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Autor Tópico: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal  (Lida 141227 vezes)

Automek

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #720 em: 2016-11-23 22:10:50 »
Mas o possível facto do dinheiro ser gasto em algo aparentemente mais útil, não quer dizer que seja justo tirares de quem o ganhou para dar a outro.
Isto é bastante importante

vbm

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #721 em: 2016-11-23 22:13:51 »
A escravatura não é aceite excepto se for ditado pela maioria que tens que passar umas horas ou dias a determinar quanto é que tens que dar aos outros do teu trabalho, sob pena de seres preso se não o fizeres (apurar o imposto/contribuição E pagá-lo).

Não é o que se passa com o assalariado. É-lhe retido «na fonte» tudo o que tem a descontar. E não só. Como a sua produtividade, contemporânea, é enorme, dados os meios de produção, materiais e intangíveis (conhecimento) que utiliza no processo de produção, quase todo o valor que produz equivale ao consumo (depreciação no tempo) dos próprios meios de produção, o salário sendo, em média o que precisa para viver mais a sua família.

Deste modo, quem se arrisca a ir 'preso' e a ter imensos dissabores é o próprio empresário que é responsável por tudo pagar aos demais capitalistas, coproprietários dos meios de produção que utiliza e é transformado pelo fisco em cobrador de todos os impostos que incidem sobre todo o negócio (= actividade) que gere.

Ora, como depende sempre de vender ou não, e a que preço, arrisca-se amiúde a falir, salvo se for merceeiro, gasolineiro, ou distribuidor de electricidade monopolista, que esses sim, tem a sua existência intramarginal garantidíssima por pingues excedentes sobre tudo o que têm a pagar!
« Última modificação: 2016-11-23 22:21:17 por vbm »

Zenith

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #722 em: 2016-11-23 23:09:16 »
Embora já comece a perder paciencia vou experimentar explicar uma ultima vez.
Se percepção da utilidade do dinheiro segue uma curva concava ( e se não seguir gerações de piscologos tem andado enganados), então equalizar a percepção das perdas, só pode ser feito com taxação progressiva. Isso verifica-se que o escalão máximo seja 10%, 50% ou 90%. É uma consequência da concavidade da curva.Era uma explicação matemática. Se agora isso é interpretado como política então ainda vamos ver teoremas promulgados por decreto.

Diz se estou a perceber: no eixo das ordenadas), a <percepção da utilidade do dinheiro>; no eixo das abcissas) a <percentagem do imposto no rendimento>: 10% tão importante no baixo rendimento quanto 90% no alto. O ponto mínimo da curva deve rondar os 50% de importância: tanto fará ganhar um pouco mais quanto ganhar um pouco menos. :)) Será? (Já eu, pessoalmente, como sempre fiz contas ao líquido recebido, tanto me faz reterem-me 100 como 1000, posto que pago o que gasto com o líquido que recebo, lol)

No eixo das abcissas o rendimento. Para uma análise exacta provavelmente seria mais correcto ter a uma função pesada de toda a fortuna com peso maior no ultimo ano de rendimento, mas só serviria para complicar a explicação.
Considerando então o rendimento considere-se que há duas pessoas com rendimentos R1 e R2 correspondentes a utilidades U1 e U2. Com imposto proporcional pontos de rendimento deslocam-se  para R'1 e R'2 e utilidades para U'1 e U'2. Se U1 > U2 e a função for côncava a a variação relativa (U2-U'2)/U2 é maior que a (U1-U'1)/U1.

