Concordo que se defendemos uma ideia, devemos por a mesma em prática. No caso da empregada (porque está na discussão, não por qualquer crítica directa ao Tote) se achamos que é um caso de injustiça social, acho que devemos intervir.
Se eu acho que 4 euros à hora é pouco, posso tentar pagar 4,50 € ou 5€.
Se eu acho que as cadeias de distribuição comem os agricultores, posso tentar comprar directamente à fonte, posso comprar pequenos artigos em lojas locais para tentar minar aqueles que critico, mesmo que isso saia do meu bolso.
Agora há que fazer uma distinção.
Uma pessoa que pague por exemplo 5 ou 10% acima da tabela já está a ajudar. Não podemos pensar que só quem dá quase tudo o que têm (como já vi aqui referido) é que está em posição de discutir os assuntos e questionar o status quo. Até porque a pessoa pode querer "redistribuir" em vários locais (à empregada, no cabeleireiro, no mercadinho local, ao agricultor, etc, etc) e pode querer doar directamente a instituições, e como o dinheiro não é elástico, não pode alocar uma fatia enorme para um só "alvo".
E há outra questão negligenciada. Uma pessoa com rendimento líquido de 850 euros (por exemplo) não pode redistribuir muito. Não há folga para isso, há que poupar para eventualidades no futuro, há filhos para criar, familiares mais velhos para apoiar, etc, etc. Essa pessoa tem uma capacidade completamente diferente de poder ajudar o próximo do que alguém com um rendimento de 5 mil ou 8 mil.
O que ganha 850 pode ajudar pouco (mas deve ajudar dentro do que achar razoável). Mas só porque tem uma pequena contribuição em termos absolutos já não pode discutir os assuntos? A sua posição já não tem validade?
O indivíduo em questão por sua iniciativa própria apenas pode ter um pequeno impacto, mas como agente de mudança na sociedade pode ter um impacto muito maior.
PS: E há aqui outra questão. A pessoa pode até ajudar bastante e não querer vir para o fórum publicitar essa mesma ajuda, pode não querer assumir isso de forma pública e manter esses auxílios numa forma "low profile"
concordo com o que afirmas mas
a hipotética acção individual não descarta a acção colectiva
e dentro da acção colectiva a compulsória
lamento mas só com acções tipo banco da fome e outros não se chega lá
muitas pessoas ajudam voluntariamente mas muitas outras não
basta ver certas posições contrárias ao obama care
o homem é um animal contraditório
tem em si tanto os genes do egoismo como os da solidariedade
é egoista por querer sobreviver e é solidário porque também precisa dos outros para sobreviver
mas duvido muito da redistribuição sem a quota-parte compulsória (impostos), infelizmente
por outro lado o Estado não é uma entidade sem rosto
está cheio de macaquinhos que padecem dos mesmos problemas e defeitos do homo sapiens
e se não houver mecanismos eficientes de controlo e as coisas derraparem, como em Portugal, o Estado pode chegar ao extremo de subverter completamente a sua função original
em suma, nenhum sistema sobrevive, quando as coisas correm para esse lado, aos desmandos desse grande ranhoso que é o homo sapiens
a criatura mais fascinante e horrível do planeta