Diferenças entre edições de "Os Dez Princípios da Economia, por Mankiw, Traduzido para Principiantes"

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| <center>Este artigo é uma tradução na íntegra do texto [http://smallparty.org/yoram/humor/mankiw.pdf "Mankiw’s Ten Principles of Economics, Translated for the Uninitiated"] de [http://www.standupeconomist.com/ Yoram Bauman] (yoram@smallparty.org), revisto a 12 de Junho de 2002. A tradução e publicação no Think Finance foi gentilmente autorizada pelo autor. Todos os direitos do autor inerentes à obra mantêm-se absolutamente inalterados no Think Finance. Todos os direitos desta tradução para a língua portuguesa são reservados pelo autor, pelo tradutor e pelo Think Finance.</center>
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| <center>Este artigo é uma tradução (revista a 24 de Novembro de 2009) do texto [http://smallparty.org/yoram/humor/mankiw.pdf «Mankiw’s Ten Principles of Economics, Translated for the Uninitiated»] de [http://www.standupeconomist.com/ Yoram Bauman] (yoram@smallparty.org), revisto a 12 de Junho de 2002. A tradução e publicação no Think Finance foi gentilmente autorizada pelo autor. Todos os direitos do autor inerentes à obra mantêm-se absolutamente inalterados no Think Finance. Todos os direitos desta tradução para a língua portuguesa são reservados pelo autor, pelo tradutor e pelo Think Finance.</center>
 
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<div style="text-align:right">por Yoram Bauman<ref>Os seus comentários&mdash;humorísticos ou de outra natureza&mdash;são bem-vindos, acerca deste ou do meu próprio texto de microeconomia, ''Microeconomia Quântica'', ''(Quantum Microeconomics)'', que pode ser encontrado na internet em [http://www.smallparty.org/yoram/quantum/ www.smallparty.org/yoram/quantum]</ref> (revisto a 12 de Junho de 2002)</div>
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<div style="text-align:right">por Yoram Bauman<ref>Os seus comentários &mdash; humorísticos ou de outra natureza &mdash; são bem-vindos, acerca deste ou do meu próprio texto de microeconomia, ''Microeconomia Quântica'', ''(Quantum Microeconomics)'', que pode ser encontrado na internet em [http://www.smallparty.org/yoram/quantum/ www.smallparty.org/yoram/quantum]</ref> (revisto a 12 de Junho de 2002)</div>
  
  
A pedra angular do manual de introdução à economia ''Princípios de Economia'' ''([http://www.amazon.com/Principles-Economics-Student-Gregory-Mankiw/dp/0324224729/ref=pd_bbs_1?ie=UTF8&s=books&qid=1226184647&sr=8-1 Principles of Economics])'', por [http://www.amazon.com/exec/obidos/search-handle-url/ref=ntt_athr_dp_sr_1?%5Fencoding=UTF8&search-type=ss&index=books&field-author=N.%20Gregory%20Mankiw N. Gregory Mankiw], professor de Harvard, é uma síntetização do pensamento económico em Dez Princípios de Economia (ver tabela abaixo). Um exame rápido provavelmente confirma ao leitor as suspeitas de que sintetizar o pensamento económico em Dez Princípios não é tarefa fácil e pode mesmo levá-lo a suspeitar que a subtileza e concisão exigidas não se encontram na pena de N. Gregory Mankiw.
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A pedra angular do manual de introdução à economia ''Princípios de Economia'' ''([http://www.amazon.com/Principles-Economics-Student-Gregory-Mankiw/dp/0324224729/ref=pd_bbs_1?ie=UTF8&s=books&qid=1226184647&sr=8-1 Principles of Economics])'', por [http://gregmankiw.blogspot.com/ N. Gregory Mankiw], professor de Harvard, é uma sintetização do pensamento económico em Dez Princípios de Economia (ver tabela abaixo). Um exame rápido desta obra, vai provavelmente confirmar ao leitor quaisquer suspeitas de que sintetizar o pensamento económico em Dez Princípios não é tarefa fácil, podendo mesmo levá-lo a suspeitar que a subtileza e concisão exigidas não se encontram na pena de N. Gregory Mankiw.
  
Encarreguei-me de remediar esta infeliz situação. A segunda tabela abaixo sumariza a minha tentativa de traduzir os Dez Princípios de Mankiw para português simples e, ao fazê-lo, dar ao principiante uma preciosa entrevisão da mente económica em acção. Explicações e detalhes encontram-se nas páginas seguintes mas o leitor médio é aconselhado a cortar simplesmente a tabela abaixo e trazê-la consigo para o caso (de ora em diante improvável) de se ver confuso com os Princípios de Economia básicos.
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Encarreguei-me eu de remediar esta infeliz situação. A segunda tabela abaixo sumariza a minha tentativa de traduzir os Dez Princípios de Mankiw para português simples e de, ao fazê-lo, dar ao principiante uma preciosa entrevisão da mente económica em acção. Explicações e detalhes encontram-se nas páginas seguintes, mas o leitor médio é aconselhado a cortar simplesmente a tabela abaixo e trazê-la consigo para o caso (de ora em diante improvável) de se ver confuso com os Princípios de Economia básicos.
  
 
<center>'''Os Princípios de Mankiw'''</center>
 
<center>'''Os Princípios de Mankiw'''</center>
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| #4
 
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| As pessoas não são assim ''tão'' estúpidas
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| As pessoas não são ''assim tão'' estúpidas
 
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| #5
 
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| Os governos não são assim ''tão'' estúpidos
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| Os governos não são ''assim tão'' estúpidos
 
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| #8
 
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==Explicações e Detalhes==
 
==Explicações e Detalhes==
À primeira vista, o leitor não pode deixar de ficar impressionado pela simplicidade e clareza da tradução. Mas não se confunda acessibilidade com superficialidade: a análise continuada revela profundezas e subtilezas escondidas que vão premiar ricamente o estudante atento. Um pouco de reflexão permite-nos identificar um grande número de mistérios e enigmas. Primordial entre eles, é provavelmente este: Porque é que os princípios #8, #9 e #10 têm traduções ''idênticas''?
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À primeira vista, o leitor não pode deixar de ficar impressionado pela simplicidade e clareza da tradução. Mas não se confunda aqui acessibilidade com superficialidade: uma análise continuada revelará profundezas e subtilezas escondidas que premiarão ricamente o estudante atento. Alguma reflexão permite-nos identificar um grande número de mistérios e enigmas. Primordial entre todos eles, será provavelmente este: Porque é que os princípios #8, #9 e #10 têm traduções ''idênticas''?
  