D. Antunes

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #723 em: 2016-11-23 23:12:13 »
Não confundir com dor de cotovelo :-)

 :)
Os cotovelos são convexos.
“Price is what you pay. Value is what you get.”
“In the short run the market is a voting machine. In the long run, it’s a weighting machine."
Warren Buffett

“O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que aquele que têm."
René Descartes

Zenith

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #724 em: 2016-11-23 23:36:55 »
Imagine-se um casal com 2 filhos.
Até mil e poucos euros/mês não pagavam (vamos supor 1250, dependeria das despesas de habitação e transporte que tivessem)-limiar de subsistência;
Desse valor até aos cerca de dois mil pagariam, por exemplo 12,5%-taxa reduzida a metade: pagam menos pois vivem a contar os tostões, mas têm que contribuir com alguma coisa para as despesas da sociedade;
Acima de cerca de 2K pagariam 25%-acima do limiar para se ter uma vida razoável uma parte do dinheiro iria para as despesas da sociedade.
Haveria alguma progressividade:
1000 = 0%
1500 =2,5%
2000 = <5%
4000 =<15%
10000 = 21%
O Friedman propunha uma flat rate para todos e uma negative income rate para assegurar que havia um rendimento mínimo.

Vamos supor que a flat rate sobre rendimentos é de 25% e que a negative income rate é de 50% para não desincentivar o trabalho.

Assumimos também que o mínimo que a pessoa precisa para viver são 5.000€ anuais. Então há uma dedução de 10.000€ ao rendimento auferido porque 50% x 10.000€ = 5.000€.

Rendimento zero (pessoa que não trabalha):
0€ de rendimento - 10.000€ = -10.000€
-10.000€ x 50% = -5.000€ (recebe 5.000€)

Rendimento de 2.000€ anuais
2.000€ - 10.000€ = -8.000€
-8.000€ x 50% = -4.000€ (recebe 4.000€)

Rendimento de 8.000€ anuais
8.000€ - 10.000€ = -2.000€
-2.000€ x 50% = -1.000€ (recebe 1.000€)

Rendimento de 10.000€ anuais
10.000€ - 10.000€ = 0€
0€ x 50% = 0€ (não recebe nem paga nada)

Rendimento de 20.000€ anuais
20.000€ - 10.000€ = 10.000€
10.000€ x 25% = 2.500€ (paga 2.500€ de impostos)

Isto é um sistema progressivo mas muito simples. Assume um valor mínimo 10.000€ como sendo aquele até ao qual se recebe apoio. Acima de 10.000€ paga 25% sobre o excedente. Quanto mais elevado o rendimento mais perto de 25% estará a taxa efectiva.

Evita burocracias, duplicações de apoios e é valido para ricos e pobres, sem discriminação se é proprietário de casa, conta bancária, etc.

Este valor de 10.000€ pode ser manipulado, por exemplo, para ser X por pessoa (casal = 1.85x por exemplo) e X por filho. É muito simples. Não há deduções especificas, deduções à colecta, benefícios fiscais disto e daquilo.

Parece que as pessoas são muito sensíveis às palavras usadas para apresentar as coisas.
A não ser que me tenha escapado alguma coisa é um imposto progressivo em que a taxa para aqueles que estão acima do limiar varia entre 0 e 25%.
Quem ganha 20000 tem taxa efectiva de 12,5%, quem ganha 50K de 20% e quem ganha 100K de 22,5%.

Jsebastião

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #725 em: 2016-11-24 00:15:34 »
Um exemplo simples de liberdade vs liberdade devidamente regulada (para impedir abusos).

"A partir das 22h00 o rúido público não pode exceder xx decíbeis."

Num sistema mais liberal, sem esta regra, és obrigado a levar com todo o tipo de abusos dos teus vizinhos. Tens a liberdade para ir lá bater à porta para reclamar, mas se ele também tem a liberdade de te receber com uma soqueira e um taco de basebol. Num sistema regulado, o teu vizinho pode fazer barulho a partir das 22h00, tem é de ser mais baixo, de forma a não incomodar outros moradores. Se ele se exceder, tu continuas com a liberdade para ir lá bater à porta, e ele já não tem a liberdade para te sovar pela ousadia. Pode sempre fazê-lo, mas terá de responder depois perante a justiça. Num sistema 100% colectivista, é provável que ele fosse denunciado às secretas ao menor sinal de distúrbio (e sob o pretexto de promover actividades subversivas), que desaparecesse de circulação um dia para o outro, e que fosse parar a um campo de trabalhos foçados numa província fria e distante.
Ha aí uma confusão de liberalismo (neste caso libertarianismo) com anarquia (que é o teu exemplo). O Inc já apresentou um exemplo básico como é o caso das regras de trânsito. Um liberal não defende que cada um ande como quer. Idem para este exemplo do ruído. A propriedade privada é de cada um e não pode ser invadida (incluindo a propagação sonora dentro de casa). Idem para a integridade física.

