A Grécia pediu ajuda em Abril de 2010. Portugal pediu ajuda em Abril de 2011. Com doze meses de diferença, as taxas de juro implícitas no mercado secundário à data do pedido de resgate eram muito semelhantes nos dois países.
No quadro anexo é apresentado um comparativo das taxas de juro das dívidas portuguesa e grega no mercado secundário; a diferença de 12 meses entre os pedidos de resgate permite comparar directamente a evolução na situação dos dois países (por exemplo, Setembro de 2011 em Portugal compara directamente com Setembro de 2010 na Grécia).
Como se pode ver, ao longo dos meses que se seguiram ao pedido de resgate (linha cinzenta) em cada um dos países, as taxas de juro começaram a subir rapidamente, com a taxa a 2 anos a superar a taxa a 5 ou a 10 anos - isto constitui um sinal de perigo, pois em situação de estabilidade financeira, as taxas dos prazos mais longos são as mais elevadas.
No entanto, decorridos 10 meses sobre o pedido de resgate (ou seja, em Fevereiro do ano seguinte), os dois países seguiram caminhos distintos: na Grécia as taxas aceleraram as subidas e atingiram rapidamente valores de três dígitos nos prazos mais curtos, ao passo que em Portugal as taxas começaram a recuar e em Março as taxas a dois anos voltaram para valores inferiores aos dos prazos mais elevados.
Presentemente (Julho de 2012), as taxas da dívida portuguesa estão em mínimos de mais de um ano e mantêm a tendência de queda, o que mostra que os mercados estão mais confiantes na situação de Portugal do que estavam no final do Verão passado. Ora em Junho do ano passado as taxas da dívida grega já estavam em valores perigosamente elevados, com a taxa a dois anos nos 31%.
Considerando que a evolução da percepção dos mercados tem sido bastante diferente nos dois países (especialmente desde Fevereiro para cá), sou da opinião que actualmente existe toda a legitimidade para afirmar "Portugal não é a Grécia".
