Deixo uma opinião com a qual também me identifiquei sobre estes assuntos recentes.
Aproveito para dizer que quem fez isso à estátua do Padre António Vieira é simplesmente ignorante e estúpido. A ignorância parece ser, a par da estupidez, como disse o Zenith, a segunda vaga pandémica a espalhar-se por este país fora. O Padre António Vieira foi uma das personalidades que mais lutou pelos direitos dos indígenas na História, acabando expulso do Brasil pelos próprios colonos portugueses, por estar a incitar os índios ao pensamento próprio e por combater a sua escravatura.
Poderia dizer algo idêntico sobre outras estátuas que sofreram ataques totalmente despropositados. Reina o absurdo.
No segundo post ele não lhe choca a vandalização de algumas estátuas, dada a natureza das personagens e, sobretudo, também não discorda da retirada de algumas, como a do negociante de escravos, para "
não ostentar essa memória no centro de um espaço público, recordando permanentemente a opressão violenta" (e dá os exemplos de estátuas retiradas de Hitler, Mussolini, Estaline ou Franco que são exemplos pacíficos).
Não preciso de pensar muito para me ocorrer que a Praça do Império, não só pela grandeza, o esplendor, mas também pelos símbolos e sobretudo pelo nome, é claramente uma ostentação exuberante do nosso passado (considerado colonialista e esclavagista). O que fazemos ? Reformulamos o espaço e damo-lhe outro nome, de forma a não existir essa ostentação e glorificação do passado que possa incomodar quem ali passe, tal como se faz com as estátuas ?
Uma ostentação e uma glorificação é uma ostentação e uma glorificação, seja sob a forma de estátua, sob a forma de uma praça ou de um monumento (os Jerónimos por exemplo). A estátua só é mais fácil de remover, mas o simbolismo é idêntico. O que fazer ?
Por outro lado, concordo com ele que foi pacífico retirar as estátuas do Hitler ou Estaline. Eu, certamente que não gostaria de passar por uma qualquer praça portuguesa e ver lá esses assassinos.
Onde é que se traça a fronteira daquilo que pode ou não estar no espaço público, daquilo que incomoda ou não incomoda ?