Dia 365.
Termina o ano comum.
Termina o ano como
um outro qualquer. Amei
cada um dos dias que
gastei. E gostei de os
gastar. De os gostar.
E degustei as horas, as
semanas, os meses. Fui
sábio umas vezes, outras,
impaciente. Pedi-te:
dá-me a tua canção,
canta-a com teus olhos,
os olhos do coração
irmãos da terra, irmãos
da sombra, da cal,
do sisal e do azul. Mal
me bastam as mil razões
do mel para sorrir e
para bater à porta de
cada página, procurando
no reverso, os versos da
ternura. Afago a pele
dos dias, a carne aflita
da distância. Quem
é que quer dar outro nome
às coisas que sempre
se chamaram assim,
e que assim se cantam
porque, agora, os dias
serão prova exaustiva
de coragem?
JOAQUIM PESSOA, in ANO COMUM (Litexa, 2011; Edições Esgotadas, 2013)