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Autor Tópico: Redistribuição de rendimento  (Lida 79868 vezes)

vbm

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Redistribuição de rendimento
« em: 2013-11-08 15:25:33 »
Redistribuição do rendimento

O núcleo do debate sobre o Estado Social posiciona-se na questão da sustentabilidade do sistema de reforma de velhice, assente no esquema de redistribuição de rendimento entre os trabalhadores no activo e os reformados.

O fundo incontornável do debate é simples: quer agora, quer sempre, quem não trabalha é, ex-post, sustentado por quem trabalha. Ex-ante, quais os limites sustentáveis do esquema?

´Aritmetizando’ a redistribuição do rendimento, propomos a seguinte equação inicial

(1)   d.a = p.(1-a)

sendo d, a contribuição percentual para a segurança social incidente sobre o salário; a, a percentagem da população no activo; e p, o valor unitário da pensão de reforma.

Deste modo, as retenções na fonte dos salários dos trabalhadores no activo – d.a -, são pagas como pensões aos reformados – p.(1-a).

Neste esquema, o equilíbrio existe desde que o rácio do número de reformados por activo – (1-a)/a -, iguale a proporção do desconto no salário para a pensão de reforma –d/p:

(1.1)         d/p = (1-a)/a

Assim, por exemplo, 0.3 de desconto do salário (d) com uma pensão média unitária (p) de 0.7 do salário apenas se equilibra com um rácio de reformados por activo – (1-a)/a – de 3 para 7, i.e., 3/7.

Contudo, é desigual a produtividade do trabalho nos diferentes sectores de produção de bens e prestação de serviços, por razão quer da diversa disponibilidade de recursos naturais e pela fecundidade variável da própria natureza, quer pelo grau de desenvolvimento tecnológico dos meios de produção utilizados, quer, finalmente, com o maior ou menor esforço e inteligência dos trabalhadores e o grau de civilização atingido pela sociedade.

A capacidade de redistribuição do rendimento é altamente potenciada com o aumento da produtividade do trabalho, como vamos observar aritmeticamente.

Dividamos, então, a população activa em dois segmentos de produtividade desigual: a, a proporção de emprego de maior produtividade; b, a de produtividade normal, i.e., o caso de profissões, – necessárias, não dispensáveis, criando valor procurado, por satisfazer necessidades humanas -, cuja produtividade de desempenho é mais ou menos constante, no tempo e no espaço; por exemplo, um corte de cabelo pouco tempo de execução terá diminuído ou aumentado desde o antigo Egipto ao presente! Muitos outros trabalhos e serviços necessários se equiparam ao deste exemplo, desde a actividade de ensino à enfermagem de doentes, de uma peça de teatro ao cuidado de crianças, etc.

O emprego do tipo b, porque necessário e valioso, será remunerado com o salário suficiente a que o respectivo empregado e sua família viva conforme o padrão histórico e social vigente na comunidade em causa. O emprego do tipo a é remunerado por um múltiplo de produtividade, k, do salário do tipo b.

Nestes termos, a equação de equilíbrio (1) reescreve-se como segue:   

(2)   d.(ak+b) = p.(1-a-b)

Assim, se parametrizarmos a proporção de activos de grande produtividade (a) em 0.1; mantivermos a taxa de desconto salarial (d) em 0.3; e a pensão unitária em 0.7 do salário base, i.e., o salário do tipo b, da produtividade normal, a equação (2) reflectirá o conjunto de pares de equilíbrio entre as variáveis b e k, ou, se designarmos a população reformada por r,

(2.1)    r = 1-a-b

mostramos a relação de equilíbrio entre a proporção de reformados (r) e a produtividade do trabalho (k)

(2.2)           r = 1/p . d.(ak+b)

Ou, com os valores numéricos dos parâmetros fixados, a função f(r,k):

(2.3)           r = 0.3/0.7*(0.1k+0.9-r)

Com as produtividades

K = 1, 3, 5, 7, 10;

a proporção de reformados (ou inactivos) sustentável é de

(2.4)          r = 0.30; 0.36; 0.42; 0.48; 0.57.