Não estou a falar do que é que "um liberal defende", estou a expor um exemplo concreto de uma situação em que a aplicação de regras protege os indivíduos nas suas relações sociais, permitindo ao mesmo tempo um determinado grau de  liberdade. Neste mesmo exemplo, a ausência dessas regras implicariam uma situação de abuso por egoísmo, e por ser permitido não ligar pevide às necessidades dos outros cidadãos.

No mercado laboral é a mesma coisa, embora a complexidade de tal universo não possa ser colocada de forma simples como neste exemplo.
«Despite the constant negative press covfefe,» - Donald

«Name one thing that can't be negotiated...» - Walter "Heisenberg" White---Breaking Bad

Jsebastião

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #726 em: 2016-11-24 00:25:32 »
Eu tenho uma taça de sopa a mais, não vou evitar dá-la ao pobre que me passa à porta só porque não a posso fazer chegar ao pobre que vive em África.
Isso não me parece argumento porque estamos a falar de dinheiro que pode ser aplicado em multiplos substitutos sem dificuldade.
Foi um exemplo. Apenas para exemplificar por que razão faz sentido apostar em ajudar quem faz parte da mesma sociedade em que vivemos, apesar de haver casos em muito piores condições noutras sociedades distantes (distantes, aqui, não apenas em sentido geográfico).

Citar
Além disso, e se tu só tiveres para dar a um pobre, que até conheces e que queres ajudar, mas o sistema diz que não o podes fazer ? Que tens de dar ao pobre que eles escolhem, que tu nem conheces e que, depois de veres, até achas que precisa menos ?

Também é uma falácia. Eu nunca estou numa condição em que "só tenho para dar um pobre". Antes dessa escolha, eu já escolhi pagar impostos, uma parte deles servirão a causa social da pobreza. Depois disto, ou tenho para dar a um pobre (e sou livre de escolher), ou não tenho. Em todo o caso, aceito de antemão que o estado é que escolhe quem deve ser ajudado, mesmo que nalgumas situações essa escolha falhe por comparações pontuais directas (que é o exemplo que tu dás). Eu vejo duas ou três árvores, o estado vê a floresta. O estado deve decidir acima de mim quem devem ser os destinatários da ajuda.


Citar
Não é teu directamente, mas é teu por estares integrado numa sociedade em que isso sucede. Sociedade implica direitos e obrigações.
Mas quem é que tem a autoridade para me dizer que isto é minha obrigação ?  (obrigação moral, claro, porque obrigação legal eu sei que é uma vez que não a posso recusar). Com base em quê é que isto é minha obrigação ? Por ter nascido ?

Autoridade moral não tem ninguém, e é devido a essa "ausência" que esta discussão se arraste, pois nenhum de nós pode impor a sua moral aos outros.

É por isso que a autoridade legal em democracia substitui a moral. Nem sempre bem, como já foi referido, mas é assim que deve ser.
« Última modificação: 2016-11-24 01:01:29 por Jsebastião »
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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #727 em: 2016-11-24 00:52:51 »
Eu quero que argumentes é porque é que eu, voluntariamente, não posso cavar buracos para o Sebastião por um prato de sopa diário, se for esse a minha vontade e a vontade dele. Qual é a ética ou moral que nos impede de realizar esse contrato ?

