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Autor Tópico: Livros  (Lida 70125 vezes)

vbm

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Re: Livros
« Responder #420 em: 2020-03-04 17:51:49 »
Uma das mais notáveis
passagens do Fausto:



Com teu rir descarnado tu, caveira,
Que me dizes, senão que em outro tempo,
Como o meu, delirou teu pobre cérebro,
A luz do dia procurou, com vasto
Desejo de verdade, e vagou triste
Em deprimente, lúgubre crepúsculo?
Com essas molas, rodas, alavancas
Escarneceis de mim, vós instrumentos.
Ante as portas estive a que devíeis
Servir de chaves, engenhoso é, certo
O mecanismo vosso; mas corrê-lo,
O pesado ferrolho, não soubestes.
Amante do mistério, à luz do dia,
Não deixa despojar-se a natureza
Do seu escuro véu, e o que ao espírito
Não quiser revelar-te, nem com hélices
Lho arrebatas, nem com alavancas.
Antigos utensílios, que não uso,
Jazeis aqui porque a meu pai servistes,
E tu, polé vetusta, enegreceste
Tanto há que na branca tem ardido
A amortecida lâmpada. Mil vezes
Antes a pobre herança haver disperso,
Do que penar aqui, com este pouco
Oprimido! O que herdaste de avoengos,
Para chamá-lo teu, de novo o ganha!
O que não se aproveita é grave carga,
E só nos serve o que o momento of’rece.


Goethe, Fausto, vv 684-711.
« Última modificação: 2020-03-04 17:53:12 por vbm »

vbm

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Re: Livros
« Responder #421 em: 2020-03-04 19:21:05 »
O norueguês Erling Kagge, faz este elogio
a Elon Musk, in "Silêncio na Era do Ruído",
Quetzal, Lisboa, 2017, p.99:

«Musk é particularmente bom a usar o que se chama
o primeiro princípio: em vez de se apoiar em ideias
feitas, descobre aquilo que é fundamentalmente verdadeiro,
de forma a raciocinar a partir dessa base. Ele desliga-se do mundo.
faz isso em oposição ao modo normal de funcionamento: ouvir o que
os outros dizem ser possível e trabalhar a partir daí.»

vbm

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Re: Livros
« Responder #422 em: 2020-03-06 06:25:11 »
Outra passagem notável, do Fausto

Da Medicina o fundo, sem trabalho
Se pode compr’ender: – Todo o Universo
Estudais, para alfim deixar que ande
Como a Deus aprouver. Perdeis o tempo
Em doutos devaneios engolfando-vos,
Ninguém aprende mais que aprender pode;
Sábio é quem se vale do momento.
Não me par’ceis mal feito, e ousadia
Decerto vos não falta; se em vós mesmo
Tiverdes confiança, os outros homens
Em vós confiarão. Deveis mormente
Saber levar as lindas senhoritas!
Suas queixas sem fim, seus mil achaques
Com um remédio único se curam;
E se sabeis salvar as aparências,
Na mão as tendes todas. Honorífico
Título lhes demonstre que ciência
Possuís que a de muitos mais profunda;
Assim, logo ao entrar, venceis obstáculos
Em que outro levara uns poucos de anos;
Aprendei a apalpar-lhes o pulsinho,
E com olhar de fogo ide apalpando
A cintura gentil, a ver se acaso
Demasiado aperta o espartilho...

ESTUDANTE. Isso é outro falar!... Já ‘stou contente
Já percebo melhor o como e o quando.

MEFISTÓFELES. Pálida, amigo, é toda a teoria,
Mas a árvor’ da vida é verdejante.

Op. cit., vv. 1999-2026

« Última modificação: 2020-03-06 06:26:10 por vbm »

vbm

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Re: Livros
« Responder #423 em: 2020-03-08 20:09:59 »
E proximamente, será este, que me ofereceram,
e não deve ficar atrás da espantosa narrativa,
memória política, dos cinco meses
de negociação com a União
Europeia em 2015.



