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Autor Tópico: Livros  (Lida 69471 vezes)

vbm

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Re:Livros
« Responder #40 em: 2014-09-18 15:35:12 »
1 - Colecção Uma Aventura (os livros que me despertaram para o gosto para a leitura)
[ ]

:). Eu :), foi, Emílio Salgari, Júlio Verne, Cavaleiro Andante, Colecção Vampiro;
depois, os estudos, a literatura, a divulgação científica,
filosofia e poesia (feminina, especialmente!)

itg00022289

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Re:Livros
« Responder #41 em: 2014-09-18 18:40:17 »
:)) Sim. Li Gore Vidal. Recomendaram-me. Espantou-me
o The Smithsonian Institution, admirei o Juliano,
o Imperador romano descendente de Constantino
que oficializou o regresso ao paganismo,
obrigando o império a tolerância
religiosa e a um reflorescer
da cultura grega.

Gore Vidal é bom, claro.
As minhas preferências são: 'Washington' e 'A idade do ouro'

vbm

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Re:Livros
« Responder #42 em: 2014-09-30 15:31:52 »
Eis o livro mais importante de ler sobre televisão



«A consequência mais arrepiante da televisão
consiste em esta se interpor entre o ser humano
e as respectivas imagens do mundo exterior.»

op. cit.
, p.269



«As nossas impressões são causas
das nossas ideias, e não as nossas ideias
as causas das nossas impressões.»

— diz David Hume, no seu
Tratado da Natureza Humana


Porém, já assim não é
desde que a televisão nos
deposita imagens no cérebro.



kitano

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Re:Livros
« Responder #43 em: 2014-09-30 17:00:31 »
Pelo título deve figurar no top 5 da literatura talibã
"Como seria viver a vida que realmente quero?"

Automek

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Re:Livros
« Responder #44 em: 2014-10-09 16:28:50 »
Mais um autor que não conhecia: Michael Connelly
Li um policial (Echo Park - não sei se há tradução em português). Enredo e desenrolar da história muito bom. Cheio de suspense.

Outro autor que descobri recentemente que parece escrever em estilo de suspense foi o Frederick Forsyth.
Day of the Jackal é muito bom. Prende bastante o leitor.
The dogs of war. Menos intenso, mas leitura agradável

vbm

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Re:Livros
« Responder #45 em: 2014-10-11 23:39:15 »


O que ando a ler!

Algumas d' As Farpas
que ainda não tinha.

Imperdível!

vbm

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Re:Livros
« Responder #46 em: 2014-10-18 19:27:32 »


Li esta prodigiosa sátira de Camillo Castello Branco,
na edição fac-similada do original de 1862,
publicada pelo Público o ano passado.

É um puro  divertimento, toda a história.
Mas há excertos de um prazer perene.

Eu tenho gosto em partilhar com os foristas,
alguns  trechos deliciosos.

Vejam lá este:

«Observei, na Foz, que Silvestre procurava a distracção do jogo: dizia que a
fortuna dos seus credores dependia dos ganhos que ele obtivesse.
Os credores do meu amigo perdiam com ele, como pessoas
infelicíssimas que eram.

Explicava Silvestre a excentricidade deste mundo,
julgando-o bom e de nenhum modo interessado em ludibriar-me,
o mundo folgou de explorar um tolo que abria o coração e
a algibeira a todas as perfídias e zombarias.

Não tive um sincero amigo que me desse dinheiro sem primeiro
me furar as algibeiras para o aparar com uma das mãos,
enquanto a outra mo emprestava, já cercado dos juros.

Os meus mais dedicados amigos serviam-me de indicadores
de usurários, que me davam o décimo do valor da letra,
que eu assinava. Era um jogo de ladrões;
foram empréstimos da infâmia; só podem
ser pagos com infames meios.

A consciência de Santo António e de S. Francisco das Chagas
não foram mais puras do que há-de ir a minha à presença
do supremo Juiz.

Creio que não devo nada, porque os juros que paguei
excedem o capital: ora o que eu não devo só por absurdo
posso pagá-lo com o que não for meu.

Parece-me que a lógica manqueja nesta argumentação. Seja como for,
há muito quem deixe de pagar como Silvestre da Silva; mas não pagar,
firmado em raciocínios, à primeira vista, irrefutáveis, nisso é que ele foi singular.»

