Bem, eu em relação à eutanásia ate vou muito para lá da maioria das pessoas. Entendo que qualquer um deve ter o direito de morrer, em qualquer altura, embora deva haver, obviamente, um período de reflexão diferente (não é a mesma coisa alguém que tem uma perspectiva de vida de 2 meses do que outro que nesse dia se levantou aborrecido com a vida).
Não acho isso, porque há pessoas que estão muito bem de saúde, mas querem morrer, porque simplesmente sentem-se velhas, ou o marido ou esposa já morreram e querem morrer também, ou porque têm uma depressão, mesmo sendo novas... etc
Na minha opinião, a eutanásia a ser aplicada, só de deveria ser aplicada em casos de pessoas acamadas para toda a vida ou com grande grau de deficiência física.
Mas o foco não deverá estar ai, mas sim em melhorar-se a saúde das pessoas.
Vi o filme Mel (Miele) que aborda o tema da eutanásia e gostei do filme.
Retive a ideia de que todas as pessoas querem viver, mas por algum motivo não se sentem bem com a vida que têm, ou não chamam vida aquilo que têm.
O filme MIELE ("mel" em italiano) traz uma abordagem absolutamente inusitada (e bem feita) de um tema polêmico, como a eutanásia (morte consentida, e sem dor). Selecionado no Festival de Cannes em 2013. E com toda a razão.
No filme, esse "anjo da morte" é Irene (a atriz JASMINE TRINCA, impagável), uma jovem italiana que é meio masculinizada e - contraditoriamente - extremamente charmosa como mulher. Irene (que usa o pseudônimo de "Mel" perante os seus "clientes") é uma espécie de "matadora de aluguel", com uma condição: ela é paga pela pessoa (ou pelos parentes), que encomenda a sua própria morte e está consciente (o "assassinado") do que está fazendo.
Irene faz o serviço completo. Vai de tempos em tempos da Itália ao México e lá compra (clandestinamente, como se fosse para seu cachorro) um remédio que naquele País é liberado para eutanásia de cães. De volta à Itália Mel tem um "intermediário" que a aproxima dos clientes: um médico que também leva algum dinheiro para ajudar a clientes terminais a acabarem - consciente e voluntariamente - com a própria vida. Ela fica com o "cliente"; ministra-lhe o remédio e espera que ele morra em paz.
No meio disso Irene é uma moça que vive com o pai (a mãe morreu, também de doença terminal), com quem tem uma relação boa e bem próxima. Aquela relação que todo pai deseja ter com a sua única filha; de amor incondicional e de amizade.
Porém, Irene é uma moça inteligente. Sensível. E o mundo sempre tratou muito mal aos sensíveis e inteligentes. Com isso, leva uma vida entre o dilema de AJUDAR (essa é a intenção dela) as pessoas a MORREREM EM PAZ e o fato de estar fazendo algo que é ilegal, e quem sabe moralmente inaceitável, mesmo que essas pessoas peçam (e até paguem) para morrer.
No meio disso conhece um "velho" engenheiro (nem é tanto assim, mas para os jovens sempre somos "velhos"), feito pelo ator CARLO CECCHI. Ele se chama Carlo (como o ator que o interpreta) e quer morrer. Viveu tudo o que pensa que lhe cabia viver. É inteligente, culto, com humor. Amou, sofreu, transou, comeu, viajou pelo mundo. Foi feliz, infeliz. Agora só DESEJA morrer. Só que Irene não sabe disso, pois ela pensa que Carlo está doente como os demais. E ele quer morrer sozinho, sem a ajuda dela. Ela dá a ele o remédio e as instruções. E então descobre, pela boca de Carlo, que ele tem "uma saúde de ferro". Simplesmente quer morrer.
É como na música Piano Bar dos Engenheiros do Hawaii, velha canção que me vem à lembrança: "O que você me pede eu não posso fazer/Assim você me perde e eu perco você/Como um barco perde o rumo/Como uma árvore no outono perde a cor" (http://www.youtube.com/watch?v=2d2IMtZYawc).
Todo o resto do filme gira em torno da aproximação de Irene com Carlo, na tentativa de demovê-lo dessa morte imprevista, que ela não aceita e não quer permitir. Na tentativa de pegar o remédio de volta.
E no envolvimento (puramente afetivo, de amizade) que é gerado entre eles.
E no quanto isso interfere na vida de Irene. Dela com o pai; com o "intermediário" (o médico) e com o homem casado com quem ela mantém um caso.
Um filme bacana, com interpretações muito boas.