Carminati, em termos de procura,quer para arrendamento de longa duração quer para arrendamento a estudantes a procura foi muito grande. Em ambas as situações ainda tinha as casas em obras já tinha contrato assinado. No caso das estudantes, já tinha contrato fechado e ainda não tinha a cozinha completamente instalada. Foram 15 dias de sufoco a pressionar o instalador da pedra da bancada, sem a qual não se instalavam os móveis e os aparelhos a gás.
Como referi, o arrendamento dos quartos permite a diversificação do risco. Os paizinhos das 3 raparigas não vão falir em simultâneo, ao contrário do casal com o filho que já vivia com a corda na garganta para pagar renda de 400€. Um problema logístico com o qual felizmente ainda não me deparei foi uma das inquilinas falhar pagamentos. Para evitar que as amigas acolhessem a amiga incumpridora teria que ocupar o quarto rapidamente.
Concordo com o Raposo Tavares num aspecto: as famílias vão ter mais rendimento no bolso se optarem por andar de transporte público. O casal a quem arrendei a casa na Damaia tinha 2 carros e é muito difícil convencer quem se habituou a andar de carro a mudar de rotinas para passar a andar de transporte (escola do filho, fazer as compras no continente- o tuga ainda não interiorizou as compras online- ir ao ginásio, etc). Acredito que haja quem vá fazer as contas (eu próprio estou as estou a fazer mas terei que alterar rotinas) mas a disponibilidade de rendimento não será por via do aumento dos ordenados. Basta ver no sector que mais empregará portugueses, o turístico, em que os empresários choram-se por falta de mão de obra mas pagam salários de 600€ brutos (a minha irmã trabalha na restauração no UK com muitos anos como gerente e no ano passado andou por cá em entrevistas e os ordenados propostos andavam por esses valores). Por outro lado, a especulação nas rendas é tramada. Eu vendi a casa da Damaia por €67k (com mais valias) e, portanto, tinha uma yield bruta de ~7%. Se as casas com a mesma tipologia estiverem a ser vendidas por €100k, para ter a mesma yield (mais o risco de terem as manas sapatonas a invadir o meu apartamento e proclamá-lo como bem público) significa que terei que arrendá-lo a 600€. Será que o casal a quem arrendei, que tinha escolaridade básica (12º ano) que andava com dificuldades para chegar ao final do mês, teve um aumento proporcional do rendimento? Não me parece...
Um amigo meu utiliza como métrica o nº de gruas no skyline e lembro-me de, no pico da crise, estarmos no miradouro de S. Pedro de Alcantara a contar o nº de gruas e, salvo erro, teríamos contado umas 6 e ele ter comentado que o ciclo estava a inverter. No fim de semana passado contei 13 gruas no skyline lisboeta e é verdade que ainda se vêm muitos edifícios decrépitos, metade dos quais com placas de licenciamento de obras. Andando a pé por Lx, como faço muito frequentemente, vejo hotéis 5* e 4* porta sim porta sim (gostava de ter acesso à estatística do nº de camas deste sector) e edifícios remodelados com apartamentos que estarão com certeza muito fora do bolso do português da classe média alta, muitos dos quais estarão vazios porque são adquiridos por fundos imobiliários e por estrangeiros, não numa óptica de obtenção de yield através de arrendamento, mas de armazenamento de valor perspectivando valorizações a médio/longo prazo. Fora os apartamentos AL para os turistas low cost que serão às centenas/milhares e que são o suporte financeiro de muitas famílias de classe média e que emprega alguns dos tais 600€ brutos. Se este ciclo virar (concordo com o que já foi referido acerca da japonização da economia europeia: vamos viver com PIB's baixinhos, dívidas altas, população envelhecida e mais dada a investimento conservador) tenho curiosidade em saber o que irá acontecer a tanto imóvel de luxo existente em Lx, que está fora da capacidade do bolso do português financeiramente mais desafogado...