A explicação óbvia e mais imediata é que aqueles são princípios macroeconómicos e que eu, como microeconomista, não estou equipado para compreendê-los, muito menos para traduzi-los.<ref>O leitor pode sentir-se perdido acerca do significado preciso dos termos "micro" e "macro"&mdash;ou, sendo mais preciso, pode nunca tê-los achado. Isto não deve ser causa de preocupação: a ausência destes termos nos Dez Princípios de Mankiw indica que não têm uma importância económica fundamental.</ref> Como acontece frequentemente neste mundo complexo em que vivemos, esta explicação óbvia e mais imediata também é incorrecta. A verdadeira razão porque atribuí as traduções idênticas "Blá, blá, blá" aos Princípios #8, #9 e #10 é que estes princípios dizem precisamente o mesmo, nomeadamente "Blá, blá, blá". Um dia em que tenha umas horas para matar, vá perguntar a um economista&mdash;de preferência, um macroeconomista&mdash;o que é que ele quer realmente dizer com os termos "padrões de vida" ou "bens e serviços" ou "inflação" ou "desemprego" ou "curto prazo" ou até "demasiado". Rapidamente percebe que há uma enorme diferença entre, digamos, aquilo que o Princípio #10 ''diz''&mdash; "A sociedade defronta-se com um compromisso de curto prazo entre a inflação e o desemprego"&mdash;e aquilo que o Princípio #10 ''significa''&mdash;"A sociedade defronta-se com um blá de blá entre a blá e o blá". As minhas traduções são simplesmente representações concisas destes significados subjacentes.
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A explicação óbvia e mais imediata é que aqueles são princípios macroeconómicos e que eu, como microeconomista, não estou equipado para compreendê-los, muito menos para traduzi-los.<ref>O leitor poderá estar perdido quanto ao significado preciso dos termos «micro» e «macro» &mdash; ou, sendo mais preciso, pode nunca os ter achado. Isto não deve ser causa de preocupação: a ausência destes termos nos Dez Princípios de Mankiw indica que não têm importância económica fundamental.</ref> Como acontece frequentemente neste mundo complexo em que vivemos, esta explicação óbvia e mais imediata também é incorrecta. A verdadeira razão porque atribuí as traduções idênticas «Blá, blá, blá» aos Princípios #8, #9 e #10, é que estes princípios dizem precisamente o mesmo, nomeadamente «Blá, blá, blá». Um dia em que tenha umas horitas para matar, vá perguntar a um economista &mdash; de preferência, um macroeconomista &mdash; o que é que ele quer realmente dizer com os termos «padrões de vida» ou «bens e serviços» ou «inflação» ou «desemprego» ou «curto prazo» ou até «demasiado». Rapidamente percebe que há uma enorme diferença entre, digamos, aquilo que o Princípio #10 ''diz'' &mdash; «A sociedade defronta-se com um compromisso de curto prazo entre a inflação e o desemprego» &mdash; e aquilo que o Princípio #10 ''significa'' &mdash; «A sociedade defronta-se com um blá de blá entre a blá e o blá». As minhas traduções são simplesmente representações concisas destes significados subjacentes.
  
 
Tendo clarificado este ponto, voltemos ao
 
Tendo clarificado este ponto, voltemos ao
  
 
===Princípio #1: As pessoas defrontam-se com compromissos<br />Tradução: As escolhas são más===
 
===Princípio #1: As pessoas defrontam-se com compromissos<br />Tradução: As escolhas são más===
O raciocínio subjacente à tradução é óbvio. Imagine, por exemplo, que alguém o aborda e lhe dá a escolher entre um chocolate Snickers e alguns M&Ms. Tem aqui um compromisso, o que quer dizer que tem de escolher entre um e outro. E ter de escolher entre uma coisa e outra é mau. Diz-se que o Presidente Truman pediu um conselheiro económico com um só lado, porque os seus conselheiros económicos com dois passavam a vida a dizer, "Por um lado... mas por outro lado...".
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O raciocínio subjacente à tradução é óbvio. Imagine, por exemplo, que alguém o aborda e lhe dá a escolher entre uma barra de chocolate Snickers e alguns M&Ms. Tem aqui um compromisso, o que quer dizer que tem de escolher entre um e outro. E ter de escolher entre uma coisa e outra é mau. Diz-se que o Presidente Truman pediu um conselheiro económico com um só lado, porque os seus conselheiros económicos com dois passavam a vida a dizer, «Por um lado... mas por outro lado...».
  
Aqueles que não receberam educação em economia podem ser tentados a considerar as escolhas boas. ''Não o são''. A ideia (errada) de que as escolhas são boas deve resultar da ideia (igualmente errada) de que a falta de escolhas é má. Isto é simplesmente falso, como revela [http://homepage2.nifty.com/juniwada/olson/olson.html Mancur Olson] no livro ''A Lógica da Acção Colectiva'', ''(The Logic of Collective Action)'': "Dizer-se que uma situação está 'perdida' ou que não há esperança, é de certa forma equivalente a dizer-se que é perfeita, pois em ambos os casos qualquer esforço para melhorá-la não se traduz em resultados positivos".
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Aqueles que não receberam educação em economia podem ser tentados a considerar as escolhas boas. ''Não o são''. A ideia (errada) de que as escolhas são boas deve resultar da ideia (igualmente errada) de que a falta de escolhas é má. Isto é simplesmente falso, como revela [http://homepage2.nifty.com/juniwada/olson/olson.html Mancur Olson] no livro ''A Lógica da Acção Colectiva'', ''(The Logic of Collective Action)'': «Dizer-se que uma situação está 'perdida' ou que não há esperança, é de certa forma equivalente a dizer-se que é perfeita, pois em ambos os casos qualquer esforço para melhorá-la não se traduz em resultados positivos».
  