Descreve o sistema económico desde agosto 1971,
quando o dólar se desligou do ouro, o que acabou
por abrir caminho à crise de petróleo de 1973,
em que o mundo nunca mais voltou a ser
o que era. Acabados os anos gloriosos
da reconstrução no pós-guerra
e destituídos os acordos
de Bretton Woods,

a Europa encetou
uma pseudo caminhada no sentido da união,
económica e monetária, mas assente numa falsa,
fictícia prosperidade partilhada, que não passou
de um esquema piramidal de dívida dos países
pobres (os PIGS) face aos grandes exportadores
dos países ricos, cujos empresários sempre
venderam tudo com ou sem utilidade
nenhuma, através de seguros
e garantias de Estado
à exportação, ainda
que a insolventes!

Na base desta assimetria desequilibrada
de comércio e pagamentos, «Os mais fortes
fazem o que podem, enquanto os mais fracos
fazem o que devem» - como já dizia Tucídides
há dois mil e quinhentos anos! Ou. como dizia
Salazar em axioma mais lapidar, «Manda quem
pode, obedece quem deve.» Chega-se a algum lado
neste confronto? Obviamente, não. Ridiculamente,
emprestam mais e mais dinheiro aos devedores
para que não deixem de pagar nos devidos
vencimentos. Uma mascarada, própria
do «Rei Vai Nu» como salta aos olhos
com as taxas de juro negativas.

É o que dá cunhar moeda sem amarra de reserva de valor.
O adeus ao ouro, é o adeus ao euro, e nem o dólar
adoptado por Nixon em 1971,
vale meio pataco furado!


[De qualquer modo, é o que me suscita
a capa e a contracapa do livro, cuja
leitura só encetarei a sério,
depois da 'habit(u)ação'
em que estou na
casa de Fausto
de Goethe -:)]

Smog

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Re: Livros
« Responder #424 em: 2020-03-11 20:58:36 »
https://leyaonline.com/pt/livros/romance/micropolis-ebook/?fbclid=IwAR2YlOt6OHpWvLsJXTqhAr3W-NITmfp5uDfF5h-202IbFTxqyFvvPGOR2bQ

Para desenjoar do vírus porque nao uma agradável leitura online? Do José Lopes ...contista e microficionista!
Diria que sao 10 euros bem investidos com retorno garantido! ;)

Micropolis by Jose Lopes Coutinho
wild and free

vbm

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Re: Livros
« Responder #425 em: 2020-03-14 10:51:54 »
"O turbilhão inteiro ao cimo tende,
E julgas impelir, quando te impelem."

   op. cit.,vv 4070-4071

vbm

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Re: Livros
« Responder #426 em: 2020-03-20 09:23:34 »
                 
                    «Que fazeis, pobres tontos? Que loucura!
                    Isto tudo é fingido, é mascarada:
                    Nem outra coisa pode hoje esperar-se;
                    Pensastes que vos davam ouro fino?
                    Tentos, em farsa tal, demais seriam.
                    Ó néscios! aparência sedutora
                    Há-de ser logo sólida verdade?! 
                    Que vos serva a verdade? Torpe embuste
                     'Stais prontos a abraçar por toda a parte.
                    Ó disfarçado Pluto, herói de máscaras,
                    Tu me varre daqui todo este povo!»

                                             op. cit., vv 5639-5649

du Lac

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Re: Livros
« Responder #427 em: 2020-03-21 16:21:05 »
The Rise and Fall of the Great Powers - Paul Kennedy

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Re: Livros
« Responder #428 em: 2020-03-24 08:15:25 »
Ontem, o Yuval Noah Harari, entrevistado creio pela BBC, numa transmissão da RTP 3,
enunciou a verdade futura versus a experiência histórica em matéria de pandemias:
- Sempre a humanidade conheceu surtos epidémicos a flagelar populações;
a enorme diferença entre o actual Covid 19 e a peste negra do séc. xiv
é o conhecimento científico sobre a doença; na idade média,
ninguém fazia a mínima ideia das causas da doença,
hoje em dia, quase de imediato, o vírus
foi detectado, identificado e
conhecido o seu genoma;

ambas epidemias, ao do século xiv como a do xxi, a pandemia foi global;
na primeira, metade da população asiática sucumbiu à peste, na europa, matou um terço!
Houve um diferença, porém, a primeira demorou um par de anos a alastrar, a de agora um par de meses.

