Volto ao exemplo que já dei. Na Bélgica uma cerveja custa aí o triplo do que em Portugal. Só por isso, o valor acrescentado é maior, o PIB é maior, a produtividade dos trabalhadores é maior. Incluindo do empregado do bar que leva a cerveja a uma mesa. Faz exactamente os mesmos gestos do que um empregado português e cria o triplo do valor acrescentado nos mesmos minutos que demora a servir a cerveja. A maior produtividade é consequência, não causa, de a cerveja ser mais cara. Se Portugal quer aumentar a produtividade (e logo o PIB) na área das cervejas, tem que conseguir convencer os clientes a pagar mais por elas. Isto é um ângulo da questão que não vejo a ser debatido.
Acho que estás errado. É causa.
A diferença de produtividade é habitualmente maior nos sectores transacionáveis. E essa diferença permite que os outros sectore paguem melhor.
Qual a tua refutação do que eu escrevi?
Vamos lá ver se exprimo este exemplo melhor. Claro que se a cerveja Leffe se vende mais cara que a Sagres, isso é porque o mundo em geral reconhece que ela é melhor. Não sei se isso se pode definir objectivamente, mas que os consumidores pensam que é melhor é verdade. Isso pode ser por ter melhor sabor, ou pelo marketing, ou ambas as coisas.
Na origem de a Leffe se ter tornado assim bem sucedida, pode haver pesquisa e desenvolvimento. Pode haver decisões boas de gestão e marketing. Mas essas causas actuaram na origem das duas marcas, há muitas décadas atrás. Pode ter havido um conjunto de criativos na Bélgica que fez melhor serviço que os seus congéneres em Portugal. Mas isso aconteceu há décadas.
Entretanto, se nos centrarmos na situação actual, já muito depois de as 2 cervejas serem criadas, a situação é mais ou menos a seguinte. Há dezenas de milhar de empregados belgas e portugueses que trabalham com as cervejas: uns a fabricar, outros a transportar em carrinhas, outros a servir à mesa. As rotinas de movimento dos braços destas dezenas de milhar de empregados são essencialmente iguais nos 2 países. E os belgas todos envolvidos, incluindo os que transportam em carrinhas, têm uma produtividade (= PIB) de cerca de o triplo, só porque a Leffe custa o triplo. Sim, mesmo os que transportam em carrinhas e que fazem trabalho de estiva a arrumar caixotes, pois os fretes associados a estes trabalhos dependem do valor da carga. Idem para os tipos a servir às mesas.
Ficou agora claro? Se sim, o que tens a opor?