Se isto se espalha rapidamente, ao ponto de milhares de pessoas necessitarem de cuidados médicos e maquinaria (ventiladores, etc.), parece óbvio que irá morrer muita gente, muito mais do que numa simples gripe. Os médicos vão ter muitas situações em que sabem que aquela pessoa terá elevada probabilidade de morrer, ou de ficar com sequelas graves, pela impossibilidade de lhe prestar os cuidados que precisava. Vão ter muitas decisões de decidir quem vive e quem morre.
Quanto ao espalhar rapidamente, se começa a haver muitos focos e muita gente assintomática durante muitos dias/semanas (e assintomáticos que nem sequer desenvolvem sintomas, mas são portadores), não há quarentena possível. Como é que uma pessoa pode prevenir se nem sequer sabe que tem o virus ? Até saber já infectou uma brutalidade de gente. Com muitos focos, é impossível fazer tracing a dezenas, centenas de pessoas com que essas pessoas contactaram durante o período de incubação.
Para não falar nos profissionais de saúde, que são pessoas de carne e osso, iguais a todas as outras. Lá por trabalharem em unidades de saúde não os torna imunes a isto. Tenho dúvidas que estejam todos a trabalhar de mascaras protectoras neste momento. Basta aparecer alguém a pensar que tem uma simples constipação e, com as habituais filas de espera nas urgências, já pode ter ido o administrativo, o médico, o auxiliar e sabe-se lá mais quem. E esses contagiarem os colegas, até se aperceberem que estavam a incubar. Além da escasez de equipamento e materiais, podemos também enfrentar uma escassez de profissionais de saúde. Nem para o dia a dia chegam, quanto mais para um aumento brutal no afluxo de pessoas. Ainda podemos vir a ter saudades do tempo em que havia uma maca livre para ficar, mesmo no corredor.
Não é que vamos ter um cenário apocalíptico, com mortos a amontoarem-se na rua, até porque só uma pequena minoria é que irá morrer, mas isso não dá conforto nenhum. Eu posso achar que por estar pouco abaixo dos 50 e ser, aparentemente, saudável, provavelmente consigo sobreviver, mas todos nós temos pessoas de idade, crianças, doentes crónicos, oncológicos, etc. nas nossas familias e grupos de amigos. É fácil vir a conhecer mortos em caso de pandemia. Não é caso para pânico, mas quando um morto ganha um nome, um rosto, já pouco importa se eram só 2%.
Esperemos que o tempo quente trave um pouco a propagação para se ganhar algum tempo.