Moppie, convém distinguir 3 coisas:
1-PRINCÍPIOS: aquilo que são ou meus princípios em termos do que deve ser o sistema de impostos (considero que apenas devem existir para aquilo que é essencial para a sociedade e não para retirar o fruto do trabalho de uns para dar a outros sem outra justificação que não as necessidades dos que recebem)
2- PREFERÊNCIAS PESSOAiS: o tipo de sociedade que eu gostava que existisse (que implicaria, além do previsto acima, também contribuições adicionais voluntárias)
3-SISTEMA POLÍTICO: o sistema político que sugeri (sistema democrático de 2 câmaras em que o orçamento seria decidido por quem contribui), pois penso que defenderia melhor os meus princípios e preferências.
SAÚDE:
-o encarniçamento terapêutica não existe só nos EUA. Em Portugal, todas as semanas se metem TAVIs (próteses valvulares aórticas por via transarterial) a octogenários e nonagenários com imensas patologias, muitos dementes. E são procedimentos bastante caros.
-quanto a vários dos procedimentos que referiste (apendicectomias, ABs e transfusão de sangue ou CE), o seu custo é relativamente baixo. Como disse, com 20% dos custos do SNS podem-se conseguir uns 80 dos benefícios. As coberturas adicionais poderiam requerer contribuição prévia (tipo seguro, público ou privado) ou pagamento. Um sistema desses corresponderia ao meu gosto pessoal e poderia ser aceite no sistema político que defendi. Não corresponde totalmente aos princípios defendidos, mas seria um avanço. Voltarei à saúde mais abaixo.
EDUCAÇÂO:
-não vejo como um gasto, mas como um investimento da sociedade. Imagina que se decidia que em Portugal ninguém estudava mais do que 4 anos. Que futuro miserável teríamos! É fácil ver que quem estuda mais pagará (em média) mais impostos no futuro e contribuirá no futuro com mais impostos. Podes dizer que não tens filhos e és velho e estás nas tintas para o futuro da sociedade. Mas penso que será melhor termos uma visão a longo prazo das coisas. De qualquer modo, também beneficiaste do investimento passado na educação. Querias viver num país sem médicos, enfermeiros, professores, engenheiros, arquitectos? Claro que não. Vê isto como um continuum.
-de qualquer modo, penso que, principalmente no ensino superior, se pode aumentar o co-pagamento a cargo dos alunos. Com um sistema de empréstimos, para não impedir ninguém capaz de frequentar o ensino superior por ser pobre. Assim, mesmo que fosse trabalhar para o estrangeiro, o nosso país recuperaria parte do investimento.
-Este seria um sistema que corresponde aos meus principios e que poderia ser aceite, quer pelo sistema político que temos, quer pelo que sugeri.
O que é justificável como importante para a sociedade?
Esta é fácil (pelo menos em teoria): aquilo que pode ser encarado como um investimento e não um gasto. Se deres uma prótese a um jovem e ele conseguir trabalhar, produzir e pagar impostos, então foi um bom investimento. Se conseguires que o rapaz da favela tenha sucesso educativo, então o retorno será provavelmente imenso (e evitas ainda o" retorno" negativo que terás se ele se tornar um delinquente). Já se gastarmos imenso em educação especial com jovens com deficiências mentais profundas provavelmente nunca recuperaremos o gasto.
Citar: "Desse ponto de vista, é cada um por si. Como justificas o pagamento de educação a quem nasceu numa favela? É que eu não ganho nada com isso, mas tu dizes que é "benéfico para a sociedade". Eu não concordo, porque é que o voto de quem ganha mais que eu há-de decidir que eu obrigatoriamente contribuo para isso? Onde é que essa decisão, melhora a minha posição e torna-me menos explorado?
Não é bem isso. Sou favorável à organização em grupos de entre-ajuda e também a sistemas de proteção social (seguros de saúde, públicos ou privados, pensões de invalidez). Apenas defendo que a adesão deve ser voluntária e que não devem ser sempre alguns a pagar e outros a receber. Tem que se aumentar a base contributiva e, depois, quem tiver um azar recebe.
Por outro lado, e tendo muitas ideias libertárias, não sou um libertário puro. Também gosto de pensar do ponto de vista da melhoria da sociedade, que possa ser benéfico para os indivíduos que a compõem. No entanto, sei bem que é fácil argumentar a favor de muitas coisas duvidosas. Por isso, além de querer que os gastos estatais sejam justificáveis como tendo um retorno positivo para a sociedade (e não aceite justificações para tirar a uns e dar a outros do género: tem que se dar a alguns porque precisam), proponho um controle adicional dos gastos por quem paga. Esses têm todo o interesse em não se deixar enganar por falsos argumentos de utilidade para a sociedade (do género, precisamos mesmo de uma 3ª auto-estrada Lisboa-Porto, ou de um Novo Aeroporto, ou de criar mais uma universidade em Freixo de Espada à Cinta) e, além disso, constituem uma sub-população, em média, mais inteligente, instruída e informada, logo menos facilmente embarretada. Resumindo, é mais provável que os gastos decididos por quem paga sejam mais moderados, mais úteis para a sociedade e, obviamente, também mais favoráveis a quem paga. É por isso que considero que, com o sistema que proponho, tens mais hipóteses de ver a tua posição melhorar e de seres menos explorado.
Citar: "Agora é adaptares isso a "a democracia do quem paga, manda só funciona até os 2/3 da população que não tem um minimo de suporte, limpe o sebo a quem "manda" por desespero"
Penso que não seria assim. O sistema que defendo daria muito mais oportunidades aos jovens pobres e menos aos idosos. Ao contrário do que temos hoje em Portugal, as crianças e os jovens não seriam as faixas etárias com maior % de pobres. Haveria mais oportunidades que é o que combate o desespero.
Citar: "A solução mais correcta andará aí pelo meio - um sistema que aliás, era algo que o Incognitus estava a tentar descrever - algo entre o quem paga manda e a democracia actual."
O sistema político proposto pelo Inc é muito semelhante ao que sugeri. Eu também considero que se devem considerar todos os impostos e não apenas o IRS.
Quanto a medidas políticas, acho que temos algumas diferenças em 2 áreas (espero não estar a interpretar mal as convicções dele):
-política de imigração: o Inc defende algum controlo e alguma selecção de imigrantes, no fundo uma posição mais economicista. Eu sou mais restritivo. Defendo que o nosso território deve ser dos nossos descendentes. Tenho uma perspectiva mais darwinista.
-sistema de saúde: ambos simpatizamos com um sistema de saúde que abranja toda a população e que tenha um razoável conjunto de coberturas.
No entanto, eu considero que isso é difícil de justificar à luz dos nossos princípios.
A alternativa, para mim, seria um mix de seguro (privado ou público) + cobertura de crianças e jovens (considerado como um investimento da sociedade). Ficariam de fora os adultos que não pudessem pagar o seguro e aqueles que preferissem arriscar a não pagar (de acordo com os nossos princípios, deveria ser voluntário). Poderiam ser cobertos por donativos, empréstimos ou por algum tipo de cobertura emergente/básica do estado (obviamente um dilema entre princípios e preferÊncias/afectos). Na prática, penso que aqui não temos grandes diferenças.