A partir do momento em que uma democracia directa (para quem a quiser) e representativa (para quem quiser ser representado) é possível, obrigar a uma democracia exclusivamente representativa é basicamente um passo intermédio entre democracia e ditadura.
Mas uma democracia é um meio termo entre uma ditadura e um estado de anarquia. É suposto ter uma componente "ditatorial", de imposição normativa. Mesmo quando se trata de democracia directa, Uma democracia concede direitos a troco de obrigações, da forma a conseguir a maior eficiência e equilíbrio possível na distribuição colectiva de liberdades individuais.
Hoje em dia, seria possível quem quisesse ser representado, se-lo, e que quem não quisesse pudesse votar directamente (ainda que com um voto imensamente menos potente, versus o de um representantes de 10,000 - 30,000 - 100,000 pessoas).
Ok, mas a minha questão não é essa. A minha questão é: qual dos dois sistemas é preferível? A directa ou a representativa?
Para mim é claramente a representativa. Porque terá, hipoteticamente, especialistas a decidirem sobre cada matéria da sua competência. E é o que se passa na prática, com mais ou menos desvios.
Prefiro ter 220 especialistas hipotéticos a decidirem sobre o destino de 10M do que 10M de incompetentes, ignorantes e alheados a tomarem as mesmas decisões.
Sobre a última frase; do meu ponto de vista partes duma premissa errada pois fica implícito que esses "220" decidem apenas com um foco objectivo e analítico. O problema é que não o fazem; há interesses pessoais e partidários à mistura e isso altera completamente a forma como a legislação é escrita.
Arrisco-me a dizer que o foco principal é precisamente esse: o foco pessoal e o partidário e isso é gravíssimo pois é uma deturpação completa dum sistema supostamente benevolente e justo. Os "10M" tem que ter a perspicácia de decifrar entre os programas eleitorais - que muitas vezes são um conjunto de banalidades - como um hipotético representante irá se comportar perante a situação x, y ou z ... ou pior, como o representante irá se comportar perante uma situação nova e que nem sequer está presente no programa.
Ou seja o eleitor, para votar em consciência, até tem que ser bastante inteligente; mas depois esse mesmo eleitor não é competente o suficiente para decidir sobre um assunto concreto; havendo tempo de ponderação e debate sobre o assunto, havendo informação pública, etc.
Todos os sistemas políticos quando começam a ter concentração de poder começam a degradar-se a olhos vistos. E este tipo de sistema em o eleitor faz uma cruz e depois os representantes fazem o que querem durante 4/5 anos está claramente a falhar. Os legisladores e decisores políticos estão na sua maioria "capturados" e não há contrapeso contra este poder dentro do estado. Faz todo o sentido que a população tenha uma "arma" que possa utilizar como forma de contrapeso, como forma de limitar o excessivo poder do executivo/legislativo.
E outra coisa: uma maior participação das pessoas nas decisões num primeiro momento até poderia dar em decisões pouco racionais ou improdutivas; mas com o passar do tempo penso que faria com que a sociedade civil fosse muito mais participativa, que as pessoas debatessem os assuntos com muito mais propriedade e tentando ter mais informação. As pessoas deixariam de poder descarregar (muitas vezes infantilmente) que a culpa é do partido A ou de B ou do PM que é um fdp. A população começaria a sentir-se muito mais responsável pelo rumo das coisas.