No entanto, esta redistribuição de rendimento é desincentivadora e injusta porque não diferencia o valor da pensão de reforma segundo a carreira contributiva de cada reformado durante a sua vida activa.

Tomando em consideração as prestações contributivas entre os assalariados do tipo a e b, e supondo que a percentagem dos reformados do tipo a é de 10% do total de reformados a equação (2) da redistribuição do rendimento reescreve-se como segue:

(3)       d.(ak+b) = p.r.(0.1k+0.9)

Ou, com os coeficientes numéricos assumidos, para d, p, e a

(3.1)           0.3*(0.1k+0.9-r) = 0.7*r*(0.1k+0.9)

Resolvendo r em função de k,

(3.1’)   r = (0.03*k+0.27)/(0.07k+0.93)

Com as produtividades

K = 1, 3, 5, 7, 10;

a proporção de reformados (ou inactivos) sustentável é de

(3.2)          r = 0.30; 0.32; 0.33; 0.34; 0.35.

Como se vê, comparando esta série (3.2) com a anterior (2.4), constata-se que o não ‘plafonamento’ das pensões reduz drasticamente a capacidade de a segurança social sustentar um volume significativo de trabalhadores reformados: - para o caso de 10% dos activos terem uma produtividade décupla da produtividade normal, a sustentabilidade do volume de reformados decai de 57% para 35%, sem um tecto para o valor máximo das reformas a conceder.

No entanto, continua a ser injusto não ponderar a carreira contributiva no valor da reforma a atribuir a cada reformado. Não é a mesma coisa ter sido quarenta anos barbeiro ou professor de física nuclear ou de filosofia contemporânea! Embora haja de convir-se que em ambos os casos as necessidades de um reformado são bem menores do que as sentidas durante a vida activa, pelo que não é razoável manter na reforma a mesma diferença salarial que existia na vida activa.

Propomos uma variação progressiva da reforma (p) com o aumento da produtividade (k) maximizada, em termos brutos (x), no triplo do salário base de produtividade normal atingido no caso de produtividade doze vezes superior à normal. A saber,

(4)       (1+x)^12 = 3

Ou,

(4.1)           x = 3^(1/12) - 1 = 0.0958

Pelo que a equação de redistribuição de rendimento se escreveria como segue:

(5)       d.(ak+b) = p.(1-a-b).[(1+x)^k .a + 1-a]

Fixando os parâmetros d, p, e a nos mesmos coeficientes numéricos anteriores e dando a x o valor referido em (4.1), teremos:

(5.1)          0.3*(0.1k+b) = 0.7*(0.9-b)*[1.0958^k*a+0.9]

Ou, explicitando b em função de r, conforme (2.1), temos

(5.2)         0.3*(0.1k+0.9-r) = 0.7*r*[1.0958^k*0.1+0.9]

Resolvendo r em função de k,

(5.2’)   r = (0.03*k+0.27)/(0.07*1.0958^k+0.93)

Com as produtividades

K = 1, 3, 5, 7, 10;

a proporção de reformados (ou inactivos) sustentável é de

(5.3)           r = 0.30; 0.35; 0.40; 0.45; 0.52.

Comparando estes resultados com os obtidos sem plafonamento, verifica-se quanto melhora a sustentabilidade da segurança social, que passa em equilíbrio, - no caso de 10% dos activos com uma produtividade décupla da normal -, da capacidade de financiar um volume de reformados de 35% para 52%, e isto com a justiça de alguma diferenciação das pensões segundo a carreira contributiva.

A falácia política na discussão pública deste tema consiste em propor, de facto, o plafonamento das pensões, mas aplicando-o também aos descontos para a segurança social durante a vida activa. Ora, tal perverte a eficácia e justiça social da redistribuição de rendimento.

Concluo com mais duas observações. No passado, os salários dos profissionais mais requestados asseguravam a existência de um vasto agregado familiar de avós, filhos e netos, quando não também, tias, sobrinhos, órfãos e afilhados. Inclusive, tais salários permitiam aquisição de casa própria para albergar todo o agregado familiar. Foi este sistema de respeito pela família e pela propriedade privada que o modelo da segurança social veio substituir, com a promessa de uma justiça social e protecção na velhice alargada a toda a população mediante a contribuição generalizada de todos os trabalhadores durante a vida activa. Cortar agora nas reformas é tão subversivo do estado de direito quanto o desrespeito do direito de propriedade privada e o confisco das poupanças dos cidadãos.

