Quanto ao objectivo "prender os ladrões":
Seguir os EUA se calhar já era um avanço. Pelo que vou vendo os processos são bem mais rápidos. Aqui há processos que arrastam-se por períodos inacreditáveis. Só isso já seria um avanço.
E lá parece-me que há maior capacidade de contrariar lobbies/grupos (ou pelo menos já houve). Há vários exemplos no passado. Um caso actual é o do Madoff. Usa-se este exemplo para dizer que lá os "criadores" da crise financeira de 2007 não passaram impunes. É preciso usar esse exemplo com cuidado, pois o Madoff geria um fundo que na dimensão total do mercado era pequeno. Em relação aos pesos pesados, que esses sim tiveram um peso brutal na criação do furacão, basicamente não tenho conhecimento de grandes processos em que tenha havido prova de culpa.
Logo o gestor dum fundo "pequeno" vai dentro fazendo o papel de ovelha negra. Pode-se logo dizer, estamos a fazer alguma coisa! Parece o que passou-se aqui com o Duarte Lima e o caso BPN.
Mas não podes esquecer-te duma coisa. Mesmo imaginando que o sistema judicial (mais polícias, investigadores, MP) funcionavam à 110%, para condenares alguém há que existir moldura penal.
O exemplo perfeito são as PPPs. Todos podemos ver a pouca vergonha que aquilo foi, como é imoral e inútil. O problema é que tens leis que suportam os actos realizados. Não tens como (ou é super difícil) arrancar uma condenação.
A raposa está dentro do galinheiro e tem o poder de legislar. E nunca vai legislar proibindo que ela possa comer galinhas ou contra que se possa meter mais galinhas no galinheiro.
É uma de impasse, que não estou a ver muito bem como será quebrada, sem uma situação crítica.
Quanto ao "enxotar os demagogos":
Obrigar e proibir são verbos que em relação à comunicação social levanta logo uma imagem de ditadura. E se calhar com razão.
Mas sinceramente acho que existe muito contraditório. Se somares os vários debates (que são quase infinitos) tens sempre contraponto para as inúmeras ideias e explicações. Tens artigos em jornais e revistas para todos os gostos e ideologias. Tens livros às pazadas abordando todo o tipo de ângulos e temas. Se há qualidade e imparcialidade isso já é outro assunto.
A questão é se as pessoas têm bases e conhecimentos para apreciar e entender o contraditório. Se ligam ao conteúdo ou ao embrulho.
Lembro-me perfeitamente dum prós e contras em que o actual bastonário da Ordem dos Médicos (que alias devia dizer abertamente se milita em algum partido político) apresentou um gráfico em que não eram vistas com claridade as escalas. Os diferenciais pareciam brutais. Mas o homem "fala bem", é convincente! De seguida interviu um especialista da área em questão. E citou dados concretos. Mas gaguejava .... não tenho dúvidas quem conseguiu transmitir melhor o seu "contraditório" para o geral da população.
Tu só conseguirás que os demagogos tenham pouco peso quando as pessoas tenham (numa percentagem brutal da população) a parte de gramática e compreensão do português desenvolvida (para terem capacidade de extrair o conteúdo, de o entenderem).
Devem ter conhecimentos em áreas científicas como matemática, química, física. As pessoas tem que compreender o que é o método científico. Tem que ter capacidade de ser autodidatas, de serem críticas com as informações que recebem.
E devem ter conhecimento de história, para perceberem o que já aconteceu, porque aconteceu. Entenderem que muitas vezes o que nos é apresentado como novo, mada mais é do que o antigo regurgitado.
Mais contraditório não adianta se as pessoas não entenderem os argumentos.
Mais informação, principalmente se truncada, para espíritos fracos de nada te adianta.