https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,e-provavel-uma-recessao-este-ano-e-que-continue-em-2021-diz-martin-wolf,70003241550Trecho da entrevista:
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#Que motivos levam o sr. a acreditar que essa crise será pior que a de 2008?
As medidas que estão sendo adotadas para controlar a epidemia vão fechar grande parte da economia. Vimos isso na China. Ninguém sabe ainda o que aconteceu lá no primeiro trimestre, mas deve haver uma contração muito grande do PIB e provavelmente no segundo trimestre também. A Europa e os Estados Unidos estão fazendo o mesmo: fechando lojas, restaurantes, entretenimento. Teremos uma interrupção massiva de oferta. Depois, trabalhadores não serão pagos, empresas ficarão sem receita e vão demitir funcionários. Muitas podem ir à falência. Tudo isso não importaria se voltássemos ao normal em dois meses. Mas não parece que isso vai acontecer. A doença será controlada enquanto ninguém está tendo contato com os outros. Quando as economias forem reabertas, é esperado que a transmissão volte. É o que está acontecendo na China. Se isso acontecer, teremos uma nova fase de fechamento da economia.
Esse processo de abrir e fechar a economia pode continuar até o ano que vem. Pode continuar até que haja uma cura, e os especialistas parecem concordar que não haverá uma cura que possa ser disponibilizada em escala antes do fim do ano que vem. Até lá, muitos negócios vão desaparecer. Esse vai ser um choque de oferta gigantesco, com consequências graves de solvência e de demanda. Então, é provável que tenhamos uma recessão neste ano e que isso prossiga em 2021. Por isso, acho razoável assumir que esse choque econômico pode ser pior que a crise financeira de 2008. Também pode ter efeitos de mais longo prazo , porque haverá uma grande interrupção de comércio e viagens. Uma consequência pode ser que a estrutura da cadeia de fornecimento e da economia global sejam transformadas permanentemente. Mas, claro, tudo isso pode ser muito pessimista e o vírus pode acabar sendo controlado no verão (do hemisfério norte). Aí, seria algo menos grave. Mas, neste momento, me parece mais provável que haja uma recessão grave.
#Em sua última coluna, o sr. escreveu que precisaremos de líderes fortes e inteligentes para lidar com essa crise. As principais lideranças globais são capacitadas para isso?
O problema é que, ao contrário da crise financeira, as principais economias do mundo hoje são incapazes de colaborar umas com as outras. Trump é um ignorante nacionalista que não entende como lidar com esse tipo de problema. Essa questão está completamente além dele intelectualmente. Por sorte, tem uma ou duas pessoas competentes no seu governo. O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) é eficiente e o Congresso americano está fazendo alguma coisa. Os europeus estão desmoronando. Muitos países europeus estão respondendo de modo nacionalista, sem solidariedade. O Japão está lidando bem. Isso porque já teve a experiência com a Sars antes. Mas, se olharmos para a Europa e para os EUA, é assustador. Na crise financeira (de 2008), tínhamos o G-20 trabalhando junto de modo eficiente. Eles produziram um plano comum que funcionou bem para o setor financeiro e em termos de política fiscal.
A recuperação pode não ter sido como se esperava, mas havia qualidade de lideranças. Houve muita colaboração nos primeiros encontros do G-20. Essa imagem é muito diferente da que temos hoje. Então, é fácil tudo dar muito errado. Não sei como essas pessoas vão cooperar. Já pararam de comercializar itens vitais, como ventiladores e máscaras. "
O restante da entrevista fala mais de Brasil
Sobre os trechos publicados.é assustadora a perspectiva dos surtos ficarem indo e vindo,stop and go