:))

op.cit., pp. 214-15

vbm

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Re:Livros
« Responder #47 em: 2014-11-02 15:11:31 »


Uma leitura já antiga, mas com este excerto confessional inolvidável:


«Não sou capaz de me concentrar ( ) já não ouço, pura e simplesmente.
As palavras dos outros já não me dizem nada. [Estarei] apaixonada?
 ( ) há muito tempo, eu já sabia. Mas para sempre?

Ele acha que sim. Basta que um dos dois esteja convencido
para o outro perder a cabeça. O outro sou eu.

Já não tenho ouvidos. Apenas os olhos para o seu desejo velado de ternura
quando pensa que ninguém está a olhar para nós. ( )

Eu suspeitava de qualquer coisa, é claro,
as mulheres suspeitam de tudo nos romances (…)

Volto a ter um corpo. As costas endireitam-se, os seios crescem-me.

Basta-me imaginá-[l]o, pensar nele, não pensar em nada aliás,
repetir simplesmente a mim mesma que ele está algures nesta cidade,
que ele respira e de certeza pensa em mim, para que a excitação
baralhe o que me resta de entendimento.
Uma adolescente.

Desde quando me havia eu esquecido de que tinha um corpo?

 (…) a sua paixão consegue contornar as palavras,
ele ama com a epiderme, os músculos, os lábios,
o sexo, as mãos, os braços, as coxas.

Nunca imaginei que o corpo de homem pudesse ser tão múltiplo e fluido.

A verdade é que não o imagino, experimento-o, e ele restitui-me realmente o meu,
igualmente diferenciado e igualmente sensual. Delicadeza só
em gestos, carícias, atitudes.

A alma dissolvida em actos de ternura ( ).
Apetece-me embonecar-me, comprar vestidos, bâtons extravagantes, sapatos novos.

Passo para o outro lado, saio do meu túmulo, de novo me torno grácil.
 ( ) mudei de perfume.

Como tornei a ser adolescente ( ), procuro o risco.
A surpresa à beira do escândalo, porque não?»


Júlia Kristeva, Os samurais («Les samouraïs», 1990),
Trad. Pedro Tamen, Difusão Cultural, 1991, pp. 337


Zel

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Re:Livros
« Responder #48 em: 2014-11-06 16:27:27 »
isto eh um topico sobre livros que se leu o que se quer ler, cria um para poemas

Automek

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Re:Livros
« Responder #49 em: 2014-11-06 17:10:16 »
Até há um tópico de pastilhas literárias:
http://www.thinkfn.com/forumbolsaforex/index.php?topic=941.5;

vbm

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Re:Livros
« Responder #50 em: 2014-11-07 22:11:27 »
:))

Só conheço um pouco do Rumi! :)
Achas que é de torturar aqui os foristas
com um poema do Rumi!? Hum...

Vou arriscar um, mais atrevido! :))





Pierre Marcourt, Dessin erotique

«Disse à noite: “Como tens fé na Lua
A tua fugaz passagem deve-se à sua inconstância”.
A noite olhou-me e assim se desculpou:
“Que culpa tenho se o amor não acaba?”»


Djalal Al-Din Rumi, Rubaiyat, Trad. e introd.
de Adelino Ínsua, Ed. Pedra Formosa, Guimarães, 2002.


vbm

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Re:Livros
« Responder #51 em: 2014-12-01 18:29:04 »


Estou a ler as Últimas Farpas!

Majestosa crítica ao sebastianismo
e aos primeiros meses da República
- crónica de Fevereiro de 1911.

Hoje festejam-se 374 anos de Restauração
da Independência Política do País, e vale a pena
ler
a reflexão de Ramalho Ortigão sobre a maneira
de ser portuguesa e a acerba crítica que desfere
aos primeiros dirigentes da República.


O sebastianismo nacional

«A restauração de 1640 restituiu á nação portugueza a sua autonomia politica, mas não reconstituiu com egual facilidade as energias do seu organismo profundamente depauperado e deprimido pela saudosa sangria de AIcacer-Quibir e pela subsequente intoxicação moral de sessenta annos de servidão sob um dominio estrangeiro. O cérebro portuguez fora gravemente abalado pelas mais dolorosas commoções: a angustia da incerteza sobre os successos da grande expedição de Marrocos, a fulminante noticia do desastre em que irreparavelmente se submergiam tantas vidas e tantas riquezas, a perda das possessões ultramarinas, a completa ruina da fazenda publica, o aniquilamento de milhares de famílias, o lucto geral do reino, todas as cruciantes torturas da derrota, da vergonha e da miséria.