Eu colocaria essa mesma questão de outra perspectiva:

Que razões haverá para uma sociedade que se pretende avançada (e que terá por objectivo providenciar as melhores condições possíveis a quem nela vive)  permitir que um ser humano se sujeite voluntariamente e de boa vontade a um contrato miserável e degradante como o que aqui é proposto?

Para que alguém se sujeite a trabalhar nestas condições, então as alternativas teriam todas de ser piores. O papel da sociedade é evitar que isto suceda. É garantir de antemão que a parte a quem é proposta tamanha humilhação possa recusar também de livre vontade.

« Última modificação: 2016-11-24 00:54:57 por Jsebastião »
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Jsebastião

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #728 em: 2016-11-24 00:59:49 »

Considero justo que em democracia a vontade da maioria prevaleça.

... Quem pretende fazer=faz parte de uma democracia tem de se sujeitar e aceitar a vontade da maioria - mesmo que não esteja de acordo com essa vontade. Caso contrário não há democraria, há anarquia, e muito rapidamente há o colapso civilizacional, ou a queda em algum formato de totalitarismo/situação de poder aboluto.

Eu não penso assim. No limite, a democracia até pode apoiar o genocídio de minorias.
Devem existir limites à maioria. A nossa liberdade (mesmo que maioritária) deve terminar onde começa a liberdade dos outros. Por outro lado, todos deveríamos poder fazer o que quiséssemos, desde que não interferíssemos com a liberdade dos outros.

Concordo.

Mas há mecanismos para limitar tais excesso democráticos - como a maioria por 2/3. Não é um impeditivo, mas é uma exigência mais alta que pode ser utilizada para casos "delicados", como as alterações à Constituição. Estes mecanismos devem à partida impedir o genocídio de minorias.
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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #729 em: 2016-11-24 01:13:15 »
a constituiçao pouco serve em casos onde ja se faz extreminios  quando chega a isso ja estamos guerra

nos anos 90  aqui europa  ex jugoslávia  em poucos meses   rebentou tudo foi guerra e extreminio

que eu saiba este https://pt.wikipedia.org/wiki/Genocídio_na_Bósnia tinha constituiçao tambem



https://www.marxists.org/portugues/fajon/ano/mes/constituicao.htm
Mas o traço mais notável dos direitos proclamados pela Constituição iugoslava é, como em toda democracia popular, a sua garantia, tento pela própria Constituição como pelo sistema econômico, social e político em que se exercem. Assim como garante os direitos do homem, esse sistema confere caráter profundamente sério aos deveres que lhes prescreve a Constituição, em particular os deveres para com o trabalho, o imposto, a lei e a pátria.

Uma Federação Livre e Fraternal de Povos Iguais

Resta-nos examinar a Constituição iugoslava do ponto de vista das relações que institui entre os povos que compõem a Iugoslávia. Esta é, com efeito, um Estado multinacional, reunindo povos diferentes, entre outros os sérvios, os croatas, os eslovenos, os macedônios.

constituiçao socialista multicultural deste pais pouco serviu salvar minorias nem policias nem tribunais  da  constituiçao nada zero..
 :-\

o unico ainda fez alguma coisa foi extrangeiro....
A perseguição étnica sofridas por civis durante a guerra, levaram à criação de um Tribunal Internacional de Haia para julgar crimes de guerra. Kosovo seria administrado pela Organização das Nações Unidas (ONU), e embora tenha sido formalmente parte da Sérvia, era esperado para conceder-lhe o plebiscito de independência futura.


a unica garantia sao extrangeiros mesmo eles nao impedem genocidios  so os vao julgar em tribunal

varias maneiras realizar genocidios  sem dar nas vistas no extrangeiro  ..tipo  ir  afastando do  poder minorias e extreminando  devagarinho  durante anos   poucos de cada vez

foi aconteceu em timor
« Última modificação: 2016-11-24 02:17:27 por Reg »
Democracia Socialista Democrata. igualdade de quem berra mais O que é meu é meu o que é teu é nosso

Incognitus

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #730 em: 2016-11-24 02:47:01 »
Eu quero que argumentes é porque é que eu, voluntariamente, não posso cavar buracos para o Sebastião por um prato de sopa diário, se for esse a minha vontade e a vontade dele. Qual é a ética ou moral que nos impede de realizar esse contrato ?