Resulta daqui a minha tradução do primeiro princípio de Mankiw: As escolhas são más. Este conceito pode ser de difícil alcançe&mdash;nunca ninguém disse que a economia era fácil&mdash;mas o leitor em dificuldades pode ficar mais esclarecido com o
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Resulta daqui a minha tradução do primeiro princípio de Mankiw: As escolhas são más. Este conceito pode ser de difícil alcance &mdash; nunca ninguém disse que a economia era fácil &mdash; mas o leitor em dificuldades poderá ficar mais esclarecido com o
  
 
===Princípio #2: O custo de uma coisa é aquilo de que abdicamos para obtê-la<br />Tradução: As escolhas são ''mesmo'' más===
 
===Princípio #2: O custo de uma coisa é aquilo de que abdicamos para obtê-la<br />Tradução: As escolhas são ''mesmo'' más===
 
Para além de transformar a armadilha semântica de Mankiw na simplicidade em si mesma, esta tradução tem a vantagem de estabelecer uma ligação entre o Princípio #1 (As escolhas são más) e o Princípio #2 (As escolas são ''mesmo'' más).
 
Para além de transformar a armadilha semântica de Mankiw na simplicidade em si mesma, esta tradução tem a vantagem de estabelecer uma ligação entre o Princípio #1 (As escolhas são más) e o Princípio #2 (As escolas são ''mesmo'' más).
  
Continuando a aprofundar o entendimento do leitor sobre o facto das escolhas serem más&mdash;''mesmo'' más&mdash; voltemos ao exemplo anterior, onde lhe dão a escolher entre um chocolate Snickers e alguns M&Ms. Suponhamos, à laia de argumentação, que escolhe os M&Ms. Segundo Mankiw, o ''custo'' dos M&Ms é o chocolate Snickers de que abdicou para ter os M&Ms. O seu ganho nesta situação&mdash;aquilo que os economistas chamam "lucro económico"&mdash;é portanto a diferença entre o valor que ganha ao receber os M&Ms (digamos, €.75) e o valor que perde ao abdicar do chocolate Snickers (digamos, €.40). Por outras palavras, o seu lucro económico é de apenas €.35. Embora avalie os M&Ms a €.75, tendo a possibilidade de escolher o chocolate Snickers ''reduz'' o seu ganho em €.40. Em consequência, temos o Princípio #2: As escolhas são ''mesmo'' más.
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Continuando a aprofundar o entendimento do leitor sobre o facto das escolhas serem más &mdash; ''mesmo'' más &mdash; voltemos ao exemplo anterior, onde lhe dão a escolher entre uma barra de chocolate Snickers e alguns M&Ms. Suponhamos, à laia de argumentação, que escolhe os M&Ms. Segundo Mankiw, o ''custo'' dos M&Ms é o chocolate Snickers de que abdicou para ter os M&Ms. O seu ganho nesta situação &mdash; aquilo a que os economistas chamam o «lucro económico» &mdash; é, portanto, a diferença entre o valor que ganha ao receber os M&Ms (digamos, €.75) e o valor que perde ao abdicar do chocolate Snickers (digamos, €.40). Por outras palavras, o seu lucro económico é de apenas €.35. Embora avalie os M&Ms a €.75, ao ter a possibilidade de escolher o chocolate Snickers ''reduz'' o seu ganho em €.40. Em consequência, temos o Princípio #2: As escolhas são ''mesmo'' más.
  
De facto, quanto mais escolhas tiver, pior estará. A pior situação de todas seria que alguém o abordasse e lhe desse a escolher entre dois pacotes ''idênticos'' de M&Ms. Porque escolher um pacote (que avalia em €.75) significa abdicar do outro (que também avalia em €.75), o seu lucro económico é precisamente zero! ''Portanto ser-lhe oferecida a possibilidade de escolha entre dois pacotes idênticos de M&Ms é na verdade equivalente a ser-lhe oferecido nada.''
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De facto, quanto mais escolhas tiver, pior estará. A pior situação de todas seria que alguém o abordasse e lhe desse a escolher entre dois pacotes ''idênticos'' de M&Ms. Porque escolher um pacote (que avalia em €.75) significa abdicar do outro (que também avalia em €.75), o seu lucro económico é precisamente zero! ''Portanto, ser-lhe dada a possibilidade de escolha entre dois pacotes idênticos de M&Ms, é na verdade equivalente a não lhe ser dado nada.''
  
Ora, pode-se desculpar um leigo por julgar que ser-lhe oferecida a possibilidade de escolha entre dois pacotes ''idênticos'' de M&Ms é, na verdade, equivalente a ser-lhe oferecido um ''único'' pacote de M&Ms. Mas os economistas não acreditam nisso. Ser-nos oferecido um único pacote de M&Ms significa, efectivamente, termos de escolher entre um pacote de M&Ms (que avaliamos em €.75) e nada (que avaliamos em €0). Escolher os M&Ms resulta num lucro económico de €.75, que é €.75 mais do que quando nos é oferecida uma escolha entre dois pacotes idênticos de M&Ms.
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Ora, pode-se desculpar um leigo por julgar que ser-lhe dada a possibilidade de escolha entre dois pacotes ''idênticos'' de M&Ms é, na verdade, equivalente a ser-lhe oferecido ''um único'' pacote de M&Ms. Mas os economistas não acreditam nisso. Ser-nos oferecido um único pacote de M&Ms significa, efectivamente, escolher entre um pacote de M&Ms (que avaliamos em €.75) e nada (que avaliamos em €0). Escolher os M&Ms resulta num lucro económico de €.75, o que é €.75 mais do que quando nos é dada a escolha entre dois pacotes idênticos de M&Ms.
  
Chegados a este ponto vale a pena reconhecer que (1) há leitores que não compreenderam na sua totalidade as subtilezas supra, e (2) esses leitores podem muito bem ter começado a pensar se não serão, numa palavra, estúpidos. Quaisquer dúvidas que subsistam deverão ser eliminadas pelo  
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Chegados a este ponto vale a pena reconhecer que (1) há leitores que não compreenderam na totalidade as subtilezas supra, e (2) esses leitores poderão muito bem ter começado a pensar se não serão, numa palavra, estúpidos. Quaisquer dúvidas que subsistam deverão ser eliminadas pelo  
  
 
===Princípio #3: As pessoas racionais pensam marginalmente<br />Tradução: As pessoas são estúpidas===
 
