Por achar que a previsão do fim das criptomoedas anunciada por Nouriel Roubini tem sido pouco discutida, escrevi isto lá por casa.
As criptomoedas terão os dias contados?por
raposotavaresbolsaemercados.wordpress.com/2019/01/10/as-criptomoedas-terao-os-dias-contados/Janeiro 10, 2019
Pessoalmente sempre achámos que os franceses tiveram toda a razão ao dizer e escrever con (imbecil) de forma semelhante ao termo inglês para moeda (coin). Lembramo-nos muitas vezes, aliás, das coins que à socapa surripiávamos lá de casa para enfiar nos flippers do café do vizinho. Enfiávamo-las, cá está!, numa ranhura emoldurada por um dístico que dizia 'insert coin'. Ou seja: 'insere [a chapita] ó imbecil'. Isto em tradução de corrida e praia.
Assim, por muito que os defensores das criptomoedas dessem relevo a características como a durabilidade, como a portabilidade, como a divisibilidade ou como a uniformidade destas moedas e por aí dessem crédito à consequente boa aceitação que estas moedas deveriam ter. Sempre nos pareceu duvidosa a realidade de estas moedas terem uma oferta verdadeiramente ilimitada e sempre nos pareceu impossível a sua aceitação verdadeiramente universal. Isto, para lá da espectacular razão já evocada no primeiro parágrafo deste post...
A avaliar pela hecatombe que atingiu as suas cotações nos diferentes mercados, parece que não foi só aqui por casa que se pensou assim.
Também não se pode culpar o Maduro pelo descrédito criptofiduciário mundial a que assistimos. Apesar da 'petrocriptogrupe' lançada por este artista há muitos meses atrás, a bitcoin, para não referir outras moedas destas, resistiu e a sua cotação manteve-se relativamente estável. O mesmo ocorreu com a sua congéneres...
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Por que é que as moedas digitais dos bancos centrais vão destruir as criptomoedas?
19 de novembro de 2018
NOURIEL ROUBINI
NEW YORK – Os banqueiros centrais começaram a discutir a ideia de moedas digitais emitidas pelos bancos centrais (CBDC por sua sigla em Inglês). Mesmo no Fundo Monetário Internacional, muitos, para além da própria diretora, Christine Lagarde, estão abertamente falando sobre pontos a favor e contra desta ideia.
Esta discussão já se impunha há muito tempo. O dinheiro é usado cada vez menos e praticamente desapareceu em países como a Suécia e a China. Ao mesmo tempo, sistemas de pagamento digital – PayPal, Venmo, Alipay, WeChat na China; M-Pesa no Quénia; Paytm na Índia… oferecem alternativas atraentes para serviços que somente os bancos comerciais tradicionais ofereciam.
A maioria dessas inovações tecnológicas para oferecer serviços financeiros ainda está conectada a bancos tradicionais, e nenhum deles é baseado em criptomoedas ou no blockchain. Da mesma forma, se os CBDCs forem emitidos, eles não terão nada a ver com essas tecnologias de blockchain tão promovidas atualmente.
De qualquer forma, os sonhadores fãs das criptomonedas considerarão que os decisores políticos precisarão da blockchain ou das criptomonedas para entrar no jogo de moedas digitais . Isso é um absurdo. Em qualquer caso, os CBDCs provavelmente substituiriam todos os sistemas de pagamentos digitais privados, independentemente de estarem conectados a contas bancárias tradicionais ou a criptomoedas.
Hoje, apenas os bancos comerciais têm acesso aos balanços dos bancos centrais; e as reservas dos bancos centrais já funcionam como moedas digitais. É por essa razão que os bancos centrais são tão eficientes e rentáveis quando se trata de intermediar pagamentos interbancários e realizar transações. Como indivíduos, corporações e instituições financeiras não bancárias não têm o mesmo acesso, eles devem depender de bancos comerciais autorizados para processar as suas transações. Também os depósitos bancários são uma forma de dinheiro privado que é usado para transações entre agentes não bancários privados. Como resultado, nem mesmo os sistemas totalmente digitais, como o Alipay ou o Venmo, podem operar fora do sistema bancário.
