Existe uma lógica sim, e sensível à taxa de juro de empréstimo do dinheiro. A Bolsa é um imenso redistribuidor de rendimento. Para lá dos salários auferidos directamente pelos trabalhadores, todo o demais valor produzido e vendido equivale a um rendimento de algum modo proporcional aos meios de produção utilizados na transformação produtiva dos bens e serviços vendáveis no mercado. O dispositivo redistribuidor de renda que a bolsa opera consiste, justamente em relacionar o rendimento (lucro) esperado em cada actividade com o capital envolvido na mesma, de tal modo que, se a respectiva taxa for sensivelmente superior à do juro do empréstimo de dinheiro, a cotação do título de capital dessa indústria sobe até que o lucro esperado equivalha à taxa de juro média do dinheiro. É esta a repartição global das mais-valias bolsistas na sociedade. A massa genérica dos investidores tende a apenas ganhar o juro médio, quando não a simplesmente delapidar em prejuízo as suas economias, arrecadadas ou herdadas. Mesmo os que acumulam ganhos na arbitragem bem sucedida das escolhas de compra e venda, se não transitam para refúgios seguros da economia real, arriscam-se a cumular prejuízos ou ganhos bem diminutos em proporção dos capitais envolvidos. É esta a lógica global, que se pode descrever e matematizar de modo bem mais emblemático. Vida difícil, ao contrário do que se pense.
p.scriptum:- É uma redundância falar do que todos sabem, mas eu acho bem interessante, e há muitas coisas a dizer.