Que ensina isto? Que devemos erigir fronteiras entre os povos?
Responde: Não. Não é possível. Não existem. Os humanos são gregários.

Como combater então?

Traçando uma fronteira entre os humanos e os vírus patológicos.

Como?

Mal haja a manifestação de um foco infeccioso num ponto do planeta,
em vez de permitir que o poder político local sucumba ao medo espernçoso
de que o que está acontecer não seja uma catástrofe e tente destituir e esconder
o que está suceder, estabelecer uma rede internacional de confiança entre todos os países
do mundo, por forma a que nenhum se sinta isolado a braços com a crise, e animado
pela solidariedade internacional, conte de imediato coma ajuda científica, médica,
sanitária e financeira da organização mundial de saúde, das nações unidas,
do pronto auxílio médico imediato de outros países, todos
enfrentando a doença como um problema mundial
de fechar rápido fronteiras entre
os humanos e o vírus.

Assim se fez, por exemplo,
no caso do ébola, atalhado
à nascença, no berço geográfico
em que ocorreu o surto original.


vbm

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Re: Livros
« Responder #429 em: 2020-03-26 18:31:42 »
          Quem, à casa apegado, nobre tesouro guarda,
          E sabe cimentar da alta morada os muros
          E proteger das águas da chuva o telhado,
          Esse pode fruir de boa e longa vida;
          Mas quem com passos levianos, temerários,
          A sagrada linha do umbral da casa passe,
          No regresso dará com o mesmo lugar,
          Mas tudo está diferente, ou mesmo destruído.

                (Fausto, vv. 8974-81)

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Re: Livros
« Responder #430 em: 2020-03-28 01:07:48 »
Tenho estado a ler o D. Quixote De La Mancha.
É engraçado e, apesar de muito grande, lê-se muito bem.
“Our values are human rights, democracy and the rule of law, to which I see no alternative. This is why I am opposed to any ideology or any political movement that negates these values or which treads upon them once it has assumed power. In this regard there is no difference between Nazism, Fascism or Communism..”
Urmas Reinsalu

vbm

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Re: Livros
« Responder #431 em: 2020-03-28 09:09:14 »
É um prazer, o Dom Quixote. E há dele um ballet cubano, belíssimo!
Tive-o gravado, e comparado com o de outros países, era o mais belo.
Mas já não tenho a gravação, e creio não a consigo no You Tube.
Hei-de tentar de novo.

post scriptum:- Encontrei, se não erro. É de 2007.
Mas só dão pequenas cenas. Bela, é a gravação inteira,
a história com os seus episódios mais notáveis.
Mas essa tinha-a, no Meo, mas já não.
« Última modificação: 2020-03-28 09:26:22 por vbm »

vbm

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Re: Livros
« Responder #432 em: 2020-03-28 13:10:47 »


«A todo o homem que tiver feito algum trabalho,
paga-lhe logo o salário, e nunca fique,
um instante, em teu poder
a paga do trabalhador.»


Tobias, 4, 15

vbm

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Re: Livros
« Responder #433 em: 2020-04-10 00:47:24 »



«— Comme ils aimaient cette bonne chambre pleine de gaieté, malgré sa splendeur un peu fanée!
Ils retrouvaient toujours les meubles à leur place, et parfois des épingles à cheveux qu’elle avait oubliées,
l’autre jeudi, sous le socle de la pendule. Ils déjeumaient au coin du feu, sur un petit guéridon incrusté
de palissandre. Emma découpait, lui mettait les morceaux dans son assiette en débitant toutes sortes
de chatteries; et elle riait d’un rire sonore et libertin quand la mousse du vin de Champagne
débordait du verre léger sur les de ses doigts. Ils étaient si complètement perdus
en la posséssion d’eux-mêmes, qu’ils se croyaient là dans leur maison
particulière, et devant y vivre jusqu’à la mort,
comme deux éternels jeunes époux.»

