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Autor Tópico: Europa - as visões económicas à esquerda  (Lida 5297 vezes)

kitano

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Europa - as visões económicas à esquerda
« em: 2015-02-13 11:02:14 »
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Varoufakis vs. Piketty: um embate para prestar atenção
O que leva o novo ministro da Fazenda grego a fazer críticas duríssimas ao professor francês, autor de 'O Capital no Século XXI'. Por Antonio Luiz M. C. Costa

É raro economistas de esquerda serem ouvidos pela mídia, quanto mais levados a sério, mas dois deles conseguiram essa façanha nos últimos meses: o francês Thomas Piketty, autor de O Capital no Século XXI e o grego Yanis Varoufakis, novo ministro da Fazenda de seu país. Ambos estão conquistando fã-clubes que não se resumem a colegas de profissão e despertam o interesse de políticos e militantes de esquerda em todo o mundo. Seria de se esperar que suas ideias fossem semelhantes ou complementares. Mas não os convide para a mesma mesa: o ministro grego é um crítico duríssimo do professor francês. Em artigo publicado na Real-World Economics Review, chega a chamá-lo de “O último inimigo do igualitarismo”.

Que as esquerdas não precisam de muitos motivos para se dividir é um clichê fácil, mas as razões da divergência são importantes e interessantes. Não há dúvidas sobre a importância da pesquisa inédita de Piketty sobre mais de duzentos anos de história da concentração de renda e riqueza e da importância das heranças no capitalismo. Nem sobre a “curva em U” que estas variáveis desenharam ao longo do século XX, de maneira a chegar a um mínimo depois da II Guerra Mundial e retornar hoje a um nível quase igual ao do século XIX – ou pior ainda, no caso dos Estados Unidos. O problema está em como o francês analisa teoricamente seus achados, propõe modelos e chega a conclusões sobre recomendações políticas.

A primeira dificuldade é que Piketty, embora reivindique com o título e a introdução de sua obra certa pretensão de atualizar e corrigir Karl Marx, sua conceituação está na prática muito mais próxima de A Riqueza das Nações, de Adam Smith, pois não distingue riqueza de capital e exclui apenas os bens móveis de consumo (tais como automóveis e eletrodomésticos). Moradias, obras de arte e barras de ouro não fazem diferença para o processo de produção, mas ele os trata da mesma maneira que tratores e robôs. Isso torna duvidosa qualquer tentativa de estudar e prever o crescimento e o desempenho da economia a partir dessa massa de “pseudocapital” da qual cerca da metade nada tem a ver com produção. Dificuldade análoga é tratar como “salários” os ganhos astronômicos de altos executivos, parte nada desprezível da renda nacional em países como os EUA, mesmo se são explicitamente vinculados ao lucro e constituídos de bonificações e opções de compra de ações.

Valores de mercado são governados por expectativas e pela taxa de remuneração do capital, mas Piketty considera essa taxa e o montante do “capital” como variáveis independentes, o que é inconsistente e conduz a um círculo vicioso. Ainda mais problemático do ponto de vista político é tratar a participação do trabalho e do capital na renda como resultado mecânico das suas leis da acumulação e do efeito de impactos externos, principalmente as guerras mundiais do século XX.

O modelo de Piketty supõe que toda poupança se transforma em riqueza (logo capital, em sua definição) e não há formação de riqueza se não for por meio da poupança. Isso tem pouco a ver com o mundo real, como mostra a formação da bolha imobiliária, durante a qual o valor de ativos cresceu aos trilhões com poupanças líquidas nulas ou negativas, ou a situação atual na Europa, onde altas taxas de poupança se combinam com falências e destruição ou desvalorização dos ativos. Implicitamente, Piketty adere à “mão invisível” de Adam Smith e à desacreditada lei de Say, segundo a qual a oferta cria a demanda sem que haja desperdício, desemprego ou superprodução e a poupança se torna investimento sem ser absorvida por entesouramento improdutivo.

No essencial, seus dados  sobre o processo de concentração de renda nos países ricos são sólidos e irrefutáveis, mas as “leis” propostas para explicá-lo são frágeis. Isso torna igualmente questionável sua conclusão por teorema matemático, de que a tendência ao aumento da desigualdade é “natural” ao capitalismo, embora nessa conclusão ele esteja mais próximo de Marx do que de Smith.