Eu colocaria essa mesma questão de outra perspectiva:

Que razões haverá para uma sociedade que se pretende avançada (e que terá por objectivo providenciar as melhores condições possíveis a quem nela vive)  permitir que um ser humano se sujeite voluntariamente e de boa vontade a um contrato miserável e degradante como o que aqui é proposto?

Para que alguém se sujeite a trabalhar nestas condições, então as alternativas teriam todas de ser piores. O papel da sociedade é evitar que isto suceda. É garantir de antemão que a parte a quem é proposta tamanha humilhação possa recusar também de livre vontade.

Porém a sociedade em si não produz nada. Quem o faz são os indivíduos. E para alguém poder rejeitar algo desagradável, outra pessoa estará a ver-se privada de parte do seu tempo para produzir aquilo que essa primeira, que rejeita algo, obterá de qualquer forma.

Uma coisa engraçada, a propósito disto, é que uma vez alguém aqui no fórum com ideas colectivistas recusava-se por exemplo a que outrém tivesse que trabalhar, digamos, a limpar esgotos ou algo assim. A questão é, a partir do momento em que alguém faz algo muito desagradável para obter o seu sustento, que direito tem OUTRA pessoa, de não fazer algo pelo menos tão desagradável, e não mais, para obter igual sustento? Que direito é que essa outra pessoa tem a recusar fazer tal tarefa e em vez disso apoiar-se na obrigação de terceiros (incluindo o desgraçado que faz a tarefa desagradável) de lhe providenciarem sustento?
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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Automek

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #731 em: 2016-11-24 08:01:44 »
Parece que as pessoas são muito sensíveis às palavras usadas para apresentar as coisas.
A não ser que me tenha escapado alguma coisa é um imposto progressivo em que a taxa para aqueles que estão acima do limiar varia entre 0 e 25%.
Quem ganha 20000 tem taxa efectiva de 12,5%, quem ganha 50K de 20% e quem ganha 100K de 22,5%.
Sim, é progressivo, foi o que eu disse. Progressivo, mas simples, com uma única taxa, e sem um camião de regras. E ao mesmo tempo permitindo que um pobre receba um rendimento mínimo.

É um exemplo de como um sistema fiscal simples pode fazer ambas as funções, quer de colecta fiscal, quer de redistribuição.

Ou seja, mesmo em colectivismo há formulas muitooooooo mais simples do que o emaranhado de regras e mais regras.

Automek

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #732 em: 2016-11-24 08:15:09 »
Não estou a falar do que é que "um liberal defende", estou a expor um exemplo concreto de uma situação em que a aplicação de regras protege os indivíduos nas suas relações sociais, permitindo ao mesmo tempo um determinado grau de  liberdade. Neste mesmo exemplo, a ausência dessas regras implicariam uma situação de abuso por egoísmo, e por ser permitido não ligar pevide às necessidades dos outros cidadãos.

No mercado laboral é a mesma coisa, embora a complexidade de tal universo não possa ser colocada de forma simples como neste exemplo.
Esta ideia do abuso por egoismo e de não ligar pevide às necessidades dos outros cidadãos é exactamente a desgraça do colectivismo.

Basicamente é não deixar que as pessoas fiquem com o dinheiro porque serão incapazes de compartilhar com os que precisam.

Ora, isto é válido para tudo no colectivismo. Repara que essa lógica do abuso por egoísmo é o que justifica dar dinheiro a grupos de teatro onde quase não há espectadores. Não se pode deixar o dinheiro na mão das pessoas senão elas serão incapazes de dar dinheiro a esse grupo de teatro e os espectadores que não querem ou não podem pagar o bilhete pelo preço real, seriam privados da sua necessidade de ir ao teatro.