A esse temeroso abalo — dos maiores que podem fulminar um povo — correspondeu um accesso de delirio bem caracterisado pela aberração do sebastianismo.

Paralisadas na sua psycologia todas as faculdades e todas as virtudes que dão a um agregado humano a posse collectiva de si mesmo e a consciência de um fim que justifique — como em todos os organismos — a sua existência,perdida a fé, perdida a coragem, perdida a alegria, o povo portuguez appela para o milagre, absorve-se no messianismo, subordina todos os seus actos e todos os seus pensamentos ao regresso do «rei desejado» ou do «rei encoberto».

Apareceram durante a primeira metade do século xvn quatro aventureiros como sendo cada um delles o prometido D. Sebastião e o povo acreditou na identidade de todos quatro.

No século XIX, mais de tresentos annos depois da trágica jornada d'Africa, havia ainda miliiares de sebastianistas em Portugal e Brasil.

Segundo os antigos alienistas seria este um extranho caso de delirio parcial coUectivo. Os psychiatras modernos regeitam esse diagnostico, considerando as vesânias e as monomanias não como formas autónomas e distinctas espécies mórbidas, mas sim como phases clínicas de um delirio chronico iniciado por um accesso de hypocondria geral.

Hoje mesmo — talvez pela razão de que Portugal restaurado não acabou por emquanto de se restaurar completamente — persistem resíduos depressivos e taras ancestraes que, ao minimo abalo na elaboração cerebral dos motivos que determinem os seus actos, tornarão o povo portuguez tão genuinamente sebastianista como no tempo dos seus antigos agitadores e profetas, o Bandarra e o sapateiro Simão Gomes.

É evidente que elle cessou para sempre de esperar que D. Sebastião regresse, como o cavalleiro do Cisne, portador do Santo Graal despregando-se de uma matutina e aeria nebulosa para baixar á terra e descer o Chiado, espectral e benigno, rutilante como um astro, na sua esmaltada armadura de guerra, sob o elmo de ouro polido, empenachado de branco.

Não é porém menos certo que, descrido, fastiento e desdenhoso, como de uma velha cautela branca, da alforria com que o brindaram os restauradores do l.» de dezembro, tendo-se por insufficientemente remidos, na servil passividade da sua impotência para melhorar por si mesmo as condições do seu destino, elle ainda hoje aspira a uma redempção nova, e acceita, segue a victoria, com uma credulidade inverosimilmente fanática e servil, de todo o redemptor que lhe apareça palavroso e profético, bandarrista e sapateiral.

Tal é no presente, segundo se me afigura, o seu caso mórbido.

Tendo por influição do seu sangue amouriscado a noção lazaronica de que todo o trabalho é uma condemnação, uma iniquidade, ou — em mais consagrada e corrente metaphora — uma tremenda espiga, elle não vê nem jamais viu com bons olhos que outros lhe passem pela porta passeando-se de carroagem emquanto elle, como eu, trabalha ao seu tear, ao seu torno ou na sua tripeça; e a sua augusta e longínqua visão de uma justiça social resume-se philosoficamente nisto: — que elle passeie de carroagem e que trabalhem os outros.

Para se apropinquar quanto possível da realisação desse ideal, a que por decência o ensinaram a chamar o «ideal socialista», acreditou por algum tempo na coadjuvação da Providencia, e invocou-a piedosamente em ladainhas e novenas, em promessas e romagens. Não se deu bem com isso, e ficou contentíssimo quando num recente comicio politico, em que lhe deram excellencia e lhe apertaram effusivamente a mão, um sugeito, que elle nunca vira mais gordo, sorridente e melifluo, com o meneio de dedos, mimoso e percuciente de quem estivesse picando com um bico de agulha invisíveis problemas adejantes no ambiente, lhe explicou, de cima de um palanque, que a Divina Providencia não existia pela rasão muito simples e categórica de que a Republica tinha abolido Deus. E como o numeroso e conspícuo auditório, em que havia, principalmente no palanque, muitas pessoas de alto lá com ellas, como antigos ministros, guarda-livros, conselheiros e doutores, cobrisse com frenéticos aplausos aquelle orador desconhecido, espenifico e suado, o povo não querendo ser mais burro do que todos aquelles senhores, convenceu-se de que Deus cessara com effeito de existir, e tendo, ainda que vagamente, a ideia de que Deus era padre, passou d'ahi por deante a correr á pedrada ou a cascudos, como vil impostor, todo o individuo suspeito de ter coroa e de dizer missa: — Não existe, casca-se-lhe.