Outra observação é o facto temível, no nosso país, de a Banca e a Segurança Social tenderem a desempenhar o papel sucedâneo do banco emissor do antigo regime monetário, i.e., quando o Estado precisa de dinheiro em vez de o emitir por subscrição do capital do banco, aumentando a circulação monetária, emite obrigações de tesouro que constrange a banca e os fundos de pensões a subscrever, assim preparando as condições facilitadoras de um haircut da dívida tão confiscatório quanto a clássica inflação monetária.

-----------------  //  ----------------- 

Quatro anos volvidos, ao reler o artigo postado,
reconheço ter descurado explicitar as proposições subentendidas
na validade do equilíbrio das grandezas equacionadas.


Observação 1. Na equação inicial, tenha-se presente que o desconto d para a segurança social incide sobre o salário unitário médio s (s=1) dos que trabalham, sendo a a proporção da populção activa na população adulta total unitária N  (N=1). Deduzindo do total populacional o número dos activos, obtém-se a população reformada (1-a), pelo que


(1)  N=1= a+ (1-a)  População adulta total compõe-se de activos e reformados.
(2)  s*a*N = Y = Rendimento total do trabalho.
(3)  d*s*a*N = Total de descontos para a segurança social
(4)  p*s*(1-a)*N = Total de pensões dos reformados
(5)  d*s*a*N = p*s*(1-a)*N --> descontos = pensões

e, como s=1 e N= 1, temos

(6)  d*a = p*(1-a)


Observação 2. A população activa, no momento analítico subsequente, divide-se em duas classes de trabalhadores: qualificados, a, e indiferenciados, b. O salário unitário médio, s, passa a referir-se ao pago pelo trabalho indiferenciado, sendo o qualificado remunerado, em média, por um múltiplo k do indiferenciado, ks. Explicitando as equações respectivas

     
(7)  d*s*(ak+b)*N = p*s*(1-a-b)*N
(8)  r = 1-a-b = proporção da população reformada, r, no total unitário da população adulta, N=1

pelo que, em proporções da unidade, N=1 e s =1, temos:

(9)  d*(ak+b) = p*r --> descontos = pensões


Observação 3. O bolo das pensões, o 2º membro da equação (9), – p*r –, para ser distribuído de forma diferenciada pelos reformados, deve correlacionar-se com a respectiva carreira contributiva durante a vida activa. À la longue, num estado estacionário da economia, a proporção, a' e b' de reformados qualificados e indiferenciados tende a igualar-se à partição dos activos, a e b. Mas, num sistema de pensões deste tipo, enquanto a for maior que a',– a>>a'–, os trabalhadores qualificados serão mais financiadores do sistema de reformas, do que quando a desproporção diminuir, a<<a'. As equações pertinentes em jogo são:


(10)  N = 1 = a + b + (a' + b') = a + b + r = a + b + (1- a - b) =1,
partição da população adulta entre activos (qualificados e indiferenciados) e reformados (qualificados e indiferenciados)

(11)  d*(ak+b) > = < p*r*(a'k+b'), descontos > = < pensões (distribuídas desigualmente segundo a carreira salarial)


No corpo do texto postado, – por uma espécie de 'elipse de pensamento'! –, considerei apenas uma partição igual de qualificados e indiferenciados na população de activos e de reformados, a'/b' = a/b, o que ao longo do percurso do sistema não acontecerá e assumirá proporções diferentes, com efeitos de sobre ou subfinanciamento das pensões por via da retenção na fonte das contribuições para a segurança social.


Observação 4. O último estádio de análise 'aritmetiza' simplesmente um plafond, um limite máximo ao quantitativo da pensão atribuível aos reformados melhor remunerados durante a vida profissional. É o meio apropriado para incluir um numero mais elevado de reformados para cada volume dado de contribuintes no activo. O participante de nick Zénith sugere a aplicação de uma curva em S na taxa de desconto (d) e de uma curva sem invertida na taxa da pensão (p) a atribuir, proporcionando um distribuição mais igualitária das reformas. Na análise simplificada apresentada exemplificámos a variação da pensão com a carreira contributiva segundo uma taxa de crescimento que no máximo proporciona uma pensão tripla da do indiferenciado reformado.
 


