A vagina, por apetitosa que seja e é,
não pode exibir-se despudoradamente
porque numa sociedade o pudor
é sustentáculo necessário
para a vida social.
(Não, para a vida privada,
onde justamente o pudor
é superado pelo amor
e pelo sexo.)
Não sei se no Japão existe a figura do "atentado ao pudor" como existe em Portugal, mas vamos presumir que sim, que existe.
O atentado ao pudor tem em consideração o respeito que se deve ter por pessoas que se impressionam e inclusivamente sentem repugnância e/ou nojo da imagem dos orgãos sexuais.
Eu conheço pessoas assim e o melhor é mesmo respeita-las.
Logo, é proibido por Lei circular na via pública nú ou com os orgãos sexuais a nú e se tal acontecer e é-se detido e presente a tribunal por atentado ao pudor.
Em síntese: o legislador só permite a exibição dos orgãos no contexto privado e não no público.
No contexto público podem existir algumas excepções, por exemplo artes, nomeadamente pintura, escultura, fotografia, provávelmente mais algumas excepções existem...
No entanto, considerar-se a vagina ou o pénis como algo obsceno em termos de Direito ou Lei é manifestamente incorrecto. É atribuir um juízo de valor legislativo.
Outra coisa é (como já atrás referi) existirem individualidades que entendem repugnante, nojento, obsceno. Há que respeita-las.
Não sei como é a legislação no Japão, mas direi que por ser uma sociedade evoluida, a legislação não deve atribuir juízos de valor.
Penso que para terem libertado a japonesa é porque talvez não havia fundamento para a acusarem e por conseguinte a manterem sob prisão, senão vejamos:
"(...) foi libertada depois de uma semana detida por ter enviado dados que serviam para recriar os seus genitais com uma impressora 3D. (...)"
O envio de dados e a respectiva recriação dos genitais com uma impressora 3D penso que será para todos os privados que assim o queiram e desejem;
Não faz sentido o Estado japonês recriar os genitais de uma japonesa...
Direi que não há atentado ao pudor, porque o facto é no contexto privado e não público.
"O envio deste género de ficheiros poderia violar a lei japonesa que proíbe a distribuição de material «obsceno»."
Penso que no Japão deve haver muita arte erótica que está devidamente regulada (banda desenhada, etc...).
Essa arte erótica também é distribuida nos canais apropriados e provávelmente nas condições que a Lei prevê (devidamente selada, por exemplo).
Direi que esta japonesa deve ter distribuído os dados dos genitais de uma forma que a Lei japonesa não prevê e daí ter sido detida;
mas como a distribuição foi no contexo privado, lá tiveram de a libertar, talvez mais rapidamente devido à pressão e petição dos mais esclarecidos e indignados.
«Foi uma detenção injusta. Não acredito que os meus genitais sejam obscenos», explicou a artista após a sua libertação.
Megumi Igarashi lembrou também que o corpo é seu e não é aceitável que alguém o classifique de algo «obsceno» salientando também ser essa uma visão masculina.
A escultora e ilustradora de 42 anos colocou em marcha uma iniciativa de "crowdfunding" na internet para recolher fundos que permitissem construir um "kayak" onde reproduzia os seus genitais.
Aos dadores enviava depois um ficheiro com fotos da vagina e que permitiam a impressão com um aparelho de três dimensões.
Mais de 21.000 pessoas assinaram uma petição lançada na 'rede' para a libertação da artista.
Se analisarmos bem o que aqui está descrito é tudo no contexto privado: "crowdfunding"; fundos; construir "kayak" que reproduz os genitais; envio de ficheiros com fotos da vagina para impressão 3D.
O próprio "kayak" da forma como está moldado e pintado não impressiona negaticamente e se visto após uma certa distância quem o vê e não saiba do desenho do genital nem percebe que o utilizador está a remar "dentro da representação da vagina da artista Megumi Igarashi"...