Ao permitir que qualquer indivíduo faça transações através do banco central, os CBDCs terminariam este acordo, aliviando a necessidade de dinheiro, contas bancárias tradicionais e até serviços de pagamento digital. Melhor ainda, os CBDCs não devem confiar em registos públicos distribuídos “sem permissão” e “sem confiança” como aqueles que sustentam as criptomoedas. Afinal, os bancos centrais já possuem um registo não distribuído privado, permitido e centralizado, o que possibilita que os pagamentos e as transações sejam feitos com segurança e sem problemas. Nenhum banqueiro central em sã consciência mudaria aquele sistema sólido para um baseado em blockchain.
Se um CBDC fizesse uma emissão digital, ele substituía imediatamente as criptomoedas, que não são escaláveis, económicas, seguras ou realmente descentralizadas. Os entusiastas dirão que as criptomoedas ainda seriam atraentes para aquelas pessoas que gostariam de permanecer anónimas. Mas, assim como os depósitos bancários hoje, as transações com os CBDCs também poderiam ser anónimas: somente as autoridades judiciais ou reguladoras poderiam ter acesso, quando necessário, às informações disponíveis sobre os proprietários das contas, como já é o caso. Além disso, as criptomoedas como a Bitcoin não são realmente anónimas, uma vez que os indivíduos e as organizações que usam a criptografia- ainda deixam uma impressão digital.
Enquanto os CBDCs deslocarem as cryptomoedas sem valor, eles são bem-vindos. Além disso, ao transferir pagamentos de bancos privados para bancos centrais, um sistema baseado no CBDC favoreceria a inclusão financeira. Milhões de pessoas sem banco teriam acesso a um sistema de pagamento eficiente e quase gratuito através de seus telefones celulares.
O principal problema com os CBDCs é que eles alterariam o atual sistema de reservas fracionárias através do qual os bancos comerciais geram dinheiro emprestando mais do que têm em ativos líquidos. Os bancos precisam de depósitos para conceder empréstimos e tomar decisões de investimento. Se todos os depósitos em bancos privados fossem convertidos em CBDC, os bancos tradicionais teriam de se tornar “intermediários de fundos emprestáveis”, emprestando recursos de longo prazo para financiar empréstimos de curto prazo, como hipotecas.
Por outras palavras, o sistema bancário de reservas fracionárias seria substituído por um sistema bancário estreito administrado principalmente pelo banco central. Isso representaria uma revolução financeira – o que traria muitos benefícios. Os bancos centrais estariam numa posição muito melhor para controlar as bolhas de crédito, restringir as corridas bancárias, prevenir as assimetrias de maturidade e regular as decisões arriscadas de crédito/empréstimo dos bancos privados.
Até agora, nenhum país decidiu seguir esse caminho, talvez porque isso levaria a uma desintermediação radical do setor bancário privado. Uma alternativa seria os bancos centrais emprestarem de volta aos bancos privados os depósitos que se tornaram CBDCs. Mas se o governo fosse o único depositante e credor dos bancos, o risco de interferência do Estado em suas decisões de empréstimo seria óbvio.
Lagarde, por sua vez, defendeu uma terceira solução: parcerias público-privadas entre bancos centrais e bancos privados. “Os indivíduos poderiam ter depósitos regulares em empresas financeiras, mas as transações seriam feitas em moeda digital entre as empresas”, explicou recentemente no Festival Fintech em Cingapura. “Muito parecido com o que acontece hoje, mas em uma fração de segundo.” A vantagem deste acordo é que os pagamentos “seriam imediatos, seguros, econômicos e potencialmente semi-anônimos”. Além disso, “os bancos centrais manteriam uma posição segura nos pagamentos”.
É um acordo inteligente, mas alguns puristas argumentarão que isso não resolveria os problemas do atual sistema bancário de reservas fracionárias. Ainda haveria o risco de corridas bancárias, assimetrias de vencimentos e bolhas de crédito alimentadas pelo dinheiro gerado pelos bancos privados. E ainda haveria necessidade de seguro de depósito e suporte de última instância, o que cria, em si, um risco moral. Essas questões teriam que ser tratadas por meio de regulamentação e supervisão bancária, e isso não seria necessariamente suficiente para evitar futuras crises bancárias.
No devido tempo, os bancos estreitos baseados em intermediários CBDC e fundos emprestáveis poderiam garantir um sistema financeiro melhor e mais estável. Se as alternativas são um sistema de reservas fracionadas propensas a crises e a cripto-distopia, então devemos permanecer abertos à idéia.
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