« Última modificação: 2017-11-07 16:45:38 por vbm »

vbm

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #1 em: 2013-11-08 15:34:28 »
Esboçou-se um debate sobre as pensões de reforma no Portugal Falido, onde pensei editar esta análise aritmética. Contudo, como a comunicação e o diálogo é muito vivo naquele tema do fórum, preferi 'exilar' esta análise num recanto mais 'isolado'. No  entanto, se algum participante, mesmo sem ler o post acima quiser comentar algo ou sugerir qualquer estudo sobre o assunto (que não seja muito complexo!) eu tenho algum (moderado) interesse.

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #2 em: 2013-11-08 15:40:06 »
sendo um esquema ponzi e tendo em conta a natalidade nacional, o sistema de pensões tende sempre para o estoiro. Determinar a altura do estoiro é que é mais complicado.
“Our values are human rights, democracy and the rule of law, to which I see no alternative. This is why I am opposed to any ideology or any political movement that negates these values or which treads upon them once it has assumed power. In this regard there is no difference between Nazism, Fascism or Communism..”
Urmas Reinsalu

vbm

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #3 em: 2013-11-08 15:49:44 »
sendo um esquema ponzi e tendo em conta a natalidade nacional, o sistema de pensões tende sempre para o estoiro. Determinar a altura do estoiro é que é mais complicado.

Em sentido contrário, é provável que a mortalidade geriátrica tenda a aumentar substancialmente, causada pela diminuição do nível de vida e dos cuidados de saúde.

Incognitus

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #4 em: 2013-11-08 15:53:22 »
Isso da produtividade é irrelevante, e equivalente a nem todos os salários contribuirem com uma taxa igual ou então a se taxarem outras coisas que não salários.

Além de que esse tipo de equações só torna o debate pior pois exige desde logo demasiado tempo para as descodificar. Para um debate melhor convém em vez dessa complicação toda especificares verbalmente quem é que é taxado e em quanto.


"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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vbm

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #5 em: 2013-11-08 16:30:19 »
Isso da produtividade é irrelevante, e equivalente a nem todos os salários contribuirem com uma taxa igual ou então a se taxarem outras coisas que não salários.

Além de que esse tipo de equações só torna o debate pior pois exige desde logo demasiado tempo para as descodificar. Para um debate melhor convém em vez dessa complicação toda especificares verbalmente quem é que é taxado e em quanto.


É taxado cada salário, seja na contribuição incidente sobre o empregado seja a paga pela entidade patronal e a do trabalhador por conta própria. Os salários k vezes superiores aos salários base, pagam a mesma taxa dos salários base. Não há plafond de descontos, mas há plafond de pensão de reforma, a qual cresce do simples ao triplo, do caso do salário base ao que lhe seja doze vezes maior.
« Última modificação: 2013-11-08 16:32:46 por vbm »

Zenith

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #6 em: 2013-11-08 18:24:57 »
Citar
(3)       d.(ak+b) = p.r.(0.1k+0.9)

Ou, com os coeficientes numéricos assumidos, para d, p, e a

(3.1)           0.3*(0.1k+0.9-r) = 0.7*r*(0.1k+0.9)

Parece-me que há aqui um erro. Para k=1 tem de coincidir com (2). deverá ser

d.(ak+b).(1-r) = p.r.(0.1k+0.9)

e os resultados serão identicos ao do caso inicial. Se os o que se a taxa de proporcionalide entre o que se recebe e o que se descontanõo há razão para haver diferenças relativamente aos valores derivados usando (1).
Tens de rever a notação, senão num dos dos lados das equações ficas com a+b=1 e no outro a+b=r.

Mas essencialmente o teu uso da palavra produtividade significa que queres ter uma taxa progressiva nos descontos para a reforma tal como acontece no IRS (em vez de ser fixa como atualmente).