===Princípio #3: As pessoas racionais pensam marginalmente<br />Tradução: As pessoas são estúpidas===
Um ponto que é imediatamente óbvio, mesmo para o observador mais casual de inteligência mediana, é que a maioria das pessoas ''não'' pensam marginalmente. Por exemplo, a maioria das pessoas que compram laranjas na mercearia pensam assim: "Hum, laranjas a €.25 cada. Acho que vou comprar meia dúzia." Elas ''não'' pensam assim: "Hum, laranjas a €.25 cada. Vou comprar uma porque o meu valor marginal excede o preço de mercado. Agora vou comprar uma segunda, porque o meu valor marginal ainda excede o preço de mercado..." Nós ''sabemos'' que a maioria das pessoas não pensa assim, porque a maioria das pessoas não enche o cesto das compras laranja a laranja!
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Um ponto que é imediatamente óbvio, mesmo para o observador mais casual de inteligência mediana, é que a maioria das pessoas ''não'' pensa marginalmente. Por exemplo, a maioria das pessoas que compram laranjas na mercearia pensa assim: «Hum, laranjas a €.25 cada. Acho que vou comprar meia dúzia.» ''Não'' pensa assim: «Hum, laranjas a €.25 cada. Vou comprar uma porque o meu valor marginal excede o preço de mercado. Agora vou comprar uma segunda, porque o meu valor marginal ainda excede o preço de mercado...» Nós ''sabemos'' que a maioria das pessoas não pensa assim, porque a maioria das pessoas não enche o cesto das compras laranja a laranja!
  
Mas agora somos inexoravelmente conduzidos a uma conclusão deveras infeliz. Se&mdash;como afirma Mankiw&mdash; as pessoas racionais pensam marginalmente e se&mdash;como todos sabemos&mdash;a maioria das pessoas não pensam marginalmente, então a maioria das pessoas não é racional. A maioria das pessoas, por outras palavras, é estúpida. Em consequência, temos a minha tradução do terceiro princípio da economia: As pessoas são estúpidas.
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Mas agora somos inexoravelmente conduzidos a uma conclusão deveras infeliz. Se &mdash; como afirma Mankiw &mdash; as pessoas racionais pensam marginalmente e se &mdash; como todos sabemos &mdash; a maioria das pessoas não pensa marginalmente, então a maioria das pessoas não é racional. A maioria das pessoas, por outras palavras, é estúpida. Em consequência, temos a minha tradução do terceiro princípio da economia: As pessoas são estúpidas.
  
Antes de cair em desespero pelo destino da raça humana, no entanto, seria sensato que o leitor considerasse o
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Antes de cair no desespero pelo destino da raça humana, no entanto, sensato seria que o leitor considerasse o
  
===Princípio #4: As pessoas respondem aos incentivos<br />Tradução: As pessoas não são assim ''tão'' estúpidas===
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===Princípio #4: As pessoas respondem aos incentivos<br />Tradução: As pessoas não são ''assim tão'' estúpidas===
 
O dicionário diz que um incentivo, ''s.m.'', é 1. aquilo que leva à acção; estímulo; encorajamento. SIN. ver ''motivo''.
 
O dicionário diz que um incentivo, ''s.m.'', é 1. aquilo que leva à acção; estímulo; encorajamento. SIN. ver ''motivo''.
  
Então aquilo que Mankiw aqui diz é que as pessoas são motivadas pelos motivos, ou que as pessoas são levadas à acção por coisas que levam à acção. Agora, isto pode parecer um pouco como dizer que as tautologias são tautológicas&mdash;o leitor poderá estar a pensar que as pessoas teriam de ser ''bastante estúpidas'' para serem desmotivadas pelos motivos, ou inactivas em resposta a algo que as leve à acção. Mas lembre-se do Princípio #3: As pessoas ''são'' estúpidas. Em consequência, temos a necessidade do Princípio #4, para clarificar que as pessoas não são assim ''tão'' estúpidas.
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Então aquilo que Mankiw aqui diz é que as pessoas são motivadas pelos motivos, ou que as pessoas são levadas à acção por coisas que levam à acção. Ora, isto pode parecer um pouco como dizer-se que as tautologias são tautológicas &mdash; o leitor poderá estar a pensar que as pessoas teriam de ser ''bastante estúpidas'' para serem desmotivadas pelos motivos, ou ficarem inactivas em resposta a algo que as leve à acção. Mas lembre-se do Princípio #3: As pessoas ''são'' estúpidas. Em consequência, temos a necessidade do Princípio #4, para clarificar que as pessoas não são ''assim tão'' estúpidas.
  
 
Só as pessoas verdadeiramente estúpidas poderiam não compreender a minha tradução do
 
Só as pessoas verdadeiramente estúpidas poderiam não compreender a minha tradução do
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Mas, poderá estar o leitor a perguntar-se, a tradução do quinto princípio não é o exacto oposto do próprio princípio? ''Claro que não.''
 
Mas, poderá estar o leitor a perguntar-se, a tradução do quinto princípio não é o exacto oposto do próprio princípio? ''Claro que não.''
  
Para ver porquê, note primeiro que "o comércio pode ser benéfico para todos" é patentemente obviamente: se eu tenho um chocolate Snickers e quero M&Ms e tu tens M&Ms e queres um chocolate Snickers, podemos trocá-los e seremos ambos beneficiados. Certamente Mankiw refere-se a algo mais profundo do que isto? De facto, eu acredito que sim. Para ver a quê, compare as seguintes frases:
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Para ver porquê, note primeiro que «o comércio pode ser benéfico para todos» é patentemente e obviamente isto: se eu tenho um chocolate Snickers e quero M&Ms e tu tens M&Ms e queres um chocolate Snickers, podemos trocá-los e saímos ambos beneficiados. Mankiw refere-se com certeza a algo mais profundo do que isto? De facto, eu acredito que sim. Para ver a quê, compare as seguintes frases:
  