Quem diz isto, diz os velhotes que têm de a necessidade de ir na excursão, os putos que têm de ir à praia, a auto estrada dos moradores no interior, os estádios do europeu, etc. Há necessidades para tudo, desde a pequena coisa até ao projecto gigantesco.

Eu abro o meu boletim municipal e 99% do que ali está não é essencial para a sobrevivência. Mas, claro, entende-se que há uma necessidade de alguém e tem de se prevenir um abuso por egoísmo porque um rico nunca vai dar voluntariamente o dinheiro para aquilo.

Automek

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #733 em: 2016-11-24 08:23:40 »
Que razões haverá para uma sociedade que se pretende avançada (e que terá por objectivo providenciar as melhores condições possíveis a quem nela vive)  permitir que um ser humano se sujeite voluntariamente e de boa vontade a um contrato miserável e degradante como o que aqui é proposto?

Para que alguém se sujeite a trabalhar nestas condições, então as alternativas teriam todas de ser piores. O papel da sociedade é evitar que isto suceda. É garantir de antemão que a parte a quem é proposta tamanha humilhação possa recusar também de livre vontade.
É curioso porque tu colocaste a questão e deste a resposta no mesmo post.

Um negócio livre e voluntário é isso mesmo. É aquele em que ambas as partes ficam melhor realizando-o. Caso contrário uma das partes recusa esse negócio.

Quanto a alguém poder recusar de livre vontade, se a tua perspectiva é "pode recusar porque não vai morrer à fome", nesse caso é porque obrigaste alguém a trabalhar mais (via impostos) para evitar que esse individuo trabalhe por condições que tu entendes como degradantes.

vbm

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #734 em: 2016-11-24 08:40:26 »
Quanto a alguém poder recusar de livre vontade, se a tua perspectiva é "pode recusar porque não vai morrer à fome", nesse caso é porque obrigaste alguém a trabalhar mais (via impostos) para evitar que esse individuo trabalhe por condições que tu entendes como degradantes.

Precisamente, o que se pretende! Que ninguém aceite trabalhar por conta d'outrem pelo razão de evitar morrer de fome, de modo que não haja ninguém que enriqueça à custa de tal tipo de exploração do seu semelhante.

Zenith

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #735 em: 2016-11-24 08:42:10 »
Parece que as pessoas são muito sensíveis às palavras usadas para apresentar as coisas.
A não ser que me tenha escapado alguma coisa é um imposto progressivo em que a taxa para aqueles que estão acima do limiar varia entre 0 e 25%.
Quem ganha 20000 tem taxa efectiva de 12,5%, quem ganha 50K de 20% e quem ganha 100K de 22,5%.
Sim, é progressivo, foi o que eu disse. Progressivo, mas simples, com uma única taxa, e sem um camião de regras. E ao mesmo tempo permitindo que um pobre receba um rendimento mínimo.

É um exemplo de como um sistema fiscal simples pode fazer ambas as funções, quer de colecta fiscal, quer de redistribuição.

Ou seja, mesmo em colectivismo há formulas muitooooooo mais simples do que o emaranhado de regras e mais regras.

Acho que percebi de onde pode vir alguma confusão.  Pode-se definir o conceito de progressivo em sentido geral em que a taxa efectiva global cresce com rendimento, e estritamente progressivo onde a taxa sobe por cada euro adicional no rendimento. Assim o esquema de Friedman é progressivo no sentido geral mas não estritamente progressivo. Ao fim e ao cabo o que interessa é a taxa efectiva global e se a taxa máxima for 25% pode-se arranjar  uma função estritamente progressiva que fique muito próxima da do Friedman (pode ser uma formula complicadissima mas é possivel).

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #736 em: 2016-11-24 08:57:27 »
Quanto a alguém poder recusar de livre vontade, se a tua perspectiva é "pode recusar porque não vai morrer à fome", nesse caso é porque obrigaste alguém a trabalhar mais (via impostos) para evitar que esse individuo trabalhe por condições que tu entendes como degradantes.

