Com as taxas de juro dos DPs persistentemente encostadas a zero, os outros investimentos alternativos tendem a ajustar as suas yields em baixa, de outro modo ficariam bons demais para ser verdade. Por isso:
- no caso das acções, como os lucros e dividendos das empresas não diminuem (pois dependem da actividade das empresas e esta, quando passar a pandemia, ficará tão boa como antes), isso implica que as cotações subam.
- no caso do imobiliário, como os preços de venda não variam muito, são mais estáticos do que os das acções, isso implica que as rendas desçam.
O que não encaixa aí é o desemprego e sub-emprego. Os layoffs. Muitas pessoas a receber significativamente mesmo.
De onde vem a procura?
Mesmo com os subsídios de desemprego a aguentar muita malta durante 1-1,5 anos...lá para o fim de 2021 se não houver uma retoma enorme, os preços teriam que cair do imobiliario.
A procura continuará sempre a vir, pois toda a gente teme mega-crises financeiras futuras, e o imobiliário é o melhor safe harbour contra a maioria dos tipos de crises. Estás a referir as pessoas que ficaram mal nesta crise, ok essas não vão comprar casas, mas quem é que diz que o fariam mesmo sem covid? Essas pessoas tendem a ser pessoas de estratos com pouco capital próprio. Paralelamente a essas, há a classe média alta que ficou ainda melhor com esta crise, pois está a gastar menos devido ao confinamento e está a ganhar o mesmo, logo a sua conta bancária não cessa de aumentar.
Isto é cruel, mas é o que se está a passar. Os apertos de muitos são a acumulação de capital de outros. Muita gente acumulou capital ainda mais rápido desde que o covid começou, e não são só os ricos, é a classe média alta não dependente do comércio, basicamente o pessoal que continua a trabalhar em teletrabalho, que ganha muito bem, e que está a gastar menos em viagens e jantares.
E mesmo que a procura se retraia, a oferta também provavelmente se retrai, e temos o cenário de baixo nível de transacções, que é o que já se tem visto nos últimos anos, mas sem quedas de preço.