam vem a praia mem  o mar. Gramde parte mao tem sequer preparaçao fisica....

Vejam assim , se para um profissiomal a coisa é dificil e se muma situaçao extrema (em Portugal) é aimda mais dificil devido a falta de meios e exercicios duramte o amo , imagimem para um miudo/miuda (algumas com 1,60 e picos) ... algums ate pouca praia faziam mo verao... ;D
De saliemtar que estas movas geraçoes sao megligemtes....muitos vao ressacar para a praia (ate poderiam faze lo se fossem voms...mas mao o sao), muitos mem se save omde amdam ou ficar a falar mum sitio sem visivilidade..etc etc

Ugly bull

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Re: Coronavirus
« Responder #3547 em: 2020-05-31 23:51:33 »
mamadores profissionais = socialistas  :D

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Re: Coronavirus
« Responder #3548 em: 2020-06-01 00:09:14 »
mamadores profissionais = socialistas  :D

mao me apetece fazer copy paste da letra... ;D

Mao esquecer que em muitos casos vasta por a vitima ma posiçao para sair a agua , as vezes agua com espuma.. , gramde parte das vezes mao chega a reamimaçao quamdo chega a essa fase os casos que comheci mao se safaram...

Se falarmos em praias vigiadas gramde parte destas situaçoes ocorrem porque os mamadores salvadores mao souveram prevemir ou e ou vigiar , a prevemçao é a coisa mais importamte.
Mao sei se isto aimda é assim (creio que sim) mas mao deixam (ou deixavam) vigiar a praia estamdo mo mar...imves de estar sempre ma areia.

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Re: Coronavirus
« Responder #3549 em: 2020-06-01 00:50:33 »
mamadores... o que eu me ri...
“Our values are human rights, democracy and the rule of law, to which I see no alternative. This is why I am opposed to any ideology or any political movement that negates these values or which treads upon them once it has assumed power. In this regard there is no difference between Nazism, Fascism or Communism..”
Urmas Reinsalu


deMelo

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Re: Coronavirus
« Responder #3551 em: 2020-06-01 09:13:21 »
Mamadores profissionais.... fujo.
Ja mamadoras profissionais, conheço algumas!
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kitano

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Re: Coronavirus
« Responder #3552 em: 2020-06-01 09:20:29 »
Nas normas da DGS para as piscinas há uma engraçada.

Utilizar óculos de piscina dentro de água e áreas circundantes para evitar tocar com as mãos nos olhos...   ;D
"Como seria viver a vida que realmente quero?"

kitano

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Re: Coronavirus
« Responder #3553 em: 2020-06-01 09:44:00 »
Mais uma na mouche

https://observador.pt/opiniao/saber-ler/

Citar
Depois de muito pensarem, olharem para uns gráficos e meditarem nuns números, de acordo com a extensíssima literatura já publicada sobre desigualdades em saúde, os peritos e os políticos concluíram que em Portugal, como em todo o restante globo terrestre, nos bairros pobres há mais doenças. Continuando a matutação, não podendo confinar os pobres e não sendo possível dizer qualquer coisa que possa sugerir racismo, a solução aventada, certamente a mais sensata, foi…não abrir os centros comerciais de Lisboa. Está certo, se eles são pobres e não vão lá para fazer compras, é porque vão ao shopping para, além de larapiar, infetar os incautos. Isto é que é saúde pública de grande alcance. Não se resolvendo as causas, evitam-se os efeitos. Não se previne na raiz, reage-se.


Citar
Mais interessante ainda é o contentamento com se comprazem face à ideia de que a capacidade do SNS não foi esgotada com a Covid-19. Talvez fosse mais interessante e útil atentarem em tudo o que deixou de ser feito pelo SNS e nas consequências que daí advirão. Só se lê metade da notícia, não é? A capacidade não foi usada porque os doentes foram literalmente escorraçados de alguns hospitais e houve outros a quem o pânico induzido levou a que ficassem a medrar doenças nos lares de idosos ou nas suas casas.

"Como seria viver a vida que realmente quero?"

Automek

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Re: Coronavirus
« Responder #3554 em: 2020-06-01 10:48:52 »
estes protestos nos EUA devem ser óptimos para que a coisa se prolongue em termos de covid. ve-se imensa gente sem máscara.

Automek

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Re: Coronavirus
« Responder #3555 em: 2020-06-01 14:00:08 »
Só agora é que me apercebi que os ginásios da zona de Lisboa puderam abrir hoje.
Centro comercial ou loja de 400m2 com ocupação de X pessoas por m2, nem pensar. Ginásio, com gajos sem máscara (vi isso na reportagem), a bufarem por todos os ofiricios, não há problema.