 
:A:  O comércio ''pode'' ser benéfico para todos
 
:A:  O comércio ''pode'' ser benéfico para todos
 
:B: O comércio ''vai'' ser benéfico para todos
 
:B: O comércio ''vai'' ser benéfico para todos
  
Aqui, a Afirmação B é claramente superior à Afirmação A. Por que, então, é que Mankiw usa a Afirmação A? Só pode ser ''porque a Afirmação B é falsa''. Ao afirmar que o comércio ''pode'' ser benéfico para todos, Mankiw tenta transmitir uma das subtilezas da economia: o comércio também pode ''não'' ser benéfico para todos. Um pequeno salto leva-nos daqui até à minha tradução, "O comércio pode ser prejudicial para todos" (Pode encontrar um exemplo numérico nesta nota de rodapé<ref>Considere uma pequena cidade com três famílias. Acontece que a Família #1 precisa de um aspirador, a Família #2 precisa de um compressor e a Família #3 precisa de um soprador; cada família avalia a sua necessidade em €200. A sorte parece ter batido à porta desta cidade, porque acontece que a Família #1 tem um compressor, a Família #2 tem um soprador e a Família #3 tem um aspirador. Estes estão parados nas respectivas garagens; nenhuma família tem uso para a sua máquina e portanto avalia-a em €0.
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Aqui, a Afirmação B é claramente superior à Afirmação A. Por que, então, é que Mankiw usa a Afirmação A? Só pode ser ''porque a Afirmação B é falsa''. Ao afirmar que o comércio ''pode'' ser benéfico para todos, Mankiw tenta transmitir uma das subtilezas da economia: o comércio também pode ''não'' ser benéfico para todos. Um pequeno passo leva-nos daqui até à minha tradução, «O comércio pode ser prejudicial para todos» (encontra uma demonstração matemática nesta nota de rodapé<ref>Considere uma pequena cidade com três famílias. Acontece que a Família #1 precisa de um aspirador, a Família #2 precisa de um compressor e a Família #3 precisa de um soprador; cada família avalia a sua necessidade em €200. A sorte parece ter batido à porta desta cidade, porque acontece que a Família #1 tem um compressor, a Família #2 tem um soprador e a Família #3 tem um aspirador. Estes estão parados nas respectivas garagens; nenhuma família tem uso para a sua máquina e, portanto, avalia-a em €0.
 
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Temos uma situação pronta a beneficiar do comércio: a Família #1 podia comprar um aspirador à Família #3 por €100, a Família #2 podia comprar um compressor à Família #1 por €100 e a Família #3 podia comprar um soprador à Família #2 por €100. Cada família teria um benefício de €200.
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Temos uma situação pronta para beneficiar do comércio: a Família #1 podia comprar um aspirador à Família #3 por €100, a Família #2 podia comprar um compressor à Família #1 por €100 e a Família #3 podia comprar um soprador à Família #2 por €100. Cada família teria um benefício de €200.
 
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Infelizmente a vida nesta pequena cidade não é assim tão simples; a cidade está localizada num vale sujeito a severos problemas de poluição do ar. Aspiradores e sopradores emitem grandes quantidades de poluentes do ar e, na verdade, cada aspirador ou soprador que seja usado agravará a poluição de tal forma que as contas do hospital (asma, etc.) aumentarão em €80 para cada família. ''Três'' aspiradores e sopradores adicionais aumentarão a conta de cada família em €240.
 
Infelizmente a vida nesta pequena cidade não é assim tão simples; a cidade está localizada num vale sujeito a severos problemas de poluição do ar. Aspiradores e sopradores emitem grandes quantidades de poluentes do ar e, na verdade, cada aspirador ou soprador que seja usado agravará a poluição de tal forma que as contas do hospital (asma, etc.) aumentarão em €80 para cada família. ''Três'' aspiradores e sopradores adicionais aumentarão a conta de cada família em €240.
  
Dois resultados advêm. Primeiro, as trocas mesmo assim ocorrerão. Por exemplo, a Família #1 e a Família #3 ambas beneficiarão em €100&nbsp;- &nbsp;€80&nbsp;= &nbsp;€20 se a Família #3 vender à Família #1 o seu aspirador por €100. Segundo, juntas, as três trocas prejudicam todos: cada família ganha €200 da compra e venda, mas perde €240 em contas hospitalares, para uma perda líquida de €40.</ref>).
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Dois resultados advêm. Primeiro, as trocas mesmo assim ocorrerão. Por exemplo, a Família #1 e a Família #3 ambas beneficiarão em €100&nbsp;- &nbsp;€80&nbsp;= &nbsp;€20 se a Família #3 vender à Família #1 o seu aspirador por €100. Segundo, juntas, as três trocas prejudicam todos: cada família ganha €200 na compra e venda, mas perde €240 em contas hospitalares, para uma perda líquida de €40.</ref>).
  
 
A subtileza evidenciada pelo Princípio #5 pode ver-se mais claramente ainda nos dois princípios seguintes.
 
A subtileza evidenciada pelo Princípio #5 pode ver-se mais claramente ainda nos dois princípios seguintes.
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===Princípio #6: Os mercados são normalmente uma boa forma de organizar a actividade económica<br />Tradução: Os governos são estúpidos===
 
===Princípio #6: Os mercados são normalmente uma boa forma de organizar a actividade económica<br />Tradução: Os governos são estúpidos===
  
===Princípio #7: Os governos podem por vezes melhorar os resultados dos mercados<br />Tradução: Os governos não são assim ''tão'' estúpidos===
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===Princípio #7: Os governos podem por vezes melhorar os resultados dos mercados<br />Tradução: Os governos não são ''assim tão'' estúpidos===
Para ver o papel fulcral que o Princípio #5 tem nestas duas afirmações, note que a formulação original do Princípio #5 ("O comércio pode ser benéfico para todos") nos conduz ao Princípio #6 ("Os governos são estúpidos"). Afinal de contas, se o comércio pode ser benéfico para todos, para que é que precisamos do governo? Mas a tradução do Princípio #5 ("O comércio pode ser prejudicial para todos") conduz-nos ao Princípio #7 ("Os governos não são assim ''tão'' estúpidos"). Porque afinal, se o comércio pode ser prejudicial a todos, é melhor termos ali um governo que impeça as pessoas de comerciarem!
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Para ver o papel fulcral que o Princípio #5 tem nestas duas afirmações, note que a formulação original do Princípio #5 («O comércio pode ser benéfico para todos») nos conduz ao Princípio #6 («Os governos são estúpidos»). Afinal de contas, se o comércio pode ser benéfico para todos, para que é que precisamos do governo? Mas a tradução do Princípio #5 («O comércio pode ser prejudicial para todos») conduz-nos ao Princípio #7 («Os governos não são ''assim tão'' estúpidos»). Porque, afinal, se o comércio pode ser prejudicial a todos, é melhor termos ali um governo que impeça as pessoas de comerciarem!
  