Assim como, libertado de reis, elle não quer mais ser escravo senão de charlatães, assim também, uma vez descarregado do sophisma divino e precisando de algum outro simbolo a que se apegar, encomenda-se devotadamente ao acaso, ao desconhecido, ao inescruíavel, e filia-se na politica, bajula o cacique e compra cautelas de três vinténs.

Insanavelmente beato pelas fatalidades atávicas da sua raça, sente a necessidade espiritual de iniciar-se em algum mistério que substitua o dogma e pede então á maçonaria um novo pão eucharistico e um ceremonial litúrgico parecido com o baptismo, com a primeira comunhão e com a chrisma. E a sua alma de cândido neophito exulta com a posse dos variados sacramentos d'essa religião nova, a que elle será tão fiel como foi á antiga, seguindo-lhe os preceitos e os ritos com a mesma compenetrada uncção com que outrora ia á missa, ao sermão e á desobriga.

Quando ninguém precisa da cooperação da sua força chamam-lhe Zé Povinho, figurando-o com uma albarda ás costas e é o lobo manso de quem todos mofam. Quando aos filósofos em desintelligencia convém açulal-o, chamam-lhe o Povo Soberano, omnipotente e absoluto.

Por sua parte elle acha-se no seio da civilisacão que o explora como o touro em tarde de corrida no meio do redondel. É puro, bravo, boiante e claro. Está ahi para o que quizer d'elle o capinha, o bandarilheiro e o espada. Acenam-lhe com o trapo encarnado e elle arrancará sempre com lealdade e bravesa, entrando pelo seu terreno, acudindo ao engano e indo ao castigo de todas as vezes que o citem para atacar, para escornar, para estripar e afinal para morrer, o que tudo para elle é unicamente marrar.»

(Texto obtido da net)

vbm

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Re:Livros
« Responder #52 em: 2014-12-01 18:36:48 »
Um aspecto muito curioso que aprendi, já não sei de onde, é o ponto de vista dos espanhóis em relação à independência de Portugal. Quando o soube, há vários anos, fiquei embasbacado!

Vocês sabiam que as crianças em Espanha, estudam história
e aprendem que Portugal passou a ser independente em 1640!

Os espanhóis acham que Portugal foi como todos os demais nações
da província ibérica, um reino que, como os demais,
foi finalmente incorporado na Corôa Espanhola em
1580, e só se tornou independente em 1640.

Fiquei espantado com este ponto de vista!
Mas é o que eles ensinam em Espanha.

vbm

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Re:Livros
« Responder #53 em: 2014-12-19 13:29:24 »
Todos os anos, a DIGAL simpaticamente oferece aos seus clientes dois ou três pequenos livros que são de uma preciosa delicadeza, para lá do gosto de não gastarmos dinheiro directamente na Galp! :)

Este ano, para lá de magnífico fragmento da Antiguidade Grega, "Do Riso e da Loucura", de autoria de Hipócrates - sobre o estranho comportamento na velhice de Demócrito, o filósofo atomista de Abdera - deu-nos um escrito organizado por Alberto Cardoso, sobre a maneira de ser dos Portugueses e sobre Portugal.

Nele, recolhi e divulgo esta preciosidade de Guerra Junqueiro, in "Pátria - 1896".
Qualquer semelhança com a actualidade, não é pura coincidência!

«Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.»




vbm

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Re:Livros
« Responder #54 em: 2015-03-08 16:26:09 »
Visitei ontem as novas instalações da livraria Pó dos Livros
que mudou da Av. Marquês de Tomar para a de Duque d'Ávila.

É uma verdadeira livraria, inconfundível com essas tais lojas
de produtos tipográficos que aparentam ser livros e
não passam de lixo a reciclar, mês a mês.

Orgulhosamente, como livreiros, não desprezam
mostrar livros de edições de há muitos anos,
e creio que até, livros usados.

Enfim, objectos de leitura,
de espírito vivo.


Comprei um livro escrito há mais de dois mil anos
e que sempre desejei possuir e ler de fio a pavio

o Da Natureza das Coisas, de Lucrécio
o grande poema latino do materialismo atomista!
Pela sua beleza imponente, transcrevo os versículos 49-79.




Ei-los,

«Ora agora presta ouvidos disponíveis e um espírito sagaz,
desprovido de preocupações, à doutrina verdadeira,
            50
para não desperdiçares desdenhosamente
a minha dádiva para ti preparada com amorosa dedicação.