As óturidades é que sabem.

Automek

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Re: Coronavirus
« Responder #3556 em: 2020-06-01 14:02:32 »
O Marcelo já deu um ralhete aos jovens por causas das festas e ajuntamentos. O que seria de nós sem o Marcelo.

« Última modificação: 2020-06-02 16:28:26 por Incognitus »

deMelo

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Re: Coronavirus
« Responder #3557 em: 2020-06-01 14:32:11 »
Só agora é que me apercebi que os ginásios da zona de Lisboa puderam abrir hoje.
Centro comercial ou loja de 400m2 com ocupação de X pessoas por m2, nem pensar. Ginásio, com gajos sem máscara (vi isso na reportagem), a bufarem por todos os ofiricios, não há problema.

As óturidades é que sabem.

Como já foi dito, existe uma razão directa entre poder de lobbying e ausência de risco.
É só isso.
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vbm

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Re: Coronavirus
« Responder #3558 em: 2020-06-01 14:58:33 »


Vale a pena ler!

Arlindo de Oliveira

Riscos e pandemias

Em termos de risco de morte, esta pandemia não é qualitativamente muito diferente das gripes que assolaram o mundo em 1957 e em 1968, e que agora são comuns e endémicas. E, no entanto, as consequências das diferentes pandemias são profundamente diferentes, tanto em termos de percepção como de efeitos reais.

1 de Junho de 2020, 6:10

Existiram três grandes pandemias no século XX, todas elas causadas por variantes do vírus da gripe. A primeira ficou conhecida como a Gripe Espanhola, embora a sua origem última não seja, de facto, conhecida. Na Primavera de 1918, um novo vírus da gripe, posteriormente denominado H1N1, infectou centenas de milhões de pessoas (talvez um terço da população mundial da altura) e matou dezenas de milhões. As estimativas apontam para um número de mortes entre 17 milhões e 50 milhões, mas algumas chegam mesmo aos 100 milhões, quando a população mundial era de apenas 1800 milhões, menos de um quarto da actual.

No Inverno de 1957, quando a população mundial era cerca de um terço da actual, um novo vírus da gripe, o H2N2, apareceu na Ásia, causando a pandemia que ficou conhecida como a Gripe Asiática. Esta gripe matou um número de pessoas estimado entre um e quatro milhões, durante o ano e meio em que se propagou de forma descontrolada pela população.

No Verão de 1968, um novo vírus da gripe, o H3N2, que evoluiu a partir do H2N2, apareceu em Hong Kong e propagou-se rapidamente pelo resto do mundo. No Outono de 1968, o vírus tinha já chegado à Europa e aos Estados Unidos e, no Inverno de 1969, à América do Sul. A Gripe de Hong Kong, nome pela qual ficou conhecida, terá morto mais de um milhão de pessoas, numa população que era menos de metade da actual, entre o Verão de 1968 e o Inverno de 1969-70. Cerca de metade das mortes foram pessoas com menos de 65 anos.

Naturalmente, as estimativas para o número de mortes causadas por cada uma destas pandemias sofrem de consideráveis incertezas, tal como acontece com a pandemia que enfrentamos. Em 1968 (e nas pandemias anteriores) não existiam testes genéticos, e apenas os critérios clínicos foram usados em grande escala para determinar se uma morte se deveu ou não ao vírus. No momento em que escrevo este texto, a covid-19 matou um número de pessoas que se aproxima dos 400.000, valor que, com o desenrolar da pandemia, poderá chegar próximo ou até mesmo ultrapassar o milhão. A possibilidade de a pandemia se descontrolar e vir a matar muitos milhões de pessoas, ou mesmo dezenas de milhões, parece relativamente remota, numa altura em que cada vez temos mais conhecimento do vírus e das suas consequências

É, assim, relativamente seguro afirmar que, em termos de risco de morte, esta pandemia não é qualitativamente muito diferente das gripes que assolaram o mundo em 1957 e em 1968, e que agora são comuns e endémicas. E, no entanto, as consequências das diferentes pandemias são profundamente diferentes, tanto em termos de percepção como de efeitos reais.

Em termos de percepção, as pandemias de 1957-58 e 1968-69 deixaram relativamente poucas marcas na sociedade e na história. A de 1968, a mais recente, quase não consta nos textos históricos dedicados à época, que se focam na guerra do Vietname, na chegada do Homem à Lua, na invasão da Checoslováquia, nos movimentos estudantis e na contracultura hippie. De facto, no Verão de 1969, entre duas vagas da pandemia nos Estados Unidos, teve lugar o festival Woodstock, que reuniu quase meio milhão de pessoas, em condições de péssima higiene e nenhum distanciamento social. Uma fracção significativa dos portugueses ainda vivos já tinha nascido, quando a pandemia ocorreu, e cerca de um quinto já tinha, em 1968-69, idade suficiente para se poder lembrar hoje do evento. E, no entanto, poucas pessoas que hoje têm mais de 65 anos têm memórias significativas da grande pandemia de 1968-69.