Tal como os primeiros cinco princípios, os Princípios #6 e #7 demonstram as finas distinções inerentes ao modo económico de pensamento. As pessoas são estúpidas, mas não assim ''tão'' estúpidas; o comércio pode ser benéfico a todos, mas também pode ser prejudicial a todos; os governos são estúpidos, mas não assim ''tão'' estúpidos. Explorar, definir e delinear estas distinções é o tema das classes avançadas de economia, das dissertações doutorais em economia e da vasta maioria dos ''papers'' na [http://www.aeaweb.org/aer/ ''American Economic Review''] e outros jornais académicos. Se o leitor decidir seguir este percurso, os princípios fundamentais descritos na primeira página deste artigo serão um guia imprescindível.
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Tal como os primeiros cinco princípios, os Princípios #6 e #7 demonstram as finas distinções inerentes ao modo económico do pensamento. As pessoas são estúpidas, mas não ''assim tão'' estúpidas; o comércio pode ser benéfico para todos, mas também pode ser prejudicial a todos; os governos são estúpidos, mas não ''assim tão'' estúpidos. Explorar, definir e delinear estas distinções é o tema das aulas avançadas de economia, das dissertações doutorais em economia e da vasta maioria dos ''papers'' na [http://www.aeaweb.org/aer/ ''American Economic Review''] e noutros jornais académicos. Se o leitor decidir seguir este percurso, os princípios fundamentais descritos na primeira página deste artigo serão um guia imprescindível.
  
 
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==Links externos==
 
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* [http://www.standupeconomist.com/ Bauman, Yoram] (2002) [[Media:mankiw.pdf|"Mankiw’s Ten Principles of Economics, Translated for the Uninitiated"]]. Arquivado a partir do [http://smallparty.org/yoram/humor/mankiw.pdf original] a 8 Nov 2008. Base da tradução.
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* [http://www.standupeconomist.com/ Bauman, Yoram] (2002) [[Media:mankiw.pdf|«Mankiw’s Ten Principles of Economics, Translated for the Uninitiated»]]. Arquivado a partir do [http://smallparty.org/yoram/humor/mankiw.pdf original] a 8 Nov 2008. Base da tradução.
 
* [http://improbable.com/airchives/paperair/volume9/v9i2/mankiw.html Annals of Improbable Research]. Publicação original do texto em 2003.
 
* [http://improbable.com/airchives/paperair/volume9/v9i2/mankiw.html Annals of Improbable Research]. Publicação original do texto em 2003.
* [http://www.youtube.com/watch?v=VVp8UGjECt4 AAAS humour section 16 Fev 2007]. O autor e o artigo ao vivo no YouTube.
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* [http://www.youtube.com/watch?v=VVp8UGjECt4 AAAS humour section 16 Fev 2007]. O autor e o artigo ao vivo no YouTube:
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Edição atual desde as 12h23min de 20 de abril de 2010

<metadesc content="A pedra angular do manual de introdução à economia Princípios de Economia (Principles of Economics), por N. Gregory Mankiw, professor de Harvard, é uma síntetização do pensamento económico em Dez Princípios de Economia." /> <keywords content="Gregory Mankiw, Yoram Bauman, Principles of Economics, Quantum Microeconomics, Princípios de Economia" />

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Este artigo é uma tradução (revista a 24 de Novembro de 2009) do texto «Mankiw’s Ten Principles of Economics, Translated for the Uninitiated» de Yoram Bauman (yoram@smallparty.org), revisto a 12 de Junho de 2002. A tradução e publicação no Think Finance foi gentilmente autorizada pelo autor. Todos os direitos do autor inerentes à obra mantêm-se absolutamente inalterados no Think Finance. Todos os direitos desta tradução para a língua portuguesa são reservados pelo autor, pelo tradutor e pelo Think Finance.



Os Dez Princípios da Economia, por Mankiw, Traduzido para Principiantes


por Yoram Bauman<ref>Os seus comentários — humorísticos ou de outra natureza — são bem-vindos, acerca deste ou do meu próprio texto de microeconomia, Microeconomia Quântica, (Quantum Microeconomics), que pode ser encontrado na internet em www.smallparty.org/yoram/quantum</ref> (revisto a 12 de Junho de 2002)


A pedra angular do manual de introdução à economia Princípios de Economia (Principles of Economics), por N. Gregory Mankiw, professor de Harvard, é uma sintetização do pensamento económico em Dez Princípios de Economia (ver tabela abaixo). Um exame rápido desta obra, vai provavelmente confirmar ao leitor quaisquer suspeitas de que sintetizar o pensamento económico em Dez Princípios não é tarefa fácil, podendo mesmo levá-lo a suspeitar que a subtileza e concisão exigidas não se encontram na pena de N. Gregory Mankiw.

Encarreguei-me eu de remediar esta infeliz situação. A segunda tabela abaixo sumariza a minha tentativa de traduzir os Dez Princípios de Mankiw para português simples e de, ao fazê-lo, dar ao principiante uma preciosa entrevisão da mente económica em acção. Explicações e detalhes encontram-se nas páginas seguintes, mas o leitor médio é aconselhado a cortar simplesmente a tabela abaixo e trazê-la consigo para o caso (de ora em diante improvável) de se ver confuso com os Princípios de Economia básicos.

Os Princípios de Mankiw
#1 As pessoas defrontam-se com compromissos
#2 O custo de uma coisa é aquilo de que abdicamos para obtê-la
#3 As pessoas racionais pensam marginalmente
#4 As pessoas respondem aos incentivos
#5 O comércio pode ser benéfico para todos
#6 Os mercados são normalmente uma boa forma de organizar a actividade económica
#7 Os governos podem por vezes melhorar os resultados dos mercados
#8 Os padrões de vida de um país dependem da sua capacidade de produzir bens e serviços
#9 Os preços aumentam quando o governo imprime demasiado dinheiro
#10 A sociedade defronta-se com um compromisso de curto prazo entre a inflação e o desemprego


As Traduções de Yoram
#1 As escolhas são más
#2 As escolhas são mesmo más
#3 As pessoas são estúpidas
#4 As pessoas não são assim tão estúpidas
#5 O comércio pode ser prejudicial para todos
#6 Os governos são estúpidos
#7 Os governos não são assim tão estúpidos
#8 Blá, blá, blá
#9 Blá, blá, blá
#10 Blá, blá, blá


Explicações e Detalhes

À primeira vista, o leitor não pode deixar de ficar impressionado pela simplicidade e clareza da tradução. Mas não se confunda aqui acessibilidade com superficialidade: uma análise continuada revelará profundezas e subtilezas escondidas que premiarão ricamente o estudante atento. Alguma reflexão permite-nos identificar um grande número de mistérios e enigmas. Primordial entre todos eles, será provavelmente este: Porque é que os princípios #8, #9 e #10 têm traduções idênticas?

