Ora, meus caros este é o caminho da desgraça, já inúmeras vezes aplicado pelo FMI na América do Sul, África, Europa de Leste, Rússia, tendo mesmo em um número não reduzido de casos (p. ex.: México, Rússia, Argentina, Equador) conduzido a perdas totais por parte dos credores, tendo também ajudado, e de que maneira, à perda de influência política do bloco Ocidental no mundo. Tal recente situação levou ao recurso a intervenções militares, na fútil tentativa de iludir a perda de influência, mais a mais porque não raras vezes se perde depois por via diplomática muito mais do que o que se ganhou pela postura confrontacional.
Porém, mesmo assim, talvez por impedimentos à percepção ou cegueira cognitiva, insiste-se em aplicar a receita falhada. Um viciado no jogo não mostraria mais discernimento.
Isto é, hoje, em Portugal, causa primordial do descrédito geral da ciência económica junto da população portuguesa, educada ou não. Digo mais que esse descrédito, sendo em parte fundado pelos comportamentos dogmáticos de alguns, é também injusto para com todos os economistas sérios que, arduamente, fazem avançar o conhecimento aderindo ao respeito pela evidência empírica como forma de validar modelos teóricos. Mas quando se despreza, de forma flagrante, a evidência empírica e, em consequência disso, as previsões saem todas furadas, até um iletrado consegue discernir que uma tal "ciência" não respeita a verdade.
Não é por isso de estranhar que a opinião pública se encha cada vez mais de comentários apontando para um pretenso vício do governo: o de estar dominado por académicos e teóricos pouco em contacto com a realidade empresarial. Na verdade, está dominado por pseudo economistas que substituiram o rigor científico pelo dogma.
O que Portugal precisa é de uma liderança política capaz de explorar todas as oportunidades possíveis de reestruturação da dívida e, quando essas oportunidades se esgotarem, preparar o povo para os árduos desafios que terá então que enfrentar com a recuperação da soberania monetária, ao mesmo tempo tornando-o consciente das oportunidades e do valor imenso que essa soberania trará ao país. Os sacrifícios poderão ser grandes, mas a esperança sempre foi a mãe de grandes feitos.
É triste que não exista um único partido do nosso espectro político actual que tenha mostrado vontade, capacidade ou preparação para fazer isso mesmo.