É também preciso não esquecer que sendo a japonesa uma artista - Megumi Igarashi - não sendo nenhuma impostora, tem legitimidade para criar arte e propôr arte, mesmo que essa arte seja agressora de sentimentos de alguns, de uma minoria, que a consideram "obscena" por ser a imagem de genitais da própria ou até a imagem de genitais da Rainha de Inglaterra...
Por exemplo: aquele fotógrafo que expôs a sua "obra de arte" de dezenas ou centenas de rabos ou "cús", observando bem as fotografias, só mesmo quem é ignorante no que à arte diz respeito, consideraria as fotografias uma obscenidade ou um nojo... eu quando as ví na televisão apenas disse: "Como é que ninguém tinha pensado nisso". Mas admito que não seja para qualquer um, compreender aquelas fotografias, principalmente para quem não estudou arte, mas quem estudou arte, mesmo o mínimo, compreende e nem associa as fotos ao sentimento de repugnância que pode ocorrer mais fácilmente para quem não estudou arte.
Quando a "Torre Eiffel" foi construída, ainda não tinha a obra acabado e já era uma "obscenidade" um "mamarraxo", um "atentado", um "aborto" à cidade de Paris. Hoje? É somente o simbolo arquitectónico mais conhecido de Paris e de França... um monumento nacional digno a ser preservado.
Quem sabe se esta artista, em associação com alguma empresa, poderá lucrar bué com o "kayak"... uí uí, se isso vira moda nas celebridades que poderiam cobrar "royalties"... era um fartar de "kayaks vaginas" com a assinatura impressa das celebridades!
E quem não pensa nem percebe isto,
na minha opinião é irremediavelmente
parvo, prostituído ou proxeneta.
Não necessáriamente. Depende dos valores sociais da sociedade.
Se fores buscar um indigena algures de uma tribo amazónica ou africana ou australiana, se habituados a viver nús porque são os "valores sociais" da tribo e o colocasses numa moderna cidade europeia ou norte americana, quem estava mal para ele eram todos os que circulavam cobertos com roupas... e esse indigena não é "
parvo, prostituido, ou proxeneta".
Mas não é preciso ir tão longe: alguém que se supõe ser um desvio daquilo que se convencionou como normal, conhecido como doente mental, não é necessáriamente
parvo, prostituído ou proxeneta por circular nú. Pode apenas "não fechar bem a tampa" como diria alguém:
Mulher (completamente) nua surpreende passageiros de comboio«Deusa do Comboio» detida pela polícia nos EUA e submetida a exames psiquiátricosPor: Redacção / AR | 2013-11-18 20:58Uma mulher foi detida em Chicago, nos Estados Unidos, ao ser apanhada completamente nua num comboio.
De acordo com a CBS, os passageiros da famosa Linha L foram surpreendidos, no sábado à tarde, quando a mulher, de 31 anos, deambulou sem roupa pelas carruagens a dizer que era a «Deusa do Comboio». A mulher afirmou que ia para a locomotiva conduzir o comboio e chegou a gritar com os outros passageiros, dizendo-lhes para abandonarem a composição, referiu uma testemunha.
A «Lady Godiva» acabou por ser retirada do vagão pela polícia na estação de Granville e foi submetida a exames psiquiátricos.
http://www.tvi24.iol.pt/151/acredite-se-quiser/insolito-nua-nudez-comboio-eua-tvi24/1511131-4088.html 
Já agora: os rostos das muçulmanas não são obscenos e no entanto por Lei têm de ser ocultados sob pena de essas muçulmanas serem detidas, presas e pagarem multa.
Será que os muçulmanos também consideram que as muçulmanas que revelam o rosto são
parvas, prostituidas, ou proxenetas?
E não são coisas diferentes: são é outros "valores sociais". E se uma muçulmana com doença mental circulasse nua, o que aconteceria? Morta à pedrada?...
E a multigamia dos muçulmanos normalizada lá e ilegalizada no Ocidente? Quem está certo?
Seremos nós ocidentais demasiado puritanos e os muçulmanos demasiado obscenos por poderem ter 10, 20 ou 30 mulheres?