Gustave Flaubert, Madame Bovary,
Preface, notes et dossier par Jacques Neefs,
Paris, Librairie Générale Française,
Le Livre de Poche, 2008


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Re: Livros
« Responder #434 em: 2020-04-12 19:56:45 »


Ludwig Erhard (1897-1977)

Retomo o ministro Ludwig Erhard, para me interrogar no seu exemplo n'Alemanha,
o que haja de acontecer, como se há-de proceder, se tudo descambar numa ruptura
inflacionária, queda de bolsa, mercado negro, desemprego volumétrico no comércio,
nos serviços, na indústria. Vou imaginar, como se estivesse a sonhar! O dinheiro, com
as falências em cascata, os preços nominais na estratosfera, será objecto de reforma
monetária, reduzindo os múltiplos zeros, dividindo tudo por mil ou dez mil, o que for tido
por adequado. Os produtos continuarão ou subtraídos do mercado ou dispostos à venda,
mas por preços incompatíveis para a maioria das bolsas. Permitida a livre concorrência,
pois os preços treparão de novo quase até à lua, até que acabem por ir cedendo por haver
quem se disponha a vender por menos. Iniciada tal cedência, rápido a intermediação a
potenciará no sentido da baixa, até à sanidade dos equilíbrios salários/preços/custo de vida.
Tudo encolherá e  voltará a crescer, num sentido mais razoável do que o do consumismo desenferado

vbm

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Re: Livros
« Responder #435 em: 2020-04-21 19:57:47 »


«Peter era frequentemente capaz ( ) de esquecer
por longos momentos aquilo que sabia ser o problema da humanidade:

que as gerações de homens surgiam e desapareciam e eram eternamente
não mais do que bactérias sobre a lâmina bem iluminada de um microscópio,

e que a queda de uma república ou a fundação de um império
— tão significativas para aqueles que nelas estavam envolvidas —
não são detectáveis na lâmina,

nem sequer quando há um olho interessado a observar perseverante proliferação das espécies,
que desaparecerão com o tempo ou que, com sorte, se transformarão em qualquer outra coisa,

porque a mudança é a natureza da vida e a sua esperança.» (p. 338)


vbm

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Re: Livros
« Responder #436 em: 2020-04-21 20:01:19 »
— «Fomos sempre governados por gorilas
e as nossas queixas são apenas guinchos de macacos...»


op.cit
., p. 304


vbm

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Re: Livros
« Responder #437 em: 2020-04-29 12:43:24 »


Recebido hoje pelo correio postal,
esta preciosidade vinda
de um alfarrabista de
Sever de Vouga,
por meros
€ 4,50.


«Não se pode augmentar os salarios senão augmentando o producto do trabalho e nunca diminuindo esse producto. O salario de toda a população operaria é constituido pelo producto total, depois de descontados a renda, o juro e os impostos. Os operarios de Lancashire ganham altos salarios, porque empregam machinismos, que podem executar uma quantidade imensa de trabalho relativamente ao numero de braços empregados. Se recusassem servir-se de machinas, teriam que fiar o algodão á mão como succede aos pobres habitantes de Cachemira. Se não houvesse uma unica machina na Inglaterra, os seus habitantes seriam quasi todos tão pobres como ainda ha pouco o eram os trabalhadores agricolas de Wiltshire.»

Stanley Jevons (1835-1882), Professor da Universidade de Londres,
Economia Política, Trad. revista por Agostinho Fortes,
Edição da Typographia de Francisco Luiz Gonçalves,
Rua do Alecrim, 80-82, Lisboa, 1909, p.95


-:))
« Última modificação: 2020-05-02 19:15:51 por vbm »

JoaoAP

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Re: Livros
« Responder #438 em: 2020-04-29 20:18:51 »
Não será bem nos conteúdos que me lembro de ter lido no passado, mas fica bem aqui:
por pouco tempo... e pouco dinheiro se quiserem ter em cada ... em papel.