Matematicamente podes tratar o problema do seguinte modo
1) Uso de uma curva em S na taxa de descontos e uso de curva em S invertida na taxa de recebimentos
Tal significa que quem mais ganha mais contribui e depois há redistribuição para tornar as reformas mais igualitarias.
Consoante os parâmetros da curva em S pode degenerar numa constante para os descontos e recta para os recebimentos que é a situação actual

2) Uso de uma curva em S invertida na taxa de descontos e na taxa de recebimentos
Esta é a situação em que toda a gente tem de contribuir uma taxa mínima para o bolo global que depois será redistribuido para promover igualdade. Acima da taxa mínima as pessoas descontam para onde quiserem. No caso limite e para o bolo da segurança social toda a gente recebe o mesmo que deverá ser considerado a pensão de sobrevivência.

Fazendo as contas pode-se parametrizar as curvas S apropriadamente.
Para casos simples as contas não são muito dificeis de fazer e quase tenho a certeza que  aparecem em livros espacializados nestes assuntos de reformas


hermes

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #7 em: 2013-11-08 18:46:25 »
Esboçou-se um debate sobre as pensões de reforma no Portugal Falido, onde pensei editar esta análise aritmética. Contudo, como a comunicação e o diálogo é muito vivo naquele tema do fórum, preferi 'exilar' esta análise num recanto mais 'isolado'. No  entanto, se algum participante, mesmo sem ler o post acima quiser comentar algo ou sugerir qualquer estudo sobre o assunto (que não seja muito complexo!) eu tenho algum (moderado) interesse.

Comecemos pela 1ª equação e mencionemos as suposições implícitas que inviabilizam o raciocínio:

(1)   d.a = p.(1-a)

d não é uma váriável independente, pois está limitado pelo que os a's ganham [G], ou dito de uma forma mais pungente, não podes taxar mais que G/a [e mesmo nesse caso tens a história do agricultor e do seu burro, com o 1º a dizer: agora que a habituar-te a não comer e a me começar a dar lucro é que tinhas de morrer!].

Naturalmente que p tb não é uma variável livre, pois no máximo é G/(1-a). Grosso modo G é proporcional ao número de trabalhadores [i.e. tb não é uma variável independente], consequentemente o máximo que os reformados podem receber num mês é

(2) p = k.a/(1-a).

Naturalmente que os reformados não podem receber esta soma, pois no mês seguinte não receberiam nada, já que as pessoas no activo teriam morrido todas à fome, pelo que a e p seriam iguais a zero. [Se a é pequeno, o esquema estoira na mesma.]

Depois exposto o pensamento mágico por detraz da equação (1), não há volta a dar à identidade: os reformados não podem ambicionar receber mais do que o que se produz e quanto mais reformados menos coisas há para se consumir neste vale de lágrimas.
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Zenith

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #8 em: 2013-11-08 18:53:33 »
d e p são taxas ou proporções, portantos nºs entre 0 e 1. Não há nada que inviabilize a equação. Claro que d e p não são independentes. Por isso é que estão na mesma equação.

hermes

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #9 em: 2013-11-08 19:03:35 »
d e p são taxas ou proporções, portantos nºs entre 0 e 1. Não há nada que inviabilize a equação. Claro que d e p não são independentes. Por isso é que estão na mesma equação.

O problema principal está em que d=d(a) e p=p(a), i.e. dependem tb de a.

Ps. O propósito não era provar que a equação (1) estava errada. O propósito era expor o pensamento mágico de d e p serem variáveis independentes submetidas apenas à restrição da equação (1).
« Última modificação: 2013-11-08 19:07:34 por hermes »
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Zenith

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #10 em: 2013-11-08 19:10:12 »
A formula considera que toda a gente recebe a mesma reforma, mas entendi isso como sendo o ponto de partida considerando um caso muito simples.
Depois avançando consiera em que já há 2 tipos, que mesmo assim continua a ser uma grande simplicação, mas entendi que era para ir avançando gradualmente
o d também pode depender de a, mas neste momento e em PT é fixa (23,75%+11% acho eu)

Zenith

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #11 em: 2013-11-08 19:27:05 »
Uma questão que tenho relativamente ao sistema actual de reformas

No sistema actual uma pessoa desconta uma quantidade D e depois recebe R (embora pago por outros). Para um sistema equilbrado (feitas as contas com taxa de desconto) deve ser R=D. No entanto as reformas são sujeitas a IRS e aquilo que o reformado recebe é R-I onde I são os impostos.