Em termos de efeitos reais, na sociedade e na economia, a pandemia de 1968-69 também não teve grande impacto. Tal como hoje, foram aconselhadas medidas de distanciamento social e, nos países mais afectados, a pandemia foi amplamente noticiada. A Alemanha foi seriamente afectada e, em Berlim, túneis de metro foram usados para guardar temporariamente os cadáveres dos falecidos. Em França, uma fracção significativa da população ficou em casa, doente. Mas não foram tomadas medidas de confinamento, nem outras medidas que impedissem o funcionamento normal da economia. Talvez por essa razão, poucas pessoas têm memória desta pandemia.

Pelo contrário, a pandemia de 2020 ficará seguramente registada nos livros de história como um evento de consequências sociais e económicas sem precedentes no último século. As severas medidas de confinamento adoptadas por quase todos os países causaram um impacto negativo imediato, na economia, superior ao da grande depressão e é natural que esse impacto venha a ter consequências duradouras.

Embora o risco absoluto da covid-19 seja comparável ao risco da Gripe de Hong Kong, o risco relativo, face a outros factores, aumentou muito. A qualidade de vida que temos criou uma grande aversão ao risco, muito maior do que há 50 anos

As razões pelas quais as pandemias de 1968 e 2020 (para comparar apenas as duas mais recentes) levaram a reacções tão diferentes das sociedades e dos governos são intrigantes. Por um lado, o risco objectivo da pandemia de covid-19 é relativamente baixo, seguramente comparável ao de pandemias anteriores. Porém, esta pandemia ocorreu num mundo profundamente diferente. Não é fácil identificar, com absoluta certeza, as principais diferenças entre o mundo de 1968 e o mundo de 2020, que conduziram a reacções tão diversas. Porém, atrevo-me a sugerir alguns dos factores que mais poderão influenciar estas profundas diferenças de percepção e actuação.

A primeira das diferenças tem a ver com os meios de comunicação e as redes sociais, que transportam, em segundos, informação para o outro lado do mundo, focando-se nas componentes mais sensacionalistas. Para além dos jornais e rádio, a utilização da televisão já era comum, em 1968, mas a cobertura dada pelos media aos eventos relacionados com a pandemia foi relativamente limitada, em total oposição ao que se passa agora, onde a pandemia ocupa praticamente todo o espaço dos media. As redes sociais, canais alternativos cada vez mais usados para propagação de notícias, também ecoam e amplificam o tema da pandemia, em detrimento de outros.

A segunda diferença prende-se, a meu ver, com a maior incapacidade dos governos para assumirem riscos políticos. Poucos governos (a Suécia é uma excepção, embora existam outras) estão disponíveis para assumir o risco de não tomarem medidas radicais e serem mais tarde confrontados com um grande número de mortes. Ao contrário do que aconteceu em 1968, onde a pandemia não foi significativamente usada como arma de arremesso político, qualquer actuação menos bem-sucedida por parte de um governo será, com elevada probabilidade, razão suficiente para um desaire eleitoral no futuro.

A terceira, e talvez a mais aceitável razão para a profunda diferença entre 1968 e 2020, é a muito maior aversão da sociedade actual ao risco. Comportamentos de risco que eram perfeitamente toleráveis em 1968, como fumar, conduzir alcoolizado ou simplesmente andar de automóvel sem cinto e encosto de cabeça, são agora considerados inaceitáveis. O risco de morte por acidente de trânsito, por quilómetro percorrido, é hoje uma fracção muito pequena do que era em 1968. O risco de morte acidental no trabalho, ou como consequência de muitas doenças graves, caiu também muito nestes últimos 50 anos. Assim, embora o risco absoluto da covid-19 seja comparável ao risco da Gripe de Hong Kong, o risco relativo, face a outros factores, aumentou muito. A qualidade de vida que temos criou uma grande aversão ao risco, muito maior do que há 50 anos. Isso justificará, em parte, a reacção tomada pela maior parte dos países, e a percepção de risco elevado que muitos de nós temos face à covid-19 que, objectivamente, é porém comparável ou inferior à das mais recentes pandemias.

Professor do IST e director do INESC

deMelo

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Re: Coronavirus
« Responder #3559 em: 2020-06-01 15:11:41 »
Bom texto vbm.

Gosto da 2ª razão. Para mim, a principal.
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