No presente trabalho pretendeu-se avaliar o aporte do iodo nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, estudando duas populações, crianças das escolas e grávidas das maternidades, a fim de solicitar às Entidades de Saúde responsáveis eventuais medidas corretivas a tomar.
Introdução:
O iodo é o elemento indispensável para a síntese das hormonas tiroideias. A sua carência, ainda que moderada, tal como tem sido descrita em diversos países europeus, se manifestada no decurso da gestação, pode ter consequências nefastas no desenvolvimento neurocognitivo das crianças. Nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores não há dados recentes sobre o aporte do iodo, pelo que foi decido estender os estudos recentemente efetuados em crianças e grávidas do Continente a estas Regiões. População e métodos: Avaliou-se o aporte do iodo em 987 crianças de ambos os sexos, com idades compreendidas entre 6 e 12 anos, sendo 311 provenientes de escolas da Madeira e 676 de escolas dos Açores. Foi determinado o aporte do iodo em 566 grávidas, 196 do Hospital do Funchal e 370 dos Hospitais de Ponta Delgada e da Horta. O aporte do iodo foi avaliado pela sua eliminação urinária, utilizando um método colorimétrico.
Resultados:
Crianças das escolas: Na Madeira a mediana das iodúrias foi de 81,3 mg/L, sendo a percentagem de crianças com um aporte iodado insuficiente (< 100 mg/L) de 68% e com níveis < 50 mg/L de 19%. Nos Açores, a mediana foi de 72,7 mg/L, com 78% das crianças a apresentarem iodúrias inadequados e 26% com níveis inferiores a 50 mg/L. Na Madeira, as iodúrias mais baixas correspondem a Concelhos do norte da Ilha; nos Açores as iodúrias mais satisfatórias foram obtidas nas ilhas de Santa Maria e Graciosa. Comparados com os dados observados no Continente, os obtidos nas regiões Autónomas traduzem um aporte do iodo significativamente menor. Grávidas: Na Madeira, a mediana das iodúrias foi de 69,5 mg/L, com 92% das grávidas a apresentarem níveis inadequados (< 150 mg/L) e 34% com iodúrias < 50 mg/L. Nos Açores, a mediana das iodúrias foi de 46,2 mg/L, sendo a percentagem de grávidas com iodúrias insuficientes (< 150 mg/L) de 99% e iodúrias < 50 mg/L de 56%. As iodúrias obtidas nas Regiões Autónomas são significativamente inferiores às obtidas no Continente.
Discussão:
Os dados obtidos nas duas populações das Regiões Autónomas são indicativos dum deficiente aporte do iodo tanto nas crianças (mediana de 81,3 mg/L na Madeira e 72,7 mg/L nos Açores) como nas grávidas (medianas de 69,5 mg/L na Madeira e 46,2 mg/L nos Açores). A carência iodada é significativamente maior nos Açores. O deficiente aporte do iodo é, como seria de esperar, mais intenso na população de gestantes, tendo em conta as maiores necessidades de iodo neste período da vida. Comparados com os dados recentemente obtidos no Continente, verifica-se que a carência iodada é muito maior nas Regiões Autónomas, sobretudo nos Açores. Comparando os dados atuais com os obtidos na população escolar da Ilha Açoriana de São Miguel, na década de 80, verifica-se uma melhoria do aporte do iodo que se pode atribuir à chamada profilaxia silenciosa.
Conclusões:
O estudo do aporte do iodo, nas crianças das escolas e nas grávidas das Regiões Autónomas, põe em evidência uma nítida carência de iodo, nas duas populações e nas duas regiões, mais marcada nos Açores. Todas as iodúrias observadas são significativamente inferiores às verificadas no Continente. Na ilha de São Miguel, onde foi possível comparar as iodúrias atuais com as da década de 80, observa-se uma apreciável melhoria no aporte iodado nas crianças. Tendo em conta o potencial efeito nocivo da carência iodada, nomeadamente durante a gravidez, no desenvolvimento neurocognitivo das crianças, torna-se indispensável proceder nas duas Regiões Autónomas e com caráter urgente, à suplementação iodada nas grávidas e à profilaxia iodada através a iodização do sal em toda a populaçã