Já devia estar calejado, mas acabo por ficar sempre surpreendido. Surpreendido com o PS e surpreendido com os bem-pensantes do país.
Nesta discussão sobre as obras de Miró parte-se logo de um equívoco: a de que não existe custo se ficarmos com os quadros, pois eles já são nossos. Não é verdade. Há um custo de cerca de 35 milhões de euros. Se os quadros não forem vendidos, será o Orçamento de Estado a ter de meter esses 35 milhões no imenso buraco do BPN – uma realidade que a deputada Inês de Medeiros insiste em negar com a sua imensa arrogância e ignorância. É uma gota de água nesse imenso buraco? É. Mas não deixam de ser mais 35 milhões suportados pelos contribuintes.
Estando este ponto assente, importa saber se comprar uma colecção de quadros de Miró tem prioridade sobre outros gastos do Estado, se tem prioridade sobre outros gastos da Cultura e se tem prioridade sobre a aquisição de outras obras e colecções para os museus nacionais.
Qualquer pessoa sensata só pode responder negativamente a qualquer destas perguntas. Nenhum governante com os pés assentes na terra preferiria aplicar 35 milhões em pinturas de Miró quando isso implica retirar 35 milhões a outros destinos. E nenhum titular da Cultura com um mínimo de sensibilidade decidiria gastar 35 milhões nestas pinturas e não noutras inúmeras obras e colecções realmente relevantes para o património e memória nacionais. Aquela colecção de Miró nunca seria a primeira escolha.
É esta realidade que devia entrar pelos olhos dentro. O resto é poeira para os olhos.
Uma das ilusões que também regressou com este debate é a de que este “investimento” geraria muitas receitas futuras. É preciso ter uma enorme lata. Olhe-se para a Colecção Berardo que continua sem cobrar bilhete aos que a visitam. Olhe-se para o destino de Foz Côa. Olhe-se para os números dos museus nacionais onde existem colecções mais relevantes e muito mais interessantes. Só o voluntarismo cínico e demagógico dos que gostam de chamar aos outros “estúpidos institucionais” é que pode propagar esta ilusão.
Uma ilusão, como sempre, paga com o dinheiro dos outros. Se acham mesmo que o investimento é bom, dirijam-se a um banco, arranjem os 35 milhões, exponham depois os quadros num museu cobrando bilhete e fiquem ricos. Ou, o que é mais provável, fiquem endividados para sempre. Mas não queiram sobrecarregar ainda mais os contribuintes portugueses.
JMF
http://blasfemias.net/2014/02/05/ja-nao-tenho-paciencia-para-os-miros/
O homem deve andar um bocado para o confuso.
Não sou contabilista mas imagino que os quadros devem entrar no balanço de alguma empresa do estado (CGD?), ou sociedade liquidatária do BPN.
Sendo assim a unica coisa que se ganha com a venda é a diferença entre o valor contabilistico que tem no balanço e o valor de venda. Se estão avaliados a 0, é evidente que estão mal avaliados.
A única coisa que conta é no caso de necessidade de liquidez, sbaer qual o custo adicional que resulta da não venda dos quadros (em 35milhoes não creio que ultrapasse os 5 milhoes).
De qq forma ninguem respondeu á pergunta, se no caso pessoal vendia ou não os quadros.
Consideremos a sefuinte situação. Allguém tem um quadro (Miró ou outro) avaliado em 500.000Eur, mas acredita que até pode render mais em leilão e além disso tendo em conta que o pintor já morreu á umas décadas e que portanto já não estamos numa de moda breve a tendência será de valorização com o envelhecimento da obra. Se esse alguém precisar de 400.000 Eur para fazer face a uma urgencia financeira, que lhe aconselhavam: vender o quadro pelos 500.000 (ou eventualmente mais), ou contrair um emprestimo dando com garantia o quadro. O custo do emprestimos pela urgencia seria mais de 400.000Eur (admitamos 450.000).