Vou, de facto, começar a expor-te a derradeira explicação
do céu e dos deuses e revelarei os elementos primordiais da matéria
a partir dos quais a natureza forma todas as coisas, as faz crescer e as sus-
                                                                                                       tenta
e em que a natureza as dissolve quando as mesmas são destruídas,
a que nós costumamos chamar matéria e corpos geradores,
ao explicar a doutrina, e sementes das coisas, e também lhes damos
o nome de corpos primordiais, porque é a partir deles que tudo existe.

Como a vida humana jazesse vilmente prostrada
               60
diante dos olhos de todos, esmagada sob o peso da religião,
que assomava a cabeça das regiões do céu,
ameaçando os mortais com um aspecto horrível,
este homem grego foi quem em primeiro lugar ousou erguer
contra ela os olhos mortais e quem primeiro ousou fazer-lhe frente.

E a este não o demoveram nem o que se dizia dos deuses nem os raios
nem o céu com o seu bramido ameaçador, mas antes mais estimularam
a enérgica coragem do seu espírito, a ponto de desejar ser o primeiro
a despedaçar os ferrolhos firmemente fechados das portas da natureza,
      70
e assim a vívida força do seu espírito obteve um triunfo completo
e ultrapassou em muitos as muralhas flamejantes do nosso mundo,
percorreu com a sua inteligência e ardor o universo imenso,
de onde nos traz, vitorioso, o conhecimento do que pode
e não pode nascer, e por fim por que leis está limitado o poder
de cada coisa e os seus marcos fundamente fixados.

Por isso a religião é agora, por sua vez, pisada sob os pés
dos homens  e a vitória eleva-nos aos céus.»

 
:)

Manuel33

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Re:Livros
« Responder #55 em: 2015-03-18 08:24:39 »
Para leituras recomendo Rabindranath Tagore, para mim um dos melhores poetas de sempre:

As Coisas Transitórias

Irmão, nada é eterno, nada sobrevive.
Recorda isto, e alegra-te.

A nossa vida
não é só a carga dos anos.
A nossa vereda
não é só o caminho interminável.
Nenhum poeta tem o dever
de cantar a antiga canção.
A flor murcha e morre;
mas aquele que a leva
não deve chorá-la sempre...
Irmão, recorda isto, e alegra-te.

Chegará um silêncio absoluto,
e, então, a música será perfeita.
A vida inclinar-se-á ao poente
para afogar-se em sombras doiradas.
O amor há-de ser chamado do seu jogo
para beber o sofrimento
e subir ao céu das lágrimas ...
Irmão, recorda isto, e alegra-te.

Apanhemos, no ar, as nossas flores,
não no-las arrebate o vento que passa.
Arde-nos o sangue e brilham nossos olhos
roubando beijos que murchariam
se os esquecêssemos.

É ânsia a nossa vida
e força o nosso desejo,
porque o tempo toca a finados.
Irmão, recorda isto, e alegra-te.

Não podemos, num momento, abraçar as coisas,
parti-las e atirá-las ao chão.
Passam rápidas as horas,
com os sonhos debaixo do manto.
A vida, infindável para o trabalho
e para o fastio,
dá-nos apenas um dia para o amor.
Irmão, recorda isto, e alegra-te.

Sabe-nos bem a beleza
porque a sua dança volúvel
é o ritmo das nossas vidas.
Gostamos da sabedoria
porque não temos sempre de a acabar.
No eterno tudo está feito e concluído,
mas as flores da ilusão terrena
são eternamente frescas,
por causa da morte.
Irmão, recorda isto, e alegra-te.

vbm

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Re:Livros
« Responder #56 em: 2015-03-18 15:33:02 »
O meu poeta preferido é do século 11, persa
do Afeganistão actual: Omar Khayyam.

Vê este, dele.

Os doutores e os sábios mais ilustres
Caminharam nas trevas da ignorância.
O que não impediu que em vida fossem
Tidos por luminares do seu tempo.
Que fizeram?
Pronunciaram
Algumas frases confusas
E depois adormeceram
Para toda a eternidade.


Manuel33

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Re:Livros
« Responder #57 em: 2015-03-18 20:09:17 »
Não conhecia Omar Khayyam.

Existe um site bom sobre poesia aqui: http://canaldepoesia.blogspot.pt/

vbm

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Re:Livros
« Responder #58 em: 2015-03-23 22:47:54 »
A propósito de Parménides, numa discussão
sobre o Individualismo e o Colectivismo.