Precisamente, o que se pretende! Que ninguém aceite trabalhar por conta d'outrem pelo razão de evitar morrer de fome, de modo que não haja ninguém que enriqueça à custa de tal tipo de exploração do seu semelhante.
Mas para evitar que alguém seja livre de aceitar esse contrato supostamente degradante, vai-se tirar a liberdade de outra pessoa que irá trabalhar para esse individuo. Isso para mim não é aceitável tanto mais que o "degradante" é um conceito altamente subjectivo e varia de pessoa para pessoa. O exemplo claro que é extremo mas podemos pensar num mineiro e em quanto é que é degradante ou não e facilmente 10 pessoas vão dar 10 valores diferentes.

Automek

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #737 em: 2016-11-24 09:01:07 »
Acho que percebi de onde pode vir alguma confusão.  Pode-se definir o conceito de progressivo em sentido geral em que a taxa efectiva global cresce com rendimento, e estritamente progressivo onde a taxa sobe por cada euro adicional no rendimento. Assim o esquema de Friedman é progressivo no sentido geral mas não estritamente progressivo. Ao fim e ao cabo o que interessa é a taxa efectiva global e se a taxa máxima for 25% pode-se arranjar  uma função estritamente progressiva que fique muito próxima da do Friedman (pode ser uma formula complicadissima mas é possivel).
Tanto é progressivo para quem recebe como para quem paga. E muito fácil de aplicar.
Claro que a partir de um certo rendimento a progressividade é 24.95% vs 24.96% ou 24.9991% vs 24.9992%.

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #738 em: 2016-11-24 09:54:06 »
Mas para evitar que alguém seja livre de aceitar esse contrato supostamente degradante, vai-se tirar a liberdade de outra pessoa que irá trabalhar para esse individuo. Isso para mim não é aceitável tanto mais que o "degradante" é um conceito altamente subjectivo e varia de pessoa para pessoa. O exemplo claro que é extremo mas podemos pensar num mineiro e em quanto é que é degradante ou não e facilmente 10 pessoas vão dar 10 valores diferentes.

Compreendo que alguns se percam no 2º reino de karl popper - 1º reino, o mundo físico; 2º reino, o mundo das mentes individuais; 3º reino, o mundo das ideias abstractas e sua coerência em sistemas sustentáveis. Ultrapassar o estatuto de opinião deste e daquele, implica  ascender ao 3º reino. Nele, no mínimo, criam-se condições objectivas de superar situações de miséria, dificultando o que as possa perpetuar, de molde a conseguir subtrair dessa condição os que nela estão imersos, designadamente concorrendo com a oferta de empregos quer menos degradantes quer melhor pagos se com grande penosidade. É isto que se faz, é o que está certo, civiliza e aguça o engenho de todos.
« Última modificação: 2016-11-24 09:55:05 por vbm »

vbm

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #739 em: 2016-11-24 10:05:33 »
No eixo das abcissas o rendimento. Para uma análise exacta provavelmente seria mais correcto ter a uma função pesada de toda a fortuna com peso maior no ultimo ano de rendimento, mas só serviria para complicar a explicação.
Considerando então o rendimento considere-se que há duas pessoas com rendimentos R1 e R2 correspondentes a utilidades U1 e U2. Com imposto proporcional pontos de rendimento deslocam-se  para R'1 e R'2 e utilidades para U'1 e U'2. Se U1 > U2 e a função for côncava a a variação relativa (U2-U'2)/U2 é maior que a (U1-U'1)/U1.

Vou ter de aritmetizar a concavidade da utilidade decrescente com o rendimento líquido crescente, de molde a que a penosidade da taxa do imposto sobre o rendimento tenda a equiparar-se para os baixos e altos rendimentos, igualização conseguida à base da progressividade do imposto. Hei-de ver as desigualdades que enuncias, que suponho estarem nas situações de rendimento antes e depois dos valores mínimos da curva da utilidade.