Springer has released 65 Machine Learning and Data books for free
Springer has released hundreds of free books on a wide range of topics to the general public. The list, which includes 408 books in total, covers a wide range of scientific and technological topics. In order to save you some time, I have created one list of all the books (65 in number) that are relevant to the data and Machine Learning field.

Among the books, you will find those dealing with the mathematical side of the domain (Algebra, Statistics, and more), along with more advanced books on Deep Learning and other advanced topics. You also could find some good books in various programming languages such as Python, R, and MATLAB, etc.

If you are looking for more recommended books about Machine Learning and data you can check my previous article about it.

https://towardsdatascience.com/springer-has-released-65-machine-learning-and-data-books-for-free-961f8181f189

vbm

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Re: Livros
« Responder #439 em: 2020-05-01 12:57:44 »
                           «CAPITULO I
                          INTRODUCÇÃO

     1.  O que é a economia política ? – A economia política trata da riqueza das nações; procura as causas que tornam uma naçáo mais rica e mais próspera do que outra. O seu fim é ensinar o que é preciso fazer para diminuir, tanto quanto possível, o número dos pobres, e guiar cada um no sentido de tirar do seu trabalho a melhor compensação. Outras sciencias ha, sem dúvida, que nos auxiliam a chegar a fins análogos. A mecânica ensina-nos a procurar a força e a utilisál-a no trabalho das machinas. A chimica dirige-nos na descoberta de substâncias uteis, ensina-nos, por exemplo, como se extrahem dos residuos da fabricação do gaz magnificas tintas, perfumes e oleos. A astronomia é indispensável para a navegação dos oceanos. A geologia guia-nos na busca da hulha e dos metaes.

    Diversas sciencias sociaes são também necessarias para o progresso do bem-estar da Humanidade. A jurisprudência trata do direito legal ds gentes e da maneira de melhor o definir e assegurar com leis justas. A philosophia politica estuda as differentes fórmas de governo e as suas vantagens relativas. A medicina procura as causas das doenças. A estatistica reune todos os factos que interessam o Estado ou a communidade. Todas estas sciencias nos ensinam a ser mais fortes, mais ricos, mais sabios.
                                 
    Mas a economia politica distingue-se entre todas. Trata propriamente da riqueza; procura saber em que ella consiste, ensina o melhor meio de a consumir, quando alcançada, e o modo como podemos aproveitar todas as outras sciencias, para a adquirir.

    Muita gente accusa a economia politica de não tratar senão da riqueza.

    Ha, dizem, muitas coisas melhores do que a riqueza, taes como: a virtude, os affectos, a generosidade. Desejariam ver-nos estudar esses dons de preferencia á simples riqueza. Um homem póde enriquecer por hábeis negocios e enterrar o seu dinheiro como um avarento. E, como é mil vezes preferivel dispensar os bens em proveitos dos parentes, dos amigos e do publico em geral, certos argumentadores partem dêsse principio para censurar a sciencia das riquezas.

    Êsses criticos desconhecem o fim de uma sciencia como é a economia politica. Não comprehendem que, nos nossos estudos, não podemos fazer mais de uma coisa de cada vez. Não podemos ensinar tods as sciencias sociaes ao mesmo tempo. Ninguem censura os astronomos por só tratarem dos astros nem os mathematicos por se ocuparem exclusivamente com numeros e quantidades. Devia ser curioso um tratado, que estudasse conjuctamente a astronomia, a geologia, a chimica, a physica, physiologia, etc., assim como ha diversas sciencias physicas, tendo cada uma o seu objecto proprio e não tratando de coisas em geral.»


Stanley Jevons (1835-1882), Professor da Universidade de Londres,
Economia Política, Trad. revista por Agostinho Fortes,
Edição da Typographia de Francisco Luiz Gonçalves,
Rua do Alecrim, 80-82, Lisboa, 1909, pp. 5-6

« Última modificação: 2020-05-01 16:16:15 por vbm »