Quando se diz que o sistema não é sustentável, quer dizer o que?
1) D não cobre R
2) D não cobre R-I

porque se for 1) é um bocado desonesto dramatizar o problema dizendo que a SS é deficitária e necessita de  transferências do orçamento
« Última modificação: 2013-11-08 19:46:55 por Zenith »

vbm

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #12 em: 2013-11-08 19:44:08 »
Vi por alto, e com gosto, as intervenções.

Que me parece terem resposta sem alteração
de enunciados e cálculos. Mas tenho de as ver
com cuidado. E, ... passa-se que comprei
um computador novo que tem ainda
de receber algumas configurações.

Só posso participar mais tarde.

hermes

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #13 em: 2013-11-08 20:19:27 »
Uma questão que tenho relativamente ao sistema actual de reformas

No sistema actual uma pessoa desconta uma quantidade D e depois recebe R (embora pago por outros). Para um sistema equilbrado (feitas as contas com taxa de desconto) deve ser R=D. No entanto as reformas são sujeitas a IRS e aquilo que o reformado recebe é R-I onde I são os impostos.

Quando se diz que o sistema não é sustentável, quer dizer o que?
1) D não cobre R
2) D não cobre R-I

porque se for 1) é um bocado desonesto dramatizar o problema dizendo que a SS é deficitária e necessita de  transferências do orçamento

Não é nenhum dos dois, que diga-se de passagem tem uma suposição implicita o número de activos e reformados não só é imutável como estão na relação de 1 para 1, além do D e do R serem fixos.

O problema [insustentantabilidade do sistema] é que quando diminui o número de pessoas no activo [é um facto devido à redução da natalidade desde a década de 70] o número crescente de reformados [de décadas anteriores, onde a natalidade estava a aumentar aliado ao aumento da esperança de vida] não é compatível com a manutenção dos valores pagos pelas pessoas no activo e recebidos pelos reformados [ambos os valores no agregado, i.e. quantidades totais] a prazo.

Resumindo, os reformados se querem ter netos terão de se habituar a trabalhar até mais tarde ou a receberem menos reforma, a menos que ao contrário de Abraão queiram sacrificar os seus descedentes.
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Elias

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #14 em: 2013-11-08 21:35:26 »
vbm, o teu raciocínio não leva em consideração o facto de as retenções não serem apenas para pagar reformas, mas também subsídios de desemprego, pensões de sobrevivência, pensões de invalidez e rendimentos sociais de inserção. E estes últimos não se calculam apenas com base na demografia, mas sim em factores conjunturais nem sempre previsíveis.

valves1

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #15 em: 2013-11-09 16:15:11 »
eu volto a frisar aquilo que ha uns tempos referi  que existem paises dito desenvolvidos ( do G8 ) onde aquilo que conhecemos como reforma nao existe; O estado paga qualquer coisa apartir de uma certa idade mas nao aquilo que sequer se possa chamar uma pensao de reforma.
as pessoas tem a opcao de gastarem ou pouparem o rendimento que auferem ; Nem a sequer a inclusao das  pessoa em esquemas  fundos de pensoes privados tem caracter obrigatorio apesar de ser evidentemente encorajado pelo estado;
e evidente que nesses paises as pessoas conseguem poupar, coisa que nao e muito possivel em Portugal no entanto o sistema de pensoes em Portugal se nao for apartir de certa altura financiado de fora vai esbarrar  na insustentabilidade
"O poder só sobe a cabeça quando encontra o local vazio."

