A preguiça é uma falsa questão muito invocada quando se discute o fenómeno da Informação Assimétrica, tentando usá-la em parte como causa do fenómeno. Mas o fenómeno é muito mais complexo. Ninguém é pobre ou ignorante por preguiça, o que acontece é que os pobres e ignorantes frequentemente são capturamos por estados de apatia e inação, que se confundem com preguiça, mas não são a mesma coisa.
Por acaso acho que as pessoas de baixo rendimento, com empregos de baixos salários, correm tanto pela obtenção da remuneração que ficam tão cansadas que nem capacidade têm para pensar um pouco para arrumarem as suas ideias.
Ou seja, não é falta de informação, mas o cansaço e a falta de tempo na obtenção dessa mesma informação. E mesmo que obtenham essa informação pelo o passa a palavra, vão estar tão cansadas ao fim de um dia de levantar às 6h, despachar miúdos, pô-los na escola, apanhar o autocarro para a cidade, trabalhar 8h num trabalho aniquilador de vontades e sem criatividade, voltar para o subúrbio, passar no supermercado, apanhar os miúdos, dar-lhes banho, fazer o jantar, arrumar a cozinha, que às 22h da noite querem lá saber se pagam 10€ a mais nas telecomunicações.
E é aqui que o Estado podia dar uma ajuda, dar tempo às pessoas para que se organizem, mas curiosamente não ajuda. As greves são na escola pública, as listas de espera na saúde são no público, os atrasos são nos transportes públicos, a falta de justiça (do último patrão que não pagou) aguarda no tribunal. No fim ainda leva mais de um 1/3 de um rendimento de 700€!
E as pessoas cada vez mais cansadas, cada vez mais irracionais, cada vez com piores decisões, cada vez mais irritada, cada vez mais à procura da satisfação imediata, cada vez mais a escavar um buraco.
Se um Estado só consegue oferecer isto aos seus cidadão mais vulneráveis, é certamente um que defende interesses mas não os das camadas mais desfavorecidas.