Cartago, no século III a. C., qualquer semelhança
com repúblicas do século XXI d. C.,
não é mera coincidência...
«Mas este povo, que se sentia odiado, estreitava sobre o coração o seu dinheiro e os seus
deuses, e o seu patriotismo era alimentado pela própria constituição do seu governo.
Em primeiro lugar, o poder dependia de todos, sem que ninguém fosse assaz forte
para o monopolizar. As dívidas particulares eram consideradas dívidas públicas,
os homens de raça cananeia tinham o monopólio do comércio e multiplicando
os lucros da pirataria pelos da usura, explorando inexoravelmente as terras,
os escravos e os pobres, chegavam muitas vezes à riqueza.
Só a riqueza dava acesso a todas as magistraturas;
e conquanto o poderio e o dinheiro
se perpetuassem nas mesmas
famílias, era tolerada a oligarquia,
porque havia a esperança de chegarem a ela.
As sociedades de comerciantes, onde eram elaboradas as leis,
escolhiam os inspectores das finanças, os quais, ao largar
os seus cargos, nomeavam o Conselho dos Anciãos,
que pela sua parte era dependente da grande
assembleia, reunião de todos os ricos.»
Op.cit., "Salammbô", pp 86-87