A explicação óbvia e mais imediata é que aqueles são princípios macroeconómicos e que eu, como microeconomista, não estou equipado para compreendê-los, muito menos para traduzi-los.<ref>O leitor poderá estar perdido quanto ao significado preciso dos termos «micro» e «macro» — ou, sendo mais preciso, pode nunca os ter achado. Isto não deve ser causa de preocupação: a ausência destes termos nos Dez Princípios de Mankiw indica que não têm importância económica fundamental.</ref> Como acontece frequentemente neste mundo complexo em que vivemos, esta explicação óbvia e mais imediata também é incorrecta. A verdadeira razão porque atribuí as traduções idênticas «Blá, blá, blá» aos Princípios #8, #9 e #10, é que estes princípios dizem precisamente o mesmo, nomeadamente «Blá, blá, blá». Um dia em que tenha umas horitas para matar, vá perguntar a um economista — de preferência, um macroeconomista — o que é que ele quer realmente dizer com os termos «padrões de vida» ou «bens e serviços» ou «inflação» ou «desemprego» ou «curto prazo» ou até «demasiado». Rapidamente percebe que há uma enorme diferença entre, digamos, aquilo que o Princípio #10 diz — «A sociedade defronta-se com um compromisso de curto prazo entre a inflação e o desemprego» — e aquilo que o Princípio #10 significa — «A sociedade defronta-se com um blá de blá entre a blá e o blá». As minhas traduções são simplesmente representações concisas destes significados subjacentes.

Tendo clarificado este ponto, voltemos ao

Princípio #1: As pessoas defrontam-se com compromissos
Tradução: As escolhas são más

O raciocínio subjacente à tradução é óbvio. Imagine, por exemplo, que alguém o aborda e lhe dá a escolher entre uma barra de chocolate Snickers e alguns M&Ms. Tem aqui um compromisso, o que quer dizer que tem de escolher entre um e outro. E ter de escolher entre uma coisa e outra é mau. Diz-se que o Presidente Truman pediu um conselheiro económico com um só lado, porque os seus conselheiros económicos com dois passavam a vida a dizer, «Por um lado... mas por outro lado...».

Aqueles que não receberam educação em economia podem ser tentados a considerar as escolhas boas. Não o são. A ideia (errada) de que as escolhas são boas deve resultar da ideia (igualmente errada) de que a falta de escolhas é má. Isto é simplesmente falso, como revela Mancur Olson no livro A Lógica da Acção Colectiva, (The Logic of Collective Action): «Dizer-se que uma situação está 'perdida' ou que não há esperança, é de certa forma equivalente a dizer-se que é perfeita, pois em ambos os casos qualquer esforço para melhorá-la não se traduz em resultados positivos».

Resulta daqui a minha tradução do primeiro princípio de Mankiw: As escolhas são más. Este conceito pode ser de difícil alcance — nunca ninguém disse que a economia era fácil — mas o leitor em dificuldades poderá ficar mais esclarecido com o

Princípio #2: O custo de uma coisa é aquilo de que abdicamos para obtê-la
Tradução: As escolhas são mesmo más

Para além de transformar a armadilha semântica de Mankiw na simplicidade em si mesma, esta tradução tem a vantagem de estabelecer uma ligação entre o Princípio #1 (As escolhas são más) e o Princípio #2 (As escolas são mesmo más).

Continuando a aprofundar o entendimento do leitor sobre o facto das escolhas serem más — mesmo más — voltemos ao exemplo anterior, onde lhe dão a escolher entre uma barra de chocolate Snickers e alguns M&Ms. Suponhamos, à laia de argumentação, que escolhe os M&Ms. Segundo Mankiw, o custo dos M&Ms é o chocolate Snickers de que abdicou para ter os M&Ms. O seu ganho nesta situação — aquilo a que os economistas chamam o «lucro económico» — é, portanto, a diferença entre o valor que ganha ao receber os M&Ms (digamos, €.75) e o valor que perde ao abdicar do chocolate Snickers (digamos, €.40). Por outras palavras, o seu lucro económico é de apenas €.35. Embora avalie os M&Ms a €.75, ao ter a possibilidade de escolher o chocolate Snickers reduz o seu ganho em €.40. Em consequência, temos o Princípio #2: As escolhas são mesmo más.

De facto, quanto mais escolhas tiver, pior estará. A pior situação de todas seria que alguém o abordasse e lhe desse a escolher entre dois pacotes idênticos de M&Ms. Porque escolher um pacote (que avalia em €.75) significa abdicar do outro (que também avalia em €.75), o seu lucro económico é precisamente zero! Portanto, ser-lhe dada a possibilidade de escolha entre dois pacotes idênticos de M&Ms, é na verdade equivalente a não lhe ser dado nada.

Ora, pode-se desculpar um leigo por julgar que ser-lhe dada a possibilidade de escolha entre dois pacotes idênticos de M&Ms é, na verdade, equivalente a ser-lhe oferecido um único pacote de M&Ms. Mas os economistas não acreditam nisso. Ser-nos oferecido um único pacote de M&Ms significa, efectivamente, escolher entre um pacote de M&Ms (que avaliamos em €.75) e nada (que avaliamos em €0). Escolher os M&Ms resulta num lucro económico de €.75, o que é €.75 mais do que quando nos é dada a escolha entre dois pacotes idênticos de M&Ms.

Chegados a este ponto vale a pena reconhecer que (1) há leitores que não compreenderam na totalidade as subtilezas supra, e (2) esses leitores poderão muito bem ter começado a pensar se não serão, numa palavra, estúpidos. Quaisquer dúvidas que subsistam deverão ser eliminadas pelo

Princípio #3: As pessoas racionais pensam marginalmente
Tradução: As pessoas são estúpidas

Um ponto que é imediatamente óbvio, mesmo para o observador mais casual de inteligência mediana, é que a maioria das pessoas não pensa marginalmente. Por exemplo, a maioria das pessoas que compram laranjas na mercearia pensa assim: «Hum, laranjas a €.25 cada. Acho que vou comprar meia dúzia.» Não pensa assim: «Hum, laranjas a €.25 cada. Vou comprar uma porque o meu valor marginal excede o preço de mercado. Agora vou comprar uma segunda, porque o meu valor marginal ainda excede o preço de mercado...» Nós sabemos que a maioria das pessoas não pensa assim, porque a maioria das pessoas não enche o cesto das compras laranja a laranja!