Varoufakis argumenta que se renunciarmos às simplificações arbitrárias de Piketty e aplicarmos modelos realistas da economia, a participação do capital na renda e sua distribuição são fundamentalmente indeterminadas. Para o grego, não há nada de natural ou determinístico na concentração de renda e riqueza no capitalismo. A melhora temporária da distribuição de renda e propriedade durante o século XX não foi nem uma anomalia, nem um resultado inevitável das guerras, mas o resultado de uma intervenção política consciente para evitar a depressão econômica e salvar o capitalismo. E a volta do processo de concentração nos anos 1970 também não foi o resultado de leis mecânicas, mas de outra política consciente dos EUA para atrair capitais e manter sua hegemonia quando sua competitividade ante Europa e Japão se reduziu e deixou de acumular superávits no comércio internacional.

Essa discordância teórica implica em grandes divergências práticas sobre o que fazer. Como Piketty considera a tendência à concentração de renda inerente ao processo de acumulação do capitalismo, propõe apenas soluções redistributivas, principalmente aumento das alíquotas progressivas de imposto de renda para até 80% e um imposto mundial sobre o capital/riqueza.

Varoufakis argumenta que um imposto sobre a riqueza, mesmo que seja factível, seria contraproducente e agravaria as dificuldades da economia. Considere-se uma família de desempregados que conserva sua residência, ou uma indústria sufocada por falta de demanda e crédito: uns e outros, mesmo sem dispor de renda, seriam obrigados a pagar um imposto elevado, o que apenas serviria para levá-los mais rapidamente à falência total. Para o grego, um combate eficaz à desigualdade deve atuar na formação de salários e demanda (por políticas keynesianas, por exemplo).

Ambos também divergem drasticamente quanto às propostas para a Zona do Euro. Piketty quer um Estado federal unificado para a Europa, cujas autoridades centrais tenham poderes suficientes para controlar e regulamentar o capitalismo financeiro. Varoufakis, em artigo escrito em parceria com o estadunidense James Galbraith, rejeita essa proposta que a seu ver apenas reforçaria e congelaria as atuais políticas e aprisionaria os países membros em uma “jaula de ferro” de desigualdade, dominação e austeridade perpétuas que impediria a evolução de uma verdadeira democracia europeia. Defende, em vez disso, um misto de títulos do BCE, resolução caso-a-caso dos problemas bancários, um programa de investimentos e um fundo de solidariedade que conservariam as soberanias nacionais e a flexibilidade das políticas econômicas e poderiam ser aplicados de imediato e sem necessidade de alterar os tratados existentes. Em resumo, as opiniões são parecidas quanto ao diagnóstico, mas quase opostas quanto ao tratamento.



http://www.cartacapital.com.br/economia/varoufakis-vs-piketty-um-embate-para-prestar-atencao-7643.html
"Como seria viver a vida que realmente quero?"

vbm

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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #1 em: 2015-02-13 13:56:44 »
Muito interessante. Tenho de ler com mais atenção.

Quando saiu o livro do Picketty estava na América
e foi um boom de vendas. Comprei-o, mas
desanimei de o ler face a outros livros.
Apenas artigos de jornais e revistas,
tenho lido, atento.

O que farei com este que trouxeste
e parece muito apropriado
na crítica da indistinção
entre capital produtivo
e acumulação de signos
de riqueza...

Obrigado, pela sugestão.

Vanilla-Swap

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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #2 em: 2015-02-13 16:23:34 »
A esquerda não tem nada a perder já que a direita apostou tudo na austeridade à espera de crescimento, coisa do que nunca aconteceu.

É um bocado difícil dizer que a politica é de esquerda ou direita, mas sim o tradicional com o novo.
« Última modificação: 2015-02-13 16:28:41 por Vanilla-Swap »

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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #3 em: 2015-02-13 17:02:27 »
« Última modificação: 2015-02-13 17:02:56 por Vanilla-Swap »

Incognitus

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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #4 em: 2015-02-13 17:18:40 »
A esquerda não tem nada a perder já que a direita apostou tudo na austeridade à espera de crescimento, coisa do que nunca aconteceu.

É um bocado difícil dizer que a politica é de esquerda ou direita, mas sim o tradicional com o novo.

E como é que aconteceria de início, se a coisa estava a um nível insustentável?

Isso é como dizer que um banco cortou o crédito e por isso não pudemos comprar uma viagem este ano, e que isso foi pior que o ano passado, onde quando nos deram crédito deu para comprar uma viagem.

É uma coisa um pouco absurda, pensar que a solução "não funcionou" e era melhor darem crédito, para ainda viajarmos.
« Última modificação: 2015-02-13 17:19:27 por Incognitus »
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #5 em: 2015-02-13 17:24:36 »
A esquerda não tem nada a perder já que a direita apostou tudo na austeridade à espera de crescimento, coisa do que nunca aconteceu.