valves1

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #16 em: 2013-11-09 19:09:15 »
Ja agora uma noticia mais abaixo  bem mais  explicita   que as formulas de matematica ou textos  aqui apresentados  :

 reparem que mesmo que a populacao  nao activa jovem no futuro   represente apenas  20  %, da populacao  se contarmos com +  10 %  que nao descontem e /ou que sejam recebedorea  liquidos  via subvencoes sociais diversas
 provavelmente teremos uma pessoa a descontar para quase duas num futuro nao muito longinquo ...
baseado nos valores dos descontos atuais o sistema por si so  nao vai ser capaz de financiar os compromissos  ja assumidos



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População portuguesa com mais de 65 anos quase que duplica até 2050
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1 de Outubro, 2013
Portugal tem actualmente 26,6% da população com mais de 65 anos, mas até 2050 esse valor deverá ultrapassar os 40%, razão pela qual aparece em 34.ª posição no "Índice Global de Envelhecimento 2013", divulgado hoje.
O relatório "Índice Global de Envelhecimento 2013" elaborado pela organização HelpAge International com o financiamento do Fundo Mundial de População das Nações Unidas (UNFPA, sigla em inglês) é o primeiro índice que mede a qualidade de vida e de bem-estar das pessoas idosas em todo o mundo.

A apresentação do estudo coincide com o Dia Internacional das Pessoas Idosas, que se assinala hoje.

Nos dados específicos sobre Portugal, o relatório aponta que o país tem já uma elevada percentagem (26,6%) de pessoas idosas, sendo expectável que esse valor aumente para 40,4% até 2050 e fazendo com que Portugal passe de oitavo para segundo lugar relativamente à população idosa, entre 195 países.
« Última modificação: 2013-11-09 20:05:40 por valves1 »
"O poder só sobe a cabeça quando encontra o local vazio."

Luisa Fernandes

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #17 em: 2013-11-09 19:38:10 »
O debate na SIC Noticias, em que participou com muito mérito a presidente da APRe, permitiu esclarecer as justificações com que o governo pretende pôr em causa os compromissos assumidos com os credores mais antigos do Estado: os pensionistas.


A razão repetida constantemente pelo governo é de um hipotético deficit de 4,4 mil milhões de euros na Caixa Geral de Aposentações-CGA, deficit que teria de ser pago por todos os portugueses e iria cair sobre os ombros dos mais novos.


No debate ficou evidente que a justificação fundamental não é a que os cálculos, corrigidos ao longo dos anos, para garantir receitas  que assegurassem a sustentabilidade do sistema de pensões estavam errados. Ninguém demonstrou que se o fundo da CGA fosse  fechado e por exemplo administrado autonomamente, e o Estado tivesse vindo a colocar  a parte que lhe competia e fazia parte do contrato com os trabalhadores, esse fundo  estaria agora deficitário.


Nessa entrevista percebemos onde está a GRANDE FALSIFICAÇÃO: CONSIDERAR PARA UMAS COISAS A CGA COMO UM FUNDO FECHADO E PARA OUTRAS  UM FUNDO ABERTO GARANTIDO PELO ESTADO.


Esta prestidigitação de classificações contraditórias serve agora para tentar manipular a opinião pública, virar os jovens contra os velhos  e tentar atacar mais uma vez os reformados deixando incólumes os grandes interesses financeiros.


A justificação fundamental baseia-se afinal  num pequeno truque contabilístico:

-  Considerar que as dívidas do Estado a um fundo virtual não são exactamente isso, dívidas,  isto é, verbas que têm de ser repostas . Aliás, como foi reconhecido, essa reposição foi sempre feita ao longo do tempo, assegurando o pagamento das pensões, pois não é uma dívida para pagar totalmente e de imediato, como agora foi feito por exemplo com os swaps (para isso já houve dinheiro, mais de mil milhões duma assentada). Pelo facto de a parte do Estado-23,75%  entre 1993 e 2003-  não ter sido lançada na rubrica respectiva, evidentemente que o saldo teria de ser negativo. Escamotear uma dívida é fazer contas de forma fraudulenta.

-  Esconder que se a CGA deixou de receber contribuição dos funcionários públicos a partir de 2006, esse dinheiro continuou a entrar para os cofres do Estado, mas agora  para  outra entidade administrativa, a Segurança Social,   aumentando evidentemente o suposto desequilíbrio contabilístico da CGA
.