Mas agora somos inexoravelmente conduzidos a uma conclusão deveras infeliz. Se — como afirma Mankiw — as pessoas racionais pensam marginalmente e se — como todos sabemos — a maioria das pessoas não pensa marginalmente, então a maioria das pessoas não é racional. A maioria das pessoas, por outras palavras, é estúpida. Em consequência, temos a minha tradução do terceiro princípio da economia: As pessoas são estúpidas.

Antes de cair no desespero pelo destino da raça humana, no entanto, sensato seria que o leitor considerasse o

Princípio #4: As pessoas respondem aos incentivos
Tradução: As pessoas não são assim tão estúpidas

O dicionário diz que um incentivo, s.m., é 1. aquilo que leva à acção; estímulo; encorajamento. SIN. ver motivo.

Então aquilo que Mankiw aqui diz é que as pessoas são motivadas pelos motivos, ou que as pessoas são levadas à acção por coisas que levam à acção. Ora, isto pode parecer um pouco como dizer-se que as tautologias são tautológicas — o leitor poderá estar a pensar que as pessoas teriam de ser bastante estúpidas para serem desmotivadas pelos motivos, ou ficarem inactivas em resposta a algo que as leve à acção. Mas lembre-se do Princípio #3: As pessoas são estúpidas. Em consequência, temos a necessidade do Princípio #4, para clarificar que as pessoas não são assim tão estúpidas.

Só as pessoas verdadeiramente estúpidas poderiam não compreender a minha tradução do

Princípio #5: O comércio pode ser benéfico para todos
Tradução: O comércio pode ser prejudicial para todos

Mas, poderá estar o leitor a perguntar-se, a tradução do quinto princípio não é o exacto oposto do próprio princípio? Claro que não.

Para ver porquê, note primeiro que «o comércio pode ser benéfico para todos» é patentemente e obviamente isto: se eu tenho um chocolate Snickers e quero M&Ms e tu tens M&Ms e queres um chocolate Snickers, podemos trocá-los e saímos ambos beneficiados. Mankiw refere-se com certeza a algo mais profundo do que isto? De facto, eu acredito que sim. Para ver a quê, compare as seguintes frases:

A: O comércio pode ser benéfico para todos
B: O comércio vai ser benéfico para todos

Aqui, a Afirmação B é claramente superior à Afirmação A. Por que, então, é que Mankiw usa a Afirmação A? Só pode ser porque a Afirmação B é falsa. Ao afirmar que o comércio pode ser benéfico para todos, Mankiw tenta transmitir uma das subtilezas da economia: o comércio também pode não ser benéfico para todos. Um pequeno passo leva-nos daqui até à minha tradução, «O comércio pode ser prejudicial para todos» (encontra uma demonstração matemática nesta nota de rodapé<ref>Considere uma pequena cidade com três famílias. Acontece que a Família #1 precisa de um aspirador, a Família #2 precisa de um compressor e a Família #3 precisa de um soprador; cada família avalia a sua necessidade em €200. A sorte parece ter batido à porta desta cidade, porque acontece que a Família #1 tem um compressor, a Família #2 tem um soprador e a Família #3 tem um aspirador. Estes estão parados nas respectivas garagens; nenhuma família tem uso para a sua máquina e, portanto, avalia-a em €0.
Temos uma situação pronta para beneficiar do comércio: a Família #1 podia comprar um aspirador à Família #3 por €100, a Família #2 podia comprar um compressor à Família #1 por €100 e a Família #3 podia comprar um soprador à Família #2 por €100. Cada família teria um benefício de €200.
Infelizmente a vida nesta pequena cidade não é assim tão simples; a cidade está localizada num vale sujeito a severos problemas de poluição do ar. Aspiradores e sopradores emitem grandes quantidades de poluentes do ar e, na verdade, cada aspirador ou soprador que seja usado agravará a poluição de tal forma que as contas do hospital (asma, etc.) aumentarão em €80 para cada família. Três aspiradores e sopradores adicionais aumentarão a conta de cada família em €240.

Dois resultados advêm. Primeiro, as trocas mesmo assim ocorrerão. Por exemplo, a Família #1 e a Família #3 ambas beneficiarão em €100 -  €80 =  €20 se a Família #3 vender à Família #1 o seu aspirador por €100. Segundo, juntas, as três trocas prejudicam todos: cada família ganha €200 na compra e venda, mas perde €240 em contas hospitalares, para uma perda líquida de €40.</ref>).

A subtileza evidenciada pelo Princípio #5 pode ver-se mais claramente ainda nos dois princípios seguintes.

Princípio #6: Os mercados são normalmente uma boa forma de organizar a actividade económica
Tradução: Os governos são estúpidos

Princípio #7: Os governos podem por vezes melhorar os resultados dos mercados
Tradução: Os governos não são assim tão estúpidos

Para ver o papel fulcral que o Princípio #5 tem nestas duas afirmações, note que a formulação original do Princípio #5 («O comércio pode ser benéfico para todos») nos conduz ao Princípio #6 («Os governos são estúpidos»). Afinal de contas, se o comércio pode ser benéfico para todos, para que é que precisamos do governo? Mas a tradução do Princípio #5 («O comércio pode ser prejudicial para todos») conduz-nos ao Princípio #7 («Os governos não são assim tão estúpidos»). Porque, afinal, se o comércio pode ser prejudicial a todos, é melhor termos ali um governo que impeça as pessoas de comerciarem!

Tal como os primeiros cinco princípios, os Princípios #6 e #7 demonstram as finas distinções inerentes ao modo económico do pensamento. As pessoas são estúpidas, mas não assim tão estúpidas; o comércio pode ser benéfico para todos, mas também pode ser prejudicial a todos; os governos são estúpidos, mas não assim tão estúpidos. Explorar, definir e delinear estas distinções é o tema das aulas avançadas de economia, das dissertações doutorais em economia e da vasta maioria dos papers na American Economic Review e noutros jornais académicos. Se o leitor decidir seguir este percurso, os princípios fundamentais descritos na primeira página deste artigo serão um guia imprescindível.

Notas

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Links externos

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