É um bocado difícil dizer que a politica é de esquerda ou direita, mas sim o tradicional com o novo.

E como é que aconteceria de início, se a coisa estava a um nível insustentável?

Isso é como dizer que um banco cortou o crédito e por isso não pudemos comprar uma viagem este ano, e que isso foi pior que o ano passado, onde quando nos deram crédito deu para comprar uma viagem.

É uma coisa um pouco absurda, pensar que a solução "não funcionou" e era melhor darem crédito, para ainda viajarmos.

Uma coisa  que vi no vídeo é que nunca se cortou o crédito ele foi para pagar debito e a divida a aumentar.

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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #6 em: 2015-02-13 17:48:02 »
Não cortou porque se cortasse a austeridade era esmagadoramente pior... o que o pessoal se queixa, porém, é que austeridade não chegou para deixar tudo como estava antes (e para isso seria preciso expandir o crédito ad eternum à mesma velocidade ou uma velocidade superior).
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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #7 em: 2015-02-13 17:54:05 »
O Vk disse nunca se poderia cortar porque a Grécia não tem moeda própria.


Neste momento austeridade não é aceite.

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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #8 em: 2015-02-13 17:58:02 »
O Vk disse nunca se poderia cortar porque a Grécia não tem moeda própria.


Neste momento austeridade não é aceite.

Sim, é um pouco como um drogado que não aceita que não lhe entreguem droga.

Ou um endividado que não aceita que lhe não lhe concedam crédito.

É compreensível, não ser aceite.
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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #9 em: 2015-02-13 18:05:01 »
O Vk disse nunca se poderia cortar porque a Grécia não tem moeda própria.


Neste momento austeridade não é aceite.

Sim, é um pouco como um drogado que não aceita que não lhe entreguem droga.

Ou um endividado que não aceita que lhe não lhe concedam crédito.

É compreensível, não ser aceite.

Querem acabar com o débito contratem funcionários públicos, aumentem as reformas, façam o dinheiro circular e os impostos aumentar de tal forma que exista liquidez para pagar a divida e investir no tecido produtivo.

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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #10 em: 2015-02-13 18:27:31 »
O Vk disse nunca se poderia cortar porque a Grécia não tem moeda própria.


Neste momento austeridade não é aceite.

Sim, é um pouco como um drogado que não aceita que não lhe entreguem droga.

Ou um endividado que não aceita que lhe não lhe concedam crédito.

É compreensível, não ser aceite.

Querem acabar com o débito contratem funcionários públicos, aumentem as reformas, façam o dinheiro circular e os impostos aumentar de tal forma que exista liquidez para pagar a divida e investir no tecido produtivo.

Sim, isso não ia aumentar nada a despesa do estado, despesa essa que já excede as receitas levando a déficit e portanto, necessidade de emitir mais dívida.

Isso não faz sentido nenhum.
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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #11 em: 2015-02-13 18:32:01 »
O Vk disse nunca se poderia cortar porque a Grécia não tem moeda própria.


Neste momento austeridade não é aceite.

Sim, é um pouco como um drogado que não aceita que não lhe entreguem droga.

Ou um endividado que não aceita que lhe não lhe concedam crédito.

É compreensível, não ser aceite.

Querem acabar com o débito contratem funcionários públicos, aumentem as reformas, façam o dinheiro circular e os impostos aumentar de tal forma que exista liquidez para pagar a divida e investir no tecido produtivo.

Sim, isso não ia aumentar nada a despesa do estado, despesa essa que já excede as receitas levando a déficit e portanto, necessidade de emitir mais dívida.

Isso não faz sentido nenhum.

Os impostos teriam mais receita para pagar a despesa do estado.

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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #12 em: 2015-02-13 18:35:06 »
Sim, isso seria uma boa solução. Quando os impostos chegassem a 100% ficávamos todos ricos e não existia mais problema nenhum. Excepto a parte de achar raízes para comer, isso ia ser chato.
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vbm

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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #13 em: 2015-02-13 19:24:42 »
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Varoufakis vs. Piketty: um embate para prestar atenção

Que as esquerdas não precisam de muitos motivos para se dividir é um clichê fácil, mas as razões da divergência são importantes e interessantes.
[ ]

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[ ] A primeira dificuldade é que Piketty, [ ] não distingue riqueza de capital e exclui apenas os bens móveis de consumo (tais como automóveis e eletrodomésticos). Moradias, obras de arte e barras de ouro não fazem diferença para o processo de produção, mas ele os trata da mesma maneira que tratores e robôs. Isso torna duvidosa qualquer tentativa de estudar e prever o crescimento e o desempenho da economia a partir dessa massa de “pseudocapital” da qual cerca da metade nada tem a ver com produção.