-  Esconder que a reforma feita em 2006, integrada no reestruturação do sector público permitiu ao Estado fazer enormes poupanças resultantes da diminuição dos funcionários que ao serem reformados passaram a deixar de constar de outras entidades administrativas e passaram a constar da folha de pagamentos da CGA. No seu computo geral o Estado beneficiou com essa reforma, aliás na altura elogiada nacional e internacionalmente, mas usando o truque de considerar para este efeito  a CGA como um fundo fechado, o resultado é assim apresentado como  prejudicial para o Estado e não benéfico como foi unanimemente considerado por gente dos mais variados quadrantes políticos.


Faça-se um paralelo com o que se passa num banco. O cliente deposita  as suas poupanças num depósito a prazo. O banco entretanto aplica esse dinheiro, e pode legalmente  emprestar ou aplicar  muito mais do que o montante dos depósitos efectuados. Se qualquer banco adoptasse esta lógica fraudulenta  do governo, bastava contabilisticamente fazer o mesmo: criava uma conta chamada “depósitos a prazo e aplicações e empréstimos” da qual retirava as aplicações e empréstimos feitos. Essa conta seria astronomicamente deficitária e seria então exibida ao cliente que viesse levantar as suas economias. Diria então o banqueiro: “como vê a situação é muito má, e tem muita sorte se lhe der 90% do que depositou e isto sem quaisquer juros. Quer que sejam os outros clientes a pagar um problema da sua conta?”.


Ora este truque contabilístico em que o Estado começa por perdoar a si mesmo a dívida que fazia parte do contrato assumido com os funcionários públicos foi há muito desmontado pelo economista da CGTP Eugénio Rosa:

“Só no período 1993-2003 se o Estado tivesse pago à CGA 23,75% das remunerações, a CGA com o excedente obtido, rentabilizado à taxa de 4%, teria agora uma reserva de 12.623 milhões €“

Ver http://www.eugeniorosa.com/Sites/eugeniorosa.com/Documentos/2012/9-2013-Sustentabilidade-Seg-Social-C.pdf


Enquanto o Secretario de Estado  Helder Rosalino fala de 4,4 mil milhões negativos Eugénio Rosa fala de mais de 12 mil milhões positivos!


A mistificação é demasiado grosseira e parte como se disse de manobrar as contas considerando quando convêm  que o fundo é aberto e que portanto as dívidas anteriores do Estado não  podem ser contabilizadas, e  depois que é um fundo fechado  que tem um enorme deficit .

Duas classificações contraditórias, um pequeno truque contabilístico e aquilo que seria um fundo  com dotação idênticas ao da Segurança Social –mais de 12 mil milhões positivos – passa a ser um calvário que terá de ser pago por todos os portugueses, nomeadamente pelos mais novos.


O passo seguinte, se este governo não for travado é fazer qualquer outra manobra com os fundos da Segurança Social, que para já foram usados em grande parte para comprar dívida do Estado.


 Mistificar,  dividir os portugueses e avançar para o seu empobrecimento galopante é a conclusão que podemos tirar do debate no programa Expresso da Meia Noite na SIC Noticias de 13/9/2013.


José Cavalheiro



P.S. –  Já depois deste texto estar escrito verifiquei que Eugénio Rosa apresenta uma resposta técnica ás manipulações que ontem ouvimos do membro do governo no programa referido. Ver:

 http://www.eugeniorosa.com/Sites/eugeniorosa.com/Documentos/2013/42-2013-Manipulacao-expresso-noite.pdf
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Incognitus

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #18 em: 2013-11-09 22:44:24 »
Então não há dinheiro é de fazer o quê? Carregar mais nos que ganham menos fora do Estado para manter essas reformas? O Estado "fazer os descontos" = alguém pagar para existir esse dinheiro.

Luísa, em que é que é de carregar?
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hermes

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Re:Redistribuição de rendimento
« Responder #19 em: 2013-11-09 23:02:55 »
Dir-se-ía que é a eugenia rosa: é necessário sacrificar o ecossistema para que dentro do estado não haja falta de caviar à mesa, nem que para isso se tenha de matar todos os esturjões, bem como imolar a descendência de Abraão.
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