Diz Alain,

O que há de mais belo no célebre Parménides [de Platão],
é que Sócrates, ali, ainda é jovem; assim, Platão
ainda não era nascido; qualquer coisa
na doutrina elabora-se antes dele,
sem ele. São como pensamentos
deixados a si mesmos , e que
preparam a sua vinda.
Procurar-se a si tal
como se era
antes de
nascer.

É o movimento humano; pois, não nos
arriscamos a pensar primeiro senão
sob a máscara dos nossos predecessores...

------------ // ------------

O Ser é e o Não-Ser não é, este, o axioma de partida de Parménides.

Do que decorre: o Ser é Uno; pois, se fosse Dois, um deles
não seria o “Outro” ; e Não-Ser não se pode dizer do Ser.

Indivisível, também; pois, pelo quê dividir-se?
Por um outro ser? A mesma impossibilidade.

Uno, portanto, sem semelhantes, sem partes, tal é o Ser.
Tudo o que é, ele é. O que não é, nada é, e assim
não tem nenhum poder de ser, jamais;
o que não é, não será. O ser jamais
devirá o que não é. Em absoluto,
ele não pode devir, nem mudar
em sentido algum. É imutável.

Imóvel, ainda mais evidentemente.
O movimento das partes é nele impossível,
porquanto não tem partes; o movimento
do todo não tem sentido pois que o Ser
é sem relação com o que quer que seja.


Ao postular que o Uno é, Parménides procura
deduzir desse ponto de partida tudo o que
resulta para o Uno e todas as outras coisas.

O Uno é indivisível, sem partes, sem forma,
sem movimento, sem mudança, sem idade,
quer dizer sem relação com o tempo.

Reconhece-se a tese de Parménides. Mas,
a seguir ele prova tudo ao contrário,
a partir da reflexão de se o Uno é,
já não há só o Um, há também o Ser,
que é outro que o um, o que faz, se
se pode dizer, uma terceira personagem,
e por fim, todos os números, as partes,
a mudança, o movimento, a idade.

Após o que, se regressa ao princípio,
e postula-se que o Uno não é.

Parménides adverte que se trata aqui
de um exercício. De algum modo,
o espírito retira-se das coisas e
procura as suas próprias leis.
Não encontra nada sólido; zomba
de si próprio; ri-se. Lógica, no sentido
rigoroso da palavra, quer dizer,
fundada unicamente no discurso.

Esta espécie de nebulosa será grávida de um mundo?
Poderá ver-se aqui as primeiras articulações de um sistema
onde as ideias de número, de espaço, e de tempo
nasceriam do uno indeterminado, por uma divisão
interior, por uma oposição e correlação à vez,
que seria a lei oculta de todos os nossos pensamentos?

Poderíamos crê-lo, não obstante a aparência de simples
exercício, anunciada de início, e ainda confirmada
de seguida pela mudança da hipótese.


Alain, Idées, ed. Flammarion, coll. Champs, nº 126,
Paris, 1983, pp. 22; 25-27.
« Última modificação: 2015-03-24 08:43:35 por vbm »

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Re:Livros
« Responder #59 em: 2015-03-24 00:01:07 »
....de plus en plus actuel.....eh,.eh....


Citar
Le retour du courage



Ainsi, discrètement, le courage est revenu parmi nous; même si tout le monde ne le sait pas encore. La prospérité, la démocratie, la paix et la libéralisation des moeurs, avaient pu nous faire croire que le courage, comme la volonté, l'effort, la rigueur, était devenu une vertu d'autrefois. Mais voici chacun face à de nouveaux défis. Nos systèmes de soutien (religion, idéologies, état, famille) se sont affaissés, ou atteignent leurs limites. Plus seuls nous voulons, en même temps, plus de libertés, d'espaces, d'initiative. L'individu retrouve sa place. La vague de fond du libéralisme nous amène à prendre nos responsabilités, à compter sur nous-mêmes, à façonner notre destin. Ce sera exaltant, mais il faut du courage. Quel rôle joue-t-il, chaque jour, dans notre vie ? Pourquoi est-il irremplaçable ? Comment en trouver quand il faut ? Ce livre apporte des réponses.

l'auteur:

Jean-Louis Servan-Schreiber

Journaliste et rédacteur en chef français
 

Editeur :Albin Michel
Parution :2 Janvier 1992

Isbn : 2226056653