Pareceu-me pertinente esta distinção, mas depois considerei que a riqueza em si, - incluindo o ouro dos bancos centrais -, é um factor de garantia do crédito, o qual activa e estimula o investimento e os empreendimentos produtivos. Por essa razão, já  me  pareceu de alguma pertinência somar essa riqueza ao capital dos meios de produção.

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Dificuldade análoga é tratar como “salários” os ganhos astronômicos de altos executivos, parte nada desprezível da renda nacional em países como os EUA, mesmo se são explicitamente vinculados ao lucro e constituídos de bonificações e opções de compra de ações.

Esta simplificação talvez fosse de evitar porque, embora o «saber-saber», como o «saber-fazer» sejam apanágio de viventes-trabalhadores, eles são mais o resultado de um capital-conhecimento acumulado do que trabalho vivo em acção: geram efeitos multiplicadores, como todo e qualquer outro instrumento ou equipamento de trabalho: capital, portanto.

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Valores de mercado são governados por expectativas e pela taxa de remuneração do capital, mas Piketty considera essa taxa e o montante do “capital” como variáveis independentes, o que é inconsistente e conduz a um círculo vicioso.

É o que me parece. E embora tenha tido o "gosto aritmético" de reconhecer que a desigualdade de riqueza não pode deixar de crescer se a  taxa de juro superar a de crescimento do produto, não  entendo que isso seja sustentável sem termo certo. Pareceu-me assim, as tese de Picketty uma certa 'brincadeira' 'histórico-aritmética' devidamente infundada. [Entenda-se esta maneira de falar em termos  hábeis, e de grande ligeireza: já disse que não  li a obra e sou um modesto licenciado e não um expert!]

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Ainda mais problemático do ponto de vista político é tratar a participação do trabalho e do capital na renda como resultado mecânico [!] das suas leis da acumulação [ ]

Isto nem sequer percebi, quanto ao trabalho; quanto ao capital, não tal resultado mecânico, conforme crítica acima

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O modelo de Piketty supõe que toda poupança se transforma em riqueza (logo capital, em sua definição) e não há formação de riqueza se não for por meio da poupança.

Tendencialmente, sim, pela  intermediação  bancária e do crédito às empresas. E também pela  tal aptidão da riqueza (ouro, moradias de luxo, etc.) a constituirem-se como penhor do crédito e  da circulação fiduciária.
 
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Isso tem pouco a ver com o mundo real, como mostra a formação da bolha imobiliária, durante a qual o valor de ativos cresceu aos trilhões com poupanças líquidas nulas ou negativas, ou a situação atual na Europa, onde altas taxas de poupança se combinam com falências e destruição ou desvalorização dos ativos.

Isto não vejo que implicação tenha senão a de uma pura redistribuição de ganhos e perdas entre os jogadores de casino. É um fenómeno qualificado em economia pelo termo de «acumulação primitiva». O que interessa é o que se faz depois disso!

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Varoufakis argumenta que [ ] a participação do capital na renda e sua distribuição são fundamentalmente indeterminadas. [ ], não há nada de natural ou determinístico na concentração de renda e riqueza no capitalismo.

A melhora temporária da distribuição de renda e propriedade durante o século XX [ ] foi [ ] o resultado de uma intervenção política consciente para evitar a depressão econômica e salvar o capitalismo.

E a volta do processo de concentração nos anos 1970 também não foi o resultado de leis mecânicas, mas de outra política consciente dos EUA para atrair capitais e manter sua hegemonia quando sua competitividade ante Europa e Japão se reduziu e deixou de acumular superávits no comércio internacional.


Inclino-me a concordar com o que Varoufakis afirma.
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Essa discordância teórica implica em grandes divergências práticas sobre o que fazer. Como Piketty considera a tendência à concentração de renda inerente ao processo de acumulação do capitalismo, propõe apenas soluções redistributivas, [ ] e um imposto mundial sobre o capital/riqueza.

Varoufakis argumenta que um imposto sobre a riqueza, mesmo que seja factível, seria contraproducente e agravaria as dificuldades da economia. [ ], um combate eficaz à desigualdade deve atuar na formação de salários e demanda (por políticas keynesianas, por exemplo).


Também aqui, prefiro Varoufakis.

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Ambos também divergem drasticamente quanto às propostas para a Zona do Euro.

