em todo o caso quem estuda acaba por chegar á conclusão que independentemente das pessoas que vão rodando pelos cargos o importante são a consistencia ou (a falta dela ) das politicas que se seguem.
[...]
demagogia é andar a defender-se o rompimento com a Troika quando Portugal depende diariamente de financiamento do exterior para as actividades mais basicas ... verdade é que Portugal tem que aprender a viver tendencialmente com o que tem e produz.
Concordo que Portugal tem que viver pelos seus próprios meios, mas isso não se consegue sem política cambial (moeda própria) e algum proteccionismo. O caminho do memorando é irresponsável, no sentido denotativo da palavra. É o caminho daqueles que seguem ordens sem se questionarem sobre a racionalidade das mesmas; o caminho dos que cedem a soberania mas ficam contentes por irem mantendo a regência.
Sermos responsáveis significa tomarmos o nosso próprio destino nas nossas mãos. O nosso destino é só nosso, não é dos outros. É ridículo desculparmo-nos com as ordens superiores, é próprio de quem não sabe o que significa
assumir, para o bem e para o mal, uma responsabilidade.
Eu tenho as maiores dúvidas sobre a consistência deste "caminho para a sustentabilidade". Isto é um caminho para prolongarmos uma situação insustentável, para aguentarmos esta ilusão de
bussiness as usual durante mais algum tempo. Como eu aqui previ, o financiamento da economia tem sido completamente inadequado. Até já as grandes empresas andas a vender obrigações aos particulares! O mercado interno foi descurado, sendo por aí que o ajustamento irá falhar como aconteceu em múltiplos países da América do Sul. Temos uma situação de deflação no sector dos não trasaccionáveis que é explosiva.
Não estou a dizer nada que já não seja conhecimento comum. Há um
road-map para este tipo de ajustamento, que foi o percurso da Argentina até entrar em
default, em 2001. Acompanhei muito bem esses eventos, pois tenho vários amigos na Argentina. Um relatório de um painel independente (a pedido do FMI) indica que a opção política (ou ilusão vendida ao eleitorado, digo eu) em manter a economia
dolarizada sem ter em conta que isso obrigava a uma consolidação orçamental violenta -- que não estava ao alcance da economia argentina -- fez com que se caminhasse para o desfecho final. O relatório também diz que teria sido melhor usar os fundos de uma outra forma -- para apoiar o fim controlado da "dolarização" da economia -- mas que isso tinha "custos políticos" que os partidos argentinos da alturas não queriam correr.
Também em Portugal, a saída da zona euro será mais uma questão política do que uma decisão baseada na racionalidade económica. Por exemplo, a Islândia não tinha esse problema, e por isso se tornou muito mais fácil a solução política para a sua crise financeira. Aliás, é sabido que os islandeses querem entrar na UE e, quem sabe, na zona euro! Em Portugal há muitos interesses, tanto materiais como ideológicos e até ilusões de grandeza e outras emoções irracionais, tudo isso investido na continuidade de Portugal na zona euro. Esse cálculo meio interesseiro e meio irracional, que pouco tem a ver com uma pretensa falta de coragem dos portugueses, relativamente aos islandeses, faz com que se continue a ir por este caminho. Aliás, na Grécia acontece a mesma coisa...
Certamente que os fundos de resgate seriam muito melhor empregues se servissem para apoiar a saída (controlada) de Portugal da zona euro, através de uma reestruturação da nossa dívida externa (pública e privada). Podíamos depois desvalorizar a moeda e, assim, dar melhores condições de desenvolvimento ao nosso mercado interno sem que isso provocasse aumento de importações.