Piketty quer um Estado federal unificado para a Europa, cujas autoridades centrais tenham poderes suficientes para controlar e regulamentar o capitalismo financeiro.

Varoufakis, [ ] Defende, em vez disso, um misto de títulos do BCE, resolução caso-a-caso dos problemas bancários, um programa de investimentos e um fundo de solidariedade que conservariam as soberanias nacionais e a flexibilidade das políticas econômicas [ ]

Aqui calo-me, porque vejo alguma lógica nalgum caminho federalista.
Mas não sei. Isto é  já  muito político.
« Última modificação: 2015-02-13 20:02:27 por vbm »

kitano

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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #14 em: 2015-02-13 19:33:48 »
a "esquerda" tem pressupostos económicos do tipo:

acção - aumentamos os salários, consequência - aumenta a produtividade.
acção - aumentamos os salários, consequência - aumenta o consumo.
acção - aumentamos os salários, consequência - aumenta a receita fiscal.
"Como seria viver a vida que realmente quero?"

vbm

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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #15 em: 2015-02-13 20:13:57 »
a "esquerda" tem pressupostos económicos do tipo:

acção - aumentamos os salários, consequência - aumenta a produtividade.
acção - aumentamos os salários, consequência - aumenta o consumo.
acção - aumentamos os salários, consequência - aumenta a receita fiscal.

A esquerda sem aspas,
ou se quiseres a "direita",
com as ditas aspas :),

dirá antes assim:

acção: vamos trabalhar, produzir coisas com interesse;
consequência: recebemos lucros e salários, em vez de nada.

acção:  continuamos a trabalhar e a receber:
consequência:aumenta o consumo.

consequência I: aumenta o rendimento  total da sociedade.
consequência II: aumentam os impostos, o Estado enriquece.
consequência III: os políticos 'metem' o dinheiro ao bolso de estrangeiros e de si próprios.
consequência IV: o povoléu, aparvalhado, empobrece por se deixar levar por ladrões.


« Última modificação: 2015-02-13 20:15:08 por vbm »

Incognitus

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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #16 em: 2015-02-13 21:45:35 »
Vamos trabalhar e produzir coisas que alguém queira...

Não me parece que seja uma afirmação da esquerda. Pelo contrário, a esquerda facilmente defende enterrar-se dinheiro em coisas que ninguém queira, desde que com um "bom motivo". O que abre o caminho para uma série de amigos avançarem com "bons motivos".
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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #17 em: 2015-02-13 21:57:30 »
"Coisas que alguém queira é uma parvoíce"
Coisas com interesse, é que está certo!

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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #18 em: 2015-02-13 23:18:36 »
"Coisas que alguém queira é uma parvoíce"
Coisas com interesse, é que está certo!

Tal como disse, é apanágio da esquerda saber o que tem interesse para os outros.

O problema é que isso muitas vezes não coincide com o que os outros querem - especialmente quando existem imensos interesses que "sabem" o que é que tem interesse para os outros. O que só aumenta o problema.
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Re:Europa - as visões económicas à esquerda
« Responder #19 em: 2015-02-14 09:45:37 »
Penso que neste ponto divergimos menos do que parece ou possa parecer.
As coisas terem interesse acaba por induzir a procura respectiva,
precisamente porque as coisas satisfazem
o que é do interesse das pessoas.

De modo que, seria estultícia os produtores alhearem-se
do que as pessoas comprovam querer realmente.

No entanto, desaprovo a promoção de interesse ou carência
de coisas que não valem nada e são mero engodo dos incautos.

É possível concordar com esta última ideia, mas logo questionar
quem é o  "ditador" que dita o que tem ou não interesse.

Numa sociedade livre, tudo se abre a discussão - desde que
não viciada ou manipulada.

Privilegio de certo modo a ciência e o conhecimento que existe
para qualificar se algo é são ou nefasto. Mas mesmo neste sector
tem de vigiar-se os lobbies que distorçam a verdade em defesa
de interesses de curto prazo de produtores.

Eu tenho de convir que não pode exagerar-se em posições fixistas
do que é conveniente ou não e tem de haver abertura a debate
e mesmo posições moralistas extremadas são uma parvoíce.

A questão de valores e do que os promove ou destitui
é matéria para delicados consensos, o  que justamente
é o núcleo da acção política, da qual a guerra
é ainda acção política.

O liberalismo deixando tudo à iniciativa dos produtores
e à regularização do mercado, descura observar
a tendência para a monopolização da actividade
por grupos de interesses que podem chocar
abusivamente com o interesse individual
